Idealizador de três álbuns, quatro festivais indígenas e um campeonato de futebol, Haru Kuntanawa é líder mundial do seu povo e se apresenta antes de tudo como um sobrevivente.
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Haru Kuntanawa. foto: acervo pessoal
Ele lembra que seu povo, nativo da fronteira entre o Brasil e o Peru, no Estado do Acre, sofreu um genocídio em 1911. Durante o primeiro ciclo da borracha, [1877 a 1910], as dezenas de aldeias do povo Kuntanawa foram reduzidas a somente uma em processo de captura, escravização e extermínio, relata.
Haru é neto de anciões que testemunharam a violência. Ele conta que por muito tempo seu povo não foi sequer reconhecido como indígena e só saiu do domínio dos seringalistas cerca de 80 anos depois do genocídio, com a criação da Reserva Extrativista do Juruá. Mas o sonho de resgatar sua língua e cultura ainda enfrenta um empecilho: a falta de demarcação do território indígena.
Sem sua terra demarcada, o povo Kuntanawa não tem acesso à educação e nem saúde diferenciada, o que dificulta o resgate da língua e expõe à discriminação: Crianças e adolescentes indígenas já relataram situações de preconceito no ambiente escolar, vindo de professores e colegas.
Haru narra que a luta pelo território já ocorre há 25 anos. Mesmo após decisão do MPF (Ministério do Público Federal) determinando a demarcação, em 2018, o processo não foi concluído.
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Mais que território: reparação
Por meio da ASCAK (Associação Sócio Cultural e Ambiental) e da OPIRJ (Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá) as comunidades Kuntanawa procuram não só demarcar seu território, mas também conseguir reparação pela violência sofrida no genocídio.
Lideradas por Haru, as organizações estão estruturando uma comissão de justiça que registre e diagnostique os danos causados pelo genocídio e epistemicídio.
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“Queremos envolver todo o Estado brasileiro, para que possamos medir todos os impactos da violência, transformar isso em um relatório e demandar uma reparação que consiga recompor nossas comunidades. Eu acredito que esse processo vai ser um marco no Brasil, na política brasileira, porque queremos mais do que o nosso território de volta, a gente quer toda a cultura que nos foi retirada”, enfatiza Haru.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo IPAM. Escrito por Karina Custódio.