28,38 metros com uma margem de erro de 30 centímetros para cima ou para baixo, devendo oscilar entre 28,08 a 28,68 metros: esta é a previsão do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), Jochen Schongart para a cheia do rio Negro para este ano, em Manaus. Isso significa que, pelo modelo, não haverá uma cheia que causará problemas na cidade ou nas zonas rurais. A informação é do modelo matemático que desenvolveu de previsão de cheias do rio Negro.
No ano passado, o modelo de Schongart estimou a cheia do rio Negro de 29,18m (nível médio com margem de erro de 30 cm para cima ou para baixo) e o rio atingiu a marca dos 29 metros, causando grandes impactos sociais e econômicos. O pico da cheia acontece em junho.
O pesquisador explica que depois de uma série de cheias extremas, o modelo prevê uma cheia acima da média das enchentes históricas. “Com essa previsão dá para ficar tranquilo, porém, é sempre importante acompanhar e monitorar daqui pra frente o comportamento do nível da água”, diz Schongart. A média histórica do rio Negro é de 27,87 metros com base nos dados que se tem desde 1903.
Segundo o pesquisador, em comparação com o mesmo período do ano passado, o Rio Negro, até a última segunda-feira (19), estava com 2,09 metros abaixo do nível na mesma data. Ou seja, em 2017, naquela mesma data as águas tinham subido até 26,60 metros. Ontem, o nível do rio marcava 24,51 metros.
“Neste mês de março o rio encheu pouco, passando por um fenômeno chamado de repiquete nos últimos dias (estagnação do nível das águas até uma pequena descida), e agora aparentemente o rio está começando a encher novamente”, diz Schongart. O rio Negro atinge seu nível máximo geralmente na segunda quinzena de junho.
Anomalias
Schongart explica que no Pacífico Equatorial, onde as anomalias de temperaturas superficiais, nos últimos meses, tiveram influências no regime de chuva e de cheias, devido às condições de La Niña naquela região. “Ou seja, um esfriamento que normalmente traz mais umidade para a Bacia Amazônica e com isso chuvas acima das condições normais e uma cheia pronunciada”, explica o pesquisador. “Porém, pela previsão do modelo não será uma cheia que causará muitos problemas na cidade ou nas zonas rurais”, pondera.
Tendências
O pesquisador explica que no Porto de Manaus há um registro excepcional de medições do nível da água que começaram em setembro de 1902. Trata-se de uma série histórica que abrange mais de 115 anos. “Isso permite algumas análises para verificar se temos manifestações de mudanças climáticas causadas pelo ser humano”, diz.
Segundo ele, tem-se observado nos últimos 30 anos a tendência de aumento de cheias que resultaram nas grandes cheias de 2009 (29,77 metros); 2012 (29,97 metros); 2013 (29,50 metros), 2014 (29,33 metros), 2015 (29,66 metros) e 2017 (29,00 metros), ou seja seis cheias extremas em dez anos, entre estas as duas mais altas no registro (2012, 2009). Antes disso, Manaus teve cheias acima de 29 metros somente nos anos de 1999, 1994, 1989, 1976, 1975, 1971 e no período antes da década de 70 somente nos anos de 1953, 1922 e 1909.
“Esse momento de frequência e intensidade de cheias não são observadas nas primeiras décadas do registro. É algo que preocupa porque se trata da maior bacia hidrográfica do mundo onde temos quase 20% da água doce do mundo circulando”, diz. “E essa tendência de cheias e secas mais severas é algo para se preocupar. As pesquisas têm que fornecer informações e quais os fatores que causam essas tendências”, acrescenta.
Segundo o pesquisador, sabe-se, no entanto, que a grande influência vem dos oceanos pelas anomalias de temperaturas superficiais que causam intensificações da circulação atmosférica. “As oscilações multidecadais (oscilações de baixa frequência que não mudam ano por ano e sim ao longo de décadas) também têm fortes influências no regime como, por exemplo, a Oscilação Multidecadal do Atlântico que tem mais influência nas secas e a Oscilação Decadal do Pacífico que tem influência no regime de cheias.
Complexidade
“Isto mostra a complexidade da hidrologia na Amazônia e dificuldade fazer previsões ancoradas par o futuro porque raramente temos uma série de dados tão longos como em Manaus, o que representa apenas uma parte da bacia amazônica. Precisamos de mais dados do passado para fazer modelos mais ancorados para o futuro”, explica o pesquisador.
Na opinião do pesquisador, um ano com previsão de cheia baixa não quer dizer que a tendência de cheias severas não continuará. “Em 2016, a cheia não foi grande. Já em 2017 tivemos novamente uma grande cheia”, explica. “Então, um ano que fica um pouco abaixo dos 29 metros não quer dizer que essa tendência de cheias cada vez mais severas ficou interrompida. Mesmo com 28,38 ainda é um valor acima da média histórica e com este valor previsto a amplitude desde o nível mínimo da água do ano passado (17,34 metros) será mais de 11 metros, mais alta que a amplitude média (10,20 metros)”, finaliza.