Um total de 400 professores de Língua Portuguesa, Literatura e anos iniciais do ensino básico da rede municipal de Educação participaram do 1º Congresso Panamazônico dos Professores de Língua, Linguagem e Literatura da Educação Básica (1º Cllimaz) e do 2º Encontro dos Egressos do ProfLetras da Universidade Federal do Pará (2º Letrasvivaz), no Centro de Convenções Benedito Nunes, na UFPA.
Durante os quatro dias, os professores participaram de videoconferência, palestras e de grupos temáticos relacionando a importância do ensino com a escrita, língua, discurso, literatura, linguagem, gêneros literários, gramática, línguas de sinais, tradução, interpretação de línguas, decolonialidade, produção cultural, oralidade, gêneros, texto e a variação linguística, entre outros.
Professora de Língua Portuguesa da Escola Municipal Vanda Célia, Gláucia Antunes, participou do encontro e afirmou que toda experiência adquirida vai ajudar na sala de aula com os estudantes.
“O que eu acho interessante no evento é a socialização do conhecimento que vai sair da academia e vai chegar até a escola. Toda essa experiência acaba sendo muito rica e contribui para nossa formação e em nossa atuação na sala de aula”, comentou.
Foto: Divulgação/Agência Belém
Formação continuada na Amazônia
Com o tema ‘Ensinos e Saberes das Linguagens na Amazônia: entre vozes que gritam e a floresta que se levanta’, o encontro reuniu mais de 1.100 professores da educação básica e superior da região panamazônica no período de 24 a 27 de setembro.
“O 1º Cllimaz tem a intenção de promover a interlocução entre os diferentes profissionais da educação básica, pensar o ensino da linguagem para além da gramática tradicional e das variantes prestigiadas da língua portuguesa”, explicou o presidente do 1º Cllimaz e do 2º Letrasvivaz, professor Marcos Cunha.
Ele ressaltou, que o 2º Letrasvivaz viabiliza a formação continuada dos docentes da rede pública fundamental e básica a que se propõe o Programa de Mestrado Nacional.
O secretário municipal de Educação em exercício, Diogo Souza, participou da abertura do evento, que é coordenado pelo programa de Mestrado Profissional em Letras em Rede Nacional (ProfLetras). “Esse evento enriquece os nossos professores de conhecimento e contribui na construção de um ensino de qualidade na rede municipal. Dessa maneira, a Semec apoia a participação deles hoje e nos próximos que virão”, disse.
Durante a programação, 20 livros sobre literatura e linguagens de vários autores brasileiros foram lançados.
Em alusão ao peixe que possui cargas elétricas e que vive nas águas doces da região amazônica, o catamarã “Poraquê” foi lançado na orla do Campus Belém da Universidade Federal do Pará (UFPA). A embarcação elétrica é uma tentativa de reduzir a quantidade de gás carbônico (CO2) lançado na atmosfera em decorrência da queima de combustíveis fósseis, dado que sua fonte de energia provém de placas fotovoltaicas.
A iniciativa resulta da parceria entre a UFPA e a Norte Energia, por meio do Projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O vice-reitor Gilmar Pereira, que prestigiou o evento, espera que o projeto estimule o desenvolvimento de novos veículos.
“Sinto-me muito honrado em participar da entrega deste projeto para a sociedade. Eu gostaria de, mais uma vez, parabenizar o Instituto de Tecnologia da nossa universidade, a Faculdade de Engenharia Naval e o Ceamazon, com quem tenho conversado bastante e pretendo continuar conversando para nós avançarmos com as políticas de inovação”, afirmou.
O “Poraquê” utiliza dois motores elétricos de 12 kW cada um, três conjuntos de baterias, com capacidade para armazenar 47 kW, e 22 placas solares instaladas na parte superior do barco.
Existem duas formas de carregamento do catamarã: por meio da energia solar, que garante à embarcação uma autonomia de 8 horas; e por meio das estações de recarga de veículos elétricos, os eletropostos. O barco tem capacidade para transportar 23 passageiras(os) e duas(dois) tripulantes, além de possuir espaço para cadeirantes. As plataformas de acesso distribuem-se em três pontos de embarque e desembarque.
O professor Emannuel Loureiro, diretor da Faculdade de Engenharia Naval da UFPA, comenta que a inauguração do “Poraquê” representa um avanço para a mobilidade fluvial não somente da Universidade, mas também para a Amazônia. “Belém do Pará está na vitrine da questão da sustentabilidade e das alterações climáticas. Quando se apresentam soluções que se alinham às políticas nacionais e internacionais, espera-se atrair novos investimentos e desenvolver novas pesquisas que possam ser replicadas em outras atividades”, comenta Loureiro.
A expectativa é que o “Poraquê” navegue pela orla da UFPA, atendendo mil passageiros por dia, entre estudantes, servidoras(es) e pessoas que utilizam os serviços da Instituição. O catamarã será caracterizado como o novo circular fluvial da Universidade, porque integra o Sistema Inteligente Multimodal da Amazônia (Sima), que já possui dois ônibus elétricos que funcionam diariamente, de forma gratuita, para atender às necessidades de locomoção das(os) estudantes pelo Campus Belém e para realizar o transporte de alunas(os) e professoras(es) ao Campus Castanhal da UFPA.
