Há um ano, Marcelo começou a sentir formigamentos no lado direito do corpo, mas não deu importância. Teve dois episódios de crises convulsivas, um dia desmaiou na empresa onde trabalha e um amigo o levou para o Hospital Regional de Marabá. Exames foram realizados e uma tomografia atestou uma lesão no cérebro. Ao ser transferido para o Ophir Loyola, referência em neurocirurgia no Estado do Pará, a equipe definiu a técnica cirúrgica com uso de tecnologia que emite e recebe estímulos cerebrais do início ao término da manipulação do órgão.
Ao saber que precisaria estar acordado e falando durante o procedimento, Marcelo, que também é músico na igreja onde congrega, pediu para cantar e tocar o louvor “Deus de Promessas” do cantor gospel Davi Sacer, além de outras canções. “Eu estava esquecendo memórias recentes há algum tempo, mas sempre tive dificuldade de memorização. De dez frases que ouço, só consigo lembrar de cinco. Não sei o motivo pelo qual estou passando por essa experiência, mas sei que há muita coisa para se cumprir na minha vida, por isso escolhi a canção”, disse.
Cirurgia
Durante a avaliação com a neuropsicológa, Ana Carla Anijar, constatou-se um déficit cognitivo que poderia ser agravado durante uma cirurgia convencional, portanto, durante todo o processo cirúrgico, realizou-se a estimulação cortical para a detecção das áreas que poderiam ser manipuladas para não trazer sequelas.
O chefe de neurocirurgia, Reginaldo Brito, explica que a cirurgia com paciente acordado já foi realizada no hospital. Mas essa é a primeira em que o paciente cantou e tocou um instrumento durante o procedimento. “A captação das funções motoras e de linguagem foram realizadas mediante testes neuropsicológicos, que envolvem atividades de movimento e de memória ”, informou.
A princípio, Marcelo foi entubado, submetido à anestesia geral e recebeu eletrodos conectados em todo o corpo para o mapeamento das áreas eloquentes e da localização do tumor. “Após a abertura do osso do crânio (craniotomia) com auxílio do aparelho neuronavegador, a membrana (dura-máter) que cobre o cérebro, é anestesiada localmente. O paciente foi acordado pela equipe anestésica por meio da diminuição do nível de sedação para responder aos comandos”, explicou o neurocirurgião Airton Araújo.
A cirurgia durou em torno de 6h com metodologia que reduz complicações cirúrgicas e o tempo de internação. “O grande benefício é poder realizar o procedimento com máximo de retirada da lesão cerebral sem causar déficits para o paciente. Realizamos uma neurocirurgia oncológica funcional com precisão e segurança”, enfatiza Airton.