No dia da tradicional matança do Garantido, 17 de julho, no ‘Curralzinho da Baixa’, em Parintins (AM), acontece o lançamento do livro ‘Um sonho Garantido’, escrito por Cleumara Monteverde, neta de Lindolfo Monte Verde, criador do Boi Garantido.
A obra foi produzida com incentivo da Lei Paulo Gustavo, executada pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. O livro tem como proposta, de acordo com a autora, evidenciar o papel da mãe de Lindolfo, Dona Alexandrina (conhecida como Dona Xanda), na trajetória de vida do seu filho e como foi sua influência na concepção da criação do boizinho.
Cleumara relata que sua avó era uma mãe observadora, que percebeu que o filho sonhava com a criação de um boi.
“Ela o incentivou e idealizou as suas primeiras fantasias. Uma mulher a ser admirada e reconhecida por ver além”, avalia Cleumara.
Curuatá
O livro relembra do primeiro boi de Lindolfo que ele, quando curumim, usando o curuatá (invólucro de uma palmeira), colocava nas costas imitando os movimentos de boi, como as histórias que ouvia.
Fotos: Divulgação/Secretaria de Cultura e Economia Criativa
Ela lembra que começou a escrever em 2011, mas por inúmeras questões deixou guardado. “Com o edital, resolvi inscrever e passou. São relatos que ouvi e decidi deixar registrados para servir de fonte de pesquisa para futuras gerações”, explica.
‘Um sonho Garantido’ é dividido em doze capítulos e composto de 50 páginas. As ilustrações são de Alexandre Haidos e a revisão de Fátima Guedes. Cleumara adianta que os livros serão distribuídos em dez escolas do Estado.
A Missão de Monitoramento e Avaliação 2024 ocorreu entre os dias 9 e 13 de julho, com o objetivo de monitorar e avaliar in loco os avanços na implementação do Programa REM Acre – Fase II e pactuar medidas para a melhoria das ações e a continuação do programa. A agenda incluiu reuniões técnicas com órgãos co-executores e visitas aos beneficiários dos projetos Cadeia Produtiva da Bovinocultura, em Porto Acre e Epitaciolândia, e do Subsídio da Borracha, na Comunidade 2 Irmãos, em Xapuri.
A missão contou com a presença de Franziska Tröeger, primeira-secretária para o Desenvolvimento Sustentável/Florestas da Embaixada do governo alemão; Klaus Köhnlein, gerente de portfólio do Banco KfW; Svenja Bunte, gerente do Programa REM no Department for Energy Security & Net Zero – DESNZ; Louise Hill, gerente do portfólio de financiamento climático (REM e LEAF) pela International Climate Finance Manager – IFC, além de representantes do governo do Acre.
Cadeia Produtiva da Bovinocultura
No subprograma “Pecuária Diversificada Sustentável” o foco é promover o incremento na produtividade e a diversificação da criação de animais, incentivando a recuperação de áreas degradadas e reduzindo a pressão para abertura de novas áreas de pasto.
A degradação do solo, um problema sério enfrentado pela bovinocultura, é combatida por meio de atividades que incluem o diagnóstico da propriedade, a aplicação de insumos e a recuperação dos nutrientes. Esses esforços resultam em pastagens mais produtivas, maior disponibilidade de forragem para o gado, aumento na produção de carne e leite, e uma maior rentabilidade para os produtores.
Foram visitadas duas unidades demonstrativas de bovinocultura sustentável que somam-se ao subprograma. Ambas as fazendas são de pecuária leiteira. O primeiro local visitado pertence ao produtor rural Glauber Valhejo. A propriedade localizada na estrada para Porto Acre, recebeu a equipe do Programa REM e colaboradores.
Segundo o produtor, cinco hectares da propriedade estão sendo usados para desenvolver uma pecuária sustentável, que tem gerado o triplo de resultados em relação ao modelo antigo de produção, que consistia em desmatar para ter mais terra para o rebanho: “Conseguimos elaborar esse projeto [Pecuária Diversificada Sustentável], até então só em cinco hectares; esse trabalho já pega essa [área] aqui que a pastagem já está bem melhor, mesmo com a falta de chuva. Eu praticamente reduzi o volume do meu gado para apenas um hectare e tripliquei a produção de leite”.
Na oportunidade, a secretária adjunta de Planejamento, Kelly Lacerda, representando a Secretaria de Estado de Planejamento (Seplan), esteve presente na fazenda do produtor Vallejo e agradeceu a recepção e a presença das equipes que a acompanharam, destacando a representatividade dos órgãos parceiros. Ela ressaltou a importância da parceria com os doadores internacionais e dedicação do governo do Estado, além de agradecer aos coordenadores do Programa REM e destacar a importância de cada órgão e secretaria parceira do programa.
“Pessoalmente, é muito gratificante ouvir essa história e participar deste projeto. Venho de um contexto rural e sou grata pela assessoria técnica que ajudou minha família. Hoje, estar aqui como gestora é motivo de muita alegria e reconhecimento. Agradeço a cada gestor, cada produtor, cada história transformada por esses projetos que contribuem para um futuro melhor. Em nome da sociedade, do planejamento e desenvolvimento do estado, expresso nosso orgulho por esta parceria e agradeço aos nossos doadores por tornarem isso possível”, afirmou a secretária adjunta.