A equipe realizou treinamentos com professores de escolas públicas das comunidades próximas ao sítio de pesquisa. Foto: Cybelli Barbosa/Projeto Atto
Uma equipe de cientistas do Observatório de Torre Alta da Amazônia – Atto (Amazon Tall Tower Observatory, na sigla em inglês) desenvolveu uma plataforma digital, denominada Atto Escola, com diversos materiais didáticos para apoiar o aprendizado sobre temas como ar, nuvens, partículas e gases atmosféricos, ciclo da água e carbono, e outras áreas pesquisadas pelo projeto. O Atto é um projeto bilateral entre o Brasil, representado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), e a Alemanha, através do Instituto Max Planck de Biogeoquímica.
O projeto investiga a interação da floresta amazônica com os ciclos da água, de gases de efeito estufa, nutrientes, comportamento da floresta em respostas à mudança do clima, além da formação de partículas atmosféricas e de nuvens. Com uma torre de 325 metros de altura, o Atto dispõe da maior torre de observação científica das américas, e mais duas torres auxiliares de 80 metros instaladas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, a 150 quilômetros de Manaus, no município de São Sebastião do Uatumã, no Amazonas.
Lançado em agosto no Auditório Dr. Flávio Jesus Luizão, do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA/Inpa-MCTI), o Atto Escola foi idealizado para atender uma demanda da sociedade local. No mesmo mês de lançamento, a equipe realizou treinamentos com professores de escolas públicas das comunidades próximas ao sítio de pesquisa. O Atto é um projeto parceiro do Programa LBA.
“A plataforma surgiu de uma demanda das comunidades para proporcionar mais transparência às atividades científicas do projeto que acontecem na área da RDS-Uatumã”, explica Cybelli Barbosa, pesquisadora do Atto, sobre o Atto Escola.
Cybelli destaca a importância do treinamento sobre o uso dos materiais, permitindo que os professores se apropriem e alcancem outras pessoas.
Diálogos
Segundo Cybelli, o primeiro contato com a comunidade foi feito pelos técnicos de campo do Atto, que são os profissionais com presença mais frequente na região. A partir desse contato, os cientistas do projeto começaram a se aproximar das comunidades para esclarecer dúvidas sobre as atividades de pesquisa desenvolvidas no projeto.
“As primeiras aproximações entre os cientistas e as comunidades foram para tirar dúvidas sobre as atividades/pesquisas que se desenvolvem no Atto”, explica. Há diversas comunidades ao longo da RDS-Uatumã, mas as mais próximas do sítio de pesquisa são: Bela Vista, Maracarana e Macacaboia.
Em 2018, com a primeira interação oficial de cientistas com as escolas locais, professores e líderes comunitários das comunidades mais próximas visitaram as instalações do projeto e conheceram suas estruturas. Esse contato gerou demandas que foram atendidas pelos cientistas do Atto e fomentaram o desenvolvimento do projeto Atto Escola.
Um exemplo de atividade iniciada com a parceria é a coleta de pilhas e baterias, a partir da necessidade de descarte adequado desses materiais. A primeira atividade de coleta, em 2019, recolheu quase uma tonelada desses materiais e a atividade desde então faz parte do calendário anual das escolas. “Isso é importante porque evita que o resíduo das pilhas polua os rios e contamine as águas que as pessoas consomem e utilizam para banho”, ressalta Cybelli.
Interação Amazônia, ciência e comunidade
O Atto Escola é uma plataforma digital interativa com diversos conteúdos, como cartilha, jogos, tutoriais, animações, vídeos (narrados e legendados), Guia Prático Atto e materiais para professores. O Guia Prático Atto é composto por cinco módulos interativos com vídeos e todo o conteúdo está relacionado com as pesquisas científicas desenvolvidas no Atto, alinhando aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU). Todos os materiais também estão disponíveis para acesso offline e download em formato PDF.
O módulo introdutório aborda os ODS e sua importância.O módulo, “Entendendo o clima da Amazônia” aborda os conceitos como tempo, clima, pressão atmosférica, ventos, chuvas e micrometeorologia. No módulo de partículas e nuvens na Amazônia, é possível aprender sobre aerossóis, fontes e processo atmosférico, e a formação das nuvens. Outro módulo aborda os gases de efeito estufa e gases reativos, além de suas propriedades. E há também um módulo sobre ciclo da água e do carbono na Amazônia.
Cada módulo tem oito etapas sequenciais com “Ação e Reação” ao final de cada etapa para estimular o aprendizado. Além disso, cada módulo inclui o “Atto em Ação”, um espaço que apresenta as atividades científicas do projeto e depoimentos de cientistas envolvidos em cada área.
Outros materiais disponíveis para download incluem panfletos explicativos sobre o projeto Atto, além de uma cartilha intitulada Aventura na Amazônia – A floresta e as mudanças climáticas. “Todo material está disponível no site para que as escolas utilizem as informações da maneira que desejarem”, destaca a pesquisadora.
O Atto Escola também contou com a parceria do Árvore-Água, um perfil nas redes sociais que produz ilustrações que explicam de forma didática temas relacionados ao meio ambiente.
As atividades de educação ambiental nas comunidades também contaram com a colaboração da Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa) e do Grupo de Pesquisa em Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Grupo Maua), do Inpa.
Parceiros
A iniciativa conta com apoio do grupo CloudRoots (Holanda), que também desenvolveu uma plataforma interativa em parceria com o projeto Atto, voltado às demandas locais na Amazônia. A plataforma disponibiliza experimentos físicos e biológicos relacionados à floresta e interação com a atmosfera.
Desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Wageningen e da Universidade de Utrecht, ambas da Holanda, a plataforma visa transferir o conhecimento científico para as crianças. “É fundamental que as crianças conheçam a atmosfera e a floresta do ponto de vista do que está acontecendo”, explica Jordi Vilà, da Universidade de Wageningen.
