Inseticida natural feito com plantas amazônicas pode substituir agrotóxicos sintéticos

Um biocida de liberação controlada produzido a partir de óleos essenciais extraídos de plantas coletadas da região Amazônica está em fase de desenvolvimento com a finalidade de combater a ação de microrganismos como insetos, ácaros, fungos e bactérias em plantações de frutas como o mamão, o abacaxi e o cupuaçu. A pesquisa é desenvolvida por pesquisadores do Departamento de Física da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Os pesquisadores pretendem produzir um tipo de inseticida natural que não cause prejuízos ao meio ambiente, aos agricultores e aos consumidores, e que tenha eficiência suficiente para substituir, de maneira sustentável, os agrotóxicos sintéticos disponíveis no mercado.
 

Foto: Divulgação/Fapeam 

O coordenador do projeto e pós-doutor em Bionanotecnologia, Edgar Sanches, explica que os óleos essenciais, responsáveis pelas ações inseticidas e acaricidas, são substâncias químicas naturais e de baixíssima toxicidade. Segundo o pesquisador, a concentração utilizada nessas formulações é tão baixa que é possível considerá-las atóxicas, ou seja, não nocivas à saúde.

Os estudos realizados até o momento mostram que existem óleos essenciais com ações similares aos produtos sintéticos. Outro ponto é que a equipe também obteve sucesso nas formulações de nanopartículas feitas a partir de polímeros biodegradáveis, além de elevada eficiência de encapsulamento e ação prolongada desses óleos essenciais com a liberação dessas nanopartículas.

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O pesquisador explica que os agrotóxicos naturais à base de óleos essenciais possuem constituintes altamente voláteis e por isso a aplicação direta dessas substâncias nas plantas se torna inviável. “É aí que entra a nanotecnologia, ela permite que possamos encapsulá-los, ou seja, inseri-los dentro de uma nanopartícula feita de polímeros biodegradáveis, para protegê-los da volatilização”, explicou.

Conforme Sanches, é possível comparar essa partícula a uma bala recheada, onde o recheio é o óleo essencial e a casca da bala é o polímero biodegradável, e no momento em que essas nanopartículas recheadas de óleo essencial são aplicadas sobre as plantas, as cascas externas feitas de polímeros biodegradáveis se rompem e liberam o óleo essencial diretamente sobre as plantas e os microrganismos.
 

Foto: Divulgação/Fapeam
“Essa liberação pode ser modulada, ou seja, ela pode ser programada para que a liberação do óleo essencial aconteça durante um longo período de tempo. Essa é a liberação controlada ou liberação prolongada. Essa tecnologia faz com que a concentração do óleo essencial utilizado seja baixa, além de diminuir consideravelmente o número de reaplicações, já que o efeito é prolongado, podendo muitas vezes ser realizada apenas uma aplicação semanal”, detalhou.

Desde 2013 o grupo de pesquisa vem estudando e identificando pelo menos 15 espécies de plantas, em que os óleos essenciais são altamente eficazes contra insetos, ácaros e larvas, especialmente as de Aedes aegypti. “Esse rastreamento permitiu chegarmos a quatro espécies com elevada ação biológica, que se tornaram o carro chefe das pesquisas realizadas em nosso laboratório”, explicou.

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A pesquisa está sendo feita no Laboratório de Polímeros Nanoestruturados (NANOPOL), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), através do Programa de Apoio Estratégico ao Desenvolvimento Econômico-Ambiental do Estado do Amazonas – Amazonas Estratégico, edital Nº 004/2018.

Biocidas x Agrotóxicos

Edgar explica que o controle químico por meios de métodos convencionais que envolvem o uso de agrotóxicos sintéticos é, atualmente, o recurso mais utilizado para combater pragas nas plantações. Por esse motivo é que os pesquisadores estão desenvolvendo um produto que possa substituir agrotóxicos químicos por outros de igual ou superior eficácia.
 

Foto: Divulgação/Fapeam 

A partir disso, indicar a aplicação dessas substâncias como uma alternativa promissora para reduzir o uso indiscriminado de defensivos agrícolas. “O que se discute aqui não é a função química dos agrotóxicos. O que se discute aqui é a ação consciente do homem, ou seja, a criação de regulamentações eficazes e condizentes com a realidade do país, o uso de concentrações corretas, a manutenção de um número mínimo de reaplicações, o cuidado com a possível contaminação de águas e o cuidado com o manuseio dos produtos, sem ainda deixar de pensar, claro, no consumidor final”, contou.

O pesquisador explica que existem disponíveis no mercado vários produtos de base tecnológica e de ação prolongada, como fármacos, cosméticos, produtos para animais domésticos (linha pet), suplementos alimentares, fertilizantes, repelentes e até mesmo agrotóxicos. No entanto, ainda não estão à disposição no mercado nenhum tipo de biocida de base nanotecnológica e de liberação controlada feito integralmente a partir de produtos naturais, atóxicos e biodegradáveis.

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“Existem inseticidas de liberação controlada baseados em substâncias ativas sintéticas e com toxicidade ainda duvidosa, como o DEET que é um composto químico utilizado como repelente de insetos”, destacou.

Edgar ressalta que esses compostos químicos convencionais causam um enorme prejuízo ao meio ambiente com a contaminação do solo e das águas, especialmente de lençóis freáticos, para os organismos aquáticos, além de riscos às pessoas que o manuseiam e ao consumidor final.

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“Embora alguns agrotóxicos façam uso da nanotecnologia na formulação de inseticidas de ação prolongada, nenhum deles é baseado na ação de óleos essenciais e de nanopartículas feitas a base de polímeros biodegradáveis. Esse é um nicho de mercado que pode ser explorado, especialmente porque as pessoas estão muito mais preocupadas com produtos que preservem o meio ambiente, o próprio consumidor, e que sejam formulados a partir de materiais naturais e de baixa toxicidade. Além disso, a utilização sustentável de nossos recursos regionais torna esse biocida ainda mais interessante”, disse o pesquisador.

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