Foto: Pedro Devani/Secom AC
Em Epitaciolândia, foi visitada a unidade demonstrativa de Gildeon Chavier. O produtor rural relata que, antes do Programa REM, a produção de leite da fazenda ficava entre 30 e 40 litros e o produtor precisava trabalhar fora para complementar a renda familiar. Quando ele conheceu o projeto e começou a implementá-lo, a produção aumentou para 80 a 90 litros por dia, permitindo que focasse apenas na fazenda. Com o projeto, ele também conseguiu implementar a silagem, essencial para a região onde os projetos começam no inverno, mas sofrem no verão com a seca. Ele já havia tentado recuperar as áreas desmatadas antes, mas sem sucesso devido às condições climáticas.
“Graças ao projeto [Pecuária Diversificada Sustentável], conseguimos dividir e manejar adequadamente nossas áreas, incluindo a reserva, totalizando entre 8 e 10 hectares. Com o apoio dos técnicos da Seagri [Secretaria de Estado de Agricultura], seguimos o manejo correto, o que nos permitiu chegar ao verão com pastagem suficiente. Além disso, plantamos milho e produzimos silagem, garantindo alimentação para o rebanho durante o verão intenso. Mantivemos a produção de leite estável, mesmo reduzindo o número de animais no verão, graças ao planejamento e à alimentação adequada. Antes, a mentalidade era abrir mais áreas para pastagem, mas, com o projeto, aprendemos a manejar melhor o que já temos, alcançando resultados positivos e sustentáveis”, celebrou o produtor.
No subprograma “Pecuária Diversificada Sustentável”, a visita às unidades demonstrativas destaca o impacto positivo alcançado ao adotar práticas que não só aumentam a produtividade, mas também promovem a sustentabilidade ambiental na região. A cooperação entre produtores locais, governo estadual e parceiros internacionais, por meio do Programa REM, tem sido fundamental para esses avanços. Esse modelo bem-sucedido inspira outras iniciativas, como o programa “Subsídio da Borracha”, onde estão sendo escritas novas histórias de transformação e desenvolvimento sustentável.
Subsídio da Borracha
No subprograma “Territórios de Produção Familiar Sustentável”, o apoio é voltado para o fortalecimento das cadeias produtivas sustentáveis desenvolvidas por povos originários, extrativistas e produtores tradicionais. A atividade de extração da borracha, essencial para a produção de diversos produtos, recebe subsídios que garantem a viabilidade econômica e evitam o abandono da atividade pelos seringueiros.
Com esse objetivo, a Comitiva da Missão de Monitoramento e Avaliação 2024 do Programa REM – Fase II foi, no último dia da missão, ao município de Xapuri, onde foi guiada por Sebastião Nascimento de Aquino – conhecido por Tião Aquino -, presidente da Cooperativa Agroextrativista de Xapuri (Cooperxapuri), membro do Conselho da Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Estado do Acre (Cooperacre) e residente do Seringal Dois Irmãos, a conhecer os produtos que são resultados do trabalho diário de seringueiros e extrativistas.
Ainda na sede da Cooperacre, Tião Aquino apresentou à equipe de monitoramento os produtos que são viabilizados economicamente por meio dos incentivos do REM, com destaque para os tênis produzidos pela marca Veja, que utiliza na sola dos calçados borracha 100% xapuriense; além desse produto, foram apresentados a castanha, óleos e o mel.
Foto: Pedro Devani/Secom AC
Após esse momento, foi visitada a Casa de Chico Mendes, símbolo da luta ambientalista e um dos patrimônios históricos mais importantes do Acre, a casa de número 487, localizada na rua Batista Moraes. Deste local, a equipe seguiu por 60 km, em direção à Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, em específico, para os Sistemas Agroflorestais (SAFs) implantados na Fase I do Programa REM e para a comunidade Seringal Dois Irmãos, onde ocorreu uma reunião com o Comitê de Mulheres do Alto Acre.
Nesta reunião, foi percebido como o impacto do Programa REM na comunidade foi profundo, abrangendo tanto aspectos sociais quanto econômicos, especialmente no que diz respeito à distribuição de renda.
Segundo Tião Aquino, iniciativas como a implantação de projetos de piscicultura e florestas plantadas, além do subsídio direto oferecido, têm desempenhado um papel crucial ao proporcionar uma transferência de renda essencial para as famílias da região: “O Programa REM impactou significativamente nossa comunidade, tanto social quanto economicamente. Socialmente, contribuiu diretamente para a distribuição de renda, principalmente com iniciativas de implantação de piscicultura e florestas plantadas, além do subsídio direto que proporciona uma transferência de renda crucial para as famílias”.
