O Peru aderiu à Aliança contra os Crimes contra a Natureza (Nature Crime Alliance) e tornou-se o primeiro país da América Latina a oficializar a sua decisão de participar nesta iniciativa global, informou o Ministério das Relações Exteriores do Peru.
O embaixador do Peru no Reino da Noruega, Gustavo Laurie, visitou o Ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Andreas Bjelland Eriksen, para entregar a carta assinada pelo chanceler Javier González-Olaechea, por meio da qual o Governo do Peru oficializa a adesão do país à aliança.
Com esta decisão, o Peru torna-se o primeiro país da América Latina a oficializar a sua decisão de participar da iniciativa global, que mobiliza recursos financeiros e fortalece a capacidade dos países para combater crimes contra a natureza e outros crimes associados a atividades ilícitas.
Os princípios orientadores da Aliança são combater os crimes contra a natureza e as atividades criminosas relacionadas; conservar ecossistemas naturais e espécies protegidas; e respeitar os direitos humanos e os direitos dos povos indígenas e das comunidades locais.
A recente adesão do Peru à Aliança representa o testemunho mais recente dos esforços desenvolvidos pelo Governo peruano para manter uma participação ativa nas iniciativas internacionais para a proteção da diversidade biológica.
A adesão do Peru reafirma o compromisso do país no âmbito da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (Cites), da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), da Convenção para a Conservação das Espécies Migratórias da Fauna e da Flora Selvagens Animais (CMS) e o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), entre outros.
Os plásticos sintéticos estão entre os maiores vilões do meio ambiente. Principal base para a produção de recipientes, o material pode levar cerca de 500 anos para se decompor na natureza. Em busca de alternativas, pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP desenvolvem soluções ecológicas biodegradáveis às embalagens e canudos, utilizando resíduos agroindustriais e produtos naturais que carregam propriedades antimicrobianas e antioxidantes.
Para além de simplesmente substituir o plástico, geralmente baseado em substâncias derivadas do petróleo, o enfoque do grupo da USP, liderado pela professora Delia Rita Tapia Blácido do Departamento de Química da FFCLRP, é o que chamam de “embalagens ativas”, pois aprimoram a utilidade para o consumidor com características agregadas, como poderes antioxidantes e antimicrobianos obtidos de compostos como a quitosana, a própolis verde e os resíduos de uva e jabuticaba.
Responsável pela produção e orientação de diferentes estudos com matéria-prima natural, encontrada principalmente em resíduos agrícolas, a professora Delia Blácido conta que o interesse é utilizar esses recursos para transformar os resíduos que, quando descartados, também podem contaminar o meio ambiente, encontrando soluções criativas que agregam mais valor ao produto final.
“A ideia é gerar materiais que tenham uma atividade e protejam o alimento sem o uso excessivo de aditivos sintéticos, como antibióticos ou antioxidantes que podem ser prejudiciais para a saúde”, ressalta a professora.
Como exemplos, apresenta dois projetos de mestrado mais recentes sob sua orientação nessa linha de pesquisa: o desenvolvimento de uma embalagem feita a partir do amido de batata adicionado de extrato de própolis obtido por extração alcalina, de Ivone Yanira Iquiapaza, e de canudos que utilizam o mesocarpo (polpa) do fruto da palmeira de babaçu, realizado por Luís Fernando Zitei Baptista.
Embalagens plásticas biodegradáveis e antimicrobianas
O biomaterial desenvolvido por Ivone Iquiapaza utiliza a quitosana, uma substância com propriedades antibacterianas originária da casca de crustáceos, e o extrato de própolis verde como aditivos para os filmes feitos de amido da batata nativa Yana winku, cultivada na comunidade de Marcavalle, na região de Junín, no Peru.
Segundo a pesquisadora, essa espécie de batata possui substâncias capazes de evitar ou reduzir a oxidação de lipídeos presentes nos alimentos, tornando os plásticos produzidos à base de seu amido com maior poder de conservação de carnes, frutas e legumes. Esta capacidade pode ser comprovada pelo recente estudo Novel Starchy Materials Isolated from Andean Native Potatoes: Physical-Chemical and Functional Characterization and Application in Edible Film Production publicado por Ivone na revista Starch.
