Pesquisa avalia impacto das mudanças climáticas na mortalidade de árvores e emissão de carbono. Foto: Marcos Vicentti/Secom AC
A doutora em Biodiversidade e Biotecnologia, Simone Matias, está desenvolvendo uma pesquisa voltada para entender o impacto das mudanças climáticas na mortalidade das árvores da região e, consequentemente o acúmulo de carbono em área do Acre. O projeto foi submetido e aprovado no Programa Primeiros Projetos (PPP), financiado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapac), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Simone explica que o objetivo é entender como as mudanças climáticas estão impactando na emissão e absorção de carbono nas florestas do estado.
Um artigo elaborado por pesquisadores do Acre, intitulado “Extremos Climáticos na Amazônia: aumento das secas e inundações no estado brasileiro do Acre”, foi publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation, em dezembro do ano passado, e atesta que o estado do Acre é uma das regiões brasileiras mais afetadas por eventos climáticos extremos, o que tem se tornado recorrente, principalmente a partir de 2010.
A pesquisa de Simone pretende justamente avaliar parte desses impactos. “Essas mudanças têm contribuindo cada vez mais para a fragmentação de árvores, o que deixa essa floresta mais aberta, sujeita à entrada de fogo, por exemplo. Com isso, essas árvores acabam morrendo e, com essa maior mortalidade de árvores, vai diminuir a quantidade de carbono. Ou seja, aumenta a quantidade de carbono na atmosfera porque a floresta vai perdendo um pouco do serviço, que é essa absorção do carbono”, explica.
Como será a pesquisa?
O estudo vai avaliar áreas como Humaitá (que faz fronteira com o estado acreano); Fazenda Experimental Catuaba, em Senador Guiomard, e Parque Zoobotânico, em Rio Branco. Algumas dessas áreas já foram limitadas em outras pesquisas pela Universidade Federal do Acre (Ufac).
“Alguns pesquisadores já vinham analisando essas parcelas, que chamamos de parcelas permanentes, porque já é uma área marcada. Então, vamos naquela área, identificamos as árvores, é colocada uma placa e aí podemos acompanhar, no decorrer dos anos, se ela cresceu, se está viva ou morta e quantidade de carbono que está acumulando”,
explica.
A ideia de delinear uma área no Parque Zoobotânico dentro da Ufac é poder acompanhar mais de perto, já que as outras áreas ficam em locais mais distantes. Já dentro da universidade, esse deslocamento é facilitado e pode ser feito mensalmente.
Para ter os detalhes desse cenário, cestos são colocados na base das árvores para que todas as folhas caiam nesse espaço delimitado. A partir disso, é feito a pesagem desse material e é calculada a biomassa desses orgânicos.
“Esse cesto vai pegar tudo de folha que cair ali naquela área. Com isso, a gente sabe quanto que as copas das árvores estão liberando de carbono. No Acre, não temos muitos estudos que falem da deciduidade das florestas, então agora a gente consegue acompanhar os meses, de agosto, setembro, avaliando se está caindo poucas ou muitas folhas, considerando esse volume de acordo com a sazonalidade”, esclarece.
Nesse processo, quanto mais a árvore perde folhas, mas ela emite gás carbônico, o que é ruim para o meio ambiente.
Além dos cestos, a pesquisa envolve equipamentos como paquímetro, balança de precisão e estufas. Todo o material coletado no período do levantamento também será disponibilizado para outras pesquisas dentro ou fora do ambiente acadêmico.
“Outro dado importante que vamos obter é saber qual espécie de árvore é mais resistente às mudanças climáticas, o que vai nos possibilitar sugerir esse tipo de árvore para os trabalhos de recuperação e reflorestamento que já existem em todo o estado”, relata.
Incentivo à pesquisa
Entre os seis projetos que tiveram o investimento de R$ 420 mil, Simone é a única mulher entre os aprovados. Ela disse que se sente honrada em ser a representante feminina, mas destacou que queria ver mais mulheres desenvolvendo trabalhos importantes para a ciência.
“Minha presença como única mulher também é uma forma de tentar fortalecer mais o público feminino na área da pesquisa no estado”, reforça.
A secretária do Meio Ambiente, Julie Messias, afirmou que o incentivo ao ambiente científico é fundamental para a geração de conhecimento, pois quando aplicado fortalece a gestão pública: “Na área ambiental, a pesquisa científica tem o potencial de orientar as políticas públicas, gerando instrumentos que podem garantir maior eficiência da execução de ações de preservação, conservação, alternativas sustentáveis para a produção e outros”.
O Centro Amazônico de Fronteiras (CAF) da Universidade Federal de Roraima (UFRR) receberá, no dia 24 de maio, a partir das 18h30, o lançamento dos livros: ‘O Espírito da Floresta’, do xamã e líder político Davi Kopenawa Yanomami e o antropólogo Bruce Albert; e ‘Diários Yanomami’, escrito por cinco pesquisadores indígenas da Terra Yanomami.
O evento de lançamento das obras literárias foi intitulado ‘Reahu na UFRR’ pois, na língua Yanomae, Reahu significa festa ou celebração, considerado o principal ritual dos Yanomami.
Dos mesmos autores de ‘A queda do céu’, ‘O Espírito da Floresta’ reúne reflexões e diálogos que, a partir do saber xamânico dos Yanomami, evocam, sob diversas perspectivas, as imagens e os sons da floresta, a complexidade de sua biodiversidade e as implicações trágicas de sua destruição.
“Quando meus pensamentos estão tristes, às vezes pergunto a mim mesmo se mais tarde haverá xamãs, talvez não”, diz em seu mais novo livro o presidente da Hutukara Associação Yanomami, maior liderança da Terra Yanomami. “Mas, se acontecer, nossos filhos terão o espírito tão emaranhado que já não verão os espíritos e já não poderão ouvir seus cantos. Sem xamãs, ficarão desprotegidos e a escuridão tomará conta do pensamento deles”, reforça Davi.