Oportunidade única
O Programa REM é fruto de cooperação financeira entre os governos do Acre, da Alemanha, por meio do Ministério Federal de Cooperação e Desenvolvimento Econômico da Alemanha (BMZ), e do Reino Unido, por meio do Departamento de Segurança Energética e Net Zero do Reino Unido (DESNZ) e do KfW, para implementação de projetos voltados à conservação das florestas que, por meio de diversos órgãos, beneficiam milhares de produtores rurais, ribeirinhos, extrativistas e indígenas.
Klaus Köhnlein, gerente de portfólio do Banco KfW, refletiu sobre a missão de monitoramento de 2024 de maneira positiva e reveladora. Ele destacou que a experiência foi fundamental para compreender como os recursos estão impactando positivamente a comunidade.
“A conclusão da missão foi bastante reveladora para mim, assim como todas as missões anteriores. Foi uma oportunidade única de entender como os recursos estão impactando positivamente a comunidade. Este programa é complexo e requer uma compreensão profunda da realidade local, indo além dos relatórios escritos no escritório”.
E acrescentou: “É essencial conversar com as pessoas, ouvir suas necessidades e utilizar essas informações para aprimorar o programa, tornando-o mais eficiente e sustentável. Agradeço sinceramente pela oportunidade de passar esses dias junto às equipes do governo e às comunidades locais. Quero expressar meu reconhecimento pelo profissionalismo de todos os envolvidos e espero que nos vejamos novamente no próximo ano, se assim Deus permitir”, afirmou Klaus Köhnlein.
Foto: Pedro Devani/Secom AC
A gerente do portfólio de financiamento climático (REM e LEAF) pela International Climate Finance Manager (IFC), Louise Hill, afirmou que foi muito interessante visitar os projetos apoiados pelo Programa REM. Ela mencionou que a visita incluiu dois tipos de projetos: o da Pecuária Diversificada Sustentável, onde foi possível observar a experiência dos produtores familiares com a rotação de pastagem e como essa técnica pode ajudá-los a aumentar a produtividade. Bunte destacou que a parte mais interessante foi entender como esses produtores podem usar essa tecnologia para enfrentar períodos de estiagem e seca, sem perdas significativas na produção e sem grande impacto sobre os animais.
“Também foi muito interessante poder conhecer a reserva Chico Mendes, conhecer os extrativistas, entender um pouco mais o trabalho deles e os desafios que eles passam. O Programa REM apoia os extrativistas e a Reserva Chico Mendes com diversos projetos. E eu acho que o mais importante para a gente é conseguir ter essa dimensão do impacto dos projetos, do impacto do programa e também poder ver quais são os desafios, para que possamos, juntos, pensar em soluções inovadoras, que possam beneficiar as comunidades que são o público-alvo desse programa”, afirmou Louise Hill.
O Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) anunciou em junho a aprovação de concessão de apoio não reembolsável de US$ 800 mil (aproximadamente R$ 4,2 milhões) ao governo do Pará para a criação do Museu das Amazônias. O projeto terá suporte técnico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no âmbito de acordo de cooperação técnica discutido entre o banco e a Secretaria de Cultura do Pará.
O museu será um dos legados deixados pela 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), realizada em Belém (PA), em novembro do ano que vem.
O evento de anúncio do acordo de cooperação e da doação, realizado na sede do BNDES, no Rio, contou com a presença do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, do presidente executivo do CAF, Sergio Díaz-Granados e participação virtual do governador do Pará, Hélder Barbalho. O BNDES colabora no esforço de articulação de novos parceiros e apoios para a viabilização do museu.
“O banco soma seus esforços à ações já existentes para a implementação do projeto”, afirmou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. “Legado da COP30, o Museu das Amazônias será um equipamento de difusão científica e cultural, que dará voz aos seus habitantes e comunidades, de forma duradoura, construtiva e lúdica, fomentando um novo polo turístico agregador”, completou.
“Lançamos hoje (11/06) a pedra fundamental desse espaço tão importante, que será um dos principais legados da COP 30 e que vai muito além de ser um Museu como conhecemos tradicionalmente. Será um espaço de informação, de capacitação, educativo e que possibilitará o vislumbre da complexidade e da riqueza da Amazônia, que se estende por oito países e que é pilar fundamental da biodiversidade e da sustentabilidade climática do planeta. Com esses recursos iniciais, faremos essa iniciativa decolar, com o apoio do BNDES em seu papel de articulador de parceiros que viabilizem a construção desse valioso bem cultural brasileiro”, declarou Díaz-Granados.
O plano de trabalho do projeto é fruto de acordo de cooperação já firmado do governo paraense com o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG). Os recursos do CAF serão destinados ao desenvolvimento do desenho e à implantação dos projetos executivos necessários para a construção do museu, assegurando a qualidade técnica, os critérios de sustentabilidade e o alinhamento com as diretrizes aplicáveis à região amazônica, incluindo o estado do Pará e o município de Belém.
A cooperação internacional inclui também o desenvolvimento de programas de investigação, inovação, desenvolvimento tecnológico e de conhecimentos tradicionais locais e ancestrais, sob os conceitos programáticos do Museu. Além disso, está previsto o estabelecimento de um plano museológico e programas de capacitação para docentes, educadores e investigadores e redes colaborativas entre atores-chave, promovendo o intercâmbio de experiências, a colaboração e o desenvolvimento contínuo das práticas educacionais e científico-culturais relacionadas à Amazônia.
