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Censo 2022 aponta que índice de alfabetização entre indígenas sobe, mas segue preocupante

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Ivo Yanomami, liderança local, conversa com funcionário da Funai na Maloca de Xerimifique, em Surucucu. Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

Quase 85% da população indígena brasileira (1 milhão das 1,2 milhão de pessoas indígenas de 15 anos ou mais de idade) sabiam ler e escrever um bilhete simples, no idioma que conhecem – ou seja, eram consideradas alfabetizadas. O índice representa um aumento na comparação com 2010, quando foi de 76,6%. A taxa de alfabetização entre indígenas, entretanto, segue abaixo da média nacional, de 93%.

A constatação faz parte de um suplemento do Censo 2022, divulgado no dia 4 de outubro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O levantamento apurou informações de alfabetização, registro de nascimento e características de domicílios de 1.694.836 pessoas indígenas (0,83% da população brasileira), sendo 622.844 vivendo em terras indígenas (TIs) e 1.071.992 fora de território demarcado.

O critério usado pelo IBGE para uma pessoa ser considerada indígena foi a autodeclaração, ou seja, a forma como a pessoa se reconhece.

“A gente tem duas perguntas para capturar o pertencimento indígena. A primeira: ‘sua cor ou raça é branca, preta, amarela, parda ou indígena?’. E aí, caso a pessoa esteja em uma localidade indígena e tenha respondido que a cor ou a raça dela é branca, preta, amarela ou parda, a gente faz uma pergunta de cobertura, que é ‘você se considera indígena?'”, explica a coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais, Marta Antunes.

Analfabetismo

Enquanto a população brasileira como um todo tem taxa de analfabetismo de 7%, entre os indígenas é mais que o dobro, 15,05%.

Nas terras indígenas, o índice sobe para 20,80%. Isso representa um em cada cinco indígenas moradores dessas localidades.

No censo anterior, de 2010, a taxa era maior em todos os grupos: 9,62% para o total da população, 23,40% para os indígenas e 32,30% para os que viviam em TI.

Os dados de 2022 revelam que – em todos os grupos – quanto maior a faixa etária, maior a proporção de analfabetismo.

Na população indígena, enquanto a faixa etária de 15 a 17 anos tem índice de 5,55%, entre os com mais de 65 anos alcança 42,88%. Dentro das TIs, os percentuais são 9,13% e 67,90%, respectivamente.

Outro destaque apontado pelo Censo 2022 é que os indígenas que vivem nas regiões Norte (15,27%) e Nordeste (18%) apresentam taxa de analfabetismo superior à média de todos os indígenas do país (15,05%).

O mesmo comportamento regional se observa em relação aos indígenas que vivem em TI. A taxa nacional é 20,80%, contra 23,01% no Norte e 23,74% no Nordeste.

Habitação

Em todo o país, o Censo 2022 contabilizou 72,4 milhões de domicílios particulares permanentes ocupados. Desses, 630.428 têm pelo menos um morador indígena, o que corresponde a 0,87% do total.

De todos os moradores desses mais de 630 mil endereços, 73,44% são indígenas, ou seja, há coabitação com pessoas de outras cores e raças.

O IBGE identificou que dos domicílios com ao menos um indígena, 91,93% são casas, patamar superior à média da população brasileira (84,78%). Em apartamentos são 3,51%, enquanto na população geral a proporção é 12,51%.

Nas terras indígenas, 8,15% dos domicílios foram classificados como “habitação indígena sem paredes ou maloca”. As malocas, também conhecidas como palhoça, choupana, entre outras denominações, podem ser feitas de taquaras e troncos, cobertas de palmas secas ou palha e outros materiais e podem ser utilizadas como habitação por várias famílias.

Para avaliar as características dos domicílios indígenas, o IBGE apurou detalhes sobre abastecimento de água; existência de banheiro; esgotamento e destino do lixo. Os recenseadores buscaram informações se a água chega aos endereços por rede de abastecimento ou poço, por exemplo; se havia coleta regular de lixo ou se era queimado ou enterrado; e se o esgoto era coletado pela rede geral, fossa ou despejado precariamente.

A análise não foi feita em relação às habitações indígenas sem paredes ou malocas. “A gente não espera encontrar banheiros de uso exclusivo e alguns tipos de soluções de saneamento básico. Esses domicílios demandam soluções muito diferenciadas”, justifica Marta Antunes.

Precariedades

Em relação ao abastecimento de água, 93,97% da população brasileira tinham distribuição até dentro do domicílio, seja por rede geral, poço, fonte, nascente ou mina encanada. Entre os indígenas, o percentual cai para 63,21%. Nas terras indígenas, a redução é ainda maior, ficando apenas 30,76% dos moradores com abastecimento dentro de casa.

A pesquisa censitária revela que apenas 0,5% dos domicílios do país não tinha sanitário. Entre os domicílios indígenas, eram 5,06%. Especificamente em terra indígena, 18,46%.

Crianças nos arredores da Casa de Saúde do Índio, que presta acolhimento aos indígenas. Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

Nas terras indígenas, 85,42% dos moradores tinham esgotamento por fossa rudimentar, buraco, vala, rio, córrego, mar ou outra forma inadequada. Entre o total de indígenas, a marca era 60,17%, enquanto na população geral se reduzia a 23,82%.

Cerca de 90% dos brasileiros contavam com coleta direta ou indireta de lixo. Entre os indígenas essa proporção recuava para 55,27%. Nas terras indígenas o número era ainda menor, 13,78%.

Em 342 mil domicílios particulares permanentes onde vivem 69,12% dos indígenas (1,1 milhão), havia ao menos uma precariedade ligada a abastecimento de água, destinação de esgoto ou destinação do lixo.

No conjunto total da população, a proporção era 27,26% convivendo com alguma das três inadequações. Dentro das terras indígenas, a proporção chegava a 95,59%.

Ao contabilizar moradores que conjugam as três formas de inadequações, o IBGE encontra 107.463 domicílios, onde residem 470 mil pessoas indígenas (28,82% dos indígenas do país). Nas terras indígenas, o percentual sobe para 62,23% dos moradores. No total da população brasileira, são 2,97%.

Registro de nascimento

O IBGE coletou também informações sobre o registro de nascimento, procedimento burocrático que oficializa a pessoa como cidadã. O instituto perguntou aos indígenas se os moradores com até 5 anos foram registrados em cartório ou pelo Registro Administrativo de Nascimento Indígena (Rani), emitido pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Entre os indígenas, 89,12% têm registro em cartório, 4,97% têm Rani, 5,42% não são registrados e 0,49% não souberam responder ou ignoram.

Nas terras indígenas, o percentual de moradores com registro em cartório recua para 85,53%, enquanto 5,51% têm Rani, 8,34% não foram registrados e 0,63% não sabem ou ignoram.

Na população brasileira como um todo, há praticamente uma universalização, com 99,26% registrados em cartório.

*Com informações da Agência Brasil

Eu Amazônia: Rede Amazônica lança nova ferramenta de interação com telespectadores

Foto: Divulgação

O Grupo Rede Amazônica lançou uma nova ferramenta de interação com telespectadores, o aplicativo Eu Amazônia“. A plataforma visa criar um ambiente onde todos os espectadores possam participar e interagir, com mensagens que vão desde saudações até denúncias.

De acordo com o diretor de Tecnologia do grupo, Eduardo Lopes, a ideia surgiu após observar o aumento da interatividade onde a população, por muitas vezes, compartilha opiniões que refletem o que outros também pensam sobre as notícias.

“Muitas pessoas participam dos nossos telejornais e programas, mas nem sempre conseguimos colocar tudo no ar por conta do tempo limitado. Então criamos essa rede social para conectar a Rede Amazônica com nosso público”, explicou.

Foto: Reprodução/Google


O diretor de Tecnologia também ressaltou a importância do aplicativo para ampliar a cobertura de notícias.

Pelo aplicativo, será possível enviar textos, fotos e vídeos. Ainda conforme o diretor, o diferencial é que todo o conteúdo enviado será verificado pela equipe de jornalismo, garantindo que as informações compartilhadas sejam reais e checadas.

O aplicativo “Eu Amazônia” já está disponível para Android e iOS.

Rio Amazonas chega ao menor nível já registrado em Itacoatiara, no Amazonas

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Seca em Itacoatiara é a maior desde o início do registro, em 1996. Foto: Liam Cavalcante/Rede Amazônica AM

O Rio Amazonas chegou a 32 centímetros no município Itacoatiara, no Amazonas. Nesta sexta-feira (4), o nível das águas secou 9 centímetros e o rio já registra a pior seca da cidade em 26 anos de medição.

O nível das águas é monitorado no município pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) desde 1998, e nunca havia chega a um nível tão baixo. A cota recorde superou a seca do ano passado, quando o rio atingiu 36 centímetros, no dia 26 de outubro de 2023.

A estiagem no município já afeta mais de 28 mil pessoas, cerca de 7 mil famílias, de acordo com o Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID).

Segundo a Coordenadoria da Defesa Civil de Itacoatiara, mais de 100 comunidades estão isoladas devido a seca histórica. Os moradores enfrentam dificuldades para se locomover, e principalmente ter acesso a água potável.

Seca no Amazonas

Além de Itacoatiara, a seca também atingiu níveis históricos em Manaus. Na quinta-feira (3), o Rio Negro bateu o recorde ao ultrapassar a cota mínima de 12,70 metros, registrada em 2023. Na manhã do dia 4, o rio marcou 12,66 metros.

Leia também: Pior seca da história: Rio Negro atinge 12,66 metros em Manaus

Em Tabatinga, na região do Alto Solimões, o Rio Solimões está em -1,98 metros. O registro é de quinta-feira (3). Dados da Defesa Civil apontam que o rio tem descido, em média, 5 centímetros por dia, no último mês. A cidade vive sua pior seca da história.

Na cidade de Coari, na região do Médio Amazonas, o rio mede 1,54 metros. O registro é do dia 17 de setembro, última atualização da Defesa Civil do local.

Em Parintins, no Baixo Amazonas, o Rio Amazonas está em -2,05 metros. O cenário também é crítico na região, segundo o estado.

Em Itacoatiara, o mesmo Rio Amazonas está medindo 0,41 centímetros. A cidade recebeu um porto flutuante, onde os navios cargueiros, que atendem as empresas do Polo Industrial de Manaus, transferem suas mercadorias para balsas que ainda conseguem chegar na capital amazonense.

No município de Humaitá, o Rio Madeira segue em 8,20 metros. O rio desceu uma média de -4 centímetros por dia.

*Por Liam Cavalcante, Rede Amazônica AM

‘Vem pra Amazônia’: videoclipe de artista acreano homenageia belezas naturais e povos ancestrais

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Foto: Manoelzinho do Acre/Arquivo pessoal

‘Vem pra Amazônia’. Este é o nome do videoclipe do artista acreano Manoelzinho do Acre, natural de Cruzeiro do Sul, no interior do estado. O vídeo, que estreou há quase duas semanas, busca trazer referências aos povos ancestrais, bem como homenagear a cultura e as belezas naturais do estado mais ocidental do Brasil.

O projeto, desenvolvido por meio de um fundo para a cultura e com apoio da Lei Paulo Gustavo, conta com a participação da banda Swing da Mata e do secretário municipal de Cultura, Aldemir Maciel e é inserido no contexto amazônico.

A letra aborda aspectos particulares da Amazônia e mais especificamente do Acre, além de estender o convite a todos os continentes para participar do ritual ahayuasca.

O artista, que adotou o codinome Uira para este primeiro trabalho, é autodidata, tem 45 anos e é artista há três décadas. Licenciado em Música pela Universidade de Brasília (UnB), é autor de mais de 100 canções autorais que retratam o dia a dia do acreano E vem da linhagem do Samba, Música Popular Brasileira (MPB), Bossa Nova e do Jazz.

*Por Renato Menezes, da Rede Amazônica AC

Meteorologista explica que tempestade no Amapá foi causada por alterações em furacão no Atlântico

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Foto: Reprodução/Rede Amazônica AP

A forte tempestade que atingiu Macapá (AP) na madrugada do dia 3 de outubro, estava prevista para acontecer. O que não se esperava era a intensidade de raios e trovões que assustaram os moradores por conta da grande proporção.

O fato aconteceu por conta de alterações no furacão ‘Kirk’ e na tempestade tropical ‘Leslie’ no Oceano Atlântico, que caminham para um encontro rumo à Europa. Apesar de irem para o sentido oposto, os furacões deixam consequências no Norte e Nordeste do Brasil, segundo a meteorologia.

A situação do furacão Kirk, pode ser acompanhada de forma online. Através do site, é possível visualizar a data de início do fenômeno e previsão para o fim. Meteorologistas afirmam que não há riscos da terra ser atingida, mas as proximidades vão sofrer as alterações climáticas.

Imagem: Accuweather Hurricane

Furacão Kirk

O furacão Kirk é o motivo da maior parte das alterações climáticas imprevistas que acontecem nas regiões Norte e Nordeste. Esse furacão pretende subir rumo à costa oeste da Europa, mas os ‘rastros’ que o fenômeno deixa por onde passa, causam inúmeros problemas para a população.

O meteorologista do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), Jefferson Vilhena, disse que os ‘resquícios’ do furacão atingem as regiões Norte e Nordeste do Brasil, especificamente os estados do Amapá, Pará, e Maranhão.

O furacão iniciou há 836 quilômetros a sudoeste do extremo sul das Ilhas de Cabo Verde, e possuía ventos máximos sustentados de 64 km/h.

O meteorologista explicou ainda que os ventos que deveriam chegar ao Amapá através do oceano, agora são provenientes da Amazônia, o que resulta na propagação dos aglomerados que estão acontecendo no estado do Amazonas e Pará, facilitando os conflitos climáticos, como os dois redemoinhos de poeira registrados em interiores do Amapá, dentro de 48 horas.

Tempestade tropical ‘Leslie’

Outro fator contribuinte para a alteração é o fenômeno ‘Leslie’, que chega pela direção do Rio Grande do Norte, os dois fenômenos estão em proximidade.

“Ele tem a latitude de aproximadamente 5 a 6 graus. E ele está muito próximo do Kirk, então esses dois furacões, eles começam a influenciar bastante a configuração dos ventos do Nordeste”, disse o meteorologista.

Com os furacões indo de encontro um ao outro, os fenômenos seguem para o norte do planeta, o que influencia cada vez menos a região atualmente afetada no Brasil. Além disso, há a detecção de mais furacões aos redores dos Estados Unidos da América.

“Tem um sistema de frente fria e baixa pressão localizado mais ao norte ainda, já próximo dos Estados Unidos, que está se intensificando e provavelmente deve formar um outro furacão. Ele ainda está sendo classificado como tempestade tropical, mas esses sistemas estão para o hemisfério norte. O que nós temos aqui sobre a América, principalmente no Brasil, Suriname Guiana Francesa”, contou o meteorologista.

A previsão é que nos próximos dias, haja menos estiagem e mais eventos fortes de chuvas, não somente na capital do Amapá, mas também nos interiores. Apesar da gravidade do fenômeno, os meteorologistas afirmam que não há risco de nenhum território ser atingido diretamente, e o furacão deve cessar ainda no Oceano Atlântico, antes mesmo de chegar à Europa.

Além dos furacões, a intensificação das chuvas se dá também pelo de fenômeno ‘La Niña’, um resfriamento anormal nas águas do oceano que altera a temperatura de vários locais no mundo. Até o final de outubro, o Amapá segue sofrendo com choques climáticos, devido ao fenômeno de ventos frios colidir com as altas temperaturas da estiagem.

*Isadora Pereira, da Rede Amazônica AP

Indígenas do Oiapoque criam cartilha para uso responsável do fogo

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Imagem: Reprodução/Cartilha ‘Fogo: Usos e Cuidados’

O fogo é um elemento importante e tradicional no cotidiano dos povos indígenas. É usado para a abertura de roças e de caminhos, para o preparo dos alimentos, para a produção de cerâmica e de canoas, entre outros exemplos. Mas controlá-lo é crucial para evitar incêndios que colocam em risco as comunidades, a fauna e os recursos naturais, como rios e florestas.

Em tempos de mudanças climáticas, o manejo do fogo torna-se mais desafiador. Sem contar com os casos de focos de incêndios criminosos perto das aldeias. Neste cenário foi publicada a cartilha ‘Fogo: Usos e Cuidados‘, iniciativa dos Agentes Ambientais Indígenas do Oiapoque-AP (conhecidos como Agamin), em parceria com a AMIM.

O objetivo é a sensibilização por meio de ilustrações, histórias e explicações de como o fogo é usado e como manejá-lo para evitar que se alastre. Além do português, está traduzido nas três línguas dos povos indígenas do Oiapoque (kheuól galibi marworno, kheuól karipuna e parikwaki).

“Traduzimos para acessar mais as crianças e jovens que não falam português. É importante falar na língua materna para entenderem bem”, conta Adilaudo dos Santos, Agamin do povo Karipuna.

Educação ambiental e informação sobre o fogo

A educação ambiental nas escolas é uma ferramenta importante no combate aos focos de incêndio. Portanto, as cartilhas serão entregues nas escolas indígenas das TIs do Oiapoque e os professores poderão usá-las como material didático. “Fizemos a cartilha para distribuir nas escolas e comunidades para mostrar como é preocupante esse tipo de queimada descontrolada. Os jovens estão crescendo e podem ajudar a evitar o fogo”, conta Adilaudo .

A cartilha também será apresentada em reuniões das comunidades para que as pessoas reflitam sobre os grandes impactos ambientais que o fogo pode causar na terra indígena.

“Hoje, nós Agamin precisamos do apoio de todas as comunidades indígenas da região do Oiapoque, para evitar os incêndios descontrolados, pois se o fogo continuar queimando, com certeza a fauna e a flora vão enfraquecer e isso é um grande problema. Não queremos perder nossa biodiversidade!”, diz um trecho do material.

Antes mesmo de ter a cartilha em mãos, Adilaudo vem se dedicando a visitar escolas e promover atividades de sensibilização. “Falei com os alunos sobre o fogo e o que ele traz de prejuízo. As professoras pediram para a gente voltar porque gostaram muito da atividade”, conta Adilaudo.

Atividades nas escolas, com explicações sobre a necessidade de respeitar o fogo. Foto: Agamin

Aumento nos focos de incêndio no Oiapoque

A ideia da cartilha surgiu durante o curso de formação dos Agentes Ambientais Indígenas, quando notaram o aumento dos focos de queimadas no Oiapoque. Em 2023, o fogo consumiu 48 mil hectares dentro das Terras Indígenas da região.

Rafael Monteiro Hortêncio, Agamin do povo Galibi Marworno, conta que acompanhou nos satélites as queimadas no verão. “Vimos que está aumentando. Muitas das aldeias estão em campos alagados, mas tem pessoas de fora [não-indígenas] que colocam fogo nas proximidades e o fogo alcança as aldeias”, conta.

Fazer o manejo do fogo é fazer o uso controlado dele. O Prevfogo indígena também deve ser parceiro para a queima controlada das roças e campos, para evitar que o fogo se espalhe.

Muitos focos de incêndio são de origem criminosa de pessoas que queimam áreas de fazenda ou para abrir caminhos perto da Rodovia BR 156, onde ficam várias aldeias no Oiapoque. Rafael se lembra de uma vez que presenciou um não indígena ateando fogo em uma área próxima à sua comunidade. “O fogo chegou na minha aldeia e deu o maior prejuízo. O igarapé até secou”, conta.

Rafael ressalta, no entanto, que é importante sensibilizar todas as pessoas porque alguns podem não saber os riscos de acender pequenas fogueiras e não tomar cuidado. “Eu mesmo não tinha esse conhecimento e hoje eu tenho. Às vezes um cigarro, um picnic que você faz para assar um peixe, pode virar fogo que descontrola”, diz Rafael.

Os Agamin pretendem colocar placas em pontos estratégicos da rodovia alertando sobre a irregularidade do fogo e para coibir invasões nas Terras Indígenas.

Mudanças climáticas

Os Agamin também destacam na cartilha que um perigo a mais em relação aos incêndios são as mudanças climáticas, que tornaram os verões mais quentes e secos, facilitando que o fogo se alastre sem controle.

Rafael lembra do estudo dos marcadores do tempo (LINK), em que explicam como perceberam que as estações estão mais descontroladas. “Não sabemos mais o dia que vai chover, então fica mais perigoso manejar o fogo e não conseguir controlar”, diz o Agamin marworno.

*Com informações do Iepé

Países vizinhos afetam eleição municipal nas fronteiras do Brasil; entenda como afeta a Amazônia

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Crianças brincam em marco da fronteira entre Brasil e Venezuela. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Para cerca de 11 milhões de brasileiros, a eleição municipal é também um assunto internacional, uma vez que essas pessoas vivem em cidades localizadas na chamada faixa de fronteira. A área representa 16% do território nacional, com largura de 150 quilômetros a partir da linha que divide o Brasil dos seus dez vizinhos sul-americanos.

Especialistas destacam que a realidade municipal da fronteira tem uma dimensão internacional que exige dos prefeitos e vereadores capacidade diplomática e boa articulação com os governos federal e estadual.

Existem 588 municípios dentro da faixa de fronteira. Desses, 124 cidades estão na linha que divide o Brasil da Venezuela, do Paraguai, da Bolívia, da Argentina, entre outras nações. Além disso, no Brasil há 33 “cidades-gêmeas”, que são municípios com forte integração com uma cidade do país vizinho.

São cidades-gêmeas, por exemplo, Guajará-Mirim (RO) e Guayaramerín, na Bolívia; Ponta Porã (MS) e Pedro Juan Caballero, no Paraguai; e Pacaraima (RR) e Santa Elena de Uairén, na Venezuela.

Leia também: Saiba quais cidades-gêmeas são encontradas na Amazônia Internacional

Por sua condição de vizinhos de outros países, os municípios de fronteira enfrentam desafios próprios como imigração, contrabando internacional, forte presença do crime organizado, ausência de projetos de desenvolvimento econômico local e alta evasão escolar.

Imigração e moradia

As políticas municipais para moradia popular podem resolver os problemas que a imigração trouxe ao estado de Roraima (RR), avalia a agricultora familiar Maria Ferraz de Matos, de 53 anos. Ela coordena a Cozinha Solidária no estado, projeto do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) que oferece refeições gratuitas para pessoas em situação de pobreza.

O intenso fluxo migratório tem acirrado os ânimos entre brasileiros e venezuelanos em Roraima. “O brasileiro fica chateado porque acredita que os venezuelanos têm mais direito do que ele. Muitas vezes tenho que mediar conflitos entre os dois grupos”, diz Maria Ferraz.

Para a coordenadora, as prefeituras devem promover políticas de moradia que ajudem tanto os brasileiros quanto os venezuelanos. “Tem muita terra aqui que poderia ser usada para política de moradias. Porém, como os venezuelanos não votam, parece que os candidatos não se preocupam com eles”, avalia.

Promover políticas para moradia é um dever constitucional que também é dos municípios, como determina o Artigo 23 da Constituição brasileira.

Integração latino-americana

O parágrafo único do Artigo 4º da Constituição, dispositivo que define os princípios das relações internacionais do país, afirma que o Brasil “buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”.

O professor Tomaz Espósito destaca que a integração é diária nos municípios de fronteira e sugere que as prefeituras promovam projetos para que a população brasileira possa ser atendida no país vizinho e vice-versa.

“Na fronteira do Brasil com o Uruguai já vimos projetos em que há troca de oferta de serviços médicos, com brasileiras indo realizar tomografia no Uruguai e uruguaios realizando hemodiálises no Brasil. Pode-se criar arranjos para que a fronteira deixe de ser apenas um obstáculo e se torne de fato a integração. O Brasil começa na fronteira”, diz o especialista.

Para o presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf), Luciano Stremel Barros, os municípios sozinhos não têm estrutura financeira e administrativa para enfrentar os graves problemas das fronteiras brasileiras e, por isso, as autoridades locais devem ter boa capacidade técnica e de gestão.

“O principal ponto é buscar gestores que tenham capacidade ou que possam, em conjunto com a sociedade, ter condições técnicas mínimas para trabalhar aspectos legislativos e administrativos. O tanto que o país perde em corrupção ele perde também com má gestão”, avalia o presidente do Idesf, com sede em Foz do Iguaçu (PR), na fronteira com o Paraguai.

*Com informações da Agência Brasil

Parasitas que transmitem doença encontradas no sauim-de-coleira são analisados no Amazonas

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Foto: Marcelo Gordo/Acervo pessoal

O sauim-de-coleira (Saguinus bicolor) é uma espécie altamente ameaçada de extinção e que vive muito próximo da população humana de Manaus (AM). Compreender o risco para a saúde pública dos parasitas de filárias zoonóticas (vermes que podem transmitir doenças) e eleger as opções de tratamento que possam reduzir o risco desses parasitas para a população humana e para a população de sauins, bem como auxiliar na conservação do sauim-de-coleira são objetivos de uma pesquisa apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Amparado via Programa Universal Amazonas, o estudo intitulado ‘Detecção e caracterização de filárias zoonóticas em sauim de coleira (Saguinus bicolor), e avaliação do risco para saúde pública’ detectou a bactéria Wolbachia e outros parasitas filariais. A presença das filárias são mais uma ameaça à população de sauins, que já é uma espécie afetada pela perda do seu habitat natural, em virtude do desmatamento das áreas verdes de Manaus.

A coordenadora do estudo e doutora em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses, Alessandra Ferreira Dales Nava, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), afirmou que as filárias que foram encontradas nos animais analisados já foram encontradas em outros primatas.

Os sauins-de-coleira são primatas encontrados somente em Manaus, Rio Preto da Eva e Itacoatiara (distantes 57 e 176 quilômetros da capital, respectivamente) e que, muitas vezes, morrem atropelados ou eletrocutados.

Depois, esses animais são levados ao “Projeto Sauim-de-coleira”, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde são realizadas necropsias pela equipe, a fim de procurar o parasita adulto, que geralmente é encontrado na cavidade abdominal (área da barriga). Além da coleta de sangue, quando possível.

Nos animais vivos recebidos pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que também são vítimas de atropelamento e desmate de áreas, são coletadas amostras de sangue para a realização de exames, a fim de detectar o parasita.

Alessandra Nava aponta ainda que a melhor estratégia é entender quais os vetores envolvidos na transmissão e compreender sobre as áreas de maior ocorrência. Os animais silvestres são ótimos sentinelas de saúde ambiental, isto é, são espécies que podem indicar a circulação de um patógeno ou contaminante ambiental, possibilitando ao sistema de saúde a preparação para uma possível ameaça para saúde humana.

“Cada vez mais, a vigilância de patógenos com potencial zoonótico é estratégico para o Bioma Amazônico, para entendermos quais patógenos estão circulando e quais áreas são prioritárias para risco e quais alterações na paisagem (desmatamento, ocupações humanas) podem aumentar esses riscos”, disse ela.

*Com informações da Agência Amazonas

Conheça o município de Rondônia onde um único voto pode eleger o prefeito em 2024

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Prefeitura de Corumbiara. Foto: Jonatas Boni/g1 Rondônia

O município de Corumbiara (RO) viverá uma situação curiosa na eleição deste domingo (6): apenas um voto será suficiente para eleger o prefeito da cidade. Isso acontece porque há apenas um candidato concorrendo ao cargo, o que garante a vitória mesmo que apenas o próprio candidato vote.

Já nas eleições para vereador, 49 candidatos concorrem às 9 cadeiras disponíveis na Câmara Municipal de Corumbiara, segundo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Segundo a Lei Eleitoral número 9.504/1997, é eleito para o cargo de prefeito o candidato que obtiver a maioria dos votos válidos, sem contar os votos em branco ou nulos. Com apenas um concorrente, a vitória é garantida assim que o primeiro voto válido for computado.

Leandro Vieira (União), atual prefeito de Corumbiara, é o único concorrente nas eleições de 2024. Ele nasceu em Umuarama (PR), tem 40 anos e possui ensino superior completo.

Vieira foi eleito pela primeira vez em 2020, quando obteve 48,29% dos votos válidos, em uma disputa com outros três candidatos: Laercio, Deocleciano da Dizal e Junior Marcon.

Corumbiara foi elevada à categoria de município em 1992. O nome da cidade é uma homenagem ao rio Corumbiara, que deságua no rio Guaporé, um importante afluente da região. Em 2022, o município tinha 7.519 habitantes, com uma densidade demográfica de 2,46 habitantes por quilômetro quadrado.

Corumbiara tem uma população estimada em 8.001 pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

*Com informações da Rede Amazônica RO

Seringueiros da Amazônia garantem renda de R$ 441 mil com borracha nativa

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Foto: Christian Braga

A primeira remessa da safra 2024/2025 de borracha nativa gerou mais 31,5 toneladas e R$ 441 mil de renda para famílias e associações de seringueiros dos municípios de Manicoré (a 347 quilômetros de Manaus) e Itacoatiara (a 270 quilômetros da capital), mesmo diante da grande estiagem que vem isolando comunidades e causando grandes prejuízos no Amazonas.

Desse total, mais de R$ 378 mil foram destinados aos seringueiros e mais de R$ 63 mil para as associações. Essa produção faz parte do projeto “Juntos pelo Extrativismo da Borracha” que incentiva a retomada da cadeia da borracha amazônica. É uma iniciativa do WWF-Brasil, em parceria com o Memorial Chico Mendes, Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), WWF-França, Michelin, Fundação Michelin e Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA).

As organizações de Manicoré que atuaram na coleta dessa borracha são: Associação dos produtores Agro-Extrativistas do Igarapezinho (APAIGA), Associação dos Moradores Agro-Extrativistas do Lago do Capanã-Grande (AMALCG), Associação de Moradores Agro-Extrativistas da Comunidade de Bom Suspiro, Associação de Moradores Agroextrativistas Nossa Senhora de Nazaré da Barreira do Matupiri. Já de Itacoatiara é a Associação dos Produtores e Criadores Extrativistas do Amazonas (APROCRIA).

Foto: Christian Braga

A produção sairá de balsa de Manaus em direção a Belém, capital do Pará, onde ocorre o transbordo da balsa para um caminhão, que segue em direção à Igrapiúna, na Bahia. O material retornará a Manaus como insumo para a fabricação de pneus de motocicletas e bicicletas.

A chegada da borracha em Manaus representa uma grande vitória, diante das dificuldades de navegação dos rios amazônicos com a seca histórica, que assola o Estado. Algumas associações, não conseguiram escoar suas produções, como a Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Município de Uarini (ATRAMP) – a 570 quilômetros da capital amazonense, que beneficia em torno de 80 famílias.

Eles produziram mais de oito toneladas de borracha, mas não conseguiram fazer o transporte da comunidade para a capital. Já as associações de Eirunepé produziram sete toneladas, que não podem sair de lá porque não há navegabilidade nos rios.

Natasha Mendes, Analista de conservação do WWF-Brasil, enfatiza que a iniciativa é um exemplo de geração de renda para as comunidades do Amazonas, incentivando práticas extrativistas sustentáveis para o território.

Os seringueiros que moram nas Reservas Extrativistas (Resex) envolvidas no projeto, de retomada da borracha, têm a compra garantida e negociada a um preço justo. Tanto que, na composição do preço da borracha vendida para a Michelin, é considerado não apenas o valor de mercado similar ao látex coletado em florestas plantadas no Brasil, mas também são adicionados bônus referentes à sustentabilidade, comércio justo e prestação de serviços ambientais como a conservação da Amazônia. Além disso, também é revertido um valor para manter funcionando a estrutura e a mobilização das associações envolvidas na iniciativa.

“O projeto vem como uma resposta e alternativa de modelo de desenvolvimento sustentável, que gera renda e inclui o pagamento por Serviços ambientais (PSA), além de reconhecer os saberes tradicionais das comunidades que trabalham com a coleta da borracha nativa. O fortalecimento da cadeia da borracha gera uma rede robusta que conecta pessoas, clima, biodiversidade, território, negócios e oportunidades”, explica Bruna Mesquita, Gerente de Sustentabilidade para a Michelin na América do Sul.