Segundo o líder Yanomani é preciso preservar e passar adiante as sábias palavras que os antigos líderes espirituais transmitiram aos xamãs. ‘O Espírito da Floresta’ reúne textos originalmente publicados entre 2002 e 2021 em inúmeras exposições realizadas em Paris pela Fundação Cartier.
A obra é dividida em 16 capítulos com textos intercalados entre os autores e está à venda online na Companhia das Letras, na livraria Boa Vista e estará à disposição no dia do evento, na entrada do CAF. Para o lançamento dos livros, o público terá a presença do escritor Davi Kopenawa que fará uma palestra sobre o tema.
‘Diários Yanomami’
Os autores do ‘Diários Yanomami’ são os pesquisadores Mozarildo Yanomami, Darysa Yanomami, Josimar Palimitheli Yanomami, Alfredo Himotona Yanomama e Marcio Hesina. Na obra os escritores apresentam sua percepção de seu povo sobre os impactos do garimpo na Terra Indígena Yanomami durante os quatro anos (2019 até 2022) da gestão Jair Bolsonaro (PL).
A publicação conta com relatos em formato de diários, registro de depoimentos e entrevistas feitas pelos indígenas. O livro é bilíngue e sempre apresenta a primeira versão do texto em Yanomami com a tradução para português na página seguinte.
“Eu quero que vocês, brancos que nos defendem à distância, ouçam estas minhas palavras”, inicia o capítulo ‘Diários’, escrito por Mozarildo Yanomami, que estará presente no lançamento. A reflexão de Mozarildo passa pela violência dos garimpeiros contra as mulheres, sobre o desconhecimento dos não indígenas às violações que os Yanomami sofrem e o desejo de que esta publicação jogue luz sobre o tema e ajude a salvar o povo dele.
‘Diários Yanomami’ também estará à venda no local do evento, no dia 24 de maio, e no site da loja do Instituto Socioambiental (ISA).
O evento ‘Reahu na UFRR’ é uma realização da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Instituto Socioambiental (ISA) e Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Mortalidade materna indica falhas no atendimento pré-natal de indígenas; na foto, mulher indígena yanomami em Boa Vista (RR). Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
As mulheres indígenas morrem mais durante a gravidez e o puerpério que mulheres de outras etnias. Elas tiveram uma maior quantidade de mortes maternas em comparação a de mulheres não indígenas, no período de 2015 a 2021. Os dados são de estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) publicado no dia 15 de maio na revista científica ‘International Journal of Gynecology and Obstetrics‘.
O grupo avaliou os 13.023 casos de morte materna de 2015 a 2021 registrados na base de dados DataSUS, do Ministério da Saúde (MS). Deste total, 1,6% eram mortes de indígenas. Para comparar mortes maternas de mulheres indígenas e não indígenas, os pesquisadores calcularam a razão de morte materna, índice recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que divide o número de mortes pelo número total de 100 mil nascidos vivos de determinado grupo.
Segundo os resultados, entre as indígenas, a razão de morte materna foi de 115 mortes a cada 100 mil nascidos vivos – muito mais alta que a taxa observada entre não indígenas, de 67 por 100 mil nascidos vivos. O número está bem acima da meta da Organização das Nações Unidas (ONU) de chegar a menos de 30 mortes maternas por 100 mil nascidos vivos no Brasil até 2030. A mortalidade de mães indígenas se manteve estável durante todo o período, acima de 100 mortes por ano na maior parte dos anos avaliados.
O trabalho aponta, ainda, que a maior parte das mortes maternas entre indígenas aconteceu após o parto. “Isso evidencia que o cuidado às mulheres indígenas no pós-parto está sendo negligenciado”, afirma o coautor do estudo, José Paulo Guida, da Unicamp.
Segundo os dados, a principal causa dessas mortes foi a hemorragia, diferente dos dados gerais de morte materna no Brasil, causados por hipertensão. A hemorragia após o parto é uma causa comum de mortalidade de mulheres em países da África subsaariana, apontam os especialistas. “Tanto a hemorragia quanto a hipertensão são potencialmente tratáveis e evitáveis com medidas de vigilância do sangramento após o parto, uso de medicações para controle de pressão arterial e identificação precoce e oferta de antibióticos nos casos de infecção”, destaca Guida.
Os resultados mostram o contexto de vulnerabilidade da população indígena, que se traduzem em mais perdas de vidas neste grupo, com consequências para o contexto familiar e comunitário. “Uma morte materna provoca desestruturação familiar, perda de confiança da comunidade no sistema de saúde”, comenta o pesquisador. Além disso, elas evidenciam falhas nos sistemas de saúde e nas políticas públicas, incapazes de preservar vidas maternas de indígenas.
O Amazonas ainda vive o período de cheia de seus rios. Apesar disso, os órgãos de monitoramento estão atentos à previsão de uma seca severa para 2024 e a Defesa Civil do Estado fez um alerta à população que mora em áreas que costumam ser afetadas para que comecem a guardar água, alimentos e remédios.
A previsão de que 2024 tenha uma seca severa foi feita devido aos rios do estado estarem com níveis abaixo do esperado para época, segundo a Defesa Civil do Amazonas.
Ainda faltam alguns meses para que os impactos da seca comecem a ser sentidos, mas o secretário da Defesa Civil, coronel Francisco Máximo, antecipou em entrevista para a Rede Amazônica, recomendações para a população.
Uma delas é para as pessoas que moram em áreas onde o acesso é feito apenas por embarcações e que foram afetadas na seca do ano passado, para que sofram o mínimo possível este ano.
“Eu sei que é muito difícil abandonar o seu lar. Você precisa cuidar, mas que fique o mínimo de pessoas possíveis, para evitar o isolamento. Você que decidir permanecer, porque vai continuar cuidando da sua propriedade, você deve fazer uma estocagem de água, alimento e medicamentos para enfrentar o período de risco”,
disse o secretário.