A construção do conteúdo museográfico e expográfico terá a parceria do Museu Goeldi (MCTI), que também atuará na articulação com centros de pesquisa e produção científica da Pan-Amazônia. O conceito proposto é o de um espaço interativo para compartilhar e aplicar o conhecimento científico, a inovação, o desenvolvimento tecnológico e os saberes tradicionais, comprometido com a sustentabilidade, biodiversidade e pluralidade cultural.
O museu contemplará um olhar sobre os povos de todos os territórios que compõem a Amazônia, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, em quatro eixos temáticos: Amazônia milenar – que promove os saberes ancestrais indígenas; Amazônia secular – um olhar para os ribeirinhos, quilombolas, extrativistas, seringueiros, pescadores e outros povos que ocupam a região há séculos; Amazônia degradada – alertando o risco sobre a região e o mundo; e Amazônias possíveis – um debate sobre os rumos do bioma.
Desde fim de junho, pelo menos 30 mulheres quilombolas de Abaetetuba, no Baixo Tocantins, estão sendo orientadas pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) a manejar árvores nativas de bacuri, com o intuito de aumentar a produtividade e criar uma rede de comercialização, além da colheita para a subsistência.
O Projeto Putirum (em tupi, algo como “mutirão”) é uma iniciativa da Associação de Mulheres Quilombolas Agroextrativistas do Ramal do Bacuri (Raízes do Bacuri), com recursos da organização-não governamental (ONG) Cáritas Brasileira, o apoio do governo do Estado, e da Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educação (Fase).
O objetivo imediato é, por meio de atividades coletivas de instalação e manutenção, observar e empreender tecnologicamente sobre três unidades demonstrativas (uds), cada uma com 2 mil e 500 m².
Sem as intervenções científicas devidas, como espaçamento, o bacuri dos territórios Cataiandeua e Ramal do Bacuri, no adentramento da rodovia PA-151, atualmente, não chega a atingir nem 1% do potencial de frutificação, conforme estimativa de especialistas da Emater. Ainda no apontamento da Instituição, a polpa é uma das mais caras do mercado regional de espécies amazônicas, o que repercute em margem significativa de lucro, na venda direta.
Uma das ameaças para a cadeia produtiva é o desmatamento, haja vista a madeira do bacurizeiro ser considerada nobre, com uso tradicional na construção de pequenas embarcações.
“Nossos antepassados focaram na madeira, e derrubaram e queimaram muito, o que enfraqueceu nossas terras. Mas hoje nossa visão é diferente: madeira a gente tira e só lucra uma vez; bacuri, não: a gente colhe, consome e comercializa das mais diferentes formas, todo ano; Fora isso, nossa intenção é preservação máxima da floresta”, destaca Marciane Pastana, de 36 anos, presidente da Associação de Remanescentes de Quilombos da Comunidade Ramal do Bacuri (Arquiba).
A agricultora vive sozinha com a filha, Maitê, de 8 anos. A família trabalha com açaí, cupuaçu, limão e mandioca. Poucos bacurizeiros são produtivos na propriedade. A colheita acaba destinando-se apenas ao próprio consumo.
Para o engenheiro agrônomo da Emater Flávio Ikeda, o manejo transforma a realidade: “A incidência na natureza, as plantas por acaso, por obra do ‘cara lá de cima’, é de muita proximidade, de cerca de meio metro entre cada uma. Quando espaçamos para 10 metros, e plantamos espécies de retorno rápido no caminho, tais quais abacaxi, o processo alavanca a produtividade”, explica.
O Projeto
O Projeto Putirum também é voltado ao plantio e beneficiamento de mandioca. Duas Unidades de Demonstração são implantadas pela Emater, a partir de duas estratégias desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa): Jardim de Reciclagem e Plantio Direto Agroecológico.
Avaliar formas que resultem na qualidade e, consequentemente, na valorização do óleo de andiroba (Carapa guianensis) no mercado, produzidos por cooperativas em grande parte da Amazônia brasileira, foram os objetivos principais de um estudo desenvolvido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
O estudo ‘Controle de qualidade do óleo de andiroba: autenticidade e avaliação de estabilidade’, coordenado pelo doutor em Química Orgânica Sergio Massayoshi Nunomura, pesquisador do Inpa, analisou quimicamente diferentes lotes de sementes e óleos de andiroba, coletados em diversas localidades do estado, a fim de investigar nos produtos as propriedades físico-químicas, a composição química e suas principais propriedades biológicas.
Segundo o pesquisador, a autenticidade e a estabilidade do óleo de andiroba estão associadas à composição saponificável composta de lipídeos (moléculas orgânicas insolúveis em água e que podem ser convertidas em sabão), e a fração insaponificável (moléculas orgânicas não lipídicas). Essas duas frações constituem quimicamente o óleo.
