O avanço do crime organizado na região é uma das principais preocupações das autoridades na região onde, atualmente, atuam 21 mil militares. Na década de 1950, mil profissionais exerciam a missão de garantir a tríade ‘integridade nacional, soberania e defesa da pátria’ nos 9.762 quilômetros (km) de fronteira brasileira da região com Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia. Nessa faixa, as Forças Armadas exercem o chamado poder de polícia em uma faixa de 150 km de largura dentro do território brasileiro, por meio de 24 pelotões e um efetivo de 1.500 militares provenientes de todo país.
“Está havendo um processo de pacificação, de desarmamento, mas nos preocupa a Frente Número 1 [das Farc, composta por 200 guerrilheiros], que existem indícios de que alguns elementos talvez não fossem aderir ao processo de pacificação. A droga, a cocaína, o skunk, que entra aqui dentro no nosso país [por essa região] é proveniente dessa área”, explica o chefe do Comando Militar da Amazônia general Miotto.
Segundo o ministro da Defesa, Raul Jungmann, o arsenal de armas dos dissidentes das Farc pode inclusive chegar às facções criminosas responsáveis pela atual crise no sistema penitenciário brasileiro. “Com o acordo de paz [descumprido], o arsenal deles está ficando uma de parte na mão dos dissidentes ou mesmo não sendo entregue. Essas armas podem vir a chegar aos nossos centros metropolitanos, agravando a crise de segurança [pública no país]”, aponta.
Fronteiras
O Brasil tem, ao todo, 17 mil km de fronteiras. Em toda a América do Sul, o país só não faz divisa com Chile e Equador. Os desafios, no entanto, vão além do tráfico de drogas. De acordo com o general Miotto, as tropas militares enfrentam diariamente a pesca ilegal, o tráfico de armas, contrabando, garimpo ilegal, dragas nos rios, imigração ilegal, desmatamento, infrações ambientais, pistas de pouso ilegais, extração ilegal de madeira e tráfico de animais silvestres.
“Tudo isso que ocorre na fronteira vai impactar nos grandes centros urbanos do nosso país e com organizações criminosas fomentando”, disse. Segundo o militar, o tráfico internacional de animais silvestres paga valores exorbitantes por uma espécie rara ou em extinção, como a jiboia, que chega a ser negociada por US$ 1,5 mil; a cobra coral verdadeira, por US$ 31 mil e a arara-azul,que pode valer US$ 60 mil, com destinos a países europeus e aos Estados Unidos.
Isolamento
As grandes distâncias dos centros urbanos impõem aos militares e moradores das regiões de fronteiras limitações como infraestrutura precária e até mesmo ausência de serviços do Estado em decorrência de verdadeiros vazios demográficos. O acesso restrito é realizado por meio dos rios ou rotas aéreas que, em determinadas regiões, são quinzenais.
“Estou acostumada com o isolamento. A família militar aqui no pelotão é a minha família. Em uma cidade grande as opções de lazer são mais diversas. Aqui é uma vida muito tranquila e até mesmo limitada, mas a experiência nessa região é algo que vou levar para o resto da minha vida. Atendemos uma área muito importante para o país”, conta a tenente Fernanda Nascimento, farmacêutica de 25 anos. A militar é uma das duas oficiais mulheres da tropa do Exército em Vila Bittencourt.
Quarenta minutos de lancha separam Vila Bittencourt de La Pedrera, a cidade mais próxima, na Colômbia. É de lá que os moradores podem sair de avião a cada quinze dias. A comunidade, que abriga um pelotão de fronteira, está localizada a 1.062 km da capital, Manaus. Aparelho presente na mão de vários moradores do vilarejo, o celular permite acesso ao restante do país por meio da internet. “Apesar de fraca, a internet nos conecta com o restante do país. Mas sinto falta do telefone, de ligar e ouvir a voz das pessoas da minha família”, afirma Fernanda.
SisFron
Em visita ao centro de controle do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), em Dourados (MS), o ministro Raul Jugmann ressaltou o importância da atuação do 35 mil militares da Marinha, Exército e Aeronáutica nas regiões de fronteiras de todo país. O sistema, desenvolvido pelo Exército Brasileiro, com orçamento de R$ 450 milhões previstos para 2017, permitirá a fiscalização da faixa limítrofe com os 10 países sul-americanos.
“A fronteira está distante fisicamente, mas está mais do que nunca, perto das nossas cidades, das nossas metrópoles. É na defesa delas, na segurança, que vamos conseguir reduzir essa onda de criminalidade. Vamos conseguir combater, aqui no seu início, as drogas, o contrabando, o descaminho”, ressaltou.