Foto: Cristino Martins/Agência Pará
Por Walace SO*
Buenas, na coluna passada sugeri uma reflexão sobre a nossa riqueza amazônica e o desconhecimento que o Brasil tem sobre a nossa Região Norte. E não demorou a termos uma triste demonstração de preconceito, intolerância e xenofobia escancarada nos jornais contra nós e o Nordeste. Velhos políticos e politicagens, já tradicionais da história brasileira deram essa demonstração mais uma vez com as falas do governador Romeu Zema de Minas Gerais.
E basta uma leitura da coluna passada para percebermos a importância que temos para o Brasil e para o planeta. O governador, que se diz representante de uma nova política, age como os antigos coronéis da época da República do café com leite, dos tempos que as oligarquias paulistas e mineiras se revezavam e dominavam o país, marcada pela corrupção (aliás, corriqueira em nossa história) aliada ao voto de cabresto e fraudes eleitorais que caiu com a Revolução de 1930.
É interessante analisarmos esse movimento, com dois pontos a serem observados. O primeiro partindo de um movimento contra a Reforma Tributária do atual mandato que estava engavetado. Ressaltando que a Zona Franca de Manaus correu sérios riscos nas mãos da política econômica do gerente do “posto Ipiranga”, no superministério de Paulo Guedes, que trabalhou mais para ele e para a elite financeira do que para o país.
A reforma tributária passou claro que com alterações, ela ainda terá que ser avaliada. E dada à complexidade da tributação brasileira em todos os aspectos e sentidos, esperamos que ela seja um avanço pela necessidade que temos sobre o tema. As regras da tributação devem ser simples e claras para seu devido funcionamento do Estado, para o bem de todos. Claro que temos problemas com excesso de arrecadação, contudo creio é gestão adequada é o que mostra a eficiência do imposto e não somente sua cobrança. A burocracia permite a corrupção e o fisiologismo visto no orçamento secreto.
Segundo, a necessidade de se manter um estado de acirramento e de divisão pós-eleição de 2022, com a manutenção da polarização de direita x esquerda. Que é um combustível perigoso socialmente falando. E ela volta a mostrar a pior face do brasileiro, que ficou escancarada desde a eleição de 2018. A face da intolerância com o tempero de preconceitos entre regiões, colocando umas como mais evoluída que outras por sua opção ideológica (ridículo). Somos um país de democracia jovem e de velhas culturas de ditaduras.
E tentando buscar um espaço na linha sucessória da direita radical, o governador Zema, não agiu na tradição mineira de silenciosamente comer pelas tabelas para saborear o mingau quente. Atropelou, buscando um espaço que provavelmente irá dividir com o governador de São Paulo. E ambos assoprando e beijando as mãos do ex-presidente, pois essa é a fatia que lhes interessa. Contudo os estados do Sul e Sudeste esquecem a importância da nossa região para país e o planeta.
Aliás, o descaso com nossa região sempre existiu e nossos próprios políticos é que deveriam ter uma atuação de defesa, investimento em pesquisa, arranjos/processos produtivos e logísticos para o melhorar o nosso desenvolvimento. E sinceramente não vejo o empenho deles de forma satisfatória e adequada ao desenvolvimento produtivo orientado pelas nossas características que o século XXI pede.
Assim, quero deixar claro para os adeptos do velho mascarado de “novo”, como na afirmação do governador de Minas, que não vamos aceitar essa ideia e comparação depreciativa de “vacas gordas e vacas magras”. Pois temos sim produtos e uma cultura maravilhosa, que também representa o Brasil. Não adianta dizer que foi mal compreendido ou que sua fala do foi retirada do “contexto”, ela é bem clara e tem um modus operandis.
Aliás, esse é um movimento comum dessas pessoas e seus discursos. Caro governador, o senhor foi sim preconceituoso e uma pessoa que ocupa um cargo público como o seu deveria ter respeito por todos os estados irmãos de Minas, lembrando que juntos formamos uma só nação. Bora refletir, não importa a região, cada uma dela contribui muito mais que esse movimento arrogante, tosco e mal educado feito contra as regiões Norte e Nordeste.
Sobre o autor
Walace Soares de Oliveira é cientista social pela UEL/PR, mestre em educação pela UEL/PR e doutor em ciência da informação pela USP/SP, professor de sociologia do Instituto Federal de Rondônia (IFRO).
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