Durante a pesquisa amostras autênticas foram usadas como referência para avaliar a estabilidade oxidativa do óleo, que corresponde a um importante parâmetro utilizado para avaliação da qualidade de um óleo; e observou-se, claramente, que além dos parâmetros clássicos de análise de óleos vegetais como índice de acidez e peróxidos, e, principalmente, o perfil químico da fração saponificável alterou-se pelos efeitos da oxidação, que ocorre quando o óleo reage quimicamente com o oxigênio.
Por outro lado, não foi possível observar uma variação na fração insaponificável com a degradação por oxidação no modelo utilizado. Sergio Nunomura disse que foi interessante notar, também, que a degradação oxidativa pode ser drasticamente reduzida, quando se armazenou a andiroba não como óleo extraído, mas como farinha de sementes, que é uma etapa anterior a obtenção do óleo.
“Concluímos no laboratório quais são as características que estabelecem um óleo de qualidade e, também, aprendemos a produzir em laboratório um óleo de qualidade”, afirma o pesquisador, acrescentando que foi possível manter a qualidade do óleo de andiroba por vários meses, após a coleta das sementes.
Do ponto de vista científico e tecnológico, o principal resultado observado foi de que é possível armazenar o óleo de andiroba de uma forma relativamente simples, que resultou num produto com boa qualidade, isto é, sem alteração nos perfis químicos das frações saponificáveis e insaponificáveis, mesmo após meses de armazenamento. Experimentos em campo em maior escala, em cooperativas, por exemplo, devem ser conduzidos para confirmar esses resultados e adaptar para escalas maiores.
“Ainda existe uma etapa de aprendizado a ser vencida. A pesquisa foi realizada em laboratório e falta agora avaliar se a perda de qualidade do óleo produzido nas cooperativas tem a mesma natureza. Caso sim, é possível sugerir alterações no processo produtivo de forma a melhorar a qualidade do óleo produzido nas cooperativas. Seria importante contar com projetos em conjunto com as cooperativas, por tempos mais longos”, recomenda o pesquisador.
“Os desafios da pesquisa sobre a região Amazônica são grandes e somente com apoio financeiro continuado é que a prospecção e valoração das potencialidades amazônicas podem se tornar uma realidade, com benefícios para a região, para o país e o planeta”, destaca o coordenador, acrescentando que o projeto tem grande interesse para a região, pois a andiroba é um dos principais produtos extrativistas da Amazônia.
A pesquisa é apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) – via Programa de Apoio à Pesquisa (Universal Amazonas), Edital Nº 002/2018.
Rio Solimões durante estiagem de 2024 em Tabatinga, no Amazonas. Foto: Roney Elias/Rede AmazônicaAM
Apesar de apresentar subidas repentinas no volume de água, o Rio Solimões continua secando na região da tríplice fronteira entre o Brasil, Peru e Colômbia. Desde o mês de junho, quando começou o processo de estiagem na região, o nível do Rio Solimões tem variado.
Conhecido como repiquete, essas subidas repentinas duram, em média, três dias. A última elevação ocorreu entre os dias 11 e 13 de julho, quando o rio subiu dezessete centímetros.
O Solimões voltou a secar no último domingo (14) e até segunda-feira (15), baixou mais seis centímetros, atingindo a cota de 5,76m.
Dos vinte municípios em situação de emergência no Amazonas por causa da estiagem, sete estão na região do Alto Solimões: Tabatinga, Benjamin Constant, Atalaia do Norte, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins.
Por causa da seca, algumas embarcações que transportam cargas e passageiros de Manaus não estão viajando mais para a cidade de Benjamin Constant. Algumas comunidades rurais já enfrentam dificuldades de acesso fluvial para chegar as sedes dos municípios.
O menor nível registrado no Rio Solimões pelo Serviço Geológico do Brasil foi em 11 de outubro de 2010, quando as águas chegaram a cota de -0,86m.
Você sabia que o chocolate também pode ser feito de orquídeas? Pode até soar estranho, mas a verdade é que, embora seja uma especiaria, a baunilha (Vanilla planifolia) faz parte da família das orquídeas. A planta é tão versátil que além de ornamentar ambientes, contribui para indústria de cosméticos, medicamentos e, claro, de alimentos.
No Equador, por exemplo, associações trabalham desde o cultivo das mudas dessa planta até a extração para a produção do chocolate.
Confira:
Trecho do programa ‘Planeta Amazônia’. Veja o episódio completo no amazonsat.com.
O Brasil queima. É o que revelam os dados mais recentes do MapBiomas. Em todo o país, a área atingida pelo fogo no primeiro semestre deste ano foi de 4,48 milhões de hectares, sendo que 78% desse total ocorreu em vegetação nativa – a maioria em vegetação campestre (40%). Entre os biomas, a Amazônia registrou a maior área queimada, com 2,97 milhões de hectares – 66% do total atingido pelo fogo no país.
OCerrado foi o segundo bioma mais atingido pelas chamas, com 947 mil hectares queimados nos seis primeiros meses de 2024 – o que representa 48% (307 mil hectares) a mais, quando comparado ao mesmo período de 2023. A maior parte do fogo ocorreu em áreas de vegetação natural (72%).
