Enxergar sem ver: arqueólogos analisam possibilidades de ocupação indígena pré-colonial no Amazonas

Foto: Reprodução/Insituto Mamirauá

Um grupo de pelo menos 15 pesquisadores de universidades federais têm analisado cerâmicas e outros materiais que foram encontrados em um sítio arqueológico localizado no Lago Caiambé, no município de Tefé , no Amazonas. O objetivo é analisar o que foi coletado para tentar compreender de que forma se deu a chegada dos povos relacionados à cerâmica Polícroma em uma área ocupada por povos relacionados a produção da cerâmica Borda Incisa.

De acordo com a bióloga no Instituto Mamirauá, Mariana Cassino, o projeto investiga dois momentos culturais que ocorreram na bacia do Rio Solimões. A ideia é ajudar a desvendar como ocorreu a ocupação daquela área realizada pelos povos indígenas, há cerca de 1,5 mil anos. “Tiveram muitas outras ocupações antes dessas duas que estamos estudando mais especificamente, que são as populações indígenas que produziam a cerâmica tradição Borda Incisa, em que há hipóteses de que estejam relacionadas a uma expansão de povos do tronco linguístico Aruaque, e as populações que produziam a cerâmica Polícroma (várias cores), que é mais recente e poderia estar relacionada à povos de língua Tupi”, especificou.

A expansão Polícroma se deu de uma forma que os arqueólogos ainda não compreendem, comentou Mariana. “Aqui na região da confluência entre os rios Solimões e Negro, por exemplo, os estudos que foram feitos, indicam que a transição entre as populações que estavam aqui e produziam essa cerâmica Borda Incisa e as populações que produziam a Polícroma que chegaram depois, foi muito abrupta. Provavelmente envolveu conflitos, guerras e a forma como a cerâmica Borda Incisa desaparece dos registros arqueológicos e surge a Polícroma, é um indício”, contou.

No médio Solimões o que impulsionou a escavação, que durou cerca de um mês, é que os indícios de conflitos entre esses dois grupos foi branda. “Foi encontrado lá, ao invés da substituição abrupta dos tipos de cerâmica, é uma transição de mistura dos dois tipos e até mesmo o que chamam de cerâmica de fluxo, que possui características de ambas. Isso indica que ao invés de guerras, esses grupos, hipoteticamente, estavam interagindo, de alguma forma se relacionando”, destacou.

Especialista em vestígios botânicos, Mariana comenta ainda que os sedimentos coletados tamb´m ajudam a identificar a forma como os povos lidavam com as plantas, por exemplo. “São caixas e caixas de material, que serão processados e analisados. Eu vou analisar o carvão, com a arqueobotânica conseguimos entender como eles lidavam com a flora amazônica, como preparavam o que comiam, como eram enterrados os mortos. Nós queremos entender isso”, afirmou.

O grande volume de material coletado, agora, será analisado para entender de que forma houve essa interação. “Nosso intuito é tentar compreender a história de longa duração da Amazônia, das populações indígenas pré-coloniais. Queremos saber o que aconteceu no ano 1.000, que é um ano importante para arqueologia da Amazônia”, afirmou. A pesquisa é tema de mestrado de Rafael de Almeida Lopes, da Universidade Federal de Sergipe.

“Até hoje fico impressionada como o olhar de arqueólogo consegue enxergar coisa que uma pessoa comum não consegue ver. Você chega na área e ele acha caminhos antigos, montes que podem representar lixeiras, coisas que na hora que se olha não se acredita que é aquilo. O que esta vendo ali, não é o que estava há mil anos atrás”, comentou sobre a experiência que tem adquirido na região. O estudo segue durante todo o ano de 2017.

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