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Machado representa Rondônia em exposição no Rio de Janeiro

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Governador Jorge Teixeira discursa no ato oficial de instalação do Estado de Rondônia. Foto: R. Machado

Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com

O fotógrafo Rosinaldo Machado, residente em Porto Velho e referência do fotojornalismo, representa Rondônia em uma importante exposição no Rio de Janeiro.

Fullgás – Artes Visuais e Anos 1980 no Brasil é o nome da exposição que o Centro Cultural Banco do Brasil oferece ao público de 2 de outubro até janeiro de 2025.

Machado enviou para a exposição uma série de imagens históricas, como os atoleiros na BR-364 antes da inauguração do asfalto em 1984, que acelerou a onda migratória em Rondônia. No entanto, a foto escolhida foi a da instalação do Estado de Rondônia em 1982.

A mostra faz parte das comemorações pelos 35 anos do CCBB RJ e apresenta cerca de 300 obras de mais de 200 artistas de todas as regiões do país. O evento também incluir elementos da cultura visual da época, como revistas, panfletos, capas de discos e objetos icônicos, ampliando a reflexão sobre o período.

Mistério: empresário rondoniense é assassinado na Bolívia

Pedro André de Souza foi assassinado no último fim de semana dentro de casa numa área rural na Bolívia. Até o momento, a polícia não divulgou as linhas de investigação que adotou para o caso.

O empresário tinha negócio em Ji-Paraná e em Vilhena. Lidava com construção civil e agronegócio. Em 1999 fundou o jornal Folha de Rondônia — que durante anos foi um dos principais veículos de comunicação do Estado — e, em 2006, o Diário do Povo, com duração efêmera. Ambos não existem mais.

Controvertido, polêmico e cheio de inimigos poderosos, Pedro André também gozava de prestígio político. Em 2000 foi eleito vereador em Ji-Paraná, mas renunciou ao mandato logo em seguida.

Ultimamente, dizia estar sendo ameaçado de morte e só circulava com carro blindado. A razão seria uma cobrança judicial em que Pedro André saíra vencedor, recebendo R$ 30 milhões de reais.

Sobre o autor

Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

75% do Hidromel Uruçun da Amazônia é destinado à exportação

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Foto: Reprodução/Instagram-Hidromel Uruçun da Amazônia

Em Belém (PA), uma engenheira de produção percebeu uma lacuna na produção de meliponicultura de pequenos produtores paraenses. O mel das abelhas sem ferrão, apesar de ter uma excelente qualidade, possui 40% mais de água e um teor de acidez mais alto que o mel tradicional, o que o descaracteriza no padrão da legislação brasileira. 

Mesmo com fomento e capacitação, no final da colheita, os produtores não tinham para quem vender. Foi então que, em 2019, Ana Lídia Zoni Ribeiro teve a ideia de transformar esse tipo de mel em uma bebida: o Hidromel Uruçun da Amazônia, que hoje, com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) já tem contrato fechado com cinco países para exportar o produto.

A produção começou com apenas 19 litros de hidromel, enquanto a empreendedora pôde analisar o gosto dos clientes pela bebida e fazer as alterações necessárias. “Até 2021, a gente conseguiu chegar na formulação que hoje é entregue ao mercado”, explica Ana Lídia.

Hoje, o Hidromel Uruçun da Amazônia pode ser encontrado nos principais pontos turísticos de Belém, além de restaurantes finos, delicatessens, empórios e vinícolas. Além disso, a empresa conseguiu colocar o produto no mercado internacional.

Internacionalização

As primeiras vendas internacionais foram feitas para Alemanha, após Ana Lídia participar de um programa de capacitação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). Durante as aulas, ela chegou à conclusão, juntamente com a equipe da Apex, que a Alemanha seria o mercado-alvo das exportações. 

Na mesma época, um turista alemão experimentou o Hidromel Uruçun em um dos pontos de venda em Belém e ficou apaixonado pela bebida. No dia seguinte, ele procurou Ana Lídia para propor uma parceria para importar a bebida para a Alemanha. Em função do apoio da ApexBrasil, a empreendedora conta que já estava preparada para exportar. 

Em 2023, a Hidromel Uruçun da Amazônia deu mais um passo na internacionalização e passou a exportar para Cidade do Cabo, na África do Sul. E em 2024, a convite da ApexBrasil, a empresa participou da feira internacional Expocomer, no Panamá.

“Foram 12 empresas daqui do Brasil para a Expocomer, no Panamá, e nós fomos a única empresa daqui do Norte do Brasil a participar. E eu consegui contato também com um grande distribuidor e vou ser a primeira empresa do Brasil a exportar bebida alcoólica para o Panamá.”

As negociações para expandir a internacionalização da Hidromel Uruçun da Amazônia não param por aí. Este ano, Ana Lídia participou de uma rodada de negócios intermediada pela ApexBrasil com compradores internacionais.

A CEO da Hidromel Uruçun da Amazônia destaca o apoio da ApexBrasil para encontrar os parceiros certos no mercado internacional.

Rodadas de Negócios

Por meio de reuniões com compradores, distribuidores e representantes de redes internacionais, a ApexBrasil faz a intermediação de Rodadas de Negócios para empresas brasileiras que querem internacionalizar seus produtos e serviços.

