Com Roraima como porta de entrada, número de venezuelanos no Brasil cresce 18% em um ano

Migrantes fogem da crise no país vizinho. Número já passa de 190 mil pessoas. 

O número de venezuelanos que entrou no Brasil em 2023 chegou a marca de 192.021 pessoas, um aumento de 18% em relação a 2022. Principal porta de entrada para migrantes no país, Roraima tem atualmente oito abrigos e três alojamentos que atendem a população que deixa a Venezuela em busca de melhores condições de vida.

Em números reais, no passado entraram no Brasil 30.646 venezuelanos a mais que os 161.375 de 2022. Atualmente, o fluxo diário de entrada no Brasil pela fronteira, em Pacaraima, é de até 400 pessoas.

Desde 2017, quando o governo federal passou o monitorar o fluxo migratório, 1.028.634 de venezuelanos entraram no país – desses, 53% permaneceu em solo brasileiro. Os dados foram enviados ao g1 pela Casa Civil, responsável pela operação Acolhida.

Migrantes venezuelanos próximos ao posto de triagem em Boa Vista. Foto: Kendria Calvacante/Rede Amazônica RR

Implantada em 2018 pelo governo federal, a operação Acolhida é responsável pelo fluxo migratório no país. Entre as ações, está a coordenação dos abrigos onde vivem os migrantes em Boa Vista e em Pacaraima, município de Roraima na fronteira com a Venezuela.

Atualmente, há 7.484 migrantes abrigados nos espaços geridos pela operação Acolhida. Para que consigam vagas nos abrigos, os migrantes precisam passar por algumas etapas. Uma delas é o posto de triagem, onde eles têm acesso aos trâmites para regularização migratória.

“Nos temos três grandes eixos na operação: o ordenamento da fronteira, que é receber as pessoas em Pacaraima, fazer a documentação. O segundo grande eixo é o abrigamento, onde a gente tem dois abrigos em Pacaraima, mas são abrigos mais temporários, e aqui em Boa Vista. E o terceiro eixo é a interiorização”,

explicou o general Helder Freitas Braga, comandante da operação.

Para realizar a distribuição dos refugiados de Roraima para casas de apoio em outros estado, é feito o processo de interiorização. A meta da Acolhida é interiorizar em média 2.500 venezuelanos por mês. De 2018 até janeiro deste ano, foram interiorizados 124.843 migrantes. Os municípios que mais recebem migrantes são Curitiba (7.816), Manaus (5.512) e São Paulo (5.465).

Migrantes na rua

Agência da ONU para na gestão migratória ordenada e humana, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) atua junto com a operação Acolhida no atendimento aos migrantes e faz o mapeamento deles em Roraima e todo o país. Um desses estudos mostra que há no estado 2.793 venezuelanos em situação de rua ou fora dos abrigos.

Essas pessoas, em alguns casos são famílias que se instalam de forma precária na rua, em espaços cobertos por lonas. Neste locais, roupas são estendidas ao ar livre em varais improvisados entre postes nas ruas, em praças e prédios abandonados. Um desses pontos com estruturas improvisadas fica na região da rodoviária internacional de Boa Vista, no bairro 13 de Setembro.

Muitos vivem da venda de alimentos e a prática de artes circenses nas ruas da cidade para conseguir algum dinheiro como a única forma de sustento da família.

A migrante Ruz Mary Escobar chegou a Boa Vista há cerca de 9 meses. Ela migrou com a família do país onde nasceu em busca de emprego e de conseguir uma vaga para a filha estudar. “A situação na Venezuela é caótica, ninguém sai do seu país se não por necessidade, vim para buscar um futuro melhor para meus filhos, minha família”, disse a migrante.

Professor da rede estadual de ensino em Mucajaí, no interior do estado, Deives Gavazza se adaptou a ter alunos migrantes. Ele afirma que não há distinção para o conhecimento.

“Quando sinto no aluno a dificuldade ou até mesmo uma dúvida, me aproximo e pergunto se posso ajudar de alguma forma, pois alguns não querem demonstrar a dificuldade junto à turma, mas quando chego para perguntar se mostram bastante interessados em aprender”, contou.

Entre as alternativas para garantir educação, projetos de ensino são desenvolvidos nos abrigos. Um desses é o “Super Panas”, da organização Pirilampos, que, em parceira com o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), presta o serviço.

“Este trabalho iniciou nos abrigos em 2019 e veio ganhando forma, agregando novos parceiros e hoje é um projeto consolidado, uma equipe multidisciplinar de educadores, psicólogos, assistentes sociais e a comunidade voluntária dão forma a esta história”, conta Mariann Mesquita, presidente da Pirilampos.

*Por Kendria Cavalcante, da Rede Amazônica RR

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