Foto:Reprodução / ShuttershockMANAUS – Até pouco tempo, acreditava-se que na Amazônia Central não haveriam recursos para sustentar grandes povoamentos, por isso tribos seriam divididas em pequenos grupos. As conhecidas tribos caçadoras e coletoras. No entanto, dados de estudo realizado pelo pesquisador brasileiro Eduardo Goés Neves dizem o contrário.De acordo com suas escavações no sítio arqueológico Hatara, próximo ao município de Iranduba, no Estado do Amazonas, existiram grandes sociedades indígenas na região e haviam recursos e conhecimento para alimentar essas grandes populações.
História
Em 1540, o frei Gaspar Carvajal embarcou numa expedição partindo de Quito, no Peru, em direção a foz do Rio Amazonas. A viagem durou dois anos e oito meses. Da expedição escreveu o livro “Relación del nuevo descubrimiento del famoso río Grande que descubrió por muy gran ventura el capitán Francisco de Orellana”.
Em seu livro, ele descreve imensos povoados indígenas na margem dos rios.
“Na lua de Páscoa do Espírito Santo pela manhã passamos a vista e junto a um povo muito grande e muito mau. E tinham muitos bairros, e cada bairro um porto no rio, e em cada porto uma grande quantidade de índios, e este povo duravam mais de duas léguas e meia”, descrição do livro de frei Gaspar Carvajal.
A antiga légua europeia media cerca de 6,6 km. Carvajal descreveu uma aldeia que ocupava 16 km da margem do rio. Durante muito tempo, as descrições de frei Carvajal foram questionadas por não haverem outras descrições nem fatos que apoiassem a imagem de grandes tribos na Amazônia.
De acordo com os dados da pesquisa “Cronologias regionais, hiatos e descontinuidades na história pré-colonial da Amazônia”, frei Carvajal pode estar certo. As informações apontam que essas populações se alimentavam majoritariamente de peixes. Uma surpresa já que imaginava-se que as populações viviam principalmente da caça.Como eram?
No período que vai de 750 e 1230, a região de Hatara era formada por um cacicado enorme. Com mais de 20 hectares, a tribo se estendia por vários quilômetros na margem do rio e reunia dezenas de aldeias onde viviam milhares de índios. A pergunta que os pesquisadores queriam saber era como essas populações se alimentavam.Para isso, os pesquisadores utilizaram a zoo-arqueologia para estudar os restos de ossadas de animais. Foi comprovado que mais de 90% dos ossos encontrados são de peixes, em sua grande maioria eram de pirarucu e seu primo, o aruanã. Não por acaso, o pirarucu é uma das maiores espécies de peixe de água doce do mundo, podendo atingir 4,5 metros e pesar 200 kg. Por suas proporções, o pirarucu era uma fonte preferencial de proteína animal para os índios.
Também foram encontradas durante as escavações, vestígios de milho, inhame e mandioca, espécies que podem ter sido cultivadas em Hatara, assim como várias espécies de palmeiras. De acordo com o pesquisador Eduardo Goés Neves, “os achados são importantes porque, pela primeira vez, teremos a publicação de um estudo sistemático sobre restos de fauna em um sítio da Amazônia”.
Através dos resultados é possível entender que essas populações conheciam técnicas avançadas de pesca e os hábitos desses animais. É necessário conhecer os hábitos de diferentes espécies, pois algumas só podem ser pescadas numa época do ano e em locais distintos. Para isso, é necessário um conhecimento aprofundado.