Nessas reuniões, a Apex faz o pareamento entre os negócios do Brasil e os compradores internacionais com maior potencial de fechar parcerias, além de preparar e capacitar os participantes. Para saber mais sobre as Rodadas de Negócios, clique aqui.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Brasil 61, escrito por Paloma Custódio

Seca de 2024 no Amazonas supera número de atingidos em 2023: mais de 747 mil pessoas

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Foto: Jacqueline Lisboa/WWF-Brasil

A seca histórica que atinge o Amazonas em 2024 já afeta 747.642 pessoas em todo o estado, segundo o boletim sobre a estiagem divulgado pela Defesa Civil no dia 30 de setembro. De acordo com o órgão, 186 mil famílias estão impactadas neste ano. Esse número é maior do que o registrado em 2023, quando cerca de 633 mil pessoas de 158 mil famílias foram afetadas.

O Amazonas enfrenta uma estiagem severa, que deixou todas as calhas dos rios do estado em situação crítica. Na capital, Manaus, o Rio Negro está a menos de um metro de atingir o nível de seca do ano passado, quando o rio, um dos principais afluentes do Rio Amazonas, alcançou 12,70 metros — o menor nível registrado em mais de 120 anos.

Na capital, a prefeitura já fechou a praia da Ponta Negra, o principal balneário da cidade. No porto, o surgimento de bancos de areia tem afastado as embarcações e alterado a rotina de quem depende do rio para viver. Até o Encontro das Águas se tornou mais difícil de observar devido a essa situação.

Todo o estado está em situação de emergência por conta do fenômeno. Veja a situação das principais cidades do estado:

  • Em Tabatinga, na região do Alto Solimões, o Rio Solimões está em -2,19 metros. O registro é de sábado (28). Dados da Defesa Civil apontam que o rio tem descido, em média, 5 centímetros por dia, no último mês. A cidade vive sua pior seca da história.
  • Na cidade de Coari, na região do Médio Amazonas, o rio mede 1,54 metros. O registro é do dia 17 de setembro, última atualização da Defesa Civil do local.
  • Em Parintins, no Baixo Amazonas, o Rio Amazonas está em -1,95 metro. O cenário também é crítico na região, segundo o estado.
  • Em Itacoatiara, o mesmo Rio Amazonas está medindo 1,97 metros. A cidade recebeu um porto flutuante, onde os navios cargueiros, que atendem as empresas do Polo Industrial de Manaus, transferem suas mercadorias para balsas que ainda conseguem chegar na capital amazonense.
  • Por fim, em Humaitá, o Rio Madeira segue em 8,08 metros. O rio desceu uma média de -4 centímetros por dia.

Assistência humanitária

No âmbito da assistência humanitária, foram distribuídas 1,9 mil toneladas de alimentos para as regiões mais afetadas. Para atender as famílias impactadas, o governo instalou 35 purificadores de água, sendo 8 destinados à calha do Alto Solimões, e enviou 700 caixas d’água para melhorar o acesso à água potável.

Além disso, o governo informou que enviou 200,3 toneladas de medicamentos e insumos para municípios das regiões do Madeira, Juruá, Purus e Alto Solimões.

Foram também enviados 37 cilindros de oxigênio para Eirunepé, Canutama e Itamarati, além da instalação de uma usina de oxigênio em Envira. Para Ipixuna, foram enviados 10 cilindros de oxigênio e medicamentos, totalizando 8,4 mil volumes distribuídos em diversos municípios.

*Com informações da Rede Amazônica AM

Dia Mundial dos Animais: espécies selvagens emblemáticas da Amazônia peruana

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No dia 4 de outubro se celebra o Dia Mundial dos Animais, um evento que lembra a importância de conservar e proteger os ecossistemas onde vivem as diversas espécies do planeta. Em sua vasta, variada e complexa geografia, o Peru abriga uma megadiversidade de vida selvagem, na qual muitos exemplares são nativos e únicos, enquanto outros estão sendo descobertos pela zoologia mundial.

No âmbito da comemoração do Dia Mundial dos Animais, conheça os animais amazônicos mais emblemáticos peruanos:

Galo-da-rocha

O galo-da-rocha (Rupicola peruvianus) é a ave nacional do Peru e foi escolhido como emblema dos Jogos Pan-Americanos e Parapan-Americanos de Lima 2019.

É uma espécie que nos machos possui uma crista laranja que adorna a cabeça, penas pretas e brancas cobrem as costas e as asas. Como na maioria das aves, a cor da fêmea é mais sutil. Durante a época de acasalamento, eles costumam fazer exibições rituais ou “leks” em grupos, junto com sons roucos e cacarejos característicos.

Esta ave está em perigo de extinção devido à caça indiscriminada para fins comerciais. Vive nas florestas da Amazônia peruana. A imagem do galo-da-rocha estará presente na nova nota de 200 soles.

Leia também: Galo-das-rochas-peruano: conheça a encantadora ave nacional do Peru

Foto: Reprodução/Agência Andina

Beija-flor com cauda de espátula

É uma ave admirada pela sua plumagem e majestade da sua cauda, ​​que se divide em duas grandes penas independentes, movendo-se livremente.

O Loddigesia mirabilis tem apenas 15 centímetros de comprimento, mais da metade dos quais é sua longa cauda e bico. Seu peso varia entre 40 e 70 gramas.