Neste trabalho foram utilizadas diferentes concentrações de amido e própolis para o desenvolvimento de filmes por método casting (promove alto controle da espessura do filme sem necessidade de aditivos). Filmes de amido e quitosana também foram produzidos, em diferentes proporções, com e sem a adição do extrato de própolis.
Quando o extrato de própolis foi incorporado, observaram um aumento significativo nas propriedades ativas, com filmes mais resistentes à água, de maior opacidade e estabilidade térmica, “ajudando a manter o frescor, o sabor, a cor e a qualidade nutricional”, complementa Ivone.
Ao explicar a incorporação da quitosana à fórmula, a pesquisadora fala da ação antifúngica e antimicrobiana da substância. “Portanto, teremos uma embalagem biodegradável ativa, pois, por meio de seus compostos antimicrobianos e antioxidantes, aumentará a vida útil dos produtos alimentícios”, afirma, acrescentando que ao agregar tais propriedades as embalagens podem ainda agir contra o crescimento de microrganismos na superfície dos alimentos.
Filmes a partir do amido de batata. Foto: Divulgação/Arquivo dos pesquisadoresBatatas Yana winku, nativas do Peru. Foto: Yvone Iquiapaza/Arquivo pessoal
Canudos de babaçu que mudam de cor
O estudo desenvolvido por Baptista criou uma alternativa biodegradável e inteligente aos canudos descartáveis plásticos, resíduos considerados problemáticos tanto pela poluição urbana quanto de praias e ecossistemas marinhos e uma das preocupações da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). A proposta da equipe da USP utilizou, na base deste produto, resíduos agroindustriais da polpa do babaçu, fruto comum da região amazônica, associados ao extrato de uva.
Inicialmente, produziram 16 tipos diferentes de filmes plásticos, variando a quantidade de glicerol, o tipo de resíduo usado e a quantidade de extrato adicionado. Selecionaram a composição que manteve melhor equilíbrio entre as propriedades mecânicas e as funções bioativas dos materiais (a que continha o babaçu) e decidiram então produzir as alternativas ao canudo plástico.
Protótipo do canudo. Foto: Luís Fernando Zitei Baptista
A proposta de usar o babaçu, informa o pesquisador, é explicada porque possui boa atividade antioxidante e antimicrobiana, comprovada em pesquisas anteriores do laboratório que desenvolveram embalagens ecológicas. Segundo Baptista, além dessas propriedades, o fruto garantiu maior insolubilidade aos materiais em comparação com o uso de amidos como o de batata e de milho, “então, para aproveitar essa característica, decidimos testar como um canudo”.
Mudança de cor
Enquanto isso, o extrato de uva, além de reforçar os benefícios trazidos pelo babaçu, também conferiu aos canudos a capacidade de mudar de cor conforme o contato com o pH do líquido. Essa função é explicada por componentes da uva como a antocianina, substância natural que apresenta um amplo espectro de cores.
Para os pesquisadores, a mudança de cor dos canudos funciona não só como um detalhe estético, mas possibilita a identificação rápida da condição do alimento a ser ingerido. Um exemplo, garante Baptista, é o aumento de acidez da lactose quando o produto está envelhecendo; “se ele [canudo] ficou rosado, por exemplo, é porque o leite estragou”.
Os itens foram testados em diferentes líquidos com pH variado, como refrigerante, suco de laranja, leite e água. Os resultados foram promissores, mostrando potencial como alternativa viável à versão de plástico sintético.
Falta conscientização para ampliar uso de biomateriais
O plástico pode levar centenas de anos para se decompor naturalmente, o que representa uma grande ameaça “aos ecossistemas oceânicos e às cadeias alimentares”, lembra Ivone, enfatizando a enorme vantagem dos objetos biodegradáveis que levam tempo bem menor na decomposição ambiental, cerca de poucas semanas.
Nesta linha, a professora Delia e sua equipe se especializaram em pesquisas para reproduzir objetos impermeáveis e com boa resistência mecânica para a substituição eficiente do plástico no uso diário. “A ideia é que substitua, como embalagem, os plásticos sintéticos, que é o principal uso deles. Esse é o critério que nós buscamos nesses materiais”, observa.
