Os manguezais, o caranguejeiro e a comida que vem da lama: o caranguejo

Os manguezais da Amazônia brasileira constituem o maior cinturão de manguezais do mundo e 26 de julho é o Dia Mundial de Proteção desse bioma.

Você sabia que hoje, 26 de julho, é o Dia Mundial de Proteção aos Manguezais? Por isso, considero importante saber que os manguezais da Amazônia brasileira constituem o maior cinturão de manguezais do mundo e figuram as territorialidades dos estados do Amapá, do Maranhão e do Pará, onde ocupam uma área de 8 mil km², correspondendo a mais de 80% dos manguezais do Brasil.

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Nesses territórios amazônidas, os manguezais constituem-se em importante fonte de renda para coletividades de caboclos extrativistas, a saber os caranguejeiros, ou tiradores de caranguejos como o Reginaldo da Silva, caranguejeiro de Araí, o qual é retratado nas imagens que seguem.

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Apesar da importância, o trabalho dos caranguejeiros é, em certa medida, socialmente marginalizado e economicamente desvalorizado, conforme relato do Reginaldo, o qual recebe dos atravessadores e ou marreteiros um valor ínfimo por unidade de caranguejo, em média, R$ 0,35 (trinta e cinco centavos). Esse valor pode ser, esporadicamente acrescido, variando entre R$ 0,50 (cinquenta centavos) e R$1,00 (um real). Segundo Reginaldo, que já chegou a pegar 750 caranguejos em um único dia, durante o tempo no qual o caranguejo está farto, ou como ele diz: “tá raso e dá para pegá-lo com o braço”. É nesse tempo que o crustáceo fica economicamente menos valorizado e mais abundante.

Conforme relato de Reginaldo, esse tempo de fartura corresponde à temporada do caranguejo novo, resultante do processo de metamorfose que é próprio do crustáceo, a saber: quando o caranguejo troca a carapaça ou casco.

Então, segundo Reginaldo, a metamorfose supracitada ocorre entre os meses de julho a setembro, tempo em que os crustáceos se recolhem em suas moradas (buracos), conforme mostrado na imagem que segue.

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Nesse tempo, os manguezais são povoados ora por caranguejos novos, ora por caranguejos velhos, conforme notado na imagem a seguir.

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Por fim, importa reconhecer que, além da importância ecológica, os manguezais constituem-se em verdadeiros berçários de comidas que vêm da lama, tais como:

O turu

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

O sururu ou mexilhão

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

E, por fim, o caranguejo

Foto: Miguel Picanço/Acervo pessoal

Entre essas comidas que vêm da lama, o caranguejo ocupa centralidade, ao menos na mesa, na economia e na vida dos paraenses que povoam o nordeste do Pará e a capital Belém.

Assim, ao que parece, o caranguejo é uma comida que funciona como marcador dos modos singulares de viver nas Amazônias brasileiras, particularmente em Araí, na Amazônia Atlântica do nordeste paraense, conforme pode ser observado no documentário ‘O Argonauta do Mangue’:

Dada a importância dos manguezais, se faz urgente uma tomada de consciência coletiva que reconheça a necessidade de preservá-los.

Referências

PINHEIRO, Karina. Conheça os manguezais da Amazônia. O maior cinturão de manguezais do mundo. 2021. Disponível em: https://portalamazonia.com/amazonia/conheca-os-manguezais-da-amazonia-o-maior-cinturao-de-manguezais-do-mundo

PICANCO, Miguel de Nazaré Brito. Documentário “O Argonauta do Mangue no rastro do caranguejo”, 2022. Disponível no canal Comida Cabocla: https://youtu.be/XF4In_XqPVU 

Sobre o autor

Miguel Picanço é doutor em Ciências Sociais (PPGCS/UNISINOS/ PDSE/ODELA-Universidad de Barcelona) e pós-doutor em Antropologia da Alimentação: Alimentação, Patrimônio e Turismo (ODELA-Universidad de Barcelona).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista.


Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pesquisa de professora paraense recebe Prêmio ‘Ciência pela Primeira Infância’

O estudo teve o propósito de pautar discussões acerca da garantia dos direitos à população infantil quilombola na Amazônia.

Leia também

Publicidade