É um beija-flor endêmico, que vive apenas na selva do departamento do Amazonas, no nordeste do Peru, a 1.212 quilômetros da cidade de Lima. Sua imagem está presente na nova nota de 100 soles.

Foto: Reprodução/Agência Andina

Macaco peludo de cauda amarela

É o maior primata endêmico do Peru e foi redescoberto há 50 anos. O Lagothrix flavicauda tem como características seu tamanho, o comprimento da cabeça ao corpo chegando a 400 a 534 milímetros, enquanto o comprimento de sua cauda varia de 575 a 632 milímetros. Seu peso aproximado é de 8 quilos a 12 quilos.

Possui manchas brancas sobre os olhos como sobrancelhas. Suas orelhas são parcialmente escondidas por pelos curtos e claros e possui pelos esbranquiçados ao redor da boca. Seu rosto é pigmentado de cinza escuro e possui pelo espesso cuja cor apresenta tonalidades que variam do marrom avermelhado ao marrom escuro.

É uma espécie diurna que vive em grupos de até 30 indivíduos. As fêmeas dão à luz a cada 2 a 3 anos e são responsáveis ​​por cuidar dos filhotes. Eles dormem espalhados nas árvores onde quer que parem ao entardecer. Alimentam-se principalmente de frutas, complementando sua dieta com flores, folhas, líquenes, bases foliares de bromélias, raízes, bulbos de plantas epífitas e insetos.

Este macaco vive apenas no norte do Peru, em altitudes que variam de 1.000 a 2.800 metros acima do nível do mar, principalmente nos departamentos de Amazonas e San Martín, bem como em pequenas áreas de La Libertad, Huánuco, Junín e Loreto. Esta espécie necessita de grandes áreas de floresta para sobreviver, vive inteiramente em árvores e quase nunca se move no solo.

Foto: Reprodução/Agência Andina

*Com informações da Agência Andina

Parque Nacional Tingo María, no Peru, recebe Certificação Ouro em Turismo Sustentável

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Foto: Reprodução/Agência Andina

O Parque Nacional Tingo María, localizado na região de Huánuco, no Peru, tornou-se o primeiro destino peruano a obter a prestigiada certificação internacional de nível ouro concedida pela Green Destinations, organização que reconhece e promove práticas sustentáveis ​​no setor turístico e prioriza a conservação do meio ambiente.

A informação foi divulgada pelo Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas pelo Estado (Sernanp), que destacou que este reconhecimento é histórico e a conquista destaca o compromisso contínuo dos atores do setor público e privado ligados à atividade turística na região com Huánuco, a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento do turismo responsável.

Afirmou que a certificação não só reconhece o Parque Nacional Tingo María como um destino turístico sustentável, mas também o posiciona entre os destinos de elite a nível mundial em termos de sustentabilidade e conservação ambiental.

Foto: Reprodução/Agência Andina

Entre os aspectos que levaram à obtenção desta certificação estão a conservação da biodiversidade, a gestão responsável dos recursos, o compromisso com o desenvolvimento das comunidades que vivem no seu entorno e a promoção de iniciativas de educação ambiental direcionadas tanto aos visitantes como aos residentes.

Segundo o Sernanp, desde a sua criação, o Parque Nacional Tingo María priorizou a proteção dos seus ecossistemas únicos, trabalhando em estreita aliança com a comunidade local e os visitantes, que adotaram práticas responsáveis ​​e sustentáveis. Esta certificação não é apenas um reconhecimento, mas também um incentivo para continuar a avançar nas iniciativas de conservação e sustentabilidade, garantindo que os visitantes possam continuar a desfrutar da beleza e da diversidade que este destino oferece.

O objetivo do programa de certificação Green Destinations é identificar locais de férias que priorizem a conservação ambiental, apoiem as comunidades locais e melhorem o bem-estar dos visitantes. Estes destinos certificados vão além de meras iniciativas ecológicas e trabalham pela sustentabilidade abrangente em vários aspectos, como gestão de resíduos, eficiência energética, conservação da biodiversidade e preservação cultural.

Parque Nacional Tingo María

O Parque Nacional Tingo María é um dos destinos turísticos mais emblemáticos do Peru, conhecido por sua impressionante geografia, rica biodiversidade e atrativos naturais que permitem o contato direto com a natureza. Seu apelo panorâmico é realçado pela majestosa cordilheira da “Bela Adormecida”, cujo nome vem de seus picos que lembram uma mulher olhando para o céu.

Esta área natural protegida também abriga uma grande variedade de aves em um ecossistema de selva alta e florestas nubladas, tornando-a um paraíso para os amantes da natureza.

*Com informações Agência Andina

Terra Indígena Kayapó é a mais atingida por queimadas no Brasil, informa Greenpeace

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Fumaça densa na TI Capoto-Jarina, território que também pertence aos Kayapós e vem sendo afetado pelas queimadas. Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace

O fogo avança sobre o território sagrado dos Kayapó. O cenário é de muita fumaça e destruição. A Terra Indígena Kayapó (PA), historicamente impactada pelo garimpo ilegal, lidera o ranking das terras mais afetadas por incêndios florestais em 2024 no Brasil, com 3.246 focos de calor registrados desde o início do ano até o dia 24 de setembro. Por ali, a situação é dramática, pois tudo indica que o fogo é causado por garimpeiros que estão abrindo novas áreas para continuar explorando ouro ilegalmente.

De acordo com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA/UFRJ), uma área de 697.475 hectares já foi queimada dentro da Terra Indígena Kayapó – o equivalente a 21,24% de todo o território. Este é o pior resultado de toda a série histórica, que teve início em 2012. A situação é mais grave quando lembramos que a Terra Indígena não possui brigada de combate ao incêndio, devido à insegurança de se estar no território.

Profissionais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) contam que os incêndios dentro da Terra Indígena Kayapó foram causados por garimpeiros, que estão abrindo novas áreas para exploração. Essa teoria se confirma quando se analisa imagens de satélite, que mostram claramente que as áreas em que os focos de calor se concentram estão sobrepostas ou muito próximas a áreas de garimpo abertas recentemente.

Setembro em chamas

A situação no território Kayapó era relativamente estável até o início de agosto, quando começaram a aparecer, com mais volume e frequência, os focos de calor. As formações de savana e áreas de não-floresta foram as mais atingidas. A primeira quinzena de setembro, no entanto, foi de muitas chamas e destruição – dos 2.937 focos de calor acumulados em 2024 naquela região, 1.799 (nada menos que 61%) foram registrados nesse curto período.

O pico de incêndios foi registrado em 4 de setembro, quando foram registrados 354 focos de calor. Em seguida, a Operação Xapiri Tuire, conduzida por órgãos como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Ibama e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) fez com que os focos diminuíssem. Mas no dia seguinte ao final da operação, em 11 de setembro, outro pico aconteceu, com 260 focos de calor.

Essa data guarda um triste marco da temporada 2024 – de cada 5 focos de calor registrados em toda a Amazônia neste dia, 1 deles ocorreu em Terras Indígenas. Foram 2.512 focos verificados na Amazônia, e 511 apenas dentro dos territórios originários.

Ações emergenciais

O cacique Megaron Txucarramãe, importante liderança do povo Kayapó, sobrevoou as Terras Indígenas Capoto-Jarina (MT) e Kayapó junto à equipe do Greenpeace Brasil. Ele testemunhou uma realidade devastadora: a floresta em chamas, a vida sendo consumida pelas labaredas e a destruição do que é ancestral e essencial para seu povo.

As lideranças indígenas clamam por ação, e o Greenpeace Brasil reforça essa urgência. Jorge Eduardo Dantas, porta-voz da Frente de Povos Indígenas do Greenpeace Brasil, destaca: “O Greenpeace percebe que a estrutura de combate a incêndios florestais no Brasil hoje é insuficiente. Ela não consegue atender à demanda e à gravidade do problema. Precisamos, por exemplo, de brigadas aéreas preparadas para atuar nos mais diversos territórios. Estamos em um cenário de mudanças climáticas, onde os eventos extremos vão se tornar mais intensos e frequentes. Precisamos mudar a forma como encaramos esse problema.”

Problema antigo

O garimpo é um problema antigo do território Kayapó. Levantamento divulgado pelo Greenpeace em julho mostrou que praticamente metade da abertura de novas áreas de garimpo feita dentro de Terras Indígenas na Amazônia no primeiro semestre de 2024 ocorreu por ali. Foram 227 hectares devastados pela atividade garimpeira. O levantamento considerou as Terras Kayapó, Munduruku e Yanomami, que reúnem mais de 90% da ocorrência de garimpos ilegais dentro de territórios originários no bioma. Em 2023, foram 1.109 hectares destruídos dentro daquela área por conta da exploração ilegal de ouro.

No relatório “Parem As Máquinas!”, lançado em abril de 2023, das 176 ocorrências de escavadeiras hidráulicas mapeadas pelo Greenpeace – e que estavam sendo empregadas no garimpo – nada menos que 140 (79%) estavam no território Kayapó.

Até o meio do ano, o garimpo já ocupava 15.715 hectares dentro da Terra Indígena Kayapó. No entanto, o sistema de monitoramento do Greenpeace, o Papa Alpha, detectou mais 190 hectares de desmatamento associado ao garimpo no mês de julho. Dentro dos territórios originários, o garimpo causa prejuízos ambientais (como a morte dos rios, erosão do solo, destruição de habitats), a desestruturação de comunidades (com aliciamentos, violências sexuais, transmissão de doenças); geralmente está ligado a outros crimes como tráfico de drogas e sonegação fiscal e não causa desenvolvimento – os dividendos que ficam para os estados e municípios são muito baixos e não compensam seus prejuízos.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Greenpeace

Registro de reserva indígena em Ucayali, no Peru, é entregue para proteger comunidade isolada

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Foto: Divulgação/SUNARP

Depois que a Superintendência Nacional de Registros Públicos (Sunarp) peruana registrou as terras dos povos indígenas assentados na reserva Sierra del Divisor (Remo ou lsconahua, Mayoruba-Matsés e Matis-y Kapanawa), a Justiça entregou oficialmente a nota cadastral ao órgão regional diretor de Cultura de Ucayali.

O ato simbólico da assinatura do registro, que protege a reserva indígena de 515.114 hectares, foi realizado no âmbito da Sunarp Registry Expofair, realizada na região de Ucayali.

Sunarp, no distrito de Yarinacocha, iniciou a Sunarp Registry Expofair com a participação de 15 instituições públicas e privadas para que, de forma articulada, sejam prestados serviços cadastrais e sociais aos cidadãos.

O vice-ministro da Justiça, Juan Enrique Alcántara Medrano, sustentou que através do Sunarp os serviços de registro são descentralizados em aliança com as instituições “para buscar uma aproximação com os cidadãos”.

Por sua vez, Ramón Edgardo Lucas Isidro, chefe da Zona VI, indicou que a Sunarp Expofair se desenvolve com uma visão integradora e um trabalho articulado de formalização, promovendo assim o desenvolvimento econômico e social das comunidades, da região e do país.

Durante o evento foi entregue a averbação cadastral da reserva indígena Sierra del Divisor em benefício dos povos indígenas isolados Remo ou lsconahua, Mayoruba (Matsés e Matis) e Kapanawa.

Da mesma forma, a nota de registro foi entregue à Federação Asháninka do Bajo Ucayali, para ter personalidade jurídica por 5 anos.

Outras ações no âmbito da cerimônia protocolar foram a entrega de certificados aos participantes da Escola de Líderes Indígenas da província de Coronel Portillo, bem como a premiação do concurso de desenho com o lema “Sunarp vai com você”.

*Com informações da Agência Andina

Maranhão firma compromisso de zerar desmatamento ilegal até 2027

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Foto: Divulgação/Governo do Maranhão

Em um passo importante para a proteção ambiental, o Maranhão se comprometeu a eliminar o desmatamento ilegal até 2027. A meta estabelecida no Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas (PPCDQ) do Estado representa um marco para a proteção da Amazônia e do Cerrado. Principalmente na região do Matopiba – fronteira agrícola composta por áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia –, que periodicamente observa aumentos nas taxas de desmatamento. Como resultado, o plano foi lançado neste 18 de setembro, em São Luís.

Em abril de 2023, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (SEMA) iniciou o processo de atualização do PPCDQ. A última vigência do Plano era relativa ao período de 2011 a 2015. Desta vez, o órgão contou com o apoio do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). Portanto, desde 2016 havia uma lacuna de política pública para prevenção e combate ao desmatamento e queimada. Então, o plano atual (2024 a 2027), revisado e atualizado com o apoio técnico e científico do IPAM, destaca-se por sua abrangência e robustez.

Zerar desmatamento ilegal até 2027

O Maranhão compreende partes da Amazônia (35%), do Cerrado (64%) e da Caatinga (1%). A atualização traz, além das metas de redução do desmatamento, as de queimadas no Cerrado. Dessa maneira, foi incluída a estratégia de gestão e manejo integrado do fogo para o bioma assim como o eixo que trata de mecanismos econômicos e financeiros para dar viabilidade para o próprio PPCDQ.

“O Maranhão possui uma grande representatividade de diversidade, dos biomas, de sobreposição desses biomas e suas fitofisionomias. É uma riqueza cultural de povos e comunidades tradicionais. Riqueza produtiva agropecuária e da sociobiodiversidade. Este fator foi crucial para pensarmos a prevenção e controle de desmatamento e queimadas”, explica Isabela Pires, uma das pesquisadoras do IPAM envolvidas no trabalho junto à SEMA.

Expertise em pesquisa ambiental

O IPAM desempenhou um papel fundamental na elaboração do PPCDQ. De acordo com sua expertise em pesquisa ambiental, o instituto contribuiu para a definição de metas realistas e robustas, a identificação das áreas prioritárias para ações e a proposição de soluções eficazes de combate ao desmatamento e das queimadas. Ademais, o IPAM contribuiu para um processo participativo baseado em consultas públicas, oficinas e sensibilização de diferentes atores com o estado.

O apoio à SEMA/MA se deu em três frentes:

  • Na criação e composição do Grupo de Trabalho Técnico para apoiar o Grupo Permanente de Trabalho Interinstitucional – responsável pelo monitoramento e atualização do PPCDQ. Assim, o Instituto promoveu oficinas entre as onze secretarias estaduais buscando facilitar a tomada de decisões no tema. Integrante do GT, o IPAM forneceu, ainda, dados científicos sobre queimada e desmatamento, uso e ocupação do solo, focos de calor, área de queimadas, degradação florestal por bioma;
  • Na cooperação interinstitucional, fortalecendo a integração de diferentes órgãos públicos, entidades privadas e ONGs para a efetivação das ações previstas no plano. Como resultado, o grupo elaborou uma estratégica de consulta pública do Plano, ressaltando a importância em engajar a sociedade maranhense para contribuir diante da realidade local de cada território;
  • Na promoção da participação social via consultas públicas, promovendo o diálogo e a construção conjunta de soluções para os desafios socioambientais do estado. Assim sendo, foi promovida uma oficina com atores-chave explicando o que é o PPCDQ, como o plano se relaciona com cada setor, colhendo contribuições e direcionando as demandas. Como resultado, a participação foi ampla e contou com representantes de povos indígenas, comunidades tradicionais, da agricultura familiar ao agronegócio. O processo de engajamento demonstrou a vontade da sociedade maranhense em contribuir com o plano.

Promovendo o engajamento

“A consulta pública é uma forma de implementarmos a gestão participativa, pois se trata de um documento que atinge todos os eixos da sociedade. Então, nada melhor do que ouvir o que as pessoas têm a acrescentar nessa construção que pode tornar o plano ainda mais eficiente para o meio ambiente e para todos os envolvidos”, acrescentou Chagas.

A SEMA e o IPAM conduziram o trabalho de forma a encontrar oportunidades de captação de recursos, a partir da redução do desmatamento, para incentivos econômicos às populações e comunidades tradicionais, povos indígenas e à agricultura familiar. Houve ainda o esforço na busca de soluções sustentáveis para as cadeias produtivas para fortalecimento de iniciativas de promoção de fluxos financeiros em prol de negócios livres de desmatamento ilegal e de uma economia de baixo carbono viabilizando zerar o desmatamento ilegal até 2027.

*Com informações do IPAM

“Não houve o desenvolvimento regional prometido”, diz pesquisador sobre hidrelétricas na Amazônia

Foto: Reprodução/Santo Antônio Energia

O projeto ‘Depois das Hidrelétricas: Processos sociais e ambientais que ocorrem depois da construção de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio na Amazônia Brasileira’, apoiado pela FAPESP no âmbito do Programa São Paulo Excellence Chair (SPEC), termina este ano.

Iniciada em 2013, a primeira fase da pesquisa teve foco nos processos sociais e ambientais da construção da hidrelétrica Belo Monte, no rio Xingu, no Pará – a usina foi inaugurada em 2016. A segunda fase, iniciada em 2020, examinou os impactos de cinco a dez anos após a finalização da construção de Belo Monte e incluiu estudos sobre as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira.

A investigação foi desenvolvida no âmbito da São Paulo Excellence Chair (SPEC), uma modalidade de apoio da FAPESP que busca estabelecer colaborações entre instituições do Estado de São Paulo e pesquisadores de alto nível radicados no exterior.

No caso do projeto liderado por Moran, a instituição paulista parceira é o Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Unicamp. Os principais resultados podem ser conferidos em:

Com o fim do projeto, que identificou alterações sociais, no uso do solo e na pesca das regiões impactadas pela construção das três hidrelétricas, Moran tem novos planos de pesquisa. “Agora vou buscar soluções que venham das populações locais. Tenho mais de 35 anos de pesquisas na Amazônia, focando principalmente em identificar os problemas. Estou iniciando um novo projeto, com financiamento internacional, sobre mudança climática, adaptação e mitigação, privilegiando conhecimento indígena e das populações tradicionais como os ribeirinhos, por exemplo. Vamos investigar em diversas regiões do mundo (entre elas Amazônia, Alasca, África Subsaariana, Peru e Tailândia) como as populações tradicionais estão procurando se adaptar às mudanças no meio ambiente e identificar as soluções que elas têm descoberto”, conta o pesquisador.

Leia abaixo a entrevista completa concedida por Moran à Agência FAPESP:

O projeto de pesquisa foi dividido em três eixos principais: impacto na pesca, impactos sociais e no uso do solo. O que os estudos mostraram?

Emilio Moran durante evento realizado na FAPESP em 2019. Foto: Reprodução/Agência FAPESP

Emilio Moran: Para começar, houve mudança no uso do solo nas bacias dos rios Madeira e Xingu por causa das hidrelétricas. Houve uma significativa redução da floresta e aumento das áreas de pastagem, ocorrendo, inclusive, perda de vegetação natural nas áreas próximas às hidrelétricas que deveriam estar protegidas. Os produtores rurais da região foram muito afetados. Houve redução da produção, pois eles precisaram migrar o plantio das áreas de várzea para as áreas de terra firme. A produção ficou escassa. A atividade de pesca também foi muito alterada. Nossos estudos mostraram que as barragens modificaram o fluxo dos rios, provocando migração e morte de peixes – o que, por sua vez, levou à diminuição da atividade pesqueira. Mudaram, portanto, as espécies capturadas, o que alterou a cultura e a economia da pesca como um todo. Vale lembrar que peixe é a base da alimentação das populações daquela região. Nas áreas urbanas, as consequências também foram muito preocupantes. Em Altamira, os Reassentamentos Urbanos Coletivos [RUCs], criados para abrigar populações deslocadas pela construção de Belo Monte, enfrentam interrupções frequentes no abastecimento de água, forçando a dependência de caminhões-pipa. Dá para imaginar uma população que tinha uma relação próxima com o rio, numa espécie de mundo aquático, depender de caminhão-pipa? A infraestrutura urbana também não acompanhou o crescimento populacional, resultando em problemas de segurança pública, coleta de lixo e também de saúde. Uma investigação nossa mostrou que há uma insegurança alimentar espantosa nessas regiões. Mais de 69% dos responsáveis por domicílios em Altamira responderam experimentar dificuldades de acesso à quantidade desejada de alimento após Belo Monte. Isso tudo é muito grave, principalmente se levarmos em conta que a construtora afirma ter investido R$ 6,5 bilhões em ações socioambientais na região. Ao contrário do prometido, houve uma piora muito grande nas condições de vida e socioambientais nessas duas regiões.

O projeto de pesquisa foi dividido em duas etapas. A primeira, durante a construção de Belo Monte, e a segunda em 2020, quando foram investigados os impactos mais duradouros, anos depois da construção de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio. Por quê?

Emilio Moran: Achamos que seria interessante verificar se os problemas de Belo Monte eram específicos de um projeto que sempre foi muito criticado por especialistas e ambientalistas ou se era algo ligado a grandes hidrelétricas na Amazônia no geral. Queríamos investigar se os mesmos problemas de Belo Monte também ocorreram em Jirau e Santo Antônio, e a resposta é sim. Belo Monte teve muito holofote por causa de um trabalho da população indígena local que reclamou bastante, mas Jirau e Santo Antônio, construídas muito próximas da capital Porto Velho, foram esquecidas pela mídia brasileira. Não se sabia o que estava acontecendo lá durante nem depois da construção. Por ser uma capital e duas hidrelétricas, foi até mais crítico que Belo Monte. Não houve preparação, teve muito mais inundação por causa de características do solo daquela região. Estudo realizado com base em sensoriamento remoto mostrou que só de área inundada foi o dobro do previsto. Pense nisso. Então, muita gente teve de mudar, ser reassentada num processo que nem sequer tinha sido previsto. Ou seja, a falta de planejamento está associada ao fato de nem sequer terem estudado os solos daquela região durante a elaboração do projeto de engenharia. Estudos desse tipo, com prazo de dez anos, são raríssimos. Ainda mais sobre hidrelétricas. Tem pouco estudo com tanto nível de detalhamento que acompanhou as pessoas atingidas pelas hidrelétricas.

Quando a pesquisa iniciou, Belo Monte já estava em obras. Isso comprometeu a análise?

Emilio Moran: Embora a pesquisa não tenha começado antes da construção de Belo Monte, eu já tinha os dados, pois trabalhava naquela área há muito tempo. Eu tinha feito uma pesquisa na área rural de Altamira, nos anos 1997, 1998 e em 2005 com os mesmos 402 produtores rurais que estudamos depois, em 2014 e 2023. Então, temos quatro pontos de dados – dois antes, um durante e outro depois da hidrelétrica –, o que permite comparar o impacto da usina sobre a agricultura, o uso da terra e a pesca. Na área urbana, por acaso, eu tinha feito uma pesquisa em Altamira meses antes do anúncio de Belo Monte, em 2010. Além dessa pesquisa prévia, realizamos, em 2014, entrevistas em 500 domicílios na cidade de Altamira, nos mesmos setores censitários que eu havia pesquisado anteriormente, para saber qual foi o impacto sobre essas famílias no período de construção da hidrelétrica e depois que ela estava pronta. Dessa forma, temos dados de antes, durante e depois de Belo Monte. Isso também é algo muito raro de se ter. A demografia é algo muito importante, pois um dos impactos foi a chegada de muita gente. Chega muito dinheiro também e a nossa pergunta sempre é: o que fica para a região? A cidade de Altamira tinha uma economia boa antes de Belo Monte. Eram 85 mil habitantes e a população quase dobrou com a obra. Temos tudo isso mapeado. Infelizmente, como o Censo ocorre a cada dez anos, seria até possível pensar que não ocorreu nada, pois um ocorreu em 2010 – um pouquinho antes da construção – e depois a outra edição atrasou e foi feita apenas em 2021. Então, poderia se perder essa janela de dados sobre os impactos de Belo Monte. Felizmente, temos dados primários que não dependem do Censo, como, por exemplo, os dados de satélites.

O senhor considera que a construção das três hidrelétricas foram uma solução para aumentar a oferta de energia renovável no país?

Emilio Moran: Em Belo Monte, por exemplo, embora a capacidade instalada seja de 11 GW, a energia comercializada é de apenas 4 GW. Bom, agora, com a seca na Amazônia, não se está produzindo nada. Foi por conta de todos esses problemas que pararam de construir hidrelétricas na Europa e nos Estados Unidos nos anos 1970. Depois de três décadas de construção intensa, decidiram que o custo social e ambiental era muito elevado e na década de 1970 já não se construíram mais projetos do tipo nesses países. Foi então que o setor hidrelétrico se mudou para o Sul Global e grandes obras passaram a ser realizadas na Tailândia (rio Mekong), China, América do Sul e também na Amazônia. Então, a pergunta que fica é como um setor que foi abandonado em uma grande parte do mundo, por causa dos impactos sociais e ambientais, segue fortalecido em outros países. E no Sul Global é ainda pior, principalmente porque a biodiversidade é muito maior: um rio no Norte costuma ter 20 espécies de peixes, em média, enquanto o rio Madeira tinha 1.048 espécies antes das hidrelétricas e 30% dessa diversidade foi perdida em menos de dez anos de construção.

Uma das conclusões do projeto de pesquisa é que Belo Monte, Jirau e Santo António foram oportunidades perdidas. Por quê?

Emilio Moran: Porque os projetos de engenharia previam uma série de benefícios para a população local, com promessas de melhorias em saneamento, tratamento e distribuição de água e esgoto, saúde e educação. Mas, depois da construção da hidrelétrica, pouco ficou: houve uma explosão de violência e alta dos preços, a agricultura colapsou e os rios perderam até 30% dos peixes – aqueles bagres enormes de 100-200 quilos desapareceram, por exemplo. Até hoje a estrutura de água e esgoto e o novo hospital de Altamira não foram entregues. Até a energia elétrica ficou mais cara. Enquanto uma família paga em São Paulo cerca de R$ 300 de conta de luz, em Altamira ela custa R$ 1.500 pelo mesmo consumo. Portanto, o que ficou dessas obras para a região? Nada. Não houve o desenvolvimento regional prometido, até porque as etapas das obras iam avançando sem que as obrigações impostas para a empresa (as chamadas condicionantes) fossem cumpridas.

O senhor afirmou, em uma palestra realizada na FAPESP, que existe um colonialismo interno do Brasil em relação à Amazônia. O que isso quer dizer?

Emilio Moran: Todas as estratégias de operação na Amazônia nos governos militares tinham a hidrelétrica ou a construção de estradas como fundamentais para a criação do ‘Brasil gigante’ que eles queriam – o desejo de expansão econômica enorme e de ocupar a Amazônia para desenvolver o país. O bordão ‘integrar para não entregar’ era um dito da época promovido na imprensa. Era a estratégia da solução única. Mas, depois de 20 anos da época militar, ninguém, nenhum governo subsequente questionou aquela estratégia colonial, de desenvolvimento acima de tudo, acima dos direitos das pessoas. Foi uma estratégia autoritária. Um país democrático poderia ter um pouco mais de discussão nesse sentido, levando em conta que tipos de solução e qual justiça social se quer. No caso das três hidrelétricas que estudamos, a população poderia ter sido consultada. Um fato bastante chocante foi que, antes da construção das três hidrelétricas, houve um painel de especialistas que, naquela época, elencou tudo o que aconteceu. Eles alertaram que haveria problema com a sedimentação do rio Madeira (onde estão localizadas as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio), com a produção de energia de Belo Monte, pois o rio Xingu varia muito de nível na época de seca e chuvosa e que sua nascente fica no Mato Grosso, uma área de cerrado cada vez mais desmatada para o plantio da soja.

E, com o término deste projeto, quais são seus planos?

Emilio Moran: Eu sempre digo que um projeto de pesquisa nunca acaba. Apenas termina uma fase. Estou trabalhando há 52 anos na Amazônia. Comecei meus estudos na [rodovia] Transamazônica como estudante de doutorado e continuei voltando para a região sempre. Tenho tido muita sorte por ter 32 anos contínuos de financiamento para pesquisas na Amazônia. Agora eu vou buscar soluções envolvendo as populações locais que quase sempre são esquecidas no planejamento para o ‘desenvolvimento’. Tenho muitos anos de pesquisas na Amazônia, focando principalmente em encontrar os problemas e os gargalos do desenvolvimento. Estou iniciando um projeto, com financiamento internacional, sobre mudança climática e adaptação e mitigação, privilegiando conhecimento indígena e populações tradicionais. Vamos investigar em diversas regiões do mundo [entre elas Amazônia, Alasca, África subsaariana, região andina do Peru e Tailândia] como as populações tradicionais estão procurando se adaptar às mudanças no meio ambiente, privilegiando o que elas querem e as soluções que têm encontrado.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Fapesp, escrito por Maria Fernanda Ziegler

Terra Indígena Karajá preserva 70% do território com operação de combate a incêndio

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Foto: Divulgação/Funai

Entre os dias 10 e 22 de setembro, uma operação emergencial de combate a incêndios foi realizada na Terra Indígena Karajá de Aruanã II, situada no município de Cocalinho, Mato Grosso. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), por meio da Coordenação Técnica Local de Goiânia (CTL-GYN), prestou suporte logístico e operacional para combater o fogo. A ação garantiu a preservação de cerca de 70% da área total de mais de 893 hectares, essencial para a subsistência da comunidade Karajá.

A Terra Indígena Karajá de Aruanã II fornece recursos para atividades de pesca, caça, coleta e extração de materiais usados no artesanato e construções tradicionais. No entanto, o território tem se tornado cada vez mais vulnerável ao fogo. O incêndio, iniciado em focos provenientes de Mato Grosso e Goiás, representava uma ameaça significativa para a terra indígena.

Com o monitoramento ativo da unidade descentralizada da Funai em Goiânia, a ameaça foi identificada no dia 10 de setembro, permitindo uma resposta rápida. Em menos de 12 horas, a Funai acionou o Prevfogo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Uma equipe de cinco brigadistas que atuava na Chapada dos Veadeiros foi deslocada de Alto Paraíso de Goiás para a cidade de Aruanã (GO), iniciando os trabalhos de campo em 13 de setembro. A operação contou também com o apoio da comunidade indígena Karajá, que ajudou a guiar a equipe aos pontos críticos.

Durante a ação, foram realizadas atividades como abertura de picadas (criação de trilhas ou caminhos estreitos em áreas de mata ou floresta densa, geralmente para facilitar o deslocamento de pessoas, animais ou até veículos em regiões onde o terreno é de difícil acesso), limpeza de áreas, criação de aceiros e combate direto às chamas.

Com a colaboração do SESI, que ofereceu alojamento, e da Prefeitura de Aruanã, que forneceu alimentação, a operação foi um exemplo de articulação intersetorial bem-sucedida. Ao final, aproximadamente 20 km de linhas de defesa foram abertas, permitindo a contenção do incêndio e preservação de uma grande parte do território, mesmo com as áreas rurais ao redor gravemente afetadas.

Apesar do sucesso, a ameaça de novos focos de incêndio persiste, devido às condições climáticas do Cerrado, como alta temperatura, baixa umidade e ausência de chuvas. A Funai, junto com a comunidade indígena e parceiros locais, segue monitorando a região, especialmente a Terra Indígena Karajá de Aruanã III, localizada em Goiás, para evitar novos incidentes.

*Com informações da Funai