Já Baptista acredita na reutilização de resíduos para criar biomateriais como uma técnica promissora, alinhada aos princípios da química verde. No entanto, reconhece desafios na substituição de plásticos, especialmente em produtos de uso único, como embalagens de alimentos que utilizam “isopor ou filme plástico”. Embora haja interesse crescente em biomateriais, o pesquisador reforça a necessidade de conscientização para uma adoção mais ampla desses materiais em grande escala na indústria.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, escrito por Felipe Faustino
Pode a arte catalisar a resistência de populações indígenas brasileiras? Para a geógrafa Olívia Pires Coelho, a resposta é: “Sim”. Ao produzirem cultura, essas populações demonstram que existem, que são diversas e que possuem modos de vida múltiplos, ajudando a combater o mito segundo o qual todos os indígenas possuem uma única identidade. A conclusão da pesquisadora faz parte de sua tese de doutorado, defendida na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, e resultou de um estudo em que buscou traçar caminhos e interseções das obras de artistas do movimento de resistência dos povos originários.
“A ideia de trabalhar com arte indígena surgiu porque eu cresci em uma família na qual há um diretor de teatro. A Companhia Vitória Régia, que ele fundou, tem como mote as questões amazônicas, principalmente a identidade desses povos, seu pertencimento e os elementos que os formam, sempre partindo do ponto de vista da multiplicidade”, relata a autora, que cresceu em Manaus, em uma família de linhagem indígena. “Quando eu escolhi trabalhar com esse tema, a ideia era utilizar a minha experiência para descobrir outras expressões artísticas mais contemporâneas e que também conversassem com a ideia de multiplicidade.”
No estudo, a autora explorou dois campos argumentativos distintos. Em primeiro lugar, Coelho investigou a arte no contexto familiar, a partir de suas memórias junto à companhia de teatro de Nonato Tavares, seu tio. Nesse caso, a educadora utilizou uma abordagem autoetnográfica, um ramo da etnografia em que as experiências pessoais do pesquisador são analisadas minuciosamente e relacionadas com situações, eventos e experiências compartilhadas com pessoas que se encontram em situação semelhante, refletindo aspectos estruturais da sociedade.
Em um segundo momento, a autora utilizou a abordagem da investigação baseada nas artes (IBA) para ligar suas experiências com as de cinco artistas indígenas contemporâneos das artes visuais: Naine Terena, Denilson Baniwa, Arissana Pataxó, Jaider Esbell e Gustavo Caboco Wapichana. O objetivo, no entanto, não foi realizar uma análise crítica das obras desses artistas, mas colocá-las como ponto central da pesquisa, investigando como essas obras dialogam com experiências que, embora particulares, também estão presentes na história de outras pessoas.
Para o orientador Silvio Gallo, tese proporcionou também um inédito processo de auto conhecimento. Foto: Antonio Scarpinetti
De acordo com o professor Sílvio Gallo, que orientou o doutorado, além de abordar um tema raramente presente nas pesquisas da área de educação, a tese se destaca pela possibilidade de Coelho olhar para si mesma e se autodescobrir, uma metodologia sugerida pela professora aposentada da FE Ana Lucia Goulart. “Eu não sei se isso está presente em outras áreas, mas é muito interessante para a gente do campo da educação se permitir determinados descaminhos na pesquisa. E o estudo de Olívia tem um elemento de produção de um conhecimento novo, mas também a produção de um autoconhecimento sobre algo que não estava previsto no processo acadêmico”, afirma.
Multiplicidade
Todos os artistas selecionados para compor o corpo da tese trabalham com a ideia de que ser indígena não é uma característica única ou que pode ser sintetizada em apenas um conceito, um modo de estar no mundo ou uma única cor de pele. Coelho exemplifica isso ao mencionar a obra “Mikay” (“pedra que corta”, em Patxôhã), de Arissana Pataxó. Composta por um facão de cerâmica marcado com os dizeres “O que é ser índio para você?”, a obra resultou do incômodo da artista plástica com os comentários de pessoas que se surpreendiam diante do fato de ela não ter a imagem estereotipada de indígena.
“A ideia de resistência principal, nesse contexto, é que nós somos muitos e diferentes. O próprio conceito de arte indígena contemporânea, que tem sido a arte produzida no contexto de maior difusão, passa por um embate grande porque muitos artistas não concordam com essa ideia”, relata. “Para eles, isso seria uma forma de reducionismo do que se chama arte indígena ancestral, como se as obras produzidas na aldeia fossem diferentes das encomendadas pela galeria e avaliadas por curadores e acadêmicos”, comenta a pesquisadora.