A plataforma Edu-CloudRoots apresenta os conteúdos nas diferentes escalas, desde local com experimentos físicos, observações meteorológicas e visualização de folhas com um microscópio, até global, com a introdução de um aplicativo que mostra dados de variáveis meteorológicas e de vegetação quase em tempo real, para uma visão geral do que está acontecendo na Amazônia e no resto do globo. Além disso, por meio de um jogo, é apresentado como tudo se conecta, tornando o aprendizado mais divertido.
O Edu-CloudRoots é financiado pelo Conselho de Pesquisa Holandês (NWO), uma organização holandesa de financiamento à pesquisa científica.
Equipe
A equipe envolvida no desenvolvimento e lançamento das plataformas digitais do projeto Atto Escola é composta por Cybelli Barbosa (Inpa); William Nascimento, bolsista do projeto; professor Abraão Carneiro; Roberta Souza, Gerente de Logística do Atto; Jordi Vilà, Oscar Hartogensis, Martin Janssens, todos do grupo CloudRoots da Universidade de Wageningen (Holanda); Hugo de Boer, da Universidade de Utrecht (Holanda); Viviana Horna, coordenadora científica do projeto do Atto (MPI-BGC); Susan Trumbore, coordenadora do projeto Atto (MPI-BGC); Bruno Takeshi, gerente operacional do Atto; Carlos Alberto Quesada, coordenador do projeto Atto e pesquisador do Inpa.
O Brasil, apesar de sua grande dimensão e carência de transporte, não possuía uma indústria efetiva de material para transporte coletivo. A maior parte desse material era importado dos Estados Unidos. Outra parte da Inglaterra, pequena parte da Alemanha e Bélgica. O maior fornecedor de nossos bondes era o fabricante norte-americano John Stephenson Company Ltda, de Nova York, que exportou veículos para São Paulo, Santos, Salvador, Belém, Manaus, São Luís e Porto Alegre.
Para o Rio de Janeiro forneceu também os primeiros bondes elétricos, que trafegavam no país, os célebres três eixos modelo radial Robinson, em 1890. Após sua falência, por volta do princípio do século, os nossos bondes já elétricos, foram na sua maioria fornecidos pela fábrica J. G. Brill da Filadélfia. Outra parte era fornecida pela Saint Louis Car Company, de Saint Louis. Da Inglaterra, a nossa maior fornecedora era English Eletric Company, acompanhada da Hurst Nelson e Dick Kerr e Company de Londres. Da Alemanha, tivemos bonde da Siemens Schuckert; Brow Bovery, Falkenreid; e da Bélgica, a Nivelles.
Tivemos no Brasil apenas duas empresas que fabricavam esse tipo de veículo, não se contando é lógico, as próprias oficinas das companhias concessionárias, que muitas vezes construíram seus próprios bondes, como é o caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Santos, Salvador, Belo Horizonte, etc.
CORRÊA, Waldemar Stiel. História do Transporte Urbano no Brasil. Pág. 195, Pág. 198.
Das duas indústrias específicas de material transviário e ferroviário, a maior e mais conhecida era a Trajano de Medeiros e Cia, estabelecida no Rio de Janeiro, que forneceu bondes para o próprio Rio de Janeiro, São Paulo e várias outras cidades, além de material ferroviário para quase todas as nossas ferrovias. A segunda, bem menor, era Sampaio Corrêa e Cia, também estabelecida no Rio de Janeiro. Ao que se sabia, só forneceu bondes para a cidade de Belo Horizonte.
Com todo o desenvolvimento da cidade de Manaus, veio a necessidade de se colocar um meio de transporte à altura do progresso da cidade. A era dos bondes com tração animal estava no fim. A novidade era o bonde elétrico e, assim,“já segundo Waldemar Corrêa Stiel, Manaus foi a segunda cidade do Brasil, depois de Campos no Rio de Janeiro a introduzir a eletricidade na iluminação pública, nada mais lógico do que se adotar o bonde elétrico”.
Foi no Governo de Eduardo Ribeiro, o grande urbanista, promulgada a Lei nº. 124, em 24 de agosto de 1895, pela qual é efetuada concorrência pública para a instalação dos bondes.
Avenida Sete de Setembro, década de 50. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
O vencedor da referida concorrência foi o engenheiro Frank Hirst Habbletwhite, que na época assinou o contrato para as construções das linhas, num total de 20 km, com uma subvenção anual de 200:000$000 no primeiro quinquênio, 160:000$000 no segundo e 120:000$000 no terceiro. Daí em diante cessava a subvenção. Previa-se, também, a possibilidade do concessionário poder aumentar as linhas de trilhos por mais 15 km.
É formada então a empresa Manaus Railway Company que deu início a instalação das linhas. Em 24 de fevereiro de 1896 é efetuada uma inauguração provisória para experiência. Em 1897, conforme relatório do governador Fileto Pires Ferreira, a companhia já construíra 16 km de linhas, possuindo 25 bondes para cargas e 10 para passageiros, tendo transportado 171.783 pessoas. O preço da passagem era de 250 réis.
“[…] Ainda segundo o mesmo autor, para a movimentação dos bondes, que funcionava a partir das 5 da manhã até as 22 horas, foi instalada uma usina hidrelétrica em um dos igarapés da cidade”. ¹ Pág. 195.
Bonde na então Avenida Eduardo Ribeiro, St. Louis, número vinte, esquina com Avenida Sete de Setembro, Centro de Manaus. Acervo: The Tramways of Brazil a 130 year survey by Allen Morrison. Imagem: Reprodução/Instituto Durango Duarte
Foi inaugurado com grandes festejos, os serviços de transporte de passageiros por bondes em 1º de agosto de 1899. Oficialmente Manaus foi a terceira cidade do Brasil a inaugurar os serviços de bondes elétricos. Suas linhas de tráfego eram: Flores, com 24 viagens diárias; Plano Inclinado, com 39; Cachoeirinha, com 67; Circular, com 16 viagens e, finalmente, a linha da Saudade, com 53 viagens.
O Estado encampou o serviço de bondes em 24 de julho de 1902 e o repassou a firma Travassos e Maranhão, que por sua vez o transferiu para o engenheiro Antônio Lavandeyra.
Em 1908 é fundada a Manaus Tramways and Light Co, com concessão para luz e bondes elétricos durante 60 anos a partir de 27 de abril de 1908, eram seus diretores: James Mitchell, G. M. Both, W.C. Burton e G. Watson. Esta nova empresa absorve a antiga Manaus Railway Co. e entra em atividade em 9 de junho de 1909.
“[…] Por essa época, o coronel Costa Tapajós, superintendente municipal, publica as instruções que acompanhavam o decreto que proibia cuspir e fumar nos bondes dos serviços elétricos, cujas, multas cobradas dos infratores seriam revertidas em duas terças partes, para a Santa Casa de Misericórdia”. ² Pág. 198.
A decadência desse tipo de transporte advém do início da Primeira Guerra Mundial de 1914 a 1918, que impediu a importação de material, como peças de reposição para os bondes. O bonde era um meio de transporte barato, consequentemente não rendia muito à concessionária e sem possibilidade de ampliação, pois necessitava de grandes investimentos e importação de materiais.
Passeio de bonde em Manaus, na década de 1930. A então empresa Manáos Tramways & Light Company Limited importou caminhões e equipamentos elétricos da Inglaterra e construiu oito bondes para utilizarem em Manaus. Acervo: The Tramways of Brazil a 130 year survey by Allen Morrison. Imagem: Reprodução/Instituto Durango Duarte
Ao fim da Segunda Guerra Mundial de 1939 a 1945, os serviços decaíram tanto que em setembro de 1946, o presidente da república assina um decreto autorizando a intervenção federal na Manaus Tramways, a fim de assegurar a normalidade dos serviços. Em 1947 foi extinta a intervenção também por decreto presidencial, mas a companhia estava numa situação de penúria.
Em 11 de fevereiro de 1950 a Manaus Tramways foi encampada, quando já eram obsoletas e insuficientes as usinas de produção de energia elétrica. Por esse motivo e por economia de energia, os serviços de bondes foram interrompidos. A Serviços Elétrico do Estado, que incorporou a Manaus Tramways, foi obrigada a paralisar totalmente a produção de energia elétrica para a cidade e, por muitos meses Manaus viveu às escuras.
A partir daí, foi criada a CEM – Companhia Elétrica de Manaus, que reorganizou os serviços elétricos e, em 1956, numa tentativa efêmera, coloca novamente os bondes em funcionamento. Havia, porém, somente nove bondes em tráfego e não existiam possibilidades de compra e reposição de novos carros e a expansão das linhas. Além disso, a antiga companhia inglesa ainda lutava nos tribunais pela posse de sua concessão, o que motivou a extinção definitiva dos serviços de bondes de Manaus, em 28 de fevereiro de 1957.
“[…] Vivendo esse ideal de modernidade e progresso, Manaus passou a buscar com mais intensidade a implementação dos serviços de locomoção, num período em que ocorriam na capital, além das interversões urbanísticas e sanitárias, a ampliação da malha viária, bem como edificação de suntuosos prédios públicos, praças e avenidas, gerando consequentemente a necessidade de veículos de locomoção eficientes para percorrer as áreas da cidade planejada”.³ Pág. 38,39.
Acervo: The Tramways of Brazil a 130 year survey by Allen Morrison. Imagem: Reprodução/Manaus de Antigamente
Referências
CORRÊA, Waldemar Stiel. História do Transporte Urbano no Brasil. ¹ Pág. 195, ² Pág. 198.
MAGALHÃES,Soraia Pereira – O Transporte Coletivo Urbano de Manaus: Bondes, Ônibus de Madeira e Metálicos. Manaus: Edua, 2014. ³ Pág. 38,39.
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com
O governador do Amazonas, Wilson Lima, inaugurou no domingo, 29, o novo Parque Multiuso “Dr. Eurípedes Ferreira Lins”, localizada no KM 02, da rodovia BR-174, Manaus-Boa Vista e a 46ª edição da Expoagro. A cerimônia contou com a presença do presidente da FAEA, Muni Lourenço Jr., autoridades, associações de produtores rurais e empreendedores do setor. Fechado desde o ano de 2013, as obras estão sendo executadas pela Secretaria de Infraestrutura do Amazonas, Seinfra.
O complexo é dotado de amplas áreas destinadas a exposições de animais para comercialização (pecuária bovina e bubalina, ovinocultura (criação, manejo), piscicultura, avicultura, fruticultura, floricultura, horticultura, espaço para festas de peões boiadeiros, rodeios e doma de animais, praças de alimentação, refeitório, pavilhão de exposição, baias para uso de expositores, dois pavilhões para animais de grande porte, guarita principal, duas guaritas de serviços, além de aquário, museu de pesca, prédio da administração e serviço de defesa animal e sanitária.
De acordo com a Seinfra, os investimentos realizados somam R$25,13 milhões, encontrando-se a obra 95% concluída, impactando, até agora, o mercado de emprego com a geração de 626 postos de trabalho, diretos e indiretos. Previsto para conclusão em dezembro deste ano, o parque ocupa uma área de 16,07 hectares. Nesta etapa estão em execução os serviços de pavimentação com base, imprimação e capa asfáltica das ruas e acessos ao parque, drenagem com escavação mecanizada para implantação de tubulações, a construção de caixas de passagem e de escadas hidráulicas e implantação de meio-fio.
Foto: Divulgação/Seinfra
Também estão sendo realizados serviços de urbanização com instalação do revestimentos de grama em placas nos taludes, construção de calçadas, instalações elétricas e hidrossanitárias, perfuração de poço artesiano, dentre outros serviços. O novo Parque Multiuso contará ainda com rede de distribuição de água, rede coletora de esgoto, iluminação pública e sistema de proteção contra descargas atmosféricas, dentre outros recursos. Segundo o secretário da Seinfra, Carlos Henrique Lima, “os trabalhos estão a todo vapor para que o parque possa ser concluído e entregue ainda este ano com toda a infraestrutura concluída”.
A Expoagro, evento tradicional, tem contribuído de forma decisiva para o fortalecimento do setor primário estadual. De acordo com o governador Wilson Lima, objetiva, fundamentalmente, “promover e financiar negócios, além de divulgar novas tecnologias para o setor agropecuário do estado, oferecendo espaço para seu crescimento, promovendo a geração de novos empregos, renda e desenvolvimento econômico”. A Exposição, como da tradição das similares Brasil a fora, “também proporciona entretenimento e lazer aos frequentadores, com a oferta de rodeios, vaquejadas, shows musicais, espaço fazendinha, parques de diversão para a garotada, palestras, cursos e seminários sobre agronegócios”, afirmou o governador.
Durante a cerimônia de abertura do complexo, o presidente da FAEA, Muni Lourenço Jr., parabenizou o governador Wilson Lima pela relevância econômica do Parque representa, antiga reivindicação do produtor rural amazonense. Além do reconhecimento ao trabalho do governo estadual, em especial face ao processo que culminou com o status do Amazonas como livre de febre aftosa sem vacinação, repassou ao chefe do Executivo amazonense uma placa de homenagem conferida pela classe patronal rural do Estado em vista à inauguração do novo Parque Multiuso “Dr. Eurípedes Ferreira Lins”. Na oportunidade, Lourenço Jr. ainda anunciou o lançamento oficial do programa Rural +Forte, o 1° encontro de Mulheres do Agro, o workshop “mulheres visíveis”, além de espaço para saúde e bem estar disponibilizando “quick massagem”, aferição de pressão arterial e outros serviços disponibilizados aos visitantes.
Sobre o autor
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).
Nova espécie de grilo (Oecanthus buxixu) descrita na Reserva Amanã. Foto: Diego Mendes
Considerada a região mais biodiversa do planeta, a Floresta Amazônica abriga uma enorme quantidade de espécies, muitas das quais ainda são desconhecidas para a ciência. Recentemente, os pesquisadores Riuler Corrêa Acosta e Diego Mendes, do Instituto Mamirauá, descreveram duas novas espécies de inseto encontradas na Amazônia: um grilo (Oecanthus buxixu) e uma esperança predadora (Spinaraptor taja).
A nova espécie de grilo foi descoberta na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no município de Maraã, Amazonas. O gênero Oecanthus possui mais de 70 espécies distribuídas ao longo do planeta, mas esta é apenas a segunda espécie conhecida na Amazônia, a outra tendo sido descrita em Santarém, no Pará.
A nova espécie foi descoberta a partir da soma de características morfológicas externas e internas, mas principalmente a sinalização acústica emitida pelos indivíduos machos, método o qual os cientistas usam para diferenciar espécies de grilos, além de características fisionômicas. O nome científico “buxixu” faz referência à planta homônima onde a espécie é comumente encontrada se alimentando de frutos e folhas.
Já a nova espécie de esperança descrita faz parte de um novo gênero como um todo, Spinaraptor, que inclui outras quatro espécies. O nome do gênero vem do latim: spina (espinho) + raptor (ladrão) significando “ladrão de espinhos”, uma referência aos longos espinhos das pernas dessa esperança que são usados para segurar as suas presas enquanto as devora.
Spinaraptor taja ocorre no estado do Amazonas, com espécimes coletados em Manaus e na cidade de Tefé. Esta espécie foi encontrada principalmente próximo a corpos d’água com presença de plantas da família Araceae, popularmente chamadas de “tajá”, que dá o nome científico à esperança. São noturnas e se alimentam de pequenos insetos que caçam sobre a vegetação.
Nova espécie de esperança predadora (Spinaraptor taja). Foto: Diego Mendes
Grilos e esperanças, embora pouco conhecidos pelo público em geral, desempenham um papel crucial na cadeia alimentar e no ecossistema. Algumas espécies de grilos, por exemplo, atuam como dispersores de sementes no solo das florestas. Nos dois estudos recém-publicados, são reveladas associações entre essas espécies e plantas nativas, destacando a ligação entre esses insetos e seus habitats.
Esse conhecimento é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de preservação dos micro-habitats, como as áreas de borda de floresta, onde o Oecanthus buxixu vive nos arbustos de buxixu, e as margens de igarapés, onde o Spinaraptor taja habita sobre os tajás.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Instituto Mamirauá, escrito por Miguel Monteiro
Centro lançou campanha para doação de pelúcias para auxiliar na recuperação dos animais. Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre
Os incêndios que atingem todo o Acre deixaram diversas espécies vulneráveis por conta da destruição da floresta. Diariamente, esses animais chegam ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Rio Branco, que pertence ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O Cetas, que fica nas proximidades do Parque Ambiental Chico Mendes, na capital acreana, já recebeu 105 animais que foram resgatados em áreas de queimadas neste ano. A maior parte chega ferido, outros buscavam abrigo. Em alguns casos, os animais que sobrevivem demoram mais de um ano para se reabilitar e serem devolvidos a natureza.
Desse número, três não resistiram e acabaram morrendo. No local, um tatu, uma mucura e uma jiboia não conseguiram sobreviver. Segundo a chefe da unidade, Elaine Oliveira, entre os que mais chegam, estão a paca de rabo, o quandú, o tamanduá-mirim, o bicho-preguiça e as cobras, além dos macacos.
Ela explica ainda que o retorno desses animais ao habitat natural depende de uma série de fatores, como a idade, a espécie e a condição de saúde.
“Tem animal que é resgatado que já chega aqui em óbito, tem animal que precisa de tratamento, tem muito animal queimado. Tatus e tamanduás chegam com as patinhas queimadas, com a face queimada. As pacas de rabo tem o focinho queimado, barriga queimada. Então, vai depender da extensão da lesão para a gente tratar e recuperar esse animal”, explica.
Foto: Divulgação/CBMAC
Em praticamente todas as ocorrências de queimadas, os brigadistas encontram animais próximos das chamas, em perigo, ou mortos. Em alguns cenários, os animais fogem até para áreas urbanas e casas de moradores.
Neste caso, a orientação é ligar para o Corpo de Bombeiros para a captura adequada. Além do fogo, os rios e igarapés secos fazem alguns bichos procurarem outro abrigo. Em um dos casos, um jacaré chegou ao Cetas sem ferimentos. Ele procurava refúgio após o local que ficava ter secado. A situação foi semelhante com de uma jiboia. Ambos serão encaminhados para regiões monitoradas pelo Ibama.
Doação de pelúcias
Para minimizar os problemas, o Ibama lançou uma campanha denominada “SOS Fauna”. A iniciativa tem como objetivo arrecadar bichinhos de pelúcia para ajudar na adaptação dos animais que ficaram órfãos e precisam ter a sensação de que continuam com a mãe.
“O item bicho de pelúcia para a gente é muito difícil fazer aquisição como instituição pública. Então, a gente está solicitando a colaboração da população em geral, as crianças que veem as imagens dos filhotes sem suas mães, eles são os órfãos do fogo, que a população possa ajudar a gente na doação. Pode ser bichinho usado, se tiver rasgado a gente conserta. O importante é ter esses bichos de pelúcia pra que esses filhotes tenham esse conforto para poder agarrar no bichinho simulando a mãe”, acrescenta Elaine.
Foto: Divulgação/CBMAC
Os pontos de coleta em Rio Branco são a sede do Ibama, próxima da Avenida Ceará, o bloco do curso de Medicina Veterinária, na Ufac, e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema). No interior, pode ser entregue na unidade técnica de Brasiléia ou de Cruzeiro do Sul.
Animais feridos durante queimadas
As queimadas no Acre deixam muitas vítimas todos os dias. Além da floresta e das pessoas afetadas com a fumaça e demais problemas respiratórios, os animais sofrem com o fogo e em todo o estado. De janeiro até setembro, de 400 animais de todas as espécies resgatados pelo Corpo de Bombeiros do Acre, pelo menos 30 foram localizados carbonizados, feridos ou em fuga por conta dos incêndios florestais.
De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do Acre (CBMAC), de janeiro até o dia 18 de setembro já foram atendidas 4.787 ocorrências de queimadas, contra 3.117 no mesmo período do ano passado. Esse ano também foram registrados mais de 5 mil focos de calor.
A Operação Fogo Controlado possui 115 militares atuando nessa frente de serviço, em 16 bases operacionais. O capitão Freitas Filho, coordenador da operação, comenta que nesses cenários onde os incêndios estão acontecendo, a fauna amazônica é diretamente afetada. É comum, por exemplo, serpentes e roedores se refugiarem em ambientes urbanos por conta dos incêndios.
“O trabalho do Corpo de Bombeiros é resgatar esses animais e levar para um local seguro. Se estiverem feridos ou não tiver local seguro, em que não há um local para que eles permaneçam, eles são levados para o Cetas, que é do Ibama, que faz a triagem e tratamento desses animais e depois os leva para um local seguro de acordo com um estudo técnico”, afirmou.
Em alguns casos, os animais buscam abrigo até em casas que estão próximas de alguma região de floresta. Por esse motivo, o CBMAC orienta os moradores que não maltratem o animal e liguem para o 193, para que os militares façam o resgate adequado e deem a destinação correta para cada espécie.
“É comum nessa época, especialmente serpentes e roedores, justamente porque eles já estão em situação de desespero. Eles já estão afetados em seu habitat por conta dos incêndios. Então naturalmente eles buscam a cidade como local seguro e a residência das pessoas”, explicou o capitão.
O Corpo de Bombeiros, o Instituto do Meio Ambiente do Acre (Imac) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) fazem a captura e a proteção desses animais.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) apresentou, no dia 23 de setembro, um Plano de Ações Integradas do Patrimônio Arqueológico do Amazonas. O lançamento do plano foi realizado na sede do Instituto Soka Amazônia, organização vizinha ao sítio Ponta das Lajes, que atua na conservação da Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Dr. Daisaku Ikeda.
O objetivo é promover as orientações para a proteção dos sítios arqueológicos do estado durante o período de seca dos rios e de mudanças climáticas, com medidas de segurança, socialização e boas práticas para a conservação desse patrimônio.
“Nosso apelo é que as pessoas não deixem lixo no local, pois se trata da nossa identidade, nossa história e de um espaço sagrado para os povos indígenas e que precisa ser respeitado”, afirma a superintendente do Iphan no Amazonas, Beatriz Calheiro.
Foto: Divulgação/Iphan
As “caretinhas” talhadas em pedras reapareceram no sítio arqueológico Ponta das Lajes e já são vistas novamente no pedral. Esta é a terceira vez que os vestígios de civilizações antigas aparecem por causa da seca dos rios. Outras aparições dos petróglifos (imagens gravadas em rochas ou pedras que podem representar figuras humanas, formas geométricas ou cenas da vida cotidiana de culturas antigas) ocorreram em 2010 e no ano passado, também por causa da seca extrema dos rios.
“Nos últimos anos temos vivenciado o agravamento das mudanças climáticas e a seca dos rios da região de forma mais frequente. E são muitos os desafios. Mas este cenário também nos coloca diante da necessidade de união de toda sociedade para proteção dos bens mais valiosos da Amazônia: a biodiversidade das nossas florestas, nossos rios, nossas populações e nossa história. E estamos sempre dispostos a colaborar com essa proteção”, disse o vice-presidente do Instituto Soka Amazônia, Milton Fujiyoshi.
Plano de Ação do Patrimônio Arqueológico
O plano de ação é dividido em quatro eixos: mobilização, com o mapeamento de agentes do poder público e da sociedade civil visando a construção participativa do plano; conservação e vigilância, que consiste em estabelecer uma rotina de vigilância e monitoramento da área; produção e divulgação do conhecimento, com atividades de orientação e compartilhamento de informações sobre os sítios para interessados em pesquisas no local; e socialização, para envolver as comunidades e povos indígenas no sentido de orientar sobre a preservação dos sítios.
De acordo com a superintendente do Iphan-AM, Beatriz Calheiro, todos os bens arqueológicos pertencem à União, sendo vedado qualquer tipo de aproveitamento econômico de artefatos arqueológicos, assim como sua destruição e mutilação.
“Além disso, para realização de pesquisas, é preciso o envio prévio de projeto arqueológico ao Iphan, que avaliará e, só então, editará portaria de autorização. Assim, qualquer pesquisa interventiva realizada sem autorização do Iphan é ilegal e passível de punição nos termos da lei”, acrescenta Beatriz.
Foto: Divulgação/Iphan
Sítio Ponta das Lajes
Com cronologia estimada entre mil e dois mil anos atrás, o sítio Ponta das Lajes possui blocos rochosos nos quais há registros rupestres que representam figuras humanas. Em sua maior parte, as representações são de rostos, que a comunidade local chama popularmente de “caretas”, mas há também gravuras e uma área de oficina lítica com marcas de amoladores. O sítio das Lajes ainda possui bacias de polimento locais em que, há milhares de anos, povos originários confeccionavam suas ferramentas, como machadinhas.
Segundo o arqueólogo do Iphan Marco Túlio Amaral, na região Norte, as gravuras em formato de rostos humanos são encontradas somente no estado do Amazonas. “Temos registros delas no sítio Ponta das Lajes, mas também já encontramos em Itacoatiara e em Itapiranga”, explicou.
Rio Negro está a menos de um metro de bater seca recorde de 2023 em Manaus, aponta Defesa Civil. Foto: Matheus Castro/g1 Amazonas
O Rio Negro está a menos de um metro da seca histórica de 2023, em Manaus (AM). Segundo a Defesa Civil do Amazonas, neste domingo (29), o rio está medindo 13,37 metros, 67 centímetros a mais que a cota mais baixa já registrada em 121 anos de medição: 12,70 metros.
Manaus está em situação de emergência por conta da seca do rio, que tem mais de 1,7 mil quilômetros de extensão e é um dos principais afluentes do Rio Amazonas. A praia da Ponta Negra, principal balneário da cidade já foi fechada para banho, devido ao baixo nível do rio.
No Porto da Capital, bancos de areia estão surgindo no meio do rio, forçando as embarcações a se afastarem e ficando cada vez mais longe do local onde costumavam atracar, próximo à via pública. A cidade pode, inclusive, sofrer com a escassez de peixes.
A previsão inicial do governo do estado é de que, neste ano, o Amazonas tenha uma seca severa nos mesmos moldes ou até pior do que o estado viveu no ano passado. Um relatório divulgado pelo Serviço Geológico do Brasil no sábado (28) aponta, inclusive, que o rio pode ficar abaixo dos 12 metros pela primeira vez na história.
Segundo a Defesa Civil, o rio começou o mês de setembro medindo 19,73 metros e já vazou, até este domingo, 6,36 metros.
“Nos últimos 30 dias, o nível hidrológico do rio variou em -0,23, o que significa que ele vazou, em média, 23 centímetros por dia. Já nos últimos sete dias, o nível hidrológico do rio variou -0,19, o que significa que ele vazou 19 centímetros por dia, em média”, aponta o órgão, que monitora a vazante.
A seca do Rio Negro também fez com que o Encontro das águas ficasse difícil de ser visto no Amazonas. A mistura das água escura do rio, com a água barrenta do Rio Solimões, é um dos patrimônios do estado e atrai turistas de todos os lugares do Brasil e do mundo.
Além de Manaus, todos os outros 61 municípios do Amazonas estão em situação de emergência por conta da estiagem severa. De acordo com o Governo do Estado, 560 mil pessoas estão sendo impactadas pelo problema. O número de famílias atingidas chega a 140 mil.
O Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) – Ciências Humanas, Volume 19, nº 2 (maio-agosto de 2024), faz um alerta sobre um tema bem caro a todos os amazônidas, para não se falar em escala mundial: a culinária do povo indígena Huni Kuin, da Terra Indígena (TI) Kaxinawá do baixo rio Jordão, no estado do Acre, encontra-se sob risco de extinção.
Isso diante do avanço cada vez mais latente da globalização, que acaba de substituir culturas tradicionais por outras, no caso, por outros produtos fornecidos e comercializados internacionalmente. Os alimentos naturais, com todo um valor simbólico para os Huni Kuin, estão sendo gradativamente “trocados por alimentos por produtos processados e ultraprocessados que são, atualmente, acessíveis, tanto financeiramente, quanto nos comércios urbanos, tais como óleos e açúcares orgânicos”, escrevem em coautoria Málika Simis Pilnik e Tarik Argentim.
Essa situação é exposta em um dos trabalhos de pesquisa científica que integram essa publicação do Museu Goeldi, instituição que está às vésperas de completar, em 6 de outubro, 158 anos de atuação na realidade amazônica.
A gravidade desse processo verificado na comunidade indígena pode ser mensurada, apenas no aspecto da identidade regional desses e de outros cidadãos da Amazônia, por meio da suposição dos efeitos potenciais que seriam observados a partir da ausência de iguarias como a maniçoba, o vatapá, o arroz paraense, o pato no tucupi e doces de frutas da região na mesa dos amazônidas em geral. Ainda mais, nos dias que antecedem o Círio de Nazaré, em outubro, em Belém do Pará, quando a festa religiosa é emoldurada por essas e outras iguarias que dialogam historicamente com a cultura de povos indígenas e negros da Floresta Amazônica.
No artigo “Etnoculinária do povo indígena Huni Kuin do Jordão, Acre: conhecimentos, práticas e transformações alimentares na Amazônia ocidental brasileira”, assinado pelos pesquisadores Málika Simis Pilnik, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus (AM), e Tarik Argentim, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, de Cruzeiro do Sul, do estado do Acre, o público verifica que esse processo conhecido como transição alimentar envolve uma redução nas taxas de desnutrição e, em contraponto, a emergência de doenças crônicas, como câncer, obesidade, diabetes e outras comorbidades nesses indígenas.
“Se, recentemente, tais distúrbios não afrontavam essas populações, há de se analisar que as mudanças nos hábitos alimentares têm certa responsabilidade no desencadeamento de novas formas de insegurança alimentar”, pontuaram os investigadores.
Daí a necessidade de políticas públicas focadas na promoção do etnodesenvolvimento, considerando o modo de vida tradicional e a soberania dos povos. Nesse trabalho, os pesquisadores relatam um pouco da trajetória do povo Huni Kuin relacionada aos empreendimentos seringalistas e à ocupação de territórios no Acre (“tempo do cativeiro”, para os indígenas); da dieta alimentar desse povo, abrangendo as ‘leguminosas do roçado” (yunu) e espécies florestais (ni).
A alimentação pode ser considerada o cerne da cultura huni kuin, haja vista tratar-se de um dos aspectos mais importantes da sociabilidade entre os núcleos familiares, reiteram Pilnik e Argentim. “De acordo com essa etnia, se alimentar bem é essencial para manter a saúde do corpo (yuda) e do espírito (yuxĩ)”, completam.
Saberes ancestrais
Por isso, esse conhecimento da alimentação é um repleto de conhecimentos, memórias, práticas e processos diversos para o povo Huni Kuin. Ao detalhar a centralidade da comida na vida dos Huni Kuin, o artigo mostra a importância da comensalidade (alimentarem-se em grupo); de alimentos entre parentes nas visitas a casas; o significado simbólico/espiritual de serem mastigados conjuntamente (naikĩ) os alimentos da floresta (da fauna e flora) para esse povo Nesse processo, os alimentos são saboreados lenta e simultaneamente.
É feita a abordagem dos cuidados com a alimentação dos bebês, em especial à corporalidade. A macaxeira e a banana são ingredientes essenciais na alimentação huni kuni, principalmente pela oferta abrangente, pelo seu valor nutritivo e ainda pelo uso em dietas/restrições alimentares (samã kea) de cunho espiritual realizado pelos xamãs (mukaya). Na capa do Boletim do MPEG, que está completando 130 anos em circulação, está uma foto do preparo de atsa pei (macaxeira com folha em hãtxa-kuin), em referência ao tema da edição “Territorialidades e patrimônios”.
Na descrição das práticas alimentares dos Huni Kuin, é possível observar o valor simbólico do ato de cozinhar (“ba”) relacionado à reprodução humana, ao ato de “procriar”, “nascer”, uma simbologia que envolve as utensílios da culinária desse povo e destaca a presença feminina em dois processos, entre outros aspectos estruturais da temática abordada, compondo um trabalho minucioso e esclarecedor sobre a relação umbilical de um povo indígena e sua alimentação para a própria existência através dos tempos.
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