Ainda segundo o secretário, a recomendação é que as pessoas que morem em áreas que costumam ser afetadas durante a estiagem busquem locais para se abrigar em municípios.
“Essas famílias, recomendamos que vão para casas de familiares nas sedes de municípios e aquelas que não tiverem condições de ficar na casa de familiares, que procurem o poder público. Tanto a prefeitura, quanto o governo, pois iremos disponibilizar locais para poder recepcionar”, finalizou.
Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br
Somos todos solidários com os nossos irmãos do Rio Grande do Sul. Não há como não nos sentirmos conectados com as pessoas que passam pelo que passam e cujas imagens acompanhamos pela mídia e redes sociais. Por mais fria que seja uma pessoa, não há como não sentir um pouco daquela dor de quem perdeu tudo, de vida de pessoas que amavam, as suas casas e bens materiais que tinham. Alguns já possuíam muito pouco e o tudo aqui ganha uma dimensão ainda maior. Sentimos ainda mais por serem pessoas próximas, parecidas com a gente.
Não são imagens de uma guerra que se passa no outro lado do mundo, com gente de culturas diferentes das nossas. Não, são pessoas que falam a nossa língua, possuem valores e um estilo de vida parecido com os nossos. Possuem nomes, sobrenomes, endereço e em muita coisa se parecem conosco. Pode estar acontecendo com alguém que conhecemos, um amigo, um parente. Tudo isto nos faz lembrar que poderia ser com a gente mesmo.
Um pouco de dor, nós sentimos. Não a dor destas pessoas, mas alguma dor por elas. Somos mais humanos nestas horas e sentimos alguma dor. Alguns sentem na hora, fazem algum tipo de contribuição e seguem a vida. Outros sentem mais profundamente, podem chegar a chorar e absorvem um tipo de tristeza, que perdura por mais tempo. Seguem os dias conectados com o sentimento destas pessoas, interiorizando a dor, muito mais do que expressando externamente. São capazes de passar por insensíveis, em uma sociedade que valoriza mais o que é mostrado do que é sentido, mais a imagem do que a realidade.
Não é relevante destacar que, no meio de um quadro tão sofrido, há os que buscam tirar alguma vantagem econômica, política ou de qualquer tipo. De certa maneira, estes seres se aproximam de bichos selvagens. É o caso dos que estupraram mulheres nos abrigos e nas ruas cobertas de água e de lama e dos que saquearam casas abandonadas às pressas para o salvamento de vidas. Vale mencionar, mas não vale nos prendermos a este lado sombrio que sempre acompanha o ser humano, e que é exatamente isso, o lado sombrio de nossa espécie.
Vale ressaltar, sim, que de uma maneira quase absoluta, somos todos solidários. Fazemos doações materiais que serão imprescindíveis. Somos quase todos do bem. Mas isto seria suficiente?
Podemos e devemos dar um passo além, assumindo o que poderíamos chamar de uma compreensão mais adulta do que acontece. Somos responsáveis pelo que ocorre no Rio Grande do Sul e por todos os acontecimentos que envolvem uma reação dura da Grande Natureza, que emite sinais antes, de vários tipos. Nossas ações ou a ausência delas, nossas palavras e nossos sentimentos poluem uma atmosfera que não é apenas física e que acumula impurezas que, atingindo determinado nível, precisarão ser eliminadas. Igualmente ao processo de acúmulo, nossas ações, pensamentos e sentimentos poderiam provocar tal purificação. Não ocorrendo isso, a mãe natureza, dentro de suas próprias leis, se manifesta, fazendo o que precisa ser feito.
Somos todos nós responsáveis pelas causas e seremos responsáveis pelo que virá depois. Há ações concretas e urgentes que precisam ser tomadas pelo poder público federal, estadual e municipal e há o que ser feito por cada um de nós, indo além da solidariedade, por mais importante que ela seja. É essencial que assumamos a responsabilidade, pelo que veio antes e pelo que virá depois.
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
Um patrimônio ao qual milhões de brasileiros, há inúmeras gerações, devem literalmente a vida. Esse foi um dos temas centrais durante o segundo dia da 104ª Reunião do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no dia 9 de maio, quando o grupo reconheceu o “Ofício, Saberes e Práticas das Parteiras Tradicionais do Brasil” como Patrimônio Cultural do País.
Após aprovação unânime dos conselheiros presentes à reunião, o Instituto deve proceder com a inscrição do novo patrimônio no Livro de Registro dos Saberes, ao lado de outros bens culturais imateriais já patrimonializados, como o Ofício das Baianas de Acarajé, os Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal ou o Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira.
Ao contrário dessas manifestações características de regiões específicas do País, porém, os Saberes e Práticas das Parteiras Tradicionais do Brasil correspondem a uma realidade presente em todo o território nacional. Compõem um repertório transmitido de geração a geração, mas que não deixa de se atualizar, mesclando conhecimentos tradicionais e religiosos com conhecimentos biomédicos, pelas mãos de mulheres que dão continuidade a uma história ancestral, mas ainda viva e fundamental – sobretudo em zonas rurais ou urbanas periféricas e entre grupos da população historicamente desassistidos pelo Estado, como quilombolas e comunidades indígenas.
Em dossiê produzido por pesquisadores do Iphan e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2021, para instrução do processo de registro do bem como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, as parteiras tradicionais são descritas como “mestras do ofício do partejar, detentoras de um repertório de saberes e práticas acerca de todas as etapas da gestação (pré-natal, parto e pós-parto)”. Limitar seu papel à assistência no nascimento de crianças, portanto, seria reducionista.
Segundo o documento, as parteiras atuam com uma ideia de atendimento contínuo, integral e holístico, que cobre “processos fitoterapêuticos, prescrições alimentares preventivas e curativas, mediação religiosa e regimes de conduta social”. Mas – e isso é o mais importante – remédios, banhos, chás, garrafadas, rezas e conselhos não são direcionados apenas às gestantes, puérperas e crianças, como também a outros membros da comunidade.