Em junho, esse bioma foi o que mais registrou áreas queimadas, com 534 mil hectares. Os números fazem parte do Monitor do Fogo do MapBiomas, mapeamento mensal das áreas queimadas no Brasil desde 2019, produzidos a partir de monitoramento por imagens de satélites e processamento de dados com uso de inteligência artificial.
No primeiro semestre deste ano, os estadoscom mais áreas queimadas no país foram: Roraima, com 2 milhões de hectares, o que representa 44% do total queimado no Brasil; Pará, com 535 mil hectares, e Mato Grosso do Sul, com 470 mil hectares. Os três representaram 67% do total da área afetada pelas chamas no semestre.
“No início de 2024, observamos uma concentração significativa de incêndios na Amazônia, especialmente nas áreas de vegetação campestre de Roraima. Este estado, diferentemente do restante do bioma, enfrenta um período de seca nos primeiros meses do ano. Esse fenômeno foi intensificado pelas condições climáticas mais secas resultantes do El Niño, criando um ambiente propício para o alastramento do fogo, com desafios adicionais de controle e mitigação”, afirma Felipe Martenexen, pesquisador do IPAM responsável pelo mapeamento da Amazônia no Monitor do Fogo.
“Em junho, o fogo se concentrou mais no Cerrado e no Pantanal, regiões que enfrentam sua temporada de fogo devido à redução das chuvas e ao aumento das temperaturas. No Cerrado, é comum queimar mais durante esta época por causa da estiagem, porém a área queimada no primeiro semestre no bioma foi a maior dos últimos seis anos monitorados. Já no Pantanal, a temporada de fogo começou mais cedo do que o esperado, intensificando os desafios para a gestão do fogo”, explica Vera Arruda, pesquisadora no IPAM e coordenadora técnica do Monitor do Fogo.
NoPantanal 468 mil hectares queimaram no primeiro semestre deste ano, 370 mil hectares em junho – o equivalente a 79% do total, a maior área queimada no bioma no primeiro semestre já observada pelo Monitor do Fogo. Uma das áreas mais afetadas pelo fogo no Pantanal em 2024 foi nas proximidades da cidade de Corumbá, com 299 mil hectares queimados apenas em junho. Nos seis primeiros meses do ano, a área queimada no bioma aumentou 529%. Foram 394 mil hectares a mais em comparação à média histórica dos cinco anos anteriores.
Seca extrema e incêndios no Pantanal em 2024
A relação entre água e fogo no Pantanal é inegável; a redução drástica da superfície de água associada a eventos extremos de seca cria condições propícias para a ocorrência e propagação de incêndios. O Pantanal, proporcionalmente, foi também o bioma que mais secou ao longo dos últimos 39 anos. A superfície de água em 2023 foi de 382 mil hectares – 61% abaixo da média histórica. O ano de 2023 foi 50% mais seco do que 2018, quando ocorreu a última grande cheia no bioma. As equipes do MapBiomas elaboraram uma nota técnica que detalha a relação entre seca e fogo no bioma.
Nos últimos meses de 2023, o Pantanal já registrava uma superfície de água inferior à média dos últimos seis anos e equivalente aos anos de 2020 e 2021, que foram os anos mais secos já observados desde 1985. Em 2024, a situação se agravou, com a precipitação acumulada de janeiro a maio atingindo o menor nível desde 2020, indicando um retorno às condições de seca extrema. “Em 2024, não tivemos o esperado pico de cheia. Pelo contrário, estamos enfrentando um período de seca que deve se estender até setembro, facilitando a incidência e propagação do fogo.”, ressalta Eduardo Rosa, do MapBiomas.
Panorama das Áreas Queimadas na Mata Atlântica, Pampa e Caatinga
Na Mata Atlântica, 73 mil hectares foram queimados entre janeiro e junho de 2024, a maior parte (71%) concentrada em áreas agropecuárias. No Pampa, nesse mesmo período, a área queimada foi de 1.145 hectares, figurando entre as menores observadas nos últimos seis anos. Normalmente, o Pampa apresenta pouca extensão de áreas queimadas, que ficam ainda mais reduzidas em períodos de El Niño, fenômeno climático que no sul do Brasil se manifesta de modo inverso, resultando em aumento das chuvas. Na Caatinga queimaram 16.229 hectares nos seis primeiros meses, um aumento de 54% em relação ao mesmo período de 2023, concentrado principalmente em formações savânicas (65%).
Recordes da área queimada no mês de Junho
Em junho 1,1 milhão de hectares foram queimados no país – número 103% maior do que o mesmo período do ano passado (560 mil hectares a mais). Desse total, 81% da área queimada foi em vegetação nativa – a maioria em formação campestre (46%). Nas áreas de uso agropecuário, 11% das áreas atingidas pelas chamas em junho foram em pastagens.
Com relação aos estados, os que mais queimaram nesse mês foram: Mato Grosso do Sul (369 mil hectares), Tocantins (229 mil hectares) e Mato Grosso (202 mil hectares), com destaque para os municípios de Corumbá (MS), Tangará da Serra (MT), e Porto Murtinho (MS).
