Especialista em aves fala sobre pesquisas e descobertas em “florestas nas nuvens”

Serra da Mocidade no meio da Floresta Amazônica. Foto: Divulgação/Inpa

Quem pensa que a Amazônia é apenas uma enorme planície de floresta, não imagina que na região também existam montanhas. Para falar sobre as experiências e descobertas em serras amazônicas, o especialista em aves, Mario Cohn-Haft, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), foi o convidado nesta manhã do ciclo de palestras “O que eu faço pelo meio ambiente?”. O evento faz parte da Semana do Meio Ambiente do Instituto, que acontece até neste domingo (10), no Bosque da Ciência, que está com entrada grátis.

O pesquisador cita entre as serras mais famosas na região, o Pico da Neblina, a maior montanha do país com 3 mil metros de altitude, o Monte Roraima, que tem um formato de chapada (tepui), e várias outras serras, ao longo da divisa entre o Amazonas, Roraima e Venezuela, incluindo-se também a Serra da Mocidade (onde o pesquisador realizou uma grande expedição em 2016, quando foram descobertas mais de 80 novas espécies de animais e plantas) e a Serra do Apiaú.

No início deste ano, o pesquisador realizou uma expedição até a Serra do Apiaú, que fica no estado de Roraima, no município de Iracema, próxima à cidade de Mucajaí. “É uma serra pequena, que chega a quase 1.500 metros de altitude, e tem um ambiente especial, que é o foco do meu interesse em serra:  a floresta nebular”, diz Cohn-Haft.

O pesquisador explica que quanto mais alta, mais fria e mais úmida é a floresta, mais o ambiente difere do tipo encontrado na baixada. Segundo ele, a floresta montana – aquela que fica acima de mil metros e é “banhada” pelas nuvens (floresta nebular ou floresta nas nuvens) – é tão diferente das matas de terras baixas da Amazônia, que os animais e plantas também são diferentes.

“Uma parte da diversidade da Amazônia é justamente a diversidade de tipos de ambientes. Em topos ou encostas de serra é um ambiente diferente das baixadas, e é por isso que vamos para conhecer a flora e a fauna desses lugares”, diz o pesquisador.

O pesquisador conta que na Serra do Apiaú, uma das coisas interessantes da expedição foi, de certa forma, a falta de descobertas. “A serra é pequena e muito isolada. É como se tivéssemos achado uma rocha no meio do mar e esperávamos encontrar nessa rocha toda a mesma exuberância de vida que tem numa ilha maior”, comenta Cohn-Haft. “Não tem. Tem menos tipos de bicho e menor diversidade”, destaca.

Ele explica que isto é um fenômeno previsível previsto pela teoria da biogeografia de ilhas: quanto menor a ilha e mais isolada, menos espécies terão lá.

O pesquisador revela que o mais gratificante, do ponto de vista científico, foi ver que os integrantes da expedição estavam certos de que esse lugar isolado tinha menos bicho do que num lugar maior ou mais conectado. “Mas a coisa mais legal dessa serra é que é um lugar que tem floresta nebular, linda e cheia de musgo e umidade pingando e de fácil acesso”, conta.

Segundo o ornitólogo, de todas as serras amazônicas, onde para se chegar, a maioria precisa de helicóptero, ou entrar pelo lado venezulelano, ou andar vários dias a pé, na Serra do Apiaú a chegada é por via terrestre com a facilidade de se contratar alguém para guiar a subida e no mesmo dia estar numa floresta nebular totalmente diferente da mata que costuma-se ver na Amazônia.

Na opinião de Cohn-Haft, a Serra do Apiaú é o cartão postal da floresta montana amazônica que precisa ser mostrada para o mundo. “Cabe a todos nós batalharmos para garantir o futuro daquele lugar e envolver o povo da região a se interessar pela proteção da serra”, ressalta o pesquisador.

Cohn-Haft diz que pretende voltar e compartilhar com as comunidades que vivem no pé da serra os resultados da expedição. “Devemos a eles uma explicação sobre os resultados da nossa pesquisa e vamos sondá-los quanto à vontade de preservar a área, que oferece para eles a possibilidade de gerar uma alternativa de renda”, revela.

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