“Elas ainda estendem o cuidado para a família da gestante, trabalhando no aconselhamento, resoluções de conflitos e produção de rede de apoio necessária para o bem-estar da mulher, ajudando a melhorar a dinâmica doméstica e as relações da vizinhança”,
afirma o dossiê.
As parteiras atuam com uma ideia de atendimento contínuo, integral e holístico, que cobre “processos fitoterapêuticos, prescrições alimentares preventivas e curativas, mediação religiosa e regimes de conduta social”.
Nesse sentido, explica a coordenadora de Registro e Revalidação do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do Iphan, Marina Lacerda, “muitas vezes as parteiras se tornam verdadeiras lideranças comunitárias, cuja palavra carrega peso e autoridade”.
É nesse aspecto, diz ela, que reside o maior valor das parteiras como representantes de uma expressão cultural que merece reconhecimento do Estado. Mais até do que em sua atuação como agentes efetivas de saúde pública – que, na década anterior, havia sido uma das razões para o Iphan indeferir um primeiro pedido de registro do bem como Patrimônio Cultural do Brasil.
Interface com a saúde pública
O pedido original havia sido encaminhado à Superintendência do Iphan em Pernambuco, em 2011, por quatro instituições da sociedade civil ligadas ao segmento: Instituto Nômades, Grupo Curumim, Associação das Parteiras Tradicionais de Caruaru e Associação das Parteiras Tradicionais e Hospitalares de Jaboatão dos Guararapes. Contudo, a Câmara do Patrimônio Imaterial do Iphan deliberou que, “tendo em vista a grande interface com a área da saúde pública e as práticas médicas, considerou-se que o registro não é o instrumento mais adequado para salvaguardar essa prática e esses saberes”.
“À época, levantou-se a questão de possíveis conflitos do saber das parteiras com o saber médico”, diz Marina Lacerda.
Em 2015, motivado por novo pedido de registro feito pela então deputada federal amapaense Janete Capiberibe, o DPI reconsiderou a questão, entendendo que os valores patrimoniais representados pelas parteiras tradicionais não estão no campo da saúde pública, mas no “sistema de valores, visão de mundo e práticas culturais dessas comunidades brasileiras tão disseminadas por todo o território nacional”.
Segundo a nova argumentação, caberia ao Iphan “se ater [às] características culturais e de eficácia simbólica” do trabalho das parteiras, o que terminou por convencer a Câmara do Patrimônio Imaterial quanto à pertinência do processo de registro do bem, que seguiu para a fase de instrução técnica (pesquisas e elaboração de dossiês).
Foto: Eduardo Queiroga para Dossiê “Parteiras Tradicionais do Brasil” (Iphan/UFPE)
Reparação histórica
Mesmo em termos puramente sanitários, porém, o fato é que o ofício das parteiras tem sido cada vez mais valorizado por instituições e órgãos oficiais de saúde, nos últimos anos, por sua relevância real – e não apenas simbólica – para inúmeras mães e crianças pelo Brasil.
“Nas diferentes regiões do País, foram implementadas leis de amparo e promoção do ofício de parteira, o que mostra as manifestações legais de reconhecimento do poder público para com esse ofício”, relatam os autores do dossiê de registro elaborado por Iphan e UFPE, citando programas e políticas públicas em Pernambuco, São Paulo e Amazonas como exemplos recentes de uma parceria entre parteiras tradicionais e o Sistema Único de Saúde (SUS).
Trata-se de um reconhecimento, por parte do Estado, de que os saberes e práticas das parteiras tradicionais estão longe de ser um apanhado de crenças e superstições arcaicas sem valor efetivo. Pelo contrário: são um “cruzamento de matrizes culturais e epistemologias distintas”, na definição dada pelo dossiê de registro, e aberto para “absorver novos e atuais elementos e referências”.
Como um aprendizado de mão dupla, o que se vê hoje é uma mescla de rezas e óleos fitoterápicos com estetoscópios e técnicas sofisticadas de toques e massagens, além da aplicação de premissas que as parteiras seguem há séculos, às quais a medicina oficial tem prestado atenção crescente, como o respeito à subjetividade da parturiente ou à preferência por procedimentos poucos invasivos.
E tudo isso em regiões do País em que a assistência do Estado à população é insuficiente ou inexistente, como nota a educadora quilombola Givânia Maria da Silva, conselheira que ficou encarregada de elaborar o parecer técnico que foi aprovado, nesta quinta-feira, pelos membros do Conselho Consultivo do Iphan.
“Em uma combinação de continuidades ancestrais com, em muitos casos, ausência total de políticas públicas, as parteiras foram e continuam sendo os únicos suportes à vida de centenas de mulheres e seus filhos e filhas”. Oriunda da comunidade de Conceição das Crioulas, interior de Pernambuco – ela própria nascida pelas mãos de uma parteira, como quase todos seus conterrâneos –, Givânia conclamou os colegas de Conselho para que registrassem o novo patrimônio “dentro da chave de uma reparação histórica às parteiras tradicionais do Brasil, por tudo que representam, sobretudo em territórios tradicionais indígenas, quilombolas e de terreiros”.
“Em uma combinação de continuidades ancestrais com, em muitos casos, ausência total de políticas públicas, as parteiras foram e continuam sendo os únicos suportes à vida de centenas de mulheres e seus filhos e filhas”, afirmou a conselheira.
É para essas mulheres que, após a aprovação do parecer, o Iphan passará a dedicar esforços, segundo a diretora substituta do DPI, Diana Dianovsky, “na valorização e promoção desse patrimônio cultural”. “Um dos primeiros passos é ampliar a mobilização para a construção de um plano de salvaguarda que dê conta da diversidade da realidade do ofício das parteiras tradicionais do Brasil. Dessa forma, o Iphan poderá agir de forma coordenada, incluindo parceiros das esferas governamentais e da sociedade civil”, diz a diretora.
