Mais de 800 geoglifos esperam por pesquisas na Amazônia

Fazenda Três Meninas, no Acre. Foto: Diego Gurgel/Acervo Pessoal

Um total de 818 geoglifos na Amazônia Internacional esperam para serem estudados. Os desenhos geométricos feitos na terra precisam de mais pesquisas para terem sua real função definida. Segundo a historiadora e arqueóloga do Instituto do Patrimônio Histórico do Acre, Ivandra Rampanelli, em sua tese de doutorado, 523 estão no Acre, 144 no Amazonas, 71 em Rondônia e 80 na Bolívia.

Natural de Santa Catarina, a pesquisadora mora no Acre desde 2005. Segundo Ivandra, ela se apaixonou pelo tema após um curso na área, realizado em 2007, que a levou a estudar mais os desenhos e gerou, como resultado, a tese ‘Las estructuras de tierra delimitadas por zanjas en la Amazonía Occidental‘. A defesa aconteceu em novembro de 2016 na Universidade de Valência, na Espanha.

Em sua tese, Ivandra mapeou 231 novos geoglifos apenas no Acre e pelo menos 200 na fronteira com o Amazonas. No início, em 2012, apenas 292 geoglifos eram contabilizados no Acre. Quatro anos depois, com o resultado da tese, o número subiu para 523. Ao expandir a pesquisa para outros estados e também para a Bolívia, o número alcançou a marca de 818.

Os geoglifos, explicou ao Portal Amazônia, foram divididos em formatos, onde: 386 são circulares, 308 quadriláteros, 86 de outras formas e 38 duplos (que possuem uma forma dentro da outra).

“Não fiz o trabalho sozinha. Contei com a ajuda de grupos de pesquisa que já tinham referências e passaram as coordenadas. Assim conseguimos montar um mapa”, explicou. Como os geoglifos foram cadastrados com base na localização, ficou mais fácil verificar o número corretamente. 

Mapa produzido durante cerca de dois anos com a localização dos geoglifos. Foto: Ivandra Rampanelli/Cedida
Significado
Segundo a pesquisadora, desde que foram os descobertos no Acre, em 1977, os geoglifos não tiveram atenção da comunidade científica. Apenas em 2007 passaram a ser alvos objetivos de estudos. Então o que seriam os geoglifos? Para Ivandra, por conta do pouco tempo de exploração, esta é uma pergunta que ainda precisa de muita investigação para ser respondida em sua plenitude.

No entanto, em sua defesa, Ivandra afirma que estes símbolos não devem ser tomados apenas como desenhos terrestres. Para ela, o significado mais pertinente até o momento é que eles representam centros de adoração, rituais e cerimônias, usados pelos indígenas à época.

“O trabalho com os geoglifos ainda precisa de muito estudo. É preciso que haja incentivo aos estudantes, pesquisadores, não só do Acre, para que busquem estudar de forma contínua esses elementos. Muitas pesquisas são realizadas, principalmente por pesquisadores de outros países que vêm até aqui e passam um mês estudando uma área. Assim os dados são escassos e difíceis de reunir”, destacou.

Fazenda Paraná em 2008. Foto: Edison Caetano/Acervo Pessoal
No Acre, o município com o maior número de geoglifos mapeados é Senador Guiomard, com 132, seguido por Plácido de Castro com 114 e Capixaba com 72. Já no Amazonas, de acordo com a pesquisa, é possível encontrar geoglifos na região mais ao sul do Estado, como no município de Lábrea. “No Amazonas tem muita floresta e não dá para identificar, então não sabemos quantos mais podem existir na região”, destacou.
Ivandra Rampanelli. Foto: Arquivo pessoal 

Uma possibilidade para encontrar mais geoglifos pela região, informou Ivandra, é novidade na área: o sistema Lidar. “É um sistema que emite tipo um laser e dá pra ver em um sobrevoo, dá para ver embaixo da floresta. Mas é um sistema novo, muito caro”, disse.

O tamanho destes elementos é um dos fatores que dificultam. A média informada pela historiadora é de 22431,7 m², com largura da vala de 11,6 metros e profundidade média de 1,4 metros. “A Amazônia era vista como uma região que não suportava grandes populações. Com esses descobrimentos, podemos acreditar que esses geoglifos são provas que existiam grandes populações e que viviam nessas áreas. Ainda existem muitas controvérsias”, contou. Segundo a pesquisadora, a estrutura mais antiga data de quatro mil anos.

Fazenda São Paulo em 2008. Foto: Edison Caetano
Com tantos questionamentos, a pesquisadora sugere que grupos de pesquisa arqueológica, historiadores e demais áreas envolvidas, busquem integrar as informações e se unirem para desenvolver trabalhos contínuos. “Seria interessante que as universidades daqui do Brasil se comunicassem mais e criassem novos gupos de pesquisas nesse campo. Tem espaço para todo mundo, é uma quantidade muito grande de sitios arquelógicos que podem ser estudados. A arqueologia da Amazônia é que ganharia muito com isso”, sugeriu. 

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