Por esse motivo, um grande desafio da geógrafa ao longo da pesquisa traduziu-se em conseguir dar conta da multiplicidade de opiniões e pontos de vista dentro do movimento indígena. Por outro lado, essa dificuldade a ensinou a realizar escolhas e defender seus posicionamentos, como a do próprio uso do termo “arte indígena contemporânea”. Dialogando com a opinião defendida por Gustavo Caboco Wapichana, a autora entende que, ao estar relacionada com a ideia de difusão e formação de redes, a arte contemporânea contribui para se tornar um ponto no qual tanto as populações indígenas como as não indígenas podem se relacionar com o diferente.
Para a autora, somente o contato com o diferente proporciona essa multiplicidade de opiniões e identidades, algo que, inclusive, contribuiu para ela mesma entender suas origens. Embora venha de família indígena, Coelho foi adotada na infância por um professor universitário branco que havia se casado com sua mãe. A experiência de sair da periferia e ingressar no ambiente universitário trouxe oportunidades a que a maior parte dos indígenas só começou a ter acesso nos últimos anos. Por outro lado, fez nascer na hoje geógrafa uma identidade fragmentada, cuja construção só terminou, segundo ela, com a finalização da própria tese.
“Eu já me afirmei muito como descendente de indígenas. Então, foi um processo que eu construí a partir dos pontos de encontro que tive com o movimento indígena e outras experiências”, relata a pesquisadora, que se graduou na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), fez mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e estagiou, durante o doutorado na Unicamp, na Universidade Católica de Louvain (Bélgica). “Se eu tivesse ficado no Amazonas, a indagação sobre mim não teria surgido tão facilmente. Foi preciso ir até o Rio Grande do Sul e depois até a Europa para eu ter a minha identidade tensionada e ver que, diferentemente dos meus colegas, apenas a palavra ‘brasileira’ não seria suficiente para me definir”, relata.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da Unicamp, escrito por Paula Penedo, com fotos de Antonio Scarpineti
O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu lei do Amazonas que proíbe a inclusão da linguagem neutra no currículo escolar estadual. A decisão liminar, a ser referendada pelo Plenário na sessão virtual marcada para 14/6, foi tomada na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7644.
A ação foi apresentada pela Aliança Nacional LGBTI+ e a Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas (Abrafh), que questionam a validade da Lei estadual 6.463/2023.
Na decisão, o ministro destacou que o STF, ao apreciar casos similares, declarou a inconstitucionalidade de leis estaduais sobre o ensino da linguagem neutra na escola por invasão da competência da União para a definição de diretrizes e bases da educação nacional. Ele ressaltou que, diante da ausência de legislação nacional sobre o tema, qualquer legislação estadual, distrital ou municipal que autorize ou vede a utilização da linguagem neutra será considerada inconstitucional.
Ainda segundo o relator, a língua é viva e está sempre aberta a novas possibilidades. Por isso, não se descarta a possibilidade de utilização da linguagem neutra. A seu ver, trata-se de um processo cultural decorrente de mudanças sociais que, posteriormente, podem ser incorporadas ao sistema jurídico.
“A gestão democrática da educação nacional exige, inclusive para adoção ou não da linguagem neutra, o amplo debate do tema entre a sociedade civil e órgãos estatais, sobretudo se envolver mudanças em normas vigentes”, concluiu.
O Serviço Florestal Brasileiro (SFB) iniciou nesta semana um chamamento público para a seleção de propostas de parcerias com Organizações da Sociedade Civil (OSCs). O objetivo é subsidiar a bioeconomia florestal na Amazônia por meio de transferência de recursos financeiros e apoio técnico. As inscrições podem ser feitas pelo portal Transferegov.br e vão até 30 de junho.
Seguindo as diretrizes estabelecidas pela Lei nº 13.019/2014 e pelo Decreto nº 8.726/2016, o processo de seleção busca uma proposta que atenda aos requisitos do edital. O termo de colaboração terá como foco principal o levantamento e caracterização de iniciativas de bioeconomia florestal, estimativa de potencial da atividade e a realização de um seminário técnico. O chamamento visa subsidiar ações futuras de fomento ao manejo florestal comunitário e familiar, incluindo o debate sobre pagamento por serviços ambientais.