Vilhena, o coração econômico do sul de Rondônia, se prepara para a sétima edição do Sicoob Sabor, um festival gastronômico que faz parte do calendário turístico do estado. De 2 a 23 de julho, o evento promete agitar a cena culinária local, envolvendo 27 estabelecimentos, desde restaurantes e pizzarias até confeitarias e cafeterias. Durante este período, os clientes terão a oportunidade de votar em seus pratos favoritos, culminando em um encerramento festivo no Centro de Treinamento da instituição, repleto de palestras, atrações culturais, recreação e a cerimônia de premiação.
Concebido em 2017 pela gerente de comunicação, marketing e investimento social, Adevânia Silveira, e adotado pela diretoria da Credisul, o Sicoob Sabor nasceu da visão empreendedora de utilizar o espaço gourmet e cultural do centro de treinamento recém-construído, na época, para dinamizar a economia de Vilhena. “A ideia era criar um evento que refletisse a diversidade e a riqueza de nossa cultura gastronômica, ao mesmo tempo em que estimulasse o desenvolvimento econômico e o empreendedorismo locais”, explica Adevânia.
Premiação é aberta à população com atrativos culturais.Foto: Divulgação
Segundo Thiago Dal Cortivo — graduado em gastronomia e dono de um tradicional restaurante que funciona há 32 anos — “o festival traz benefícios para cidade”. Ele avalia que não apenas os comerciantes lucram. “Os clientes se permitem conhecer novos sabores e experiências, mais gente sai de casa para comer fora e isso aumenta o movimento e nos estimula a investir nos ambientes, no atendimento e em novas tecnologias na cozinha”, informa Dal Cortivo.
O festival não apenas fomenta a competição saudável e eleva a qualidade dos serviços, mas também inclui empreendedores de áreas correlatas à gastronomia: feirantes e agricultores participam de treinamentos e recebem suportes para projetos sociais. “A proposta é dar visibilidade e valorizar a cadeia produtiva os seus elos vilhenenses”, esclarece a idealizadora.
Há um ‘cinturão verde’ envolvendo a zona urbana com cerca de 4.500 produtores de hortaliças e legumes. Ano passado, vários deles passaram por treinamentos para adquirir conceitos sobre empreendedorismo e marketing, e puderam expor seus produtos durante o festival. Além disso, a Credisul promoveu a websérie “Do campo à mesa”, dirigida pelo cineasta rondoniense Lucas Oliver, contando o dia a dia de 12 agricultores, os cuidados com a terra, a cultura repassada de geração a geração e todo o processo de produção até que os produtos cheguem aos consumidores.
Evento estimula a criatividade e a educação financeira dos participante. Foto: Divulgação
Do genuíno ao internacional
Este ano, o tema ‘Amazônia Fusion’ desafia os participantes a mesclar sabores amazônicos com influências culinárias internacionais. Vilhena, conhecida como o portal da Amazônia Ocidental com cerca de 100 mil habitantes, é um mosaico de culturas, abrigando comunidades de alemães, italianos, árabes, japoneses e peruanos, entre outros.
Essa diversidade se reflete na gastronomia local, que nos últimos anos viu o surgimento de bistrôs elegantes e chefs como Thiago Dal Cortivo e Pedro Bagattoli, bastante conhecidos na cidade, que se mantêm atualizados com as tendências globais, sem deixar de lado as influências amazônicas.
“A oportunidade de desfrutar de pratos elaborados e deliciosos não se limita aos grandes estabelecimentos; ela se estende até os cantos mais modestos da cidade, como aqueles que frequento”, afirma a professora Cíntia de Lourdes Agnello, 29 anos. “A competição e os treinamentos oferecidos são importantes. Pelo que percebo, eles transformaram a culinária local, graças à iniciativa do Festival Gastronômico”, garante Cíntia.
Além de celebrar a cultura culinária, a Credisul enfatiza o empreendedorismo e a cooperação. “Desde o início, a educação financeira tem sido um pilar dos treinamentos oferecidos, beneficiando todos os envolvidos”, destaca Edevânia. O resultado é uma melhoria tangível na qualidade dos serviços e valorização da identidade.
“A gente não quer só comida“
O festival se tornou, ainda, um palco para a expressão de cultura em geral, com exposições de artes plásticas, esculturas, fotografia, artesanato indígena e apresentações musicais que ressoam com a essência nativista do projeto.
A Credisul até estabeleceu uma loja no centro de treinamento, onde produtos artesanais dos indígenas mamaindês são vendidos, com todos os lucros revertidos para a comunidade que produz as peças. A cooperativa de crédito também contribuiu com projetos de visitações turísticas, apresentações culturais dos habitantes originários e, ainda, com a ajuda de custos para a produção de pinturas em telas.
Sobre o autor
Às ordens em minhas redes sociais e no e-mail: julioolivar@hotmail.com . Todas às segundas-feiras no ar na Rádio CBN Amazônia às 13h20.
O Projeto Amazonas, uma parceria entre a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC/MRE), está atingindo um marco significativo na implementação de um sistema de monitoramento hidrometeorológico crucial na Bacia do Rio Madeira.
Atualmente, as Plataformas de Coleta de Dados (PCDs) estão em fase de montagem pela empresa vencedora DualBase. Após um longo trabalho da equipe do Projeto Amazonas, esse esforço está se concretizando com a montagem dos equipamentos, os quais em breve serão transportados para a Bolívia para a fase de instalação.
Esses dispositivos desempenharão um papel fundamental no aprimoramento do monitoramento da Bacia do Rio Madeira, uma área suscetível às variações extremas de nível dos rios. Além dos cinco equipamentos destinados à Bolívia, o Projeto Amazonas está em processo de licitação para doar mais cinco unidades ao Peru, ampliando assim a rede de monitoramento na sub-bacia do Rio Madeira, que é um afluente vital do Rio Amazonas.