Sobre o Monitor do Fogo: o Monitor do Fogo é o mapeamento mensal de cicatrizes de fogo para o Brasil, abrangendo o período a partir de 2019, e atualizados mensalmente. É baseado em mosaicos mensais de imagens multiespectrais do Sentinel 2 com resolução espacial de 10 metros e temporal de 5 dias. O Monitor de Fogo revela em tempo quase real a localização e extensão das áreas queimadas, facilitando assim a contabilidade da destruição decorrente do fogo (https://plataforma.brasil.mapbiomas.org/monitor-do-fogo).
Os plásticos e microplásticos estão presentes em diversos ambientes e espécies na Amazônia, como em peixes e plantas aquáticas, e têm sido até mesmo usados por uma ave da floresta para construir seu ninho. Um dos principais fatores que têm contribuído para o bioma estar se tornando um potencial hotspot desses contaminantes é a falta de condições adequadas de saneamento básico em grande parte das cidades da região.
A avaliação foi feita por pesquisadores participantes de uma mesa-redonda sobre plásticos e microplásticos em águas brasileiras realizada na segunda-feira (08/07), durante a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento foi realizado até sábado (13/07) no campus Guamá da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.
“A falta de condições adequadas de saneamento encontradas na maior parte da Amazônia representa uma importante fonte de entrada de plásticos e microplásticos nos rios do bioma, que compõem o maior sistema fluvial do mundo”, disse José Eduardo Martinelli Filho, professor da UFPA.
De acordo com dados apresentados pelo pesquisador, 70% das cidades da Amazônia brasileira não possuem tratamento de água.
A fim de avaliar a variação das condições de saneamento básico em 313 municípios amazônicos, os pesquisadores da UFPA criaram um índice com base em dados sobre o percentual de áreas urbanas cobertas por coleta pública de esgoto, sistemas de drenagem de águas pluviais e de disposição de resíduos sólidos, obtidos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
Os resultados das análises indicaram que, dos 313 municípios avaliados, apenas 2,6% apresentam condições adequadas de saneamento básico. Por outro lado, 35% foram classificados como em condições baixas e 15% como precários.
Os sistemas de disposição de resíduos sólidos foram o serviço urbano classificado como o mais satisfatório, com disponibilidade média de 76% nas cidades avaliadas. Já a coleta de águas residuais e o sistema de drenagem de águas fluviais foram classificados como ruins na maioria das cidades amazônicas.
“É difícil encontrar situações de saneamento adequado na Amazônia. Altamira, no Pará, por exemplo, tem só uma estação de tratamento de água, que não está recebendo todo o esgoto produzido pela cidade”, ponderou Martinelli.
Outro exemplo de falta de condições adequadas de saneamento na Amazônia é o da região metropolitana de Manaus, no Amazonas, cuja população é composta por mais de 2 milhões de habitantes. No total, 32% das residências utilizam esgoto sanitário público, exemplificou o pesquisador.
“Geralmente, a principal fonte de microplásticos em ambientes aquáticos brasileiros são as cidades. E, no caso da Amazônia, a população nas cidades aumentou 11 vezes em um século. Há cem anos existiam 1,5 milhão de habitantes na Amazônia e agora há 16 milhões de pessoas morando na região”, comparou.
Atualmente a Amazônia também possui metrópoles com mais de 1 milhão de habitantes, como Belém e Manaus, além de cidades de médio porte, com população entre 150 mil e 999 mil habitantes, como Altamira, Castanhal, Marabá, Parauapebas, Santarém, Porto Velho, Macapá, Boa Vista e Rio Branco. “É um crescimento populacional recente na história da Amazônia”, avaliou o pesquisador da UFPA.
Substrato para ninhos
De acordo com Martinelli, estima-se que sejam lançadas por ano 182 mil toneladas de plástico na Amazônia brasileira, o que a torna a segunda bacia hidrográfica mais poluída do mundo.
Além do plástico descartado pelas cidades da região, o bioma amazônico também recebe o resíduo gerado por países com rios a montante, como a Colômbia e o Peru. Dessa forma, o resíduo tem sido encontrado em todos os lugares no bioma e atingido diversas espécies, sublinhou o pesquisador.
“Costumamos ver muitos trabalhos científicos que mostram espécies de peixes ingerindo microplásticos. Mas em qualquer lugar da biota onde for procurado plástico, em diferentes escalas de tamanho, é possível encontrar esses poluentes”, avaliou.
Estudo publicado recentemente por pesquisadores do grupo identificou a retenção de plásticos por macrófitas aquáticas no rio Amazonas. “Os bancos de macrófitas retêm plásticos de diferentes dimensões, do macro, passando pelo meso e chegando aos microplásticos”, afirmou Martinelli.
Outro trabalho feito por uma estudante de mestrado do grupo, em vias de publicação, mostrou que o japu (Psarocolius decumanus) – uma espécie de ave que habita boa parte das matas da América do Sul – tem incorporado detritos plásticos para a construção de seus ninhos. Os pesquisadores encontraram principalmente fibras emaranhadas e cordas em 66,67% dos ninhos do pássaro. “O plástico usado por essa espécie de ave para construir seus ninhos é proveniente de material de descarte da pesca”, explicou Martinelli.
