A atuação do presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), deputado estadual Roberto Cidade (UB), garantiu o início das obras emergenciais de recuperação na rodovia AM-240, importante eixo de ligação entre comunidades com a sede do município de Presidente Figueiredo. Conhecida como estrada da Vila de Balbina, a via enfrenta problemas estruturais como buracos, erosão e falta de sinalização.
Nesta quinta-feira, 10/7, o parlamentar recebeu na Casa Legislativa, um grupo de moradores, comerciantes e produtores rurais da região para prestar contas das providências tomadas e reforçar seu compromisso com a população da Terra das Cachoeiras. Cidade já havia solicitado, no dia 21 de maio deste ano, por meio de requerimento, a recuperação asfáltica, requalificação da sinalização vertical e horizontal, e a capinação das margens da rodovia.
O documento foi encaminhado ao Governo do Estado, à Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinfra) e ao Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (Detran-AM). No dia 1º, Cidade voltou a pedir ao Governo do Estado uma intervenção urgente na AM-240.
“Digo para vocês (representantes) que a AM-240 vai ficar do jeito que ela merece. Já tenho informações de que está sendo executada a operação de tapa-buraco e, em breve, vai sair a obra definitiva dessa estrada, por onde passam mais de 10 mil pessoas todos os dias. Essa resposta é resultado do nosso esforço, aqui do Poder Legislativo, da nossa articulação e da união com os moradores e lideranças locais que lutam pela melhoria da estrada”, afirmou o deputado.
Durante o encontro, Roberto Cidade fez uma videochamada com o secretário de Infraestrutura do Estado (Seinfra), Carlos Henrique Lima, que informou as medidas que estão sendo tomadas a curto prazo para mitigar os transtornos causados pelos buracos. Segundo ele, o projeto para a recuperação total da estrada está em fase de finalização e deve ser concluído até o início de agosto.
“Desde ontem (9/7), estão sendo realizados, de forma emergencial, trabalhos de tapa-buraco com alargamento da via em toda a estrada. Em paralelo a isso, nossa equipe está em processo de finalização do projeto que visa à total recuperação e restauração de toda a estrada, que está com muita erosão. Acredito que, no final de julho e início de agosto, este projeto esteja finalizado, para que possamos, assim, fazer a recuperação total da rodovia”, informou o secretário.
Roberto Cidade destacou a importância estratégica dessa iniciativa para o desenvolvimento local. “Desde o meu primeiro mandato, sempre fui comprometido com Presidente Figueiredo. Meu compromisso é com as pessoas que vivem e produzem naquela região”, declarou o parlamentar.
A atuação do deputado foi reconhecida por lideranças comunitárias. O produtor rural Fernando Silva, morador do KM 13 da estrada da Vila de Balbina, agradeceu ao presidente Roberto Cidade pela intermediação junto ao Governo do Estado.
“Quero agradecer ao deputado estadual Roberto Cidade. Nós vivemos lá na nossa comunidade da AM-240, buscando a melhoria para a trafegabilidade na via. Ele nos recebeu com atenção, ouviu nossas demandas e intermediou junto ao Governo do Estado. Agora estamos vendo a resposta acontecer. Sabemos que o governo vai continuar promovendo melhorias e, em breve, virá a recuperação da AM em sua totalidade”, disse o produtor rural.
Piscicultor na Comunidade São Salvador, no KM 26 da AM-240, o empresário Withan Laborda destacou que os anseios dos moradores e produtores ao longo da rodovia vão sair do papel. “Fomos bem recebidos e obtivemos, de concreto, que realmente fomos atendidos. Os nossos interesses em relação à AM-240 vão sair do papel. Isso é importante para todo o município de Presidente Figueiredo, sobretudo para quem vive e depende da AM-240”, frisou.
Além de fundamental para o transporte de cargas e pessoas, a estrada é também um importante corredor turístico, com acesso a mais de 200 atrativos naturais, como a Caverna do Maroaga, a Gruta da Judéia, a Cachoeira Santuário e a Pedra Furada, consolidando Presidente Figueiredo como um dos principais destinos do ecoturismo amazonense.
O mês de julho marca a realização da campanha ‘Julho Dourado‘, voltada à conscientização sobre a saúde animal e à prevenção de zoonoses. A iniciativa busca destacar a importância da vacinação e de cuidados preventivos para proteger os animais de estimação e a saúde pública.
Na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), a deputada estadual Joana Darc (UB) foi autora do Projeto de Lei nº 377/2022, que instituiu oficialmente o “Julho Dourado” no calendário estadual. A proposta foi aprovada e transformada na Lei Ordinária nº 6.193, de 3 de janeiro de 2023.
A campanha tem como objetivos principais: promover ações em prol da qualidade de vida de animais domésticos e de rua por meio de palestras, seminários, mobilizações e outras atividades educativas; incentivar a adoção de animais abandonados; e divulgar os princípios da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
A legislação também prevê a possibilidade de parcerias com a iniciativa privada, entidades civis e organizações não governamentais de proteção animal. Além disso, recomenda-se a decoração voluntária de prédios com luzes ou faixas douradas durante o mês, como forma simbólica de adesão à campanha.
A deputada Joana Darc destaca que o abandono de animais, além de ser um problema ético, representa risco à saúde pública.
“Além do sofrimento a que são submetidos, os animais abandonados podem transmitir zoonoses como raiva, esporotricose, leishmaniose, toxoplasmose e leptospirose. Também causam outros transtornos, como acidentes de trânsito, sujeira e ataques a pessoas”, afirmou.
Ela ressalta ainda o potencial da campanha para ganhar projeção nacional, comparável a outras já consolidadas.
“O Julho Dourado já é um exemplo de sucesso no Paraná e, se for adotado por outros estados, pode ter a mesma relevância na saúde animal que o Outubro Rosa e o Novembro Azul têm na prevenção do câncer de mama e de próstata, respectivamente”, concluiu.
A Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (CDC-Aleam), presidida pelo deputado Mário César Filho (UB), apresentou o balanço das atividades realizadas no primeiro semestre de 2025. Foram desenvolvidas ações que envolveram renegociação de dívidas, mediação de conflitos, fiscalizações em campo e campanhas educativas com foco na proteção do consumidor em todo o Estado.
“O balanço da CDC‑Aleam no primeiro semestre de 2025 foi bastante positivo, fruto do trabalho intenso em renegociação de dívidas, mediações e fiscalizações. Estamos confiantes e esperamos que o próximo semestre supere ainda mais esses resultados”, afirmou o presidente da CDC.
Operação Limpa Nome
De acordo com a CDC-Aleam, foram realizadas duas edições da “Operação Limpa Nome”, em Manaus, nos dias 24 e 25, e 26 e 27 de março de 2025, no auditório do Poder Legislativo, com estrutura de atendimento direto ao público e participação de concessionárias de água e energia.
Mais de mil audiências de conciliação foram realizadas no semestre, envolvendo empresas de telefonia, bancos, planos de saúde e concessionárias. Muitos casos foram resolvidos no mesmo dia, sem necessidade de judicialização, garantindo resposta rápida e efetiva à população.
Durante o evento, centenas de consumidores renegociaram dívidas com descontos expressivos. No interior, a operação chegou aos municípios de Presidente Figueiredo e Iranduba, com resultados igualmente significativos.
A comissão ainda fiscalizou supermercados, farmácias, postos de combustíveis, lojas e agências bancárias. As operações resultaram em autuações, apreensão de produtos vencidos e notificações por práticas abusivas. No mês do consumidor, em março, essas ações foram ampliadas com a participação de órgãos parceiros e mobilização das equipes jurídicas da Aleam.
Festival de Parintins
Durante o Festival de Parintins, a CDC-Aleam esteve na ilha Tupinambarana, com ponto fixo de atendimento no Turistódromo. A equipe recebeu denúncias, prestou orientações jurídicas e distribuiu material educativo.
Questões envolvendo filas bancárias, transporte fluvial e acessibilidade foram acolhidas e encaminhadas aos órgãos competentes, reforçando o compromisso da comissão com o atendimento em campo.
O trabalho desenvolvido pela CDC-Aleam também recebeu reconhecimento da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Amazonas (OAB-AM), que homenageou Mário César Filho por sua atuação à frente da comissão. A condecoração foi concedida pela Comissão de Defesa do Consumidor da Ordem, em agradecimento aos serviços prestados ao Estado.
Foto: Leandro Cardoso/Gabinete do deputado Mário César Filho
Parcerias
A atuação da CDC-Aleam ainda se fortaleceu por meio de parcerias institucionais. As ações de conciliação, fiscalização e atendimento foram realizadas com o apoio do Instituto de Defesa do Consumidor do Amazonas (Procon-AM), do Instituto de Pesos e Medidas do Amazonas (Ipem-AM), da Delegacia Especializada em Crimes Contra o Consumidor (Decon-AM), da Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados e Contratados do Estado do Amazonas (Arsepam) e da Comissão de Defesa do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Amazonas (OAB-AM).
“A nossa atuação só é possível porque a CDC está inserida numa rede de parceiros comprometidos com o mesmo propósito. Estar ao lado de órgãos como o Procon, o Ipem, a Decon, a Arsepam e a OAB fortalece e amplia o alcance do nosso trabalho. Isso faz com que a Comissão não apenas reaja aos problemas, mas atue de forma preventiva, presente, resolutiva e cada vez mais próxima da população”, afirmou o parlamentar.
Na foto, sementes de Paricá, espécie promissora para reflorestamento, com rápido crescimento e bom rendimento na produção de madeira, é uma das indicações presentes no estudo. Foto: Ronaldo Rosa
Uma nova pesquisa publicada na revista científica internacional Forests traz avanços significativos para a gestão e soluções florestais sustentáveis na Amazônia brasileira. O estudo, liderado pela pesquisadora Lucieta Martorano, da Embrapa Amazônia Oriental (PA), utilizou uma metodologia de sua autoria, o zoneamento topoclimático, a qual permite mapear áreas e indicar as espécies nativas mais adequadas para a silvicultura e restauração florestal na região amazônica. A publicação na Forests foca em 12 espécies nativas de alto valor ecológico e econômico.
Realizado por pesquisadores da Embrapa, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e de outras instituições, o trabalho revela que a silvicultura com espécies nativas influencia positivamente no combate às mudanças climáticas, além de promover geração de renda, recuperar a biodiversidade e fortalecer a resiliência das áreas frente a desastres naturais.
As descobertas enfatizam a importância do zoneamento topoclimático como uma ferramenta para estratégias de conservação e uso sustentável. Os resultados estão alinhados à Lei de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) do Brasil, abordagem capaz de incentivar práticas agroflorestais, melhorar a conservação da biodiversidade e fortalecer a bioeconomia amazônica.
A Dinízia excelsa, conhecida como Angelim-vermelho, é a espécie com maior eficiência topoclimática, segundo o estudo
Método é aplicável a qualquer bioma
A metodologia de zoneamento topoclimático visa subsidiar estratégias de conservação e uso sustentável de espécies florestais nativas, podendo ser aplicada a qualquer Bioma.
O estudo utilizou mais de 7,6 mil registros georreferenciados de espécies florestais nativas, como angelim-vermelho, ipê-amarelo, copaíba e mogno-brasileiro (veja a foto), e cruzou essas informações com dados climáticos, topográficos e geográficos coletados entre 1961 e 2022. A partir disso, os pesquisadores criaram mapas que mostram o grau de adequação ambiental (alto, médio ou baixo) de diferentes áreas da Amazônia para o plantio e manejo de cada espécie.
Ouriço e semente de mogno brasileiro. Foto: Ronaldo Rosa
A análise estatística, não hierárquica, gerou modelos e mapas que indicam áreas com alto, médio e baixo potencial topoclimático para o plantio e manejo de cada espécie.
“É uma metodologia de planejamento com enorme potencial para embasar políticas públicas voltadas à restauração florestal, bioeconomia e adaptação climática. É ciência aplicada ao território”, declara Martorano.
Entre os resultados, o estudo demonstra que espécies como o angelim-vermelho (Dinizia excelsa) apresentaram até 81% de alta aptidão topoclimática em áreas antropizadas (degradadas ou alteradas pelo homem), revelando um vasto potencial para restauração produtiva. Além disso, espécies com maior plasticidade ambiental, como o marupá (Simarouba amara), podem atuar como “coringas” em locais de menor adequação climática, desde que acompanhadas de manejo adaptativo.
Ranking das espécies da Amazônia com maior eficiência topoclimática para uso em projetos de restauração ou enriquecimento de áreas (Imagem gerada por iA)
Conectando biodiversidade, clima e economia
Mais do que apenas mapear onde plantar, o zoneamento permite alinhar e subsidiar políticas públicas aos compromissos internacionais do Brasil no Acordo de Paris, como o reflorestamento de milhões de hectares e o combate à perda de biodiversidade. A silvicultura de nativas, impulsionada por essa ferramenta, integra bioeconomia e clima, gerando oportunidades econômicas sustentáveis.
Essa abordagem possui forte aderência à Lei de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) do Brasil, podendo ser a base para atrair fontes financiadoras e fomentar práticas agroflorestais e a silvicultura de nativas, como embasam os dados do estudo. A metodologia foca em espécies florestais e, somada a outros zoneamentos, tem a capacidade de melhorar a conservação da biodiversidade e fortalecer a bioeconomia amazônica, garantindo resiliência ecológica e desenvolvimento sustentável.
O estudo também abre portas para programas de recuperação de áreas nativas e o mercado de crédito de carbono. O pesquisador Silvio Brienza Junior da Embrapa Florestas (PR) e coautor do artigo, destaca que espécies bem adaptadas, identificadas pelo zoneamento, maximizam a oferta de serviços ambientais como sequestro de carbono, regulação hídrica e térmica, e preservação da biodiversidade.
“Quando o país identifica com precisão onde e como reflorestar, cria melhores condições para atrair investimentos climáticos internacionais”, complementa o cientista.
Os Sistemas Agloflorestais (SAFs) são formas de restauração produtiva, economicamente viáveis e com grande potencial para prestação de serviços ambientais (Imagem gerada por IA)
Amazônia no centro do debate global
Com a Conferência das Partes (COP 30) em Belém, em novembro deste ano, o Brasil ganha uma ferramenta robusta para mostrar que a ciência nacional pode liderar soluções climáticas globais. Os dados trazidos pelo artigo fortalecem a imagem da Amazônia não apenas como bioma ameaçado, mas como fonte de soluções concretas, baseadas na natureza e na inteligência territorial.
O modelo de zoneamento topoclimático poderá ser usado para direcionar recursos de restauração, orientar projetos financiados por fundos verdes e contribuir com as metas de neutralidade de carbono, conforme acordos globais.
Segundo os autores, o modelo de zoneamento pode ser ampliado para outras regiões e escalado com tecnologias como sensoriamento remoto e inteligência artificial. A proposta também estimula a conservação de espécies de alto valor econômico e ecológico, contribuindo para um reflorestamento inteligente — que combina restauração ambiental com geração de renda e inclusão social.
José Reinaldo da Silva Cabral de Moraes – Sombrero Insurance (SP);
Werlleson Nascimento – Universidade de São Paulo (Esalq/USP);
Leila Sheila Silva Lisboa – Secretaria Municipal de Educação de Belém (PA);
Denison Lima Corrêa – Universidade do Estado do Pará (Uepa);
Thiago Martins Santos – Universidade Federal de Lavras (Ufla);
Rafael Fausto de Lima – Universidade Estadual Paulista (Unesp);
Kaio Ramon de Sousa Magalhães – Universidade Federal de Lavras (Ufla);
e Carlos Tadeu dos Santos Dias – Universidade de São Paulo (Esalq/USP), e Universidade Federal do Ceará (UFC).
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) na Amazônia
O Pagamento por Serviços Ambientais é um instrumento que remunera produtores, comunidades e populações tradicionais por ações que conservam ou restauram os ecossistemas, gerando benefícios coletivos como água limpa, captura de carbono, biodiversidade e estabilidade climática.
Benefícios esperados: incentivo à restauração ecológica orientada; fortalecimento da bioeconomia da floresta; geração de renda por meio de projetos de mercado de carbono, conservação de água e biodiversidade; e apoio à resiliência climática em áreas antropizadas.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Embrapa
Em 2 de abril de 2008, o ex-capitão do Exército britânico Ed Stafford deu início à maior aventura de sua vida: se tornar o primeiro ser humano a percorrer, a pé, toda a extensão do rio Amazonas, da nascente à foz. O ponto de partida foi o monte Mismi, na costa do Pacífico do Peru.
Dali, Ed atravessaria a Cordilheira dos Andes até encontrar a nascente oficial do rio mais volumoso do planeta. E então, o desafio real começaria.
Durante os 860 dias seguintes, quase dois anos e meio, o britânico enfrentou o calor implacável, chuvas torrenciais, infestações de insetos, ferimentos, fome, solidão e ameaças reais à sua vida.
No caminho, passou por territórios do Peru, Colômbia e Brasil. Enfrentou não apenas animais selvagens e doenças tropicais, mas também a desconfiança de comunidades indígenas. E, talvez mais difícil do que tudo, lidou com seus próprios medos e dúvidas.
O britânico contou com a ajuda dos locais para desbravar o Rio Amazonas. Foto: Keith Ducatel/Reprodução
Mas a jornada de Stafford não foi solitária do início ao fim. Cinco meses após partir, ele conheceu Gadial Sanchez Rivera, também conhecido como Cho, um jovem peruano com experiência na selva. O que começou como um acordo temporário de guia, transformou-se em uma parceria duradoura.
Juntos, Ed e Cho caminharam cerca de 6.400 quilômetros. A jornada não foi apenas física, mas também de aprendizado. Stafford testemunhou a beleza intocada da floresta amazônica, mas também a face cruel da devastação: áreas de desmatamento avançado, queimadas, rios poluídos e comunidades indígenas pressionadas pela perda de seus habitats.
Em 2012, Stafford lançou o livro ‘Walking the Amazon: 860 Days. One Step at a Time‘ (Caminhando pela Amazônia: 860 Dias. Um Passo de Cada Vez). Em suas 319 páginas, ele narra com detalhes, os desafios, perigos e descobertas dessa travessia épica.
O livro logo se tornou referência mundial em histórias de aventura e exploração, destacando-se por seu realismo, intensidade emocional e reflexão ambiental.
Hoje, Ed Stafford é considerado um dos maiores exploradores contemporâneos. Virou apresentador de documentários e defensor da preservação ambiental.
Luminária feita com raiz de uma árvore queimada. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR
Unir a paixão pela natureza com a arte. Esse tem sido o trabalho da guia de turismo e artista plástica Ana Karla Vieira Bastos, de 42 anos, que transforma partes de árvores recolhidas em trilhas em luminárias sustentáveis. As peças são feitas na Serra do Tepequém, a principal região turística de Roraima.
“É o que eu vivo, é a minha realidade, minha vida, minha fonte de renda, a única porque eu trabalho exclusivamente com o turismo e a arte atualmente. Hoje representa tudo na minha vida, é com amor que eu faço tudo isso”, afirmou a artista.
Localizada no município de Amajari, ao Norte do estado, a Serra do Tepequém é um dos lugares mais visitados por apresentar atrações como cachoeiras, um platô que chega a quase 1.022 m de altura e pelo clima ameno durante a noite, proporcionado pelas serras.
A inspiração para transformar os pedaços de madeira em obras de arte surgiu depois que a guia turística começou a recolher os fragmentos de trilhas onde realiza excursões. A ideia, no início, era apenas manter os caminhos mais “limpos” e evitar que turistas se machucassem durante o percurso.
Enquanto usava uma plataforma de descoberta visual, Karla encontrou imagens de luminárias rústicas feitas em madeira. Os modelos despertaram na guia o desejo de produzir as próprias peças com o que era encontrado nas trilhas.
“Eu observei que tinham troncos que se desprendiam das árvores, caiam e poderiam machucar meus turistas. E aí eu fui tirando, fui fazendo várias coletas desses troncos e depois eu passando o Pinterest, eu fui olhando as luminárias rústicas e disse: ‘eu vou fazer então a luminária do Tepequém’ […] foi uma inspiração divina mesmo”, contou a artista em entrevista ao Grupo Rede Amazônica.
Ana Karla é guia de turismo e produz luminárias com pedaços de árvores encontrados em trilhas, em Roraima. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR
As luminárias do Tepequém, como são chamadas, são feitas com o âmago da árvore — parte central do tronco — que se desprende da planta e cai no entorno dela, e até com raízes queimadas por incêndios florestais. As árvores não são cortadas, tudo é feito com o que a “natureza não quer mais”.
A confecção das peças é totalmente manual e dura, em média, 45 dias. Elas começaram a ser produzidas no início de 2024, com o apoio do arqueólogo Ednelson Pereira, na Casa dos Artistas em Tepequém.
A produção não envolve nenhuma alteração no formato original da madeira. Após serem recolhidos, os pedaços de madeira são higienizados e passam por um tratamento para prevenir o aparecimento de fungos e cupins.
Depois, as peças são pintadas com um verniz natural para manter a cor original da madeira. O último passo é a instalação da lâmpada amarela, também conhecida como luz quente. A ideia é aproximar a pessoa da floresta.
“Se você coloca [a luminária] num cantinho, assim, de um ambiente, o formato da árvore te remete à floresta. Então, é uma conexão, você fica zen mesmo, você relaxa com aquela luz, com aquele ambiente mais calmo. É essa sensação de relaxamento que ela causa, sabe?”, explicou Ana Karla.
Luminárias sustentáveis são feitas na Serra do Tepequém, ao Norte de Roraima. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR
A comercialização das luminária também começou no ano passado e, desde então, mais de dez peças já foram vendidas. Os valores variam entre R$ 180 e R$ 1,5 mil, dependendo do tamanho e do tempo para a finalização da peça. “É uma peça única, exclusiva, ninguém vai ter outra peça igual a essa no mundo”, garantiu Ana Karla.
Recomeço
Natural de Fortaleza (CE), Ana Karla mora em Roraima há cerca de 20 anos. Em 2020, após enfrentar complicações da Covid-19, ela decidiu se mudar da capital Boa Vista para a Serra do Tepequém, buscando melhores condições de saúde com o contato com a natureza. Lá, ela iniciou a atuação como guia de turismo.
“Eu me mudei logo depois de um Covid grave, decidi morar na Serra e fazer meus exercícios respiratórios por lá, porque nós temos um oxigênio 100%. E aí veio a ideia de um amigo: ‘Karla, por que você não conduz? Nós temos poucas mulheres nessa área aqui no Tepequém’. E eu fui querer saber como que funcionava isso”, explicou a guia e artista plástica.
Com o incentivo do amigo, Karla começou a estudar a história da região e se formou como guia de turismo em 2024, por meio de um curso do Instituto Federal de Roraima (IFRR) que capacita moradores da Serra do Tepequém.
Luminárias e terrarios produzidos na Serra do Tepequém estão em exibição em Boa Vista. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR
“Eu falo com paixão do Tepequém. Eu falo que o Tepequém é como um recomeço para mim. Eu me apaixonei pela fauna, pela flora, o barulho [do lugar]”, afirmou ela.
Hoje, Ana Karla se dedica exclusivamente a orientação turística e a produção de luminárias sustentáveis. De acordo com ela, o objetivo do trabalho é conscientizar as pessoas sobre a preservação da floresta.
Exposição
As obras estão em exposição no shopping do bairro Caçari, em Boa Vista, e podem ser vistas até o dia 31 de julho. Promovida por um grupo de artistas da Serra do Tepequém, a exposição busca valorizar as produções locais.
Além das luminárias, entre as obras expostas estão terrários, recipientes de vidro que abrigam diversos tipos de plantas. As peças também contém musgos e pedras encontradas na própria Serra do Tepequém, incluindo cristais.
Durante cinco séculos, acreditou-se que a hanseníase, popularmente conhecida por lepra, uma doença que afeta principalmente a pele, os nervos periféricos, os olhos e as vias aéreas superiores, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, havia sido introduzida nas Américas pelos colonizadores europeus, pelos africanos tornados escravos e pelos indianos levados para as Guianas também como escravos.
Um estudo publicado no volume 388, em maio passado, pela revista Science, no entanto, mostra que a história da hanseníase é bem diferente do que se acreditava: antes mesmo da chegada daquelas correntes migratórias, a hanseníase já estava presente nas Américas. A constatação deve-se à descoberta da presença de outra bactéria, o Mycobacterium lepromatosis, na ossada de indígenas pré-colombianos no Canadá e na Argentina.
A descoberta foi realizada por pesquisadores da Universidade do Colorado e por cientistas de outras instituições com quem a universidade norte-americana tem parceria, como o Laboratório de Dermatologia e Imunologia daUFPA, coordenado pelo médico Claudio Guedes Salgado, professor titular do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, que é um dos autores do artigo.
O grupo de cientistas já sabia, desde 2008, da existência do Mycobacterium lepromatosis, mas não havia vestígio da sua presença até então. A descoberta recente em indígenas do Canadá e da Argentina é o diferencial que possibilitou afirmar a existência da hanseníase antes mesmo da chegada dos colonizadores e povos escravizados nas Américas.
Para o cientista Claudio Salgado, é muito provável que, para além do Canadá e da Argentina, o resto do continente também tenha registro da hanseníase causada pelo Mycobacterium lepromatosis, embora nas amostras estudadas no Laboratório de Dermatologia e Imunologia da UFPA ainda não tenha sido detectada a presença desta bactéria.
“O que se sabia, até então, é que a hanseníase era causada unicamente pela bactéria Mycobacterium leprae. A descoberta mudou a história da hanseníase. Interessa-nos saber, por exemplo, como conseguiram controlar o Mycobacterium leptomatosis? As pessoas foram isoladas? Não sabemos nada sobre os procedimentos adotados. O certo é que a bactéria desapareceu, sendo, então, substituída pelo Mycobacterium leprae”. Segundo Salgado, “é como estivéssemos olhando um telescópio focado para trás da história. Isto é uma coisa fascinante do ponto de vista da ciência, algo como olhar as estrelas para entender de onde viemos”.
Foto: Cláudio Salgado.
A descoberta insere o tratamento da hanseníase em uma nova dimensão.
“Estamos interessados em entender melhor como essa descoberta pode ajudar a tratar melhor os pacientes e as pessoas que poderão um dia ter a doença. Precisamos trazê-las para novos exames no laboratório para saber sobre a presença ou não dessa nova bactéria”, informa o pesquisador.
O exame para detecção do tipo de bactéria não era realizado porque os cientistas de todas as partes do mundo entendiam que o Mycobacterium leprae era a única bactéria causadora da hanseníase, com uma variação genética muito pequena. “Hoje, dispomos de técnicas moleculares, que não são complexas, tipo PCR [Reação em Cadeia da Polimerase, uma técnica laboratorial usada para amplificar regiões específicas do DNA], empregadas no diagnóstico da doença e identificação do tipo de bactéria”.
Cultivo in vitro
Durante séculos, o mundo achava que só existia o Mycobacterium leprae como causador da hanseníase. Ela não teria mutações, ou seja, não teria gerado outras micobactérias. Uma das causas do pouco conhecimento sobre ela se deu pela dificuldade em cultivar o Mycobacterium lepra em laboratório.
“Como a ciência não consegue cultivá-lo, estudou-se ele muito pouco”, ressalta o Dr. Claudio Salgado.
O que os cientistas sabem da hanseníase vem da prática clínica e da imunologia, ciência que estuda o sistema imunológico, responsável pela defesa do organismo contra agentes estranhos, como vírus, bactérias e outros patógenos.
Neste sentido, de acordo com o coordenador do Laboratório de Dermatologia e Imunologia da UFPA, a hanseníase tem uma variação muito interessante do ponto de vista clínico de um paciente para o outro – alguns conseguem controlar bem a doença, outros não – o que serviu como um modelo para a imunologia.
“A gente estudou muito a imunologia desde a década de 1950, e a bactéria foi deixada de lado, porque não conseguíamos cultivá-la, diferentemente do que ocorre com o Mycobacterium tuberculosis, o bacilo de Koch, causador da tuberculose”.
A causa da dificuldade em cultivar o Mycobacterium leprae ocorreu porque ele perdeu alguns componentes do seu maquinário genético. O laboratório da UFPA, porém, está desenvolvendo pesquisa genética com o cultivo in vitro.
“Trata-se de outra linha de pesquisa nossa. A dificuldade se dá porque a Mycobacterium leprae é uma bactéria muito lenta, ou seja, mesmo que você coloque in vitro, ela demora muito tempo para se multiplicar. Segundo a literatura, leva entre 10 e 15 dias para se multiplicar. Veja, nós estamos falando de bactéria, um organismo com capacidade de se multiplicar muito rapidamente, por minutos, segundos, dependendo do tipo de bactéria”.
Como se trata de uma bactéria lenta, ao penetrar no organismo humano pelo nariz (a única forma de transmissão é pelo ar), ela circula na corrente sanguínea, entra no nervo periférico e fica lá de maneira quase silenciosa, multiplicando-se. Uma vez que essa multiplicação é lenta, o organismo humano vai se adaptando, então, os sintomas demoram a aparecer.
“Os sintomas demoram a aparecer, perde-se um pouco de força, há uma alteração de sensibilidade. A pessoa atingida pela hanseníase tende a associar esses sintomas a outras causas, por exemplo, à idade. Quando os sintomas se manifestam mais intensamente, o diagnóstico é mais fácil de ser feito, mas, então, já estamos diante de um problema maior”, explica Claudio Salgado.
A hanseníase é uma doença que causa manchas, caroços ou inchaços na pele, além de perda de pelos, especialmente nas sobrancelhas. Em casos mais avançados, podem surgir feridas na pele, mutilações e lesões mais graves nos nervos, levando à fraqueza muscular e a deformidades.
Anteriormente, o paciente era submetido a um tratamento impensável hoje, como a segregação, mesmo sem consentimento, em um leprosário, tal o que existiu na Colônia do Prata, em Marituba, onde está localizado o Laboratório e a Unidade de Referência Especializada (URE) Marcello Cândia.
Claudio Salgado, porém, entende que o isolamento continua até hoje: “Atualmente, quando há o diagnóstico, as pessoas se afastam do convívio da pessoa doente, ela fica solitária, muitas vezes perde o emprego, são coisas que ocorrem com frequência, mas que não deveriam acontecer. Quando alguém é diagnosticado com a doença, as pessoas mais próximas precisam ser submetidas ao exame de contato para saber se também estão ou não doentes”.
O médico da UFPA alerta, ainda, para a necessidade de o pessoal especializado em hanseníase ter expertise suficiente para identificar a doença em sua forma mais precoce, antes de chegar àquele quadro mais evidente de perda de movimento e de partes do corpo.
“Precisamos identificar e tratar essas pessoas. A Biologia Molecular, uma área que envolve a genética e a bioquímica e auxilia a entender a vida em nível molecular, é a nossa grande aliada atualmente”, afirma.
A equipe liderada pelo Dr. Claudio Salgado faz visita aos pacientes em suas residