Foto: Reprodução/Frame do filme ‘Anaconda’ (1997)
Os melhores amigos Griff e Doug partiram para a floresta amazônica com um sonho: filmar um reboot de seu filme favorito, ‘Anaconda‘. O que poderia dar errado, não é mesmo? Isso é o que mostra o novo filme da franquia, com estreia para dezembro de 2025.
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O primeiro filme, que inspira o novo lançamento mais de 20 anos depois, estrou em 1997 e retrata uma cobra gigantesca encontrada na Amazônia. Em 1997, a produção acompanha um grupo de documentaristas em expedição pela floresta em busca da tribo indígena isolada Shirishama.
Durante a jornada, uma forte tempestade muda o rumo da viagem, e o grupo acaba encontrando o enigmático Paul Sarone, que promete guiá-los até a tribo, sem revelar suas verdadeiras intenções.
A aventura rapidamente se transforma quando o grupo descobre que está envolvido em uma perigosa caçada à serpente conhecida como “anaconda”, um animal astuto e implacável, que parece agir com um plano cuidadosamente traçado para devorar cada um deles.
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Apesar de ter se tornado um clássico do cinema, o longa retrata uma fantasia cheia de equívocos, que têm como resultado um retrato distorcido da floresta amazônica, fixando no imaginário popular uma Amazônia misteriosa, letal e habitada por serpentes gigantescas que propagam o horror.
O novo filme promete atualizar a clássica história para uma nova geração, com um viés cômico digno de Jack Black, um dos atores principais da nova produção.
Veja o trailer:
Dá pra perceber que a nova aventura tem um olhar diferente da primeira produção, mas segue os moldes da anterior, não é?
Pensando em como a Amazônia foi retratada, a equipe do Portal Amazônia revisitou o primeiro filme e listou 12 “mentiras” sobre a região. Confira:
Anacondas não existem na região amazônica
Na região amazônica, as anacondas não existem. O que de fato habita a floresta e costuma ser associado a esse nome são as cobras sucuris.
Mas, afinal, de onde vem o nome anaconda?
O nome ‘anaconda’ na verdade deriva do país asiático Sri Lanka, antigamente conhecido como Ceilão. O termo surgiu em 1693, quando o ambientalista inglês John Ray, em seu livro ‘Synopsis Methodica Animalium‘, descreveu uma cobra daquele país que ele chamou de ‘anacandaia’, que segundo ele teria a habilidade de esmagar os membros de outros animais.

Apesar do termo ter surgido na região da Ásia, lá não existem sucuris e o nome ‘anaconda’, na verdade se refere a espécies de cobras pítons, grandes serpentes que também matam suas presas por constrição, apertando-as até causar uma parada respiratória.
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O termo foi erroneamente associado, por colonizadores europeus, às grandes serpentes da América do Sul. Com o tempo, o nome foi popularizado por estrangeiros e pela cultura pop, especialmente no cinema, passando a ser usado de forma genérica para se referir às sucuris amazônicas.
Sucuris super velozes que atacam como felinos
No filme, a anaconda (que seria uma sucuri) salta, persegue humanos em alta velocidade e demonstra quase ‘ódio’ por personagens específicos.
No entanto, na verdade a sucuri-verde (Eunectes murinus), espécie mais associada à produção, é um animal de movimentos lentos, que caça através de emboscadas e evita o contato com humanos.
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A sucuri engole a presa, vomita e engole de novo?
Logo no início do filme, uma espécie de narrador conta que as ‘anacondas’ engolem, regurgitam e, em seguida, engolem novamente a própria vítima. No entanto, essa ideia não passa de fantasia cinematográfica, já que na realidade, as serpentes até podem regurgitar suas presas quando se sentem ameaçadas ou estressadas, mas não voltam a se alimentar do mesmo animal.
Existência de sucuris de 10, 12 ou 15 metros
A franquia aposta em monstros enormes, gigantescos, mas a realidade é bem diferente e a sucuri-verde geralmente mede entre 3 e 5 metros de comprimento. Além disso, não existem registros científicos confiáveis de serpentes de 10 ou 12 metros como as mostradas no filme, e o maior exemplar comprovado tinha pouco mais de 5 metros.
A sucuri quebra todos os ossos da vítima?
O filme sugere, por meio de uma fala de Paul Serone, que as cobras conseguem esmagar todos os ossos da vítima durante a constrição. Só que na prática, a morte ocorre pela interrupção da circulação sanguínea, e não por fraturas generalizadas.
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Sucuris sanguinárias que caçam humanos por vingança
No longa, as sucuris parecem demonstrar ódio por humanos, que qualquer descuido vira morte. Na realidade, essas serpentes evitam humanos e os ataques a eles são raríssimos, já que elas preferem capivaras, antas, veados e jacarés.
Javalis na Amazônia na década de 90
Além do filme retratar a fauna local como perigosa, outro erro que aparece na narrativa é a existência de javalis na Amazônia na década de 90. Essa espécie invasora só chegou à região quase duas décadas após o lançamento do filme.

Serpentes vistas como monstros e a lenda da cobra grande
A produção reduz a sucuri a um demônio da floresta, ignorando sua representatividade na cultura indígena, já que entre os Mawé, por exemplo, ela representa o feminino, a fecundidade, a ancestralidade e não um ser maléfico.
Além disso, o longa cita vagamente a lenda da Boiúna, transformando o mito em uma ameaça literal, mas na realidade a lenda têm apenas uma dimensão simbólica.
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Amazônia quase inabitada
A Amazônia retratada em ‘Anaconda’ parece praticamente desabitada, com a presença humana limitada. Mostram o antigo Tropical Hotel, um hotel de selva famoso em Manaus (AM) à época, além da tribo perdida Shirishama, que é o que motiva a expedição na região na trama do filme.
No entanto, essa representação é equivocada já que na realidade, essa região abriga dezenas de povos originários, comunidades tradicionais e, claro, cidades urbanizadas.
Macaco morto como isca para sucuri
Durante o longa, com o objetivo de capturar a grande cobra, um dos personagens utiliza como estratégia um macaco morto como isca. No entanto, sucuris não caçam presas mortas e dependem da captura e constrição de animais vivos para se alimentarem.
Sucuris caçando de dia e se movendo em terra com agilidade total
Ao longo do filme, a gigante cobre caça em plena luz do sol e se movimenta com rapidez pelo chão. Na realidade, esses animais são noturnos e passam a maior parte do tempo na água, onde são mais rápidas.

Erros biológicos nas características da cobra
O filme mostra a serpente amazônica com pupilas oblíquas, semelhantes às de felinos, no entanto, na natureza, elas são redondas. Outro equívoco aparece ao retratar as serpentes botando ovos, sendo que na verdade sucuris são ovovivíparas, ou seja, ela produz ovos, mas a incubação e o desenvolvimento dos filhotes ocorrem dentro do corpo da mãe, sem a necessidade de um ninho externo.