Falta de estudos
Os pesquisadores enfatizaram que, apesar do aumento exponencial das pesquisas sobre microplásticos em todo o mundo, sobretudo nos últimos 10 anos, ainda há poucos estudos com foco no bioma amazônico.
A pesquisa limitada, as restrições metodológicas, as falhas e a falta de padronização, combinadas com as dimensões continentais da Amazônia, dificultam a coleta do conhecimento fundamental necessário para avaliar com segurança os impactos e implementar medidas de mitigação eficazes.
Também há a necessidade urgente de expandir os dados científicos disponíveis para a região, melhorando a infraestrutura de investigação local e formando pesquisadores, além de realizar estudos de acompanhamento de longo prazo, apontaram os pesquisadores.
“Os estudos sobre plástico ou microplástico vão trazer, na verdade, subestimativas, porque a escala do problema é tão grande que a gente sempre esbarra em um inimigo fatal quando estamos fazendo nossos projetos, que é a questão do tempo. Nunca conseguimos fazer estudos de longo prazo”, disse Monica Ferreira da Costa, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Também não há um consenso sobre o que são os microplásticos, apontou Décio Luis Semensatto Junior, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A definição genérica comumente aceita é a de que os microplásticos são partículas plásticas com tamanho entre 1 e 5 micrômetros – ou 1 milésimo de milímetro.
“Há artigos científicos que falam sobre microplástico que nem sempre seguem a mesma definição. Também é difícil identificar qual o artigo publicado no Brasil que reportou a maior quantidade de microplásticos porque os trabalhos não são, em sua maioria, comparáveis entre si”, avaliou.
O rio dos Bugres, no estuário de Santos, no litoral paulista, pode ser a região onde foi constatado o maior nível de poluição por microplásticos no mundo, afirmou Niklaus Ursus Wetter, pesquisador do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). “Encontramos 100 mil microplásticos por quilo de peso seco de sedimento extraído daquele rio, localizado no meio de São Vicente, que tem uma velocidade de água muito baixa. Ele fica estagnado e, dessa forma, o plástico pode sedimentar”, afirmou.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Fapesp, escrito por Elton Alisson, de Belém
O Brasil é o sétimo maior produtor de cacau do mundo e o Pará contribui com mais da metade da produção nacional do fruto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o objetivo de aprimorar esse desempenho, pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) avaliaram o impacto de uma máquina para quebrar vagens de cacau e outras inovações em uma fazenda paraense. Os resultados, publicados na na revista ‘Engenharia Agrícola’, mostram que o novo sistema pode aumentar o retorno financeiro em duas vezes e meia após três anos.
Segundo o trabalho, o lucro do ano corrente da fazenda na produção de cacau, de cerca de 59 mil dólares, passaria para quase 150 mil no terceiro ano. O aumento começaria a ser sentido já nos primeiros 12 meses de implantação do processo. O teste também apontou para a possibilidade de reduzir em até 70% o tempo de trabalho de processamento do fruto ainda no primeiro ano de implementação da máquina.
O experimento foi realizado em uma fazenda da região cacaueira de Novo Repartimento, no Pará, que anualmente produz 55 toneladas de cacau — em um fluxo inconsistente que depende, em grande parte, do trabalho manual. Os pesquisadores calcularam a viabilidade técnica e econômica de possíveis mudanças na produção, dedicadas a otimizar o espaço e maximizar a eficiência. Além da máquina para quebrar as vagens, mudanças no posicionamento dos estágios de fermentação e secagem do fruto também foram recomendadas. No seu cálculo, os pesquisadores consideraram os custos das mudanças propostas e as expectativas de retorno nos três anos seguintes.
Segundo o artigo, a tecnologia pode beneficiar as pequenas propriedades paraenses especialmente na produção de cacau fino, produto com sabor e aroma superiores, utilizado em preparos da alta gastronomia. Ele pode custar o triplo daquele vendido em bolsa de valores, ou seja, como commodity.
Hoje, esse tipo de produto é pouco rentável para pequenos produtores por causa do custo da colheita seletiva e da fermentação de alta qualidade envolvidos em sua produção. “Essa pesquisa pode contribuir na redução do custo e no aumento da produtividade de fermentação, possibilitando melhor condição de mercado”, explica André Mesquita, pesquisador da UFPA e coautor do trabalho.
Os resultados do estudo motivaram os pesquisadores a proporem a criação de um Centro de Inteligência do Cacau no estado do Pará. Conforme Mesquita, o objetivo é trazer rentabilidade aos produtores locais compatível com a qualidade de seus produtos.
“A região cacaueira do Pará, em especial do Tuerê, vem se destacando no cenário do cacau, com premiações em concursos especializados de cacau fino. Mas essa qualidade demonstrada não chega, de fato, ao bolso dos produtores, se esvaindo na cadeira produtiva após a saída da amêndoa de suas fazendas. É nesse sentido que o Centro viria a atuar”, conclui o pesquisador.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Bori