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Plantas não convencionais transformam alimentação escolar em Gurupi, no Tocantins

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Tudo começou em 2022, no curso de Agronomia do Câmpus Gurupi, da Universidade Federal de Tocantins (UFT), quando a professora Susana Cristine Siebeneichler viu uma oportunidade no projeto do Programa Institucional de Inovação Pedagógica (PIP), coordenado pela professora Carmes Ana da Rosa Batistella. O plano era simples: montar uma horta em uma escola municipal. No entanto, a visão de Susana foi além dos vegetais convencionais.

Ela submeteu um projeto sobre plantas alimentícias não convencionais (PANC) na primeira carteira de projetos do Centro de Desenvolvimento Regional Sul (CDR Sul), sob a coordenação da professora Adriana Terra. O projeto foi contemplado, iniciando uma jornada que levaria a ora-pro-nóbis, uma planta rica em vitaminas, proteínas e minerais, para a mesa das crianças de Gurupi.

As professoras Susana e Adriana com o Senhor Jorge em campo explicando com plantar e cultivar ora-pro-nóbis. Foto: Susana Cristine Siebeneichler/Acervo pessoal

Cultivando mais que alimentos

A horta começou a ganhar vida na Escola Agripino de Sousa Galvão, com a ajuda de diversos parceiros. Além da ora-pro-nóbis, a horta abrigou a beldroega, outra PANC. A professora Susana, sempre buscando inovar, teve a ideia de fazer com que as crianças experimentassem pratos preparados com as plantas que elas mesmas ajudaram a cultivar.

Com o apoio da Secretaria Municipal de Educação, foi organizado um dia de degustação na escola. O prato escolhido? Uma deliciosa farofa de ora-pro-nóbis com peixe. O resultado surpreendeu: quase 70% das crianças do turno matutino aprovaram a novidade!

O sucesso da farofa abriu portas para um passo ainda maior: incluir a ora-pro-nóbis no cardápio da merenda escolar de Gurupi. Para garantir um fornecimento sustentável, mudas foram distribuídas a produtores locais, como a associação Micro Jandira e o assentamento Vale Verde, onde o senhor Jorge Cabral e a família de Josué Degmar da Silva já comercializavam alimentos para a merenda escolar.

Diante de tudo que Susana tem feito e presenciado, ela destaca que o impacto deste projeto vai além da alimentação saudável:

“A criação de políticas públicas que garantam a segurança alimentar e nutricional nas escolas fortalece a conexão entre a Universidade e a comunidade. A expectativa é que outras PANC, com seus diversos benefícios nutricionais, possam em breve fazer parte do cardápio escolar.”

Além disso, ela conta que com projetos como este, não só é possível plantar alimentos, mas também semear conhecimento, saúde e inovação na educação das futuras gerações.

Professora Susana junto com a equipe da escola preparando e testando receitas com as plantas. Foto: Susana Cristine Siebeneichler/Acervo pessoal

Agradecimento às parcerias

Susana destaca ainda que “nada disso seria possível” sem o esforço conjunto de várias mãos. A equipe de nutricionistas da Secretaria Municipal de Gurupi (Lucia Isabel Oliveira Santos, Marcos Antônio Ramos de Oliveira, Wanderlei Sousa Silva Júnior e Luana Venâncio da Costa) foi fundamental; além de Raffael Batista Marques, bolsista do projeto; a Direção da Escola Agripino de Sousa Galvão; o financiamento e apoio do CDR Sul e da Fapt.

*Com informações da UFT

Saiba qual história de escritor do Amapá se tornou alegoria do Boi Caprichoso em 2024

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Foto: Daniel Landazuri/g1 AM

A historia contada em um livro do escritor Gian Danton foi interpretada em uma alegoria do Boi-Bumbá que compete anualmente no Festival Folclórico de Parintins, o Boi Caprichoso, tricampeão em 2024. O Amapá se fez presente no segundo dia do festival, com a alegoria que levou o tema ‘Lenda do Chico Patuá: Um herói da resistência popular’.

Gian Danton, autor do livro ‘Cabanagem’, que originalmente conta a história do herói Chico Patuá, contou que descobriu que a sua autoria estava no Festival de Parintins através de um amigo que leu a obra.

“Eu soube por um amigo de Manaus, que na hora me mandou mensagem dizendo: que bacana a homenagem que estão fazendo para o seu livro no Festival de Parintins. Na hora que estava acontecendo a apresentação”, disse Danton.

O autor entrou em contato com a equipe do Boi Caprichoso, que esclareceu e confirmou que a apresentação era uma interpretação da história criada por ele.

O presidente do Conselho de Artes do Boi Caprichoso, Ericky Nakanome informou que foi uma alegria receber uma ligação de Gian e o convidou para ir à Parintins para lançar a pesquisa junto à equipe.

“Para a gente foi uma alegria imensa receber a ligação dele. Eu acredito que seja a primeira vez que isso aconteça. A gente trabalha com uma referência de quase 200 livros. O livro do Gian foi um achado. A obra aparece na bibliografia como uma das principais e temos o desejo de trazer ele (autor) à Parintins até o final do ano, para lançar o livro aqui com a gente”, disse o presidente.

Gian Danton, autor de livros no Amapá. Foto: Gian Danton

Ainda de acordo com o presidente do conselho, a história completa é um tema importante que deve ser apresentado no festival, sendo a luta contra a cabanagem e a exaltação indígena.

“A referência do Chico Patuá aparece na fala de um conselheiro em uma das nossas reuniões. Fomos pesquisar em outros livros de cabanagem e a mais completa obra que falava sobre sua história, sua narrativa, era o livro do Danton”, descreveu.