A Bacia do Rio Madeira é compartilhada por três países fronteiriços: Bolívia, Brasil e Peru, com 51,20%, 39,45% e 7,9% de sua extensão, respectivamente.
A Sala de Situação de Recursos Hídricos da OTCA, que já recebe dados dos países da bacia amazônica, agora integrará informações desses novos equipamentos. Essa integração garantirá um monitoramento mais abrangente e eficaz da região, incorporando dados das PCDs instaladas na Bolívia e no Peru.
O Rio Madeira, formado pela união dos rios Mamoré e Beni na Bolívia, e pelo rio Madre de Dios, no Peru, tem mais de 3.000 km de extensão e é um dos principais afluentes do Rio Amazonas. Sua importância na regulação do regime de chuvas na região é indiscutível.
O Projeto Amazonas tem como objetivo primordial contribuir para a gestão compartilhada e sustentável dos recursos hídricos na Bacia Amazônica. Além disso, busca fortalecer a cooperação entre os países membros da OTCA, capacitando técnicos e promovendo o intercâmbio de conhecimentos sobre a realidade amazônica.
Com esses avanços, a Sala de Situação do Observatório Regional Amazônico (ORA) da OTCA estará mais preparada para monitorar a situação hidrológica e meteorológica da Bacia do Rio Madeira, identificar ocorrências e fornecer subsídios para a tomada de decisões visando a adoção antecipada de medidas mitigadoras dos impactos de secas e inundações.
Produtos naturais conhecidos na região e com grande valor nutricional são as atrações principais do I Congresso, realizado no Inpa, em Manaus.
Para discutir os avanços nas pesquisas e tecnologias de alimentos funcionais, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) realiza oI Congresso Internacional de Alimentos Funcionais da Amazônia (Ciafa), com o tema ‘Nutrir o Mundo e Preservar a Floresta’. O evento acontece nos dias 3 e 4 de junho, no Auditório da Ciência do Inpa, bairro Petrópolis, Zona Sul de Manaus.
O Ciafa busca enfatizar a relevância da Amazônia como fonte de ingredientes vitais e proporcionar um fórum amplo e colaborativo para compartilhar informações e experiências. O evento conta com o apoio institucional da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti) e do Creathus Instituto de Tecnologia da Amazônia.
De acordo com a coordenadora do Ciafa, a pesquisadora Francisca Souza, líder do grupo Alimentos e Nutrição e do Laboratório de Análises Funcionais e Química de Alimentos (LFQA/ Inpa), o evento visa se consolidar como um marco internacional para a discussão, promoção e preservação dos alimentos funcionais na Amazônia, com impactos positivos na nutrição global e na conservação da floresta.
Foto: Francisca Souza/Acervo pesquisadora
“O congresso reúne pesquisadores, acadêmicos e profissionais da área de alimentos funcionais, para compartilhar e discutir os últimos avanços científicos e tecnológicos relacionados aos alimentos da Amazônia. Isso ajuda a promover e impulsionar a pesquisa nessa área, a Amazônia é uma região rica em biodiversidade e recursos naturais. O Ciafa destaca a importância desses recursos, especialmente quando se trata de alimentos funcionais, que têm propriedades benéficas para a saúde além da simples nutrição”,
disse Souza.
Segundo a pesquisadora, há quase 40 anos o grupo Alimentos e Nutrição na Amazônia do Inpa, formado ainda pelos pesquisadores Jaime Aguiar e Dionísia Nagahama, além de estudantes de pós-graduação e bolsistas, estuda e identifica o potencial de uso e aproveitamento dos alimentos amazônicos que podem ir para o prato do amazonense. Entre eles estão pupunha, tucumã, camu-camu, cubiu e umari, que são convertidos em produtos como néctares, cereais, pães, doces, ricotas, compotas e geleias.
Souza ressalta que o Inpa tem desempenhado um papel significativo no desenvolvimento de novos produtos, agregando valor nutricional através da utilização das matérias-primas regionais. Como resultado do trabalho, a instituição possui patentes e tecnologias prontas para serem transferidas para a indústria e pequenos empreendedores interessados nos benefícios nutricionais e funcionais dos alimentos amazônicos. “Já temos patente do cereal matinal de pupunha e açaí, barra de cereais e néctar”, contou a pesquisadora.
Minicursos
No Ciafa serão realizados realizados minicursos nos dias que antecedem o evento (29/05), tratando de assuntos como Caracterização e quantificação por HPLC (cromatografia líquida de alta eficiência) de carotenoides em frutos Amazônicos, Compotas e geleias de frutos amazônicos e Alimentação funcional – desvendando a versatilidade da biomassa verde. Os minicursos acontecerão em duas localidades: no LFQA, no Campus III do Inpa (V8), e no Laboratório de Alimentos e Nutrição (LAN), campus 1 do Inpa (sede, Aleixo).
De acordo com Souza, o Ciafa representa um desdobramento do I Workshop de Alimentos Funcionais realizado em 2019, já que houve significativos interesse e participação. Além disso, o Ciafa antecede a 12ª edição da LacFlavors, uma das mais importantes reuniões de negócios do setor de Alimentos e Bebidas da América Latina e Caribe. A conferência empresarial é organizada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e acontecerá em Manaus, no Studio 5, nos dias 5 a 6 de junho.
Inscrições
O prazo e valor das inscrições varia conforme o minicurso escolhido e da categoria, indo do dia 15 a 29 de maio, e de R$40 a R$200 (estudante a profissional). A submissão de trabalhos também encerra no dia 27 de maio.
Turismo no Estado do Pará tem vários componentes essenciais: gastronomia, mais de 560 quilômetros de litoral, vasta rede hidrográfica, cultura diversa, mais de 55 etnias indígenas e paisagens que vão dos campos marajoaras, das praias fluviais e oceânicas, às formações rochosas milenares de Monte Alegre, na região oeste.
Quem visita o imenso território paraense tem ainda a oportunidade de vivenciar o “diálogo” da floresta amazônica com os centros urbanos, ao som de uma música própria, com farta influência indígena, negra e caribenha – vertentes que aprimoram a chamada “economia da experiência”.
Diante da importância econômica, social e cultural do setor turístico – alimentada também por eventos de relevância internacional realizados no Estado, como a COP 30 (conferência mundial sobre mudanças climáticas) -, a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) lançou o “Boletim do turismo paraense 2024”, que reúne aspectos da economia turística e sua evolução histórica.
O levantamento é um trabalho da Diretoria de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas e Análise Conjuntural (Diepsac), com base em dados oficiais do Ministério do Turismo e de outras instituições.
“O turismo é um instrumento de interculturalidade, além de ser uma eficiente forma de educação e um eficaz viés de acesso aos bens naturais da Nação, por meio do intercâmbio cultural. A economia de experiência é um dos pontos fortes do turismo paraense, além de ser um propulsor importante da economia criativa. Temos características únicas e memoráveis, sobretudo pelos elementos que reforçam as atividades turísticas como alternativa ao desmatamento e como fomentadores da preservação ecológica e, consequentemente, do desenvolvimento sustentável”, avalia Marcio Ponte, titular da Diepsac.
Foto: Reprodução/Agência Pará
Ele ressalta que, “num momento em que Belém sediará uma COP em 2025, não restam dúvidas de que o turismo, em suas mais diversas modalidades, é um dos principais elementos para somar-se a uma política de economia da floresta, com foco na preservação com desenvolvimento local, integrado e sustentável”.
Potencialidades
A pandemia de Covid-19 gerou uma forte crise no setor, que agora começa a se recuperar dos impactos negativos da crise sanitária mundial. No Pará, essa recuperação fica acima da média brasileira em diversos aspectos, pois quanto maior diversidade, mais possibilidades de estratégias para atrair e potencializar o consumo de bens e serviços.
O Pará é referência em diversidade, despontando como o nono estado mais procurado em viagens nacionais, em 2021, por 700 mil turistas, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Turismo (Setur). Os maiores destaques são a Região Turística do Guajará – que tem Belém entre os municípios, recebendo 60,7% dos turistas que vêm ao Estado, e o Baixo Amazonas, onde fica o município de Santarém e a Vila de Alter do Chão, com participação de 15,9% no volume de turistas no último ano analisado na pesquisa.
Foto: Wagner Santana/Agência Pará
Hospedagem
Entre 2017 e 2022, o Pará registrou um aumento significativo no número de unidades habitacionais de hospedagem, que passou de 9,2 mil para 12,2 mil, representando um aumento de 33,2% no período.
A análise das estatísticas de hospedagem no Pará em 2022 revela predominância significativa de hotéis como o principal tipo de hospedagem na região. Em comparação a outros tipos, os hotéis representaram 91,8% dis meios de hospedagem registrados. O crescimento indica uma demanda crescente desses empreendimentos na região, possivelmente impulsionada pelo aumento do turismo e do desenvolvimento econômico.
A diversificação do mercado de hospedagem fica por conta das pousadas, com 4,7% do total geral de meios de hospedagem, seguidas pelos albergues/hostels, que representaram 0,9%, e pelos hotéis fazenda, com 0,5%. O número de leitos acompanhou o aumento das unidades disponíveis, passando de 17,5 mil, em 2017, para 23,9 mil, em 2022, o que resultou em um crescimento absoluto de 6,3 mil leitos e uma taxa de crescimento percentual de 36,3% no período analisado.
Os municípios de Salinópolis, na região nordeste, e Parauapebas, no sudeste, ocupam o segundo e terceiro lugares, respectivamente, em termos de participação nesses números, contribuindo com 13,3% e 11,3%, mostrando que essas áreas também são importantes destinos turísticos ou centros econômicos regionais, com uma demanda significativa por acomodações.
Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará
Crescimento
Em relação a 2017, sete municípios apresentaram aumento no número de leitos. Salinópolis se destaca por quase atingir o dobro, com um aumento absoluto de 1,5 mil unidades, o que representa um crescimento de 92,2%. No topo da lista está também Parauapebas, com mais 58,5%, e Santarém, com mais 57%.
A taxa de ocupação dos meios de hospedagem em Belém revela uma tendência geral de crescimento ao longo do período observado. Entre 2018 e 2023, a taxa de ocupação passou de 57,4% para 63,4%, indicando melhoria na utilização da hospedaria na cidade. O índice ficou acima da média brasileira, que fechou com crescimento de 60,4%.
Nesse mesmo período, cresceu também o valor das diárias: de R$ 263,00, em 2018, para R$ 291,00, em 2023, representando um aumento percentual de 10,9%. Isso indica uma valorização dos serviços na cidade, possivelmente refletindo investimentos em infraestrutura, melhorias na qualidade dos serviços e uma crescente demanda por acomodações.
Restaurantes, cafeterias e bares – A gastronomia, autêntica e de múltiplos sabores, é um dos maiores orgulhos da população paraense, que valoriza todos os alimentos. O número de restaurantes, cafeterias e bares com certificados ativos no Pará cresceu de 66, em 2017, para 703 empreendimentos, em 2022. É um crescimento significativo ao longo desse período de cinco anos. Esse aumento de mais de dez vezes indica uma expansão substancial do setor de serviços alimentícios na região.
Entre 2021 e 2022, os restaurantes lideraram esse crescimento com um aumento de 37%, um impacto significativo para o Estado. Em 2022, esses empreendimentos representaram a maioria dos prestadores de serviços turísticos, com 60% do total. Os bares e cafeterias também registraram aumentos no número de estabelecimentos certificados, embora em menor proporção. Os bares representaram 12,8% dos prestadores de serviços turísticos, e as cafeterias 3,1%.
Analisando a especialidade culinária, a predominância é pela cozinha brasileira, representando 74,1% dos estabelecimentos que prestaram serviços turísticos no Pará em 2022. Em comparação a 2021, a especialidade brasileira registrou o maior crescimento absoluto, com percentual positivo de 18,9%. Isso indica uma demanda contínua por comida brasileira e um investimento adicional nessa área pelos proprietários de estabelecimentos. A cozinha regional também é uma especialidade significativa, representando 12,8% dos estabelecimentos. Isso reflete o interesse em promover os sabores e tradições culinárias específicas da região amazônica, em especial do Pará.
Infraestrutura e apoio a eventos
O aumento no número de estabelecimentos certificados para prestar infraestrutura de apoio a eventos no Pará também é bastante significativo. De 2017 a 2022 houve um aumento absoluto de 115 unidades, passando de 13 para 128 estabelecimentos certificados. Essa disponibilidade sugere uma resposta à crescente demanda por espaços e serviços para conferências, festivais, congressos e outras atividades. Esse crescimento também pode ser impulsionado pelo aumento do interesse em eventos culturais, esportivos, corporativos e outros tipos que ocorrem no Pará.
Há três tipos de serviços para infraestrutura de apoio a eventos. O serviço predominante no Pará é o de “organização, promotores e prestadores de serviços de infraestrutura”, que representou 79,7% do total em 2022. Esse tipo de serviço é fundamental para a organização, planejamento e execução de eventos de diversos tipos e tamanhos.
Em segundo lugar estão os serviços de “locação de equipamentos”, que representaram 11,7%. Por fim, aparecem os serviços de “montadoras de feiras e negócios, exposição e eventos”, com participação de 8,6% do total no Estado, com empresas responsáveis pela montagem de estandes, cenografia e estruturas temporárias para feiras, exposições e outros eventos similares.
O município de Barcarena, na Região Metropolitana de Belém, destaca-se como o principal centro de prestação de serviços turísticos para infraestrutura de apoio a eventos no Pará. Em 2022, Barcarena contou com 67 estabelecimentos desse tipo, o que representa uma participação significativa de 52,3% do total estadual. Esse dado indica forte concentração de atividades relacionadas a eventos no local, possivelmente influenciada por fatores como localização estratégica, infraestrutura disponível e demanda regional por serviços de eventos.
Os municípios de Belém e Marabá, no sudeste paraense, ocupam o segundo e terceiro lugar, em número de estabelecimentos, representando 11,7% e 5,5% do total estadual, respectivamente.
Locação de veículos
Segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), a frota de automóveis para locação foi de 9,2 mil unidades em 2022. No mesmo ano, foram registradas 69 unidades de locadoras de veículos, um aumento de seis vezes nesse empreendimento em cinco anos.
Há dois tipos de veículos para locação no Pará: aquáticos e terrestres. A maior parte dos veículos registrados para locação é terrestre, o que reflete as necessidades de mobilidade e transporte predominantemente terrestres na região. Belém é o município com o maior número de locadoras em 2022, totalizando 21 locadoras, o que representa 30,4% do total no Estado. Os municípios de Parauapebas e Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, ocupam o segundo e terceiro lugares em número de locadoras, representando 11,6% e 8,7% do total estadual, respectivamente.
Visitantes
Em 2022, desembarcaram no Pará 10.694 turistas internacionais. Por continente, foi possível identificar que a maior parte vem da Europa, representando 47,5% do total de turistas de outros países no ano analisado. A América do Sul aparece na sequência, com participação de 41,4% no mesmo ano. Na análise por país, o maior quantitativo, em 2022, foi do Suriname, que obteve uma participação de 38,6% no total de turistas estrangeiros recebidos no Estado. Em seguida, desponta Portugal, com participação de 13,5%.
Dos turistas que chegaram ao Pará, em 2022, 93,5% realizaram seus deslocamentos por via aérea, enquanto 6,5% utilizaram vias fluviais. A quantidade de desembarques rodoviários interestaduais no Pará foi de 158.010 em 2021. Um interessante parâmetro para avaliar o fluxo turístico no Estado é o desembarque rodoviário, o que pode auxiliar a mensurar o potencial do setor local de turismo, bem como as estratégias a serem tomadas em termos de infraestrutura e equipamentos turísticos.
Foto: Reprodução/SECULT PA
Mercado de trabalho
Os números comprovam: turismo aquecido, mercado em efervescência. Do total de 55 categorias relacionadas ao turismo da Classificação Nacional de Atividades Econômicas, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 51 registraram presença no Pará, sendo destaques os restaurantes e similares, com participação de 34,6% no total de vínculos empregatícios dos serviços turísticos em 2021; seguido pelas lanchonetes, casas de chá, sucos e similares, com participação de 14,7% dos empregos, e pelos hotéis, responsáveis por 13,7% dos empregos no turismo no último ano analisado. O maior crescimento de empregos, entre 2016 e 2021 foi registrado nas atividades de albergues, com aumento de 214,3% no período.
Entre os anos de 2016 e 2021, o setor de serviços cresceu 20,3%, com participação de 9,1% no serviço especializado em turismo. Neste panorama, considerando o estoque de 30.268 vínculos empregatícios em 2021, o setor de turismo induziu a geração de 76.578 empregos indiretos no mesmo ano, totalizando 106.846 empregos induzidos pelo setor no Pará. Deste total, 50,3% foram ligados às atividades de alimentação, 20,3% aos alojamentos e 6,9% ao aluguel de transportes.
“O estudo mostra dados positivos, que já são frutos de ações que estão sendo feitas. Neste momento em que Belém sediará uma COP, em 2025, não restam dúvidas de que o turismo, em suas mais diversas modalidades, é um dos principais elementos para se somar uma política de economia da floresta, com ênfase na preservação com desenvolvimento local, integrado e sustentável. O turismo será um dos grandes legados para nossa cidade”, destaca o presidente da Fapespa, Marcel Botelho.