Conforme dados do Cadastro Nacional de Florestas Públicas, parte significativa das florestas na Amazônia está sob gestão de povos e comunidades tradicionais. Reconhecendo o papel dessas comunidades na conservação da biodiversidade e na promoção da economia sustentável, o SFB visa fortalecer as cadeias produtivas baseadas no uso múltiplo dos recursos florestais não madeireiros, como o açaí e a castanha-do-Brasil, que têm demonstrado um potencial significativo de mercado, representando um setor em crescimento na economia regional e nacional.
Inscrições
A fase de seleção observará as etapas listadas abaixo. As datas são estimadas e poderão ser alteradas durante o processo de seleção. Eventuais modificações serão informadas nos portais do SFB e Transferegov.
A Universidade Federal do Amazonas (Ufam), por meio de sua Escola de Enfermagem de Manaus (EEM), começou a vivenciar um novo momento de sua história quando da implantação de seu curso de doutorado, o primeiro da Região Norte do País.
O marco aconteceu dentro das comemorações da 8ª Semana de Enfermagem, celebrada em todo País, mas que pela Ufam foi promovida entre os dias 12 e 21 de maio e homenageou a referência amazônida, a enfermeira Josephina de Mello.
À mesa da solenidade, o reitor, a pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação, professora Adriana Malheiro, o diretor da EEM, professor Esron Rocha e representantes das secretarias estaduais e municipais de saúde e nacional de Enfermagem.
O diretor da EEM, frisou que o curso de doutorado é mais que uma resposta à demanda regional para a modalidade de pós-graduação, era um objetivo, um intento.
“Ainda somos bastante jovens na pós-graduação, menos de 25 anos, mas somos muito atuantes, comprometidos e focados, nós sabíamos onde queríamos chegar e tivemos diretores que também estiveram imbuídos nesse propósito que hoje, se sagra como realidade”, disse.
Esron considerou que o doutorado da EEM continuará exigindo de todos uma grande responsabilidade. “Menos de 0,30% da população brasileira tem essa titulação e se formos estratificar dentro da nossa área, entre pouco mais de 3 milhões de trabalhadores enfermeiros, esse percentual é ainda menor. Teremos de ser de excelência”, disse.
Divulgação: Divulgação/Ufam
A professora Adriana Malheiro, pró-reitora da Propesp, relembrou a caminhada necessária para a implantação do doutorado. “Eu me emociono com o crescimento do PPG que teve início com o mestrado em associação com a Estadual do Pará. E muitos contribuíram para isso, como o professor Zilmar Augusto de Souza Filho, e todo um colegiado, ex-diretores e ex-diretoras, além da própria Administração Superior. Hoje, não é tão mais difícil criar cursos de doutorado, mas manter, consolidar”, observou.
O reitor, professor Sylvio Puga foi quem encerrou as falas por parte da Ufam e se dirigiu, inicialmente, aos novos pós-graduandos, doutorandos. “Vocês serão instigados a todo instante nesta nova etapa. Aproveitem cada minuto que estiverem nesse curso, valorizem. É um momento mágico na vida de cada um e também de muita responsabilidade, porque vocês fazem parte da história contada em capítulos. É a primeira turma, é um grande compromisso”, disse.
Ele finalizou, mencionando e enaltecendo Josephina de Mello, precursora da Enfermagem no Amazonas.
A solenidade seguiu com a leitura dos termos de posse da coordenação do PPG de Enfermagem: Gilsirene Scantelbury de Almeida (coordenadora); Zilmar Augusto de Souza Filho (Vice-coordenador); e os membros Arinete Veras Fontes Esteves e Deyvylan Araújo; seguido pela aula inaugural do curso.
Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br
Reconheço que, em algumas vezes na vida, tive um comportamento semelhante ao do cavalo Sansão, personagem da Revolução dos Bichos, de George Orwell. Na história, sempre que havia um problema ou uma crise, a solução do cavalo era: “trabalharei mais”.
A crença no trabalho sempre foi muito forte em mim e nos meus irmãos, fruto da criação que tivemos, mais por parte de mãe do que de pai, diga-se de passagem. A família de meu pai, portuguesa, neste sentido, era mais normal. O trabalho ocupava um lugar importante, mas não era a prioridade máxima. Meus avós, na época, tinham uma boa situação e os filhos, apesar de numerosos, não tiveram tanta dificuldade para serem bem encaminhados na vida, tendo uma relação razoável com o trabalho.
Ao contrário, foi a vida de meu avô, por parte de mãe. Saiu de casa aos 14 anos, depois de uma briga com o pai, fazendeiro em Sergipe, que não aceitava ser afrontado e que declarou que filho dele que saía de casa brigado de manhã não voltava à noite. Meu avô foi ser aprendiz de marinheiro, estudou por conta própria e teve que comer muito “pão que o diabo amassou” para sobreviver e crescer. Já adulto, mesmo sem tantas condições, abriu mão da herança do pai, alegando que não o ajudou a construir. Era a sua vez de devolver o radicalismo, mesmo contrariando os filhos, ansiosos pelo quinhão. Meu avô, mais do que o próprio Sansão (o cavalo), acreditava que o trabalho era a solução para todos os problemas. Eu e meus irmãos, por meio de minha mãe, herdamos isto dele. Como Sansão, aprendemos a lidar com os problemas com mais trabalho.
Lembro-me de tudo isto ao me deparar com Maurício, executivo em meio de carreira, que acaba de assumir um novo cargo. É uma posição que ele não esperava ocupar e que exige dele novos conhecimentos e competências. Maurício responde com mais trabalho.
Ele precisou mudar pela primeira vez de cidade e de estado e sente a diferença cultural. Para compensar, Mauricio vem dedicando mais tempo para os relacionamentos sociais e profissionais.
A mulher e os filhos ainda estão se adaptando à nova realidade. As crianças ainda não fizeram amigos na escola e Mauricio percebe que eles sofrem algum tipo de bullying, pelo sotaque que trazem. Preocupa-se com isso, pois sabe o quanto as crianças podem ser cruéis, mas não há muito o que fazer, a não ser estar mais por perto. A mulher, que se sacrificou para acompanhá-lo, reinicia o seu negócio, agora em outro local. Eles já não têm a rede de proteção da família que morava perto e ela se sente só. Todos demandam tempo e Maurício se esforça para atender, com o sentimento de que é sua obrigação, seu trabalho.
Na nova função é exigido de Mauricio novos conhecimentos e, por isto, ele precisa dedicar-se ao estudo. Para aguentar o pico, Maurício voltou às atividades físicas e, para isso, está acordando mais cedo. De 7 horas, passou a acordar às 6 horas e agora às 5 horas, todos os dias. Na empresa, há a pressão para resultados, como era de se esperar. Tudo isto mudou o aspecto e o humor de Mauricio, que agora transmite um certo cansaço, um ar de preocupação, a impressão de que as coisas estão pesadas. Podemos dizer que ele, no momento, está se dedicando muito ao seu propósito, o que é bom. Por outro lado, está deixando à parte o desfrute, a alegria, o prazer. Como equilibrar Propósito e Prazer?
Como disse, em várias situações que a vida me trouxe, agi como o Sansão, respondendo aos desafios com mais trabalho. No livro, Sansão não tem um final feliz, sendo levado para o abatedouro. No meu caso, não me arrependo de ter seguido o que acreditava, podendo até dizer que deu tudo certo. No entanto, me vejo hoje instigado a provocar Maurício a pensar em outras possibilidades. Que alternativas existem, Maurício? Como harmonizar trabalho e propósito com alegria, leveza e prazer? Talvez a felicidade maior esteja neste equilíbrio. Como podemos fugir da síndrome de Sansão, o cavalo?
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
A Polícia Federal (PF) fez a segunda operação do mês contra invasões dentro da Terra Indígena Igarapé Lage, em Rondônia, entre os dias 26 e 28 de maio. Os agentes perceberam a área invadida foi dividida em cerca de 100 lotes para grilagem de terras.
A área desmatada dentro da terra protegida é equivalente a cerca de 800 campos de futebol, segundo a PF. Um corredor de 20 km foi criado dentro da TI, de ponta a ponta, para escoar a madeira ilegal e facilitar o acesso à área invadida.
A Terra Indígena Igarapé Lage fica localizada entre Nova Mamoré (RO) e Guajará-Mirim (RO). Durante a Operação Retomada II, os agentes destruíram:
5 pontes, 5 habitações, 2 galpões e 3 veículos.
Essa é a segunda operação do mês realizada na TI Igarapé Lage. A primeira foi realizada dos dias 16 e 17 de maio. Dentro da Terra Indígena, foram encontrados diversos pontos de extração ilegal de madeira. Para impedir a ação da polícia, os invasores derrubaram várias árvores pelo caminho.
Somente este ano, quatro operações já foram realizadas dentro da área de proteção, segundo a PF. Os suspeitos podem responder por invasão de terras públicas com intenção de ocupação e o desmatamento clandestino.
A Secretaria de Estado de Turismo (Setur) deu início a primeira etapa de implementação do Plano Estadual de Turismo de Base Comunitária (TBC), entre os dias 6 e 11 de maio, no município de Maracanã, região nordeste do Pará, com a realização das oficinas de ‘Turismo de Base Comunitária’ e ‘Bioeconomia’, além da realização do Perfil das Comunidades do Pará.
O objetivo dos encontros é passar orientações para o desenvolvimento sustentável e inclusivo do turismo por meio da participação das comunidades na gestão do turismo local, destacando-se a criação de Roteiros de Vivência em Turismo de Base Comunitária, que promovam produtos da bioeconomia, as cadeias produtivas locais, o cotidiano das comunidades, o ambiente e a cultura local. O trabalho da Setur atende ao proposto com a edição da Política Estadual de Turismo em Base Comunitária (TBC), por meio da lei 9773/22.
Foto: Divulgação/Ascom Setur PA
O TBC pode ser entendido como uma atividade socioeconômica que funciona de forma planejada e desempenhada por comunidades rurais e comunidades tradicionais, assim entendidos os grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social e que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, com base em conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
“O Turismo de Base Comunitária (TBC) nos permite trabalhar com a sustentabilidade e a inclusão, envolvendo a participação das comunidades na gestão do turismo local. É um novo modelo de desenvolvimento social e econômico destes territórios, sustentável, com base numa gestão turística que promova os produtos da bioeconomia, as cadeias produtivas locais, o cotidiano das comunidades, o ambiente e a cultura local”, explica o secretário de Estado de Turismo do Pará, Eduardo Costa.
As oficinas passam orientações iniciais e nivelam informações com as comunidades sobre o Turismo de Base Comunitária (TBC), assim como contribuem para a identificação de atividades socioeconômicas planejadas e geridas por grupos e associações comunitárias e comunidades tradicionais, com base no uso sustentável dos recursos naturais e nos saberes tradicionais e populares amazônicos.
Após a primeira experiência em Maracanã, posteriormente, as próximas oficinas da Setur serão realizadas Belém (Região das Ilhas) e Ananindeua, Marapanim e Bragança. Todas elas reunindo o público de associações comunitárias e comunidades tradicionais, tais como ribeirinhos, quilombolas e indígenas dos municípios e/ou Unidades de Conservação do estado do Pará, que trabalham com o TBC ou que tenham interesse em desenvolvê-lo.
“É um passo importante na implementação de políticas para o setor de turismo, com enfoque na gestão local e que tem os seus princípios baseados no desenvolvimento local sustentável, com o protagonismo das comunidades e sistemas produtivos locais, na sustentabilidade econômica e geração de renda para as comunidades locais”, afirma Márcia Bastos.
A implementação do Plano Estadual de Turismo de Base Comunitária (TBC) vai contemplar ainda, este ano, a produção de material didático, tendo já previstas as publicações do Livro de Turismo de Base Comunitária e a Cartilha sobre Plano de Negócios para associações, que serão utilizados nas capacitações e assessoria técnica para as comunidades envolvidas durante ação.
Referência em Roraima por estudos sobre a crise climática em comunidades indígenas, a gestora ambiental Sineia Bezerra do Vale agora também é “cientista indígena do Brasil” reconhecida pelo Planetary Guardians, iniciativa que discute a emergência do clima em todo o mundo e tem como foco restaurar a estabilidade da Terra.
Indígena do povo Wapichana, Sineia do Vale recebeu o título no último dia 25 em São Paulo, no mesmo evento em que o cientista brasileiro Carlos Nobre, referência global nos efeitos das mudanças climáticas na Amazônia, foi anunciado com novo membro dos Planetary Guardians – guardiões planetários, em português.
Sineia do Vale tem como principal atuação o foco sobre a crise do clima, que impacta em consequências devastadoras em todo o mundo. Foi dela o primeiro estudo ambiental sobre as transformações do clima ao longo dos anos na vida dos povos tradicionais em Roraima.
Ao receber o prêmio de “cientista indígena do Brasil” das mãos de Carlos Nobre, a defensora ambiental destacou que quando se trata da crise climática, a ciência também precisa levar em conta a experiência de vida que os indígenas vivenciam no dia a dia – discurso que ela sempre defende nos debates sobre o assunto.
“Esse é um momento muito importante para os povos indígenas. Neste momento em que a gente se coloca junto com a ciência que chamamos de ciência universal, a ciência indígena tem uma importância tanto quanto a que os cientistas traduzem para nós, principalmente na questão do clima”, disse Sineia do Vale.
O estudo inédito comandado por Sineia foi o “Amazad Pana’ Adinham: percepção das comunidades indígenas sobre as mudanças climáticas”, relacionado à região da Serra da Lua, em Roraima. A publicação é considerada referência mundial quando se trata da emergência climática e povos tradicionais.
Sineia do Vale (terceira mulher da direira para a esquerda) atua há anos com foco na crise climática e os povos indígenas — Foto: Patricia Zuppi/Rede RCA/Cristiane Júlião/Divulvação
No evento em São Paulo, ela exemplificou como a crise climática é percebida nas comunidades. “Os indígenas já colocaram em seus planos de enfrentamento às mudanças climáticas que as águas já aqueceram, que os peixes já sumiram e que não estamos mais vivendo o período de adaptação, mas o de crise climática”.
“Precisamos de resposta rápidas. Não podemos mais deixar que os países não cumpram seus acordos porque à medida que o globo terrestre vai aquecendo, os povos indígenas sofrem nas suas terras com grandes catástrofes ambientais”, destacou a gestora.
“Precisamos de resposta rápidas. Não podemos mais deixar que os países não cumpram seus acordos porque à medida que o globo terrestre vai aquecendo, os povos indígenas sofrem nas suas terras com grandes catástrofes ambientais”, destacou a gestora.
A indicação para que Sineia recebesse o título ocorreu após indicação da ativista ambiental e geógrafa Hindou Oumarou, que é co-presidente do Fórum Internacional de Povos Indígenas sobre Mudanças do Clima e presidente do Fórum Permanente da ONU sobre questões indígenas chadiana.
Além da roraimense, também receberam a honraria de “cientista indígena do Brasil”: as antropólogas indígenas Braulina Baniwa e Cristiane Julião, do povo Pankararu, confundadoras da Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), e o antropólogo e escritor Francisco Apurinã, que pesquisa mudanças ecológicas na perspectiva indígena pela Universidade de Helsinki, na Finlândia.
onferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – COP, em inglês, e promove junto às lideranças indígenas a avaliação climática a partir do conhecimento ancestral.
Sineia do Vale participa desde 2011 da COP
Ela também participa ativamente das discussões internacionais sobre mudanças climáticas há mais de 20 anos, entre elas, a Conferência de Bonn sobre Mudanças Climáticas – chamada de SB60, que ocorre todos os anos em Bonn, na Alemanha. Este ano, a COP29 ocorrerá de 11 a 24 de novembro em Baku, capital do Azerbaijão.
Em 2021, Sineia foi a única brasileira a participar da Cúpula dos Líderes sobre o Clima, evento convocado pelo então presidente estadunidense Joe Biden e que marcou a volta dos EUA nas discussões internacionais sobre o clima.
No ano passado, ela foi recebeu o “Troféu Romy – Mulheres do Ano”, honraria concedida a mulheres que se destacaram em suas áreas de atuação em 2023.
Gestora ambiental de formação, Sineia cursa mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais na Universidade de Brasília (UnB), coordena o Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR), e integra a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), focada na agenda indígena e a implementação de ações em nível local.