A partir de um resumo da história, a equipe do Boi Caprichoso deu vida e cores à história do personagem Chico Patuá que seria a apresentação. O presidente Ericky Nakanome contou que a história tinha “a cara do caprichoso”.

Conheça a inspiração: ‘Cabanagem’

O livro ‘Cabanagem’ surgiu da inquietação de Gian Danton, após descobrir que o movimento da cabanagem chegou ao Amapá, até Mazagão e à Ilha de Santana, fato pouco falado historicamente. Mesmo se tratando de uma história fictícia, ele insere fatos da revolta no Grão-Pará na narrativa.

O livro conta sobre as lendas e as mitologias da região, com o foco principal no Chico Patuá, que é o protagonista. Patuá é um cabano que está fugindo da repressão no Pará e vem em direção ao Amapá.

Livro Cabanagem, de Gian Danton. Foto: Gian Danton

Durante a fuga, o protagonista recebe a ajuda de entidades místicas como o Curupira, a Matinta Perêra, a Cobra Grande. Por outro lado, algumas das lendas acabam tomando partido da repressão, o que acaba causando mais uma guerra, mas desta vez entre humanos e entidades sobrenaturais.

*Por Isadora Pereira, da Rede Amazônica AP

Parque Chico Mendes é 1º da Região Norte a receber selo de sustentabilidade de fundação holandesa de turismo

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O Parque Ambiental Chico Mendes, em Rio Branco (AC), recebeu o selo de sustentabilidade Good Travel Seal, da Fundação Holandesa Green Destinations durante cerimônia no dia 3 de julho. O selo é concedido a empreendimentos de turismo que tenham compromisso ambiental, com o objetivo de incentivar destinos e negócios a viajantes responsáveis.

Certificação foi articulada pelo Fórum Empresarial do Acre através do programa DEL Turismo, que atua em todo o país, além de apoio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Tecnologia e Inovação (SDTI).

Desde janeiro, a equipe cuidou de toda a documentação necessária para as diversas etapas do processo de certificação. Foram avaliados 59 critérios entre prevenção contra poluição, resíduos, energia e clima, acessibilidade, entre outros. Em ato simbólico, o certificado foi fixado ao lado do Memorial Chico Mendes, trecho do parque que conta a história do seringalista e ativista ambiental acreano morto em 1988.

O Parque Chico Mendes é o primeiro da Região Norte a receber este selo. A administração do local espera que isso traga visibilidade. Joseline Guimarães, coordenadora do espaço, ressalta que muitos turistas procuram destinos que possuam responsabilidade ambiental e que a conquista do selo vai colocar o parque na rota internacional.

“Nós estamos sempre prontos para receber o turista, preparados da melhor forma possível que nos cabe. E [o certificado] foi montado em frente do Memorial Chico Mendes, que é um ato também mais simbólico ainda. Esse foi um motivo de muita alegria esse ano, a gente ficou muito feliz, é um espaço super agradável. Quem já veio visitar e quem ainda não veio, nós fazemos o convite, porque você vai ter uma experiência muito agradável. É um local totalmente integrado à natureza”, destacou a coordenadora.

Para receber o selo, os empreendimentos precisam cumprir os seguintes passos:

  • Inscrição
  • Relatório
  • Avaliação
  • Auditoria
  • Decisão de comitê
Foto: Aline Nascimento/g1 Acre

Uma das articuladoras da certificação, a coordenadora do Fórum Empresarial, Tíssia Veloso, destacou que a certificação abrange o período de um ano, e que durante esse tempo a ideia é que o parque melhore nos critérios que ainda não são satisfatórios para então obter uma certificação ainda melhor.

“A certificação funciona por um ano, e dentro desse primeiro ano a gente vai melhorar os critérios que a gente não conseguiu atender para, no próximo ano, tentar uma certificação melhor ainda”, ressaltou

O secretário municipal de Turismo, Coronel Ezequiel Bino, destacou o trabalho entre diversas instituições no processo de certificação. Com o apoio do Fórum Empresarial, Bino ressalta que o nome de Chico Mendes atrai olhares internacionais, e espera que o selo traga um maior número de visitantes ao parque.

“Essa instituição leva o nome do Parque Chico Mendes como um destino sustentável. E isso é muito observado pelos nossos turistas, pelos nossos visitantes. Então, a gente acredita que com isso, esse parque, que já é tão visitado por pessoas daqui do mundo, receba ainda mais turistas”, disse.

Parque Ambiental Chico Mendes é o 1º da região norte a receber selo de sustentabilidade

*Por Victor Lebre e Aline Nascimento, da Rede Amazônica AC

Justiça Federal determina área do povo Sabanê do sul de Rondônia

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Área indígena em Rondônia. Foto: Júlio Olivar

Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com

O juiz federal da 5ª Vara, Dimis da Costa Braga, que responde também pela Vara Federal Cível e Criminal de Vilhena, publicou a sentença delimitando a área indígena do povo Sabanê.

A decisão foi comunicada à Unidade de Monitoramento e Fiscalização das decisões do Sistema Interamericano dos Direitos Humanos no TRF – 1ª Região, nos termos da Resolução 364/2021, bem como, ao CNJ e à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos, para acompanhamento do caso.

Segue o documento, na íntegra:

Sobre o autor

Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Especial: 10 curiosidades sobre o Portal Amazônia

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Há mais de 20 anos, a internet parecia algo distante, muito diferente das facilidades conquistadas recentemente. Quem tem mais de 30 anos certamente se lembra dos barulhinhos típicos das conexões discadas e como os sites ainda não eram recheados de imagens devido às suas limitações. O Portal Amazônia nasceu nesta época. 

“Quando a gente chegou aqui era tudo mato!”. Brincadeira à parte, essa é uma frase que pode ter diversos significados para a trajetória do Portal Amazônia, que celebra 23 anos neste 5 de julho. Tanto pelo pioneirismo na internet na região amazônica quanto com a missão de divulgar a realidade da Amazônia e do amazônida.

Para comemorar, reunimos algumas curiosidades sobre o Portal Amazônia para você conhecer:

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O Portal Amazônia é pioneiro na região. Foi lançado em 5 de julho de 2001 e está entre as principais referências sobre o tema Amazônia na internet com 23 anos ininterruptos de trabalho. Mas você sabia que foi lançado em plena quinta-feira, por volta das 2 horas da manhã?

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O primeiro slogan, da campanha de lançamento em 2001, era “a internet ficou verde”.

Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

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A primeira logo e a página principal do Portal Amazônia eram muito diferentes. Na época o uso de imagens era limitado devido a demora no carregamento. Já conhecia?

Imagem: Reprodução/WayBackMachine

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Ainda em 2002, outra novidade foi relacionada ao uso via telefone celular, do serviço SMS (Serviço de mensagem curta ou torpedo), oferecido em parceria com a NBT/TCO: era possível responder enquetes, enviar mensagens e participar de promoções. Os primórdios da interatividade via telefone móvel! 

Mas não era só isso. No início dos anos 2000, os chats eram super populares e é claro que o Portal também tinha o seu, um bate-papo em que os internautas interagiam com entrevistados, principalmente atrações culturais. Hoje temos diversas formas de interação pelas redes sociais. Onde você interage mais com a gente?

Imagem: Reprodução/WayBackMachine

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Parceiros nunca faltaram para o Portal Amazônia. Inclusive, no começo, as parcerias com jornais impressos, como o Jornal do Commércio, rendiam diversas publicações para a internet.

Imagem: Reprodução/Portal Amazônia

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E sim, nós também fazemos parte do Grupo Rede Amazônica, uma rede de televisão aberta, afiliada da TV Globo, com sede na cidade de Manaus, no Amazonas, que também é onde fica a nossa redação jornalística. O Grupo nasceu em 1972 e está presente em cinco Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia e Roraima. Também abriga outros veículos jornalísticos, como g1, o Globo Esporte e a CBN Amazônia.

Imagem: Reprodução/Grupo Rede Amazônica

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Mais uma vez, para quem já passou dos 30 anos, certamente lembra das enciclopédias – grandes coleções de livros impressos com informações das mais diversas sobre tudo. Quase um Google, mas que precisava de um certo esforço para encontrar o que queria. O Portal Amazônia, desde seu começo, investe em um almanaque que cumpre esse papel, focado na Amazônia: o Amazônia de A a Z.

Imagem: Reprodução/WayBackMachine

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Você sabia que já fomos hospedados na Globo.com? E, além disso, o Portal também tinha a TV Portal News, uma sessão em que os vídeos já eram o foco. 

Imagem: Reprodução/WayBackMachine

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O pioneirismo do Portal Amazônia também o levou a realizar transmissões ao vivo. Isso mesmo! Quem lembra do programa Amazônia Interativa, que fez parte da grade do canal Amazon Sat e era transmitido simultaneamente no nosso site? Ainda é possível conferir alguns episódios no nosso canal no Youtube.

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Certamente, em algum momento, você deve ter visto o historiador Abrahim Baze tanto em nossas matérias quanto na telinha do Amazon Sat. Mas a participação do historiador no Portal é um dos legados desses 23 anos, pois ele é nosso colunista desde a estreia, em 2001.

Foto: Reprodução/Amazon Sat

Mesmo após 23 anos, continuamos sendo contadores das histórias dos amazônidas. Fatos marcantes, curiosidades, peculiaridades regionais, lendas e tudo mais que houver para saber sobre a região queremos mostrar para o mundo. Conta pra gente o que mais tem marcado a história do Portal Amazônia para você!

Relembre grandes coberturas que fazem parte da nossa história

City Tour leva turistas a conhecerem histórias e segredos de Rio Branco

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Empresas de turismo e diversos profissionais que atuam como guia turísticos oferecem o serviço de city tour, um passeio com a condução de guia de turismo oficial pelos principais pontos da cidade de Rio Branco, no Acre. O objetivo é proporcionar aos visitantes uma visão abrangente e enriquecedora do destino.

A capital do Acre guarda muitas histórias e segredos em suas ruas e prédios centenários. Para se ter uma ideia, apenas no Centro da capital acreana, pelo menos vinte pontos históricos recontam fatos importantes de Rio Branco e do Acre.

Segundo o secretário de Turismo e Empreendedorismo, Marcelo Messias, o passeio orientado permite que os visitantes conheçam a cidade de Rio Branco com uma imersão na cultura e história. “Rio Branco é uma cidade com muita identidade histórica, e o passeio orientado por profissionais do turismo faz com as riquezas da cidade sejam exaltadas e a economia local seja aquecida”, destacou.

Ao longo dos anos, Rio Branco passou por um rápido crescimento e desenvolvimento, impulsionado pela exploração da borracha e mais tarde por outros setores da economia. A cidade é um importante centro cultural, político e econômico na Amazônia brasileira, preservando sua história e contribuindo para o progresso da região.

