Sem recursos, aplicativo para tradução de línguas indígenas está desativado

Imagens das abas do aplicativo ‘Traduzíndio’. Foto: Divulgação/Traduzíndio

O aplicativo Traduzíndio criado por pesquisadores de Tocantins, para a tradução de línguas indígenas Xerente e Apinajé para o português, está desativado por falta de recursos. Com potencial para traduzir muitas outras línguas indígenas já catalogadas, o projeto atualmente não tem dinheiro o suficiente para manter os servidores funcionando. Mesmo assim, os idealizadores do app foram convidados pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional e Tecnológico da China para participar de um congresso científico internacional em Paris.

Segundo os pesquisadores da Universidade Federal do Tocantins (UFT) Alain Neves Lima e George Lauro Ribeiro de Brito, o aplicativo envia o texto que precisa ser traduzido para um servidor que faz o trabalho. Assim que a tradução é finalizada, o servidor envia o texto de volta para celular. “Isso acontece porque o processo de tradução precisa de muito processamento. Um celular não consegue realizar esse trabalho. Entretanto, manter um servidor não é barato, e por falta de recursos não temos mais um que possa nos atender”, explica Alain.

A criação do app partiu de uma pesquisa da própria UFT sobre alunos que abandonavam a universidade. Os indígenas eram o grupo social com maior número de desistências e a língua, era apontada como principal empecilho para a permanência dos estudantes. Os dois pesquisadores decidiram então criar um aplicativo que pudesse ajudar os alunos.

Os pesquisadores utilizaram como fonte os documento publicados por vários pesquisadores e tradutores. O mais antigo deles foi realizado pelo alemão Carlos Günter, que traduziu em meados dos anos 1980 a Bíblia para língua Xerente e produziu um dicionário a partir do seu trabalho. Outras palavras mais modernas, como celular e internet, foram catalogados mais recentemente por outros linguistas.

O povo Xerente habita o bioma Cerrado, no Tocantins, e tem uma população de 3,5 mil indígenas. Os Apinajé, estão no extremo Norte do Tocantins, na fronteira com o Maranhão, e têm uma população de 2.777 pessoa. De acordo com os criadores do Traduzíndio, se o aplicativo estivesse funcionando, toda essa população teria acesso a tradução de suas línguas para o português em tempo real.

Pesquisadores George Lauro e Alain Neves com indígenas de Tocantins. Foto: Divulgação/Traduzíndio

Reconhecimento internacional

Recentemente a pesquisa recebeu sinal positivo da comunidade científica internacional com o um convite para apresentar o Traduzíndio em Paris, nos próximos dias 11 e 12 de março. O congresso é organizado pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional e Tecnológico da China. A ideia é mostrar para outros pesquisadores do mundo como foi realizado a pesquisa de maneira que eles possam replicar em outras partes do mundo.

“A nossa necessidade atual é captar recursos para ir até o congresso. Mas nós temos muitas outras necessidades além da viagem para a França. Nossa vontade é continuar registrando dados de línguas indígenas e expandir a plataforma, mas a longo prazo nossa maior desafio é ir atrás de recursos para manter a pesquisa”, diz Alain.

O aplicativo foi lançado em 2015 durante os Jogos Mundiais Indígenas e rapidamente chamou a atenção. “Durante a nossa apresentação nos jogos, muito indígenas falaram conosco. Eles estavam felizes de ver a sua cultura como parte integrante de uma tecnologia. Inclusive alguns indígenas do Pará entraram em contato para tentar colocar a tradução de sua língua no aplicativo”, revela Alain.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Dossiê “Amazônia contra o Antropoceno” aborda sociodiversidade da região

Na publicação constam nove artigos de arqueólogos, antropólogos e ecólogos, indígenas e não indígenas.

Leia também

Publicidade