Centro de estudo de quelônios completa dois anos de criação em Manaus

Centro completou dois anos dia 12 de fevereiro. Foto: Luciete Pedrosa/Inpa

O Centro de estudos e exposição de quelônios vivos da Amazônia (Cequa) completa dois anos de atividade em Manaus em 2017. O espaço funciona dentro do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e realiza trabalhos sobre o comportamento alimentar e reprodutivo, regulação de temperatura por ninho e vocalização de tartarugas (bioacústica). Desde a inauguração (12 de fevereiro de 2015), o Cequa recebeu aproximadamente sete mil visitantes.

Para marcar a data, o centro realizou uma festa no sábado (18), na sede, localizada no Bosque da Ciência, próximo ao Lago Amazônico. Atualmente, o Cequa abriga cerca de 130 animais. O espaço funciona para visitação de terça a sexta-feira, das 8h às 17h.

“Apesar das dificuldades financeiras, temos muito a comemorar, especialmente a aprovação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Tartarugas da Amazônia – Conservando para o Futuro”, conta o coordenador do Cequa, o pesquisador Richard Vogt, especialista em conservação e ecologia de tartarugas de água doce.

Além deste INCT, o Inpa tem outros dois Institutos com recursos aprovados junto ao CNPq, que são o INCT Madeiras da Amazônia e o INCT Adaptação da Biota Aquática da Amazônia (Adapta). “Tivemos um corte de 40% do valor, mas deveremos receber R$ 6 milhões, que serão aplicados, por exemplo, para pagar bolsistas, renovar o Lago Amazônico, a praia, além de comprar barcos e consertar os motores. Estou feliz da vida”, comemora Vogt.

O
Cequa

Construído com recursos do Programa Petrobras Ambiental numa área de cerca 1.000 m2, o Cequa conta com uma estrutura de apoio aos pesquisadores nos experimentos em lagos, praias para desova e incubadoras para os filhotes. Possui quatro tanques de 4x7m onde estão expostos exemplares de quelônios amazônicos vivos, como tracajá (Podocnemis unifilis), irapuca (Podocnemis erythrocephala), cabeçudo (Peltocephaulus dumerilianus) e mata-matá (Chelus fimbriata). Possui ainda um terrário com seis poços contendo exemplares menores de jabutis-machado, perema, lalá e muçuã.

Por meio das câmeras de vigilância instaladas no terrário – recinto artificial composto por terra, plantas e poços, simulando um ambiente natural – os especialistas conseguiram acompanhar a desova múltipla da perema, espécie semiaquática que possui incubação prolongada com cerca de cinco meses, e é um dos quelônios menos estudados no Brasil.

“Temos várias espécies desovando no prédio, como a perema, por exemplo, que o numero de desova por ano na natureza não é conhecido, e no nosso cativeiro está colocando dois ninhos anualmente com um a dois ovos em cada”, diz Vogt.

Estudos envolvem comportamento e bioacústica dos animais. Foto: Luciete Pedrosa/Inpa
Depois de estudar a bioacústica das tartarugas-da-amazônia, animais ameaçados pela grande caça ilegal e consumo de carne e ovos, os especialistas expandiram as pesquisas para outras espécies. Antes se pensava que as tartarugas não ‘falavam’, mas hoje se sabe que os filhotes se comunicam no ninho e na incubadora para juntos decidirem a data do nascimento.

“Pela primeira vez estamos estudando a vocalização das iaçás ou pitiús, peremas e irapucas. E isso é algo novo e muito importante para entender a variabilidade de vocalizações e comportamento de quelônios no mundo. Acredito que todas as espécies de quelônios no mundo estão vocalizando, e as espécies mais sociáveis como tartarugas da Amazônia vocaliza mais”, revela Vogt.

Das 335 espécies de quelônios do mundo descritas pela ciência, sabe-se que apenas 49 vocalizam, ou seja, utilizam sons como um comportamento social de interação de indivíduos. Faltam estudos para as outras espécies.

Educação

O Cequa é um espaço que busca, por meio de ações conjuntas de educação ambiental e de pesquisa, o aumento da valorização e da consciência ecológica dos amazonenses frente à dificuldade para a conservação de quelônios, destacando-se, principalmente, o consumo, o comércio ilegal e a importância desses vertebrados aquáticos para o equilíbrio ambiental na Amazônia.

Uma das estudantes que atuam no Centro é aluna de Biologia, Thaisa Fernandes, que desenvolve na iniciação científica pesquisa sobre o comportamento reprodutivo do cabeçudo (Peltocephaulus dumerilianus), desde o acasalamento até a desova. “O cabeçudo é uma espécie onívora e está distribuído pela Venezuela, Colômbia, Peru e Brasil, sendo sua maior distribuição na região amazônica e em águas escuras”, diz. “Acredita-se ser o animal mais antigo da família Podocnemidae”, acrescenta.

Dotado de um auditório com capacidade para 65 pessoas e um amplo laboratório para estudos das espécies de quelônios da Amazônia, o Cequa também conta uma biblioteca para dar suporte a pesquisadores e alunos dos programas de prós-graduação e de iniciação científica do Inpa vinculados ao projeto. Atualmente funciona com ajuda de voluntários, como os estudantes de mestrado, doutorado e de Iniciação Científica. “O Inpa está ajudando como pode, mas ainda falta muito a ser feito”, conta o pesquisador.

INCT

Com o recurso que o INCT Tartarugas da Amazônia deve receber, o pesquisador Richard Vogt espera investir também na ampliação do prédio do Cequa com a construção de outro andar (o segundo pavimento) e na aquisição de equipamentos para trabalhos de campo em telemetria, como teletransmissores e sonares que serão usados em testes para saber a movimentação das tartarugas na várzea e igapó, já que algumas espécies da Amazônia migram muito, como a tartaruga-da-amazônia  e o iaçá.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Cogumelo tóxico é encontrado em áreas urbanas de Santarém e pesquisadores fazem alerta

Na região amazônica, esse cogumelo tem poucos registros de ocorrência e ainda não há informações nos meios oficiais de casos de intoxicação por ingestão acidental da espécie.

Leia também

Publicidade