Palácio Rio Branco, símbolo da história acreana. Foto: Marcos Vicentti/Secom AC

De acordo com a agente de turismo receptivo e criadora de conteúdo da Agência Destino Acre, Thaly Figueiredo, os clientes interessados pelo serviço de city tour procuram a agência por meio das redes sociais, rede hoteleira e outras empresas agenciadoras do país.

“Nós, enquanto agência receptiva, somos um elo entre o guia e o turista para mostrar o melhor do nosso estado. Temos como parceiros profissionais habilitados que fazem com que essa experiência seja ainda mais rica em nosso estado”, declarou.

Thaly conta que os turistas também gostam de fazer passeios de barco, na capital acreana, conhecer o interior do estado, aldeias indígenas e a gastronomia local. “Essas vivências valorizam a nossa cultura e fazem com que o turista tenha as melhores experiências aqui”, destacou.

Atualmente, algumas empresas e guias de turismo oferecem vários tipos de pacotes de visitação em Rio Branco, que incluem desde a visitação na área urbana, no Centro da capital, o tour ambiental e a visitação que abrange tanto a parte urbana quanto a área ambiental, que é a mais demorada.

Para a turista Conceição Alves, que veio da Paraíba conhecer Rio Branco, fazer o city tour foi surpreendente.

“A viagem foi maravilhosa. Eu não imaginava que tinha tanta coisa bonita para ver no Acre”, disse.

Imagem aérea da Catedral Nossa Senhora de Nazareth. Foto: Arquivo Secom AC

Visitação

O city tour pode começar de diferentes pontos, mas em geral, começa pela Praça da Revolução, no centro de Rio Branco, onde está localizada a estátua de Plácido de Castro, personagem importante na história da Revolução Acreana, despontada por uma série de conflitos de fronteira entre a Bolívia e a Primeira República Brasileira.

Durante o passeio, os turistas podem apreciar a arquitetura e a beleza dos prédios históricos da região central da cidade, como o Quartel da Polícia Militar, o Colégio Estadual Barão do Rio Branco e O Casarão – espaço de festividades nas décadas de 80 e 90.

Visualizada da praça, a Prefeitura de Rio Branco, que já foi hotel e penitenciária, também faz parte do roteiro, assim como o Memorial dos Autonomistas e o Teatro Hélio Melo.

O Palácio Rio Branco, construído na década de 30, referência histórica e política do Acre, o Museu dos Povos Acreanos, inaugurado em 2023, Museu da Borracha e a Catedral Nossa Senhora de Nazareth também fazem parte do roteiro de visitas.

*Com informações da Agência de Notícias do Acre

Conheça as duas espécies de lagartas que têm prejudicado pastos e causado morte de bois em Roraima

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Lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda) e a curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes). São essas duas espécies de lagartas que têm devastado pastos e deixado rebanhos sem comida em Roraima. Mais de 7 mil bois e vacas morreram de fome, transformando propriedades rurais em cemitérios de carcaças.

Para entender como as duas espécies de insetos agem de maneira tão voraz, o Grupo Rede Amazônica conversou com especialista que explica as características e as diferenças entre elas. Um spoiler: elas comem sem parar tudo que é verde que veem pela frente.

Os 7.139 bois morreram em ao menos 40 dias nas fazendas de vários municípios de Roraima. A estimativa é de que ao menos 54 mil hectares de pasto – o equivalente a 75 mil campos de futebol, tenham sido devastados pelas lagartas.

Um dos motivo da infestação de lagartas é o desequilíbrio ambiental causado pelo El Niño intenso.

Entre os fatores estão:

Estiagem e seca histórica que Roraima enfrentou nos meses de janeiro, fevereiro e março, que destruiu ou enfraqueceu o pasto; Ausência de predadores para cessar a infestação das lagartas logo no início do período chuvoso, em abril.

O doutor em entomologia agrícola pela Universidade Estadual de São Paulo (Uesp), Cirano Melville pesquisa espécies de lagartas na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ele detalhou as características e os desafios no combate a esse tipo de praga.

Melville explica quais são as fases mais críticas e o período em que ela “come tudo”. Os brotos dos capins são como picanha para elas, disse o especialista.

De acordo com ele, elas possuem quatro fases: fase do ovo (5 dias), lagarta (14 e 22 dias), pupa ou casulo (10 a 11 dias) e a fase adulta, a mariposa (10 a 12 dias), onde o inseto se reproduz e só se alimenta de néctar de flores.

“A fase mais crítica, considerada praga, é a fase de lagarta. Especificamente o quinto estágio de desenvolvimento, onde o inseto se alimenta mais intensamente, consumindo 80% de seu alimento total”, explicou.

Lagarta-do-cartucho-do-milho ou lagarta-militar

Lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda), estudada por pesquisadores da Embrapa em Roraima — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR
Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR

A Lagarta-do-cartucho-do-milho, também conhecida como lagarta-militar, é considerada um pesadelo para os agricultores. Polífaga, ou seja, ela se alimenta de mais de 100 plantas antes de virar uma mariposa. No cardápio dela estão o milho, soja e capim dos pastos, o que a torna uma praga persistente nas áreas de cultivo.

“Com a intensificação da agricultura, quase não há interrupção no ciclo dessa praga, pois sempre há alimento disponível, como milho, soja e braquiária [capim usado para alimentar o gado], permitindo que a praga permaneça nas áreas cultivadas”, disse Melville.

Ele explica que a lagarta é uma das cinco principais pragas do Brasil pela dificuldade de combatê-la com produtos, processos e tecnologias destinados ao controle de ataques e infestações.

Essa espécie tem uma coloração variável, podendo ser verde, amarela, marrom ou preta. Possui o desenho na forma de Y na cabeça e quatro pontos pretos na parte dorsal do último segmento abdominal. Adulto é uma mariposa de cor cinza ou marrom, com uma envergadura de 3 a 4 cm.

O ciclo de vida dessa lagarta é relativamente curto, o que facilita sua rápida disseminação.

“Após eclodir do ovo, a lagarta pode completar sua fase larval em 14 a 22 dias, dependendo das condições ambientais. A fase de pupa dura entre 10 e 14 dias. No total, o ciclo de vida varia de 30 a 60 dias”.

Curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes)

Espécie de curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes), lagarta que está infestando os pastos em Roraima — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR
Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR.

O curuquerê-dos-capinzais também é uma praga polífaga. Ela se alimenta de culturas como arroz, batata, cana, couve, milho, maracujá, soja e trigo. Seus danos são observados principalmente nas folhas, que ficam reduzidas e com mordidas formando desenhos.

Esta espécie se movimenta como ‘se medisse em palmos’. A coloração é verde clara, com listras pretas ou amarelas — os desenhos podem variar. Além disso, há pontos pretos distribuídos aleatoriamente de uma extremidade até a outra.

Mas esta não é a única cor que esta espécie pode ter. Em populações elevadas, elas mudam de coloração. O corpo torna-se preto, mantendo as listras brancas e os pontos pretos visíveis nas laterais do corpo.

“Seus danos são principalmente nas folhas, deixando apenas o talo da folha. O ciclo de vida pode ser acelerado por temperatura e umidade, com a fase larval durando 20 a 23 dias e a fase de pupa entre 10 a 14 dias”, explica Melville.

Morfologicamente, essa lagarta é identificada por um ‘Y’ invertido na cabeça e quatro pontos pretos no abdômen. Em populações elevadas, a cor pode mudar para preta, mantendo as listras brancas e os pontos pretos visíveis.

“Uma coisa bem interessante que pode ser dito [sobre essa espécie] se o produtor visualizar lagartas pretas nas pastagens é sinal de que a população está elevada e que o dano às plantas de capim estão ocorrendo em grandes proporções”, disse o professor.

Manejo e como evitar as lagartas

Gado morre de fome e fica fraco por falta de pasto e pela infesteção de lagartas e ervas daninhas em Roraima — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR
 Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR.

Para lidar com essas pragas, Melville destaca a importância do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Segundo ele, os produtores devem buscar orientação de profissionais, como agrônomos, e adotar práticas integradas que incluem controle biológico, químico e genético. Ela afirmou que o monitoramento contínuo é crucial para a identificação precoce e o controle eficaz dessas pragas. Além disso, é importante estar atento a sinais visuais nas plantações.

“Com a adoção de estratégias eficazes e um monitoramento rigoroso, é possível minimizar os impactos dessas pragas, garantindo a saúde das plantações e a segurança alimentar”. Melville disse que o combate é um esforço contínuo que requer atenção e ação rápida por parte dos agricultores e especialistas.

Reflexos do desequilíbrio ambiental

O Grupo Rede Amazônica esteve em dois locais que foram severamente afetados pela morte de rebanhos em fazendas por falta de comida: as vilas Samaúma e a Apiaú, município de Mucajaí, no Sul de Roraima. Na região, produtores perderam grande parte do gado. Emocionados, eles relataram o clima de desespero, apreensão e medo.

Historicamente, a criação do estado de Roraima se entrelaça com a da pecuária e, consequentemente, com os impactos ambientais que a atividade engloba, como o desmatamento. No entanto, desta vez, especialistas afirmam que ainda é prematuro associar o desequilíbrio ambiental das lagartas e mortes dos bois com a supressão de vegetação. Até agora, a principal relação é com o El Niño intenso dos últimos meses.

Foi neste cenário que o pecuarista Joaquim Simão Costa, de 55 anos, se viu obrigado a buscar pasto em outras regiões. Para fugir da fome, ele levou o rebanho a pé para uma fazenda alugada de um amigo na região do Truarú, em Boa Vista, distante quase 113 Km da Sumaúma, onde vive, numa viagem de aproximadamente 10 dias.

Pecuarista Joaquim Simão Costa, 55 anos, precisou levar a sua criação de gado a pé para outro município por falta de pasto em Roraima — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR
 Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR.

No trajeto, muitos animais de Joaquim morreram e foram deixados na estrada, outros tiveram a carcaça arrastada pelo caminho. Vídeos mostram ele levando o rebanho pelas ruas para fugir da fome.

Na vila Samaúma, o cenário é de tristeza. Urubus sobrevoam por todas as partes nas ruas e nas estradas. Carcaças de bois e vacas mortos são vistas com facilidade nas margens das vias. As áreas de pastos se tornaram cemitérios dos animais que antes eram o sustento de famílias rurais.

No caminho, com o rebanho fraco e com fome, animais morrem e são abandonados. Rastros de sangue de cascos machucados são deixados na estrada. Tudo isso deixa Joaquim emocionado. Passar pela situação é um ‘pesadelo’ para ele, mas não há outra solução a não ser levar o gado para outro lugar que não esteja infestado por lagarta.

“É muito triste ver essa situação. Estamos enfrentando uma dificuldade enorme, muita tristeza. A situação está muito feia e difícil. Moro aqui há 40 anos. Nunca tivemos um fenômeno tão desesperador. Está muito difícil, nunca tinha visto algo assim. Fomos pegos de surpresa. Em dez dias o gado foi morrendo de fome na estrada, debilitado, caindo e ficando para trás. É uma tristeza imensa, muito difícil”, contou o pecuarista ao g1.

Com o decreto de emergência, o governo também criou o Programa Emergencial de Apoio à Pecuária Familiar, medida que prevê a contratação temporária de pessoas, dispensa de licitação para aquisição de bens e serviços essenciais, além da convocação de voluntários para reforçar as ações de resposta ao desastre.

Para o combate às pragas e recuperação do pasto nas propriedades, o governo, por meio da Agência Desenvolve, anunciou o repasse de R$ 1.750 aos produtores rurais. O valor será concedido por meio do programa Desenvolve Roraima. O teto máximo que cada produtor deve receber é de 5 hectares, o equivalente R$ 8.750.

*Por Caíque Rodrigues, da Rede Amazônica RR

Rondônia registra, no 1° semestre de 2024, maior número de focos de queimadas dos últimos 8 anos

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Em Rondônia, os focos de queimadas registrados de janeiro a junho de 2024 são maiores do que os detectados em todos os primeiros semestres dos últimos 8 anos, revelou os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Os focos ativos estão relacionados à detecção de incêndios em tempo real através de satélites, de acordo com o Inpe. Conforme os dados do ‘Programa Queimadas’ do Inpe, no primeiro semestre de 2024, o estado registrou 465 focos de queimadas, o que representa um aumento de 50% em relação ao mesmo período de 2023. Além disso, esse é o pior 1° semestre desde 2016.

Leia também: Apesar de menor registro de desmatamento, seca aumenta incêndios na Amazônia em 36%

Em 2024, até o momento, junho apresentou o maior número de focos registrados no estado, com 183 ocorrências: o maior acumulado para o mês dos últimos 5 anos, ficando atrás apenas de 2019, quando foram registrados 170 focos em junho.

Na contramão, janeiro foi o período com o menor número de registros (39 notificações), seguido de fevereiro. Na Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão) foram registrados 22.058 focos de queimadas durante o período de 1° de janeiro a 1° de julho de 2024.

Um foco precisa ter pelo menos 30 metros de extensão por 1 metro de largura para que os chamados satélites de órbita possam detectá-lo. No caso dos satélites geoestacionários, a frente de fogo precisa ter o dobro de tamanho para ser localizada, segundo informações do Inpe.

Como denunciar?

Conforme a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental de Rondônia (Sedam), para realizar uma denúncia de queimadas na zona rural, é necessário entrar em contato com o órgão pelos seguintes meios de comunicação:

Telefone: 0800 666 1150

E-mail: ouvidoria@sedam.ro.gov.br

Plataforma: Fala.BR

WhatsApp da Ouvidoria Ambiental: (69) 98482-8690 (dúvidas e informações).

Já se os focos forem em áreas urbanas o morador deve entrar em contato com a Secretária Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema) do município.

Em Porto Velho, a denúncia de queimadas pode ser feita por Whatsapp, através do número (69) 98423-4092. É importante que o morador envie o máximo de provas possíveis, como fotos, vídeos e localização correta para que a equipe chegue a tempo para o flagrante.

Em caso de incêndios, a população deve ligar para 193 (Corpo de Bombeiros).

*Com informações do g1 Rondônia

Projeto incentiva aproveitamento de resíduo da mandioca por comunidade quilombola de Salvaterra

Na comunidade quilombola de São Benedito da Ponta, no município de Salvaterra, Ilha do Marajó (PA), representantes de todas as famílias locais aprenderam a converter um rejeito com potencial de poluição ambiental em produtos saborosos, de fácil comercialização e bom valor agregado.

Essa mudança é resultado das atividades do projeto de aproveitamento de manipueira (líquido que sai da mandioca e de onde se extrai o tucupi) e importância histórico cultural das casas de farinha, coordenado pela professora Carmelita Amaral Ribeiro, do curso de Tecnologia de Alimentos da Universidade do Estado do Pará (Uepa), mediante aprovação no edital do Programa de Ação Comunitária (PAC) da Pró-Reitoria de Extensão (Proex).

A manipueira é um líquido de aspecto leitoso e de cor amarela-clara, obtido em quantidade em casas de farinha, após a prensagem das raízes da mandioca para produção de farinha. Esse resíduo é, frequentemente, descartado em grande quantidade no solo e com a intervenção das ações do projeto, ao invés de causar problemas de contaminação, decorrente do descarte incorreto, a manipueira pode ser aproveitada na elaboração de produtos como molhos geleia de tucupi, molhos cremosos de tucupi com jambu e molho de tucupi com pimenta cumaru, por exemplo.

Além da professora Carmelita Ribeiro, a estudante Ângela Maria Melo Barros e o aluno Diego Bruno Figueiredo Serrão, ambos no quinto semestre do curso de Tecnologia de Alimentos no campus XIX, em Salvaterra também atuaram na capacitação das pessoas envolvidas nas atividades que envolviam orientações sobre como manipular e produzir os alimentos com segurança e qualidade. 

Conhecer o histórico das casas de farinha da comunidade, assim como a sua contribuição cultural também faz parte dos objetivos do projeto. O estudante Eli Haroldo dos Santos Gemaque, que cursa o oitavo semestre da Licenciatura em História, também no campus XIX da Uepa, ficou à frente das entrevistas realizadas durante esse processo de escuta da comunidade, no qual a equipe buscou saber de que maneira as famílias da comunidade produzem a mandioca e desenvolvem seus subprodutos, bem como, compreender a importância desses produtos para as famílias.

Qualidade de vida e aumento da renda

Mais do que capacitar as famílias em relação à produção dos alimentos, a equipe da Uepa também contribuiu com a confecção de rótulos e orientou sobre a comercialização.

“Fizemos com eles os cálculos sobre os custos de produção, inclusive sobre as embalagens e rótulos, para projetar os  preços de comercialização”, explica a professora Carmelita. Na avaliação das mulheres quilombolas que participaram das oficinas, foi muito proveitoso aprender a não desperdiçar. “Antes a gente fazia o suco do maracujá e jogava a casca fora e hoje já fizemos a geleia usando casca. A gente aprendeu e foi ótimo. Para quem não sabia, hoje em dia já não vai mais desperdiçar jogar fora”, afirma Laide Barbosa Portal.

Agradecida pela oportunidade, Iolete dos Reis Pereira afirmou que tudo ficou delicioso e que junta, a comunidade vai progredir. “Vamos para frente, né? Porque foi delicioso, aprendemos, gostamos muito e agradecemos muito a todos que vieram nos ensinar”.

“A gente desperdiçava muito tucupi aqui e o que mais a gente aproveitou, acredito todas as meninas, foi essa parte que a gente descartava e agora é aproveitada na geleia. Estamos tendo muitos pedidos, então eu creio que a renda também vai aumentar bastante através desse projeto. Vamos comercializar todos esses produtos que aprendemos a fazer”, conclui Marielle Lucia Santos dos Santos.

Na avaliação da Meiriane Lopes, agente de desenvolvimento local da Sala do Empreendedor Salvaterra, é necessário “potencializar as comunidades na sua forma econômica no empreendedorismo feminino e aí a gente começa a plantar esse sentimento do empreendedor dando rumos para essas pessoas, porque elas têm esse produto e só viam o produto se estragando, sem pensar em empreender e a instituição está ajudando muito a mudar esse cenário.

*Com informações da UEPA

Crônica: as fendas da história na Semana da Memória em Porto Velho

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A palestra de abertura da Semana da Memória, em Porto Velho. Foto: Assessoria/TJ

Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com

Na Semana de Memória do Tribunal de Justiça em Porto Velho – 1º a 5 de julho de 2024 –, as fendas da história se abriram diante de mim. A cidade, marcada por uma pluralidade arquitetônica e uma identidade sem padrões rígidos, revelou-se como um livro aberto, com páginas que se desdobravam em cada esquina.

Há cinco anos, eu não visitava Porto Velho. O retorno à cidade ocorreu por ocasião de uma palestra que ministrei no CCDH (Centro Cultural de Documentação Histórica) nesta semana. O convite partiu do desembargador Alexandre Miguel, diretor da Emeron (Escola da Magistratura do Estado de Rondônia), um ardoroso entusiasta e conhecedor profundo da cultura e da memória rondonienses.

Minha palestra, embora bem preparada, ficou aquém das minhas expectativas. Não sou um conferencista por profissão, mas por atrevimento. Estudei bastante, elaborei slides e planejei a abordagem da temática proposta. No entanto, talento é inato, e eu, no máximo, sou um esforçado. A boa fala requer equilíbrio entre conhecimento formal e o olhar poético que emana carisma. Como dizia Marco Túlio Cícero: “Poeta nascitur, orator fit”. É importante ressaltar que não sou historiador, mas um pesquisador independente.

Em Rondônia, há renomados historiadores e autores que oferecem vasta bibliografia. Para mim, o ítalo-brasileiro Vitor Hugo foi a porta de entrada para outros nomes que dedicaram suas vidas à elucidação e ao registro da história. Ao escrever, meu olhar é de escritor e jornalista, não de historiador. Inspiro-me na cultura de almanaques, mas baseio-me em pesquisas em fontes primárias – o verdadeiro tesouro para quem aprecia viajar pela história por meio de documentos de época. Às vezes, a imersão é tão intensa que me sinto fazendo uma reportagem contemporânea. As fontes orais também são essenciais, embora carregadas de afetividade e romantismo. Elas complementam o que as fontes primárias podem omitir, pois são discursos fundamentados em interpretações, mesmo que bem-intencionados e impessoais.

O Poder Judiciário é o ponto de convergência de todos os poderes e da sociedade, inclusive pelo que não é dito. A análise de discurso revela desde o contundente até o silêncio e as omissões que invisibilizam as diversas castas sociais. Tudo está mudando. Mas nem sempre a justiça foi plural. As mais de oito mil peças processuais e documentos raros do CCDH permitem um olhar profundo sobre a sociedade desde o início do século XX. Há registros de assassinatos em botecos e grandes conflitos, como o Massacre de Corumbiara e o assassinato do senador Olavo Pires, aqui citados só para ilustrar.

Além do aspecto institucional, os processos revelam hábitos e costumes, vocabulário, moda, consumo de bens e serviços, relações humanas e a sofisticação tecnológica – para a época – do comércio portuário antes da implantação da ferrovia em 1912.

Na abertura da Semana da Memória do Poder Judiciário, apresentei um material preparado com dedicação, mas acabei me perdendo, atropelando o esquema que eu mesmo havia traçado.

Falar em público é visceral, sem filtros, ao contrário da escrita solitária e reflexiva, depurada nas fases de revisão e edição até se tornar um produto final. O vocabulário some sob pressão, e as palavras certas nem sempre vêm à ponta da língua para definir uma ideia. Assim é a vida do orador, do pesquisador, do escritor – um equilíbrio delicado entre o atrevimento e a busca pela verdade histórica.

A minha abordagem na palestra seria não focar exclusivamente na história, mas sim nos processos judiciais essenciais que moldaram a história. O alicerce que eu gostaria de estabelecer envolveria mencionar as fontes formais do CCDH – as quais utilizei principalmente para escrever o livro “A Cidade que Não Existe Mais” – a fim de chegar a determinadas conclusões. A relevância das fontes primárias reside na capacidade de criar uma narrativa original que transcenda o simples “copiar e colar” tão comum na era virtual, em que muitas vezes confundem bibliografia com plágio disfarçado por citações literais.

Embora inicialmente não fosse minha intenção, acabei abordando questões históricas de maneira descontraída, quase como um “almanaqueiro”. Nesse sentido, me inspiro em Elifas Andratto, um grande colecionador de dados, estatísticas, iconografias e curiosidades extraídas das histórias escritas por acadêmicos. Quem se lembra do “Almanaque Brasil”? Essa revista de bordo da TAM, editada por Andreatto, grande artista e editor que também foi responsável por ilustrar capas de discos – uma profissão que, infelizmente, se tornou obsoleta.

A história sempre me fascina e me impulsiona a buscar respostas além do que está registrado em ordem cronológica, conectando-a à geopolítica e considerando fatores antropológicos, sociológicos, arqueológicos e filosóficos. Tudo isso é relevante. No entanto, acredito que a verdadeira escrita histórica não se limita a ser uma mera compilação de fatos; ela deve permitir ao autor empregar adjetivos e explorar discursos que se assemelham a romances ou reportagens jornalísticas.

Laurentino Gomes é um mestre nesse estilo, tendo ganhado dois prêmios Jabuti e se tornado um best-seller no campo da historiografia – algo notável e inédito até então.

A narrativa historiográfica, quando pura e simples, exige impessoalidade e serve como um recurso para pesquisadores que buscam fontes. Geralmente, é repleta de notas de rodapé que transferem a responsabilidade para outros autores quando se afirma algo com incerteza. Aqueles que ousam ir além desse padrão demonstram compreensão do material lido e a capacidade de escrever – e até mesmo cometer erros – por conta própria.

Em resumo, durante a palestra, me vi perdido diante da vastidão do que gostaria de ter dito e não disse, bem como das muitas coisas que surgiram espontaneamente em minha mente e que talvez não devesse ter mencionado. Foi como uma tempestade de ideias que eu desejava compartilhar naquele momento. O meu objetivo sempre é provocar e despertar o interesse das pessoa. Acredito que uma boa palestra deve gerar dúvidas, em vez de apenas confirmar o que todos já sabem ou supõem.

A história está repleta de fendas e nuances, e é nesse espaço que me sinto à vontade. Como um leitor-escritor, observo a história que está escrita, inclusive no cenário mundial, desde os registros precisos dos brasilianistas sobre a vida no Alto Rio Madeira, muito antes da famosa Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, que muitos consideram o marco-zero de Rondônia no século XIX.

Além da palestra, um olhar para o agora

Desde o início de 2009, eu não havia estado em Porto Velho. Durante a Semana de Memória do TJ, tive a oportunidade de revisitar a cidade e comparar muitos aspectos da sua cena cultural.

Uma das minhas paradas foi no Museu da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM). O espaço apresenta uma nova configuração, diferente das revitalizações anteriores. Não vou entrar em detalhes sobre o formato estético e de conteúdo atual, que perdeu parte da rusticidade original. No entanto, notei um rigor maior nas visitações, guiadas e orientadas. Concordo que tudo deva ter uma certa disciplina, ainda mais quando se trata de equipamento públicos que, quando sucateados, passam anos sem manutenção.

Dentro do museu, a exposição permanente sobre a epopeia da ferrovia está bem contada e didática.

Algo me chamou a atenção: um painel com 424 cabeças esculpidas em argila e sedimentos do Rio Madeira, obra do artista plástico Bruno Souza. Cada rosto, cada expressão, representa uma pessoa diferente que contribuiu para a construção de tudo o que Porto Velho é hoje. Essa diversidade humana é a verdadeira riqueza da cidade.

No museu da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, as cabeças de cerâmica. Foto: Júlio Olivar

Mas não foram apenas os pontos culturais que me chamaram a atenção. A transformação digital, ditada por IA e algoritmos, também deixa suas marcas. Os sebos, outrora redutos de livros usados, perderam força, e as bancas de jornal não mais exibem publicações atualizadas. O mundo virtual se impõe, mas a vida, teimosa, continua analógica.

Claro que esse cenário não é exclusivo de Porto Velho; é uma tendência global. Tudo se virtualizou, está nas nuvens, acessível na palma da mão. Mesmo a EFMM, apesar de sua beleza, perdeu parte de sua presença tátil. A vida, no entanto, continua analógica. Como alguém que chegou ao novo milênio aos 27 anos, posso afirmar: envelhecemos junto com as mudanças irreversíveis.

Em meio a essa dualidade – virtual e tangível –, percebi que as fontes primárias continuam sendo o lastro essencial para qualquer produção textual. Elas nos conectam ao passado, às vozes que ecoam nas entrelinhas da história. E assim, na palestra no CCDH, exaltei a importância dessas fontes, lembrando que a verdadeira riqueza de Porto Velho reside em seu povo diverso, nas fendas que nos permitem enxergar além do óbvio. As memórias, como as cabeças no painel de Bruno Souza, são fragmentos que se unem para contar uma história.

E naquele momento, diante da plateia atenta, eu me senti parte dessa narrativa, navegando pelas águas do Rio Madeira, entre o analógico e o virtual, entre o passado e o presente.

Nota do autor: A história é um mosaico, e cada peça tem sua relevância. Que possamos explorar as fendas, as brechas, e descobrir nelas a essência de quem somos.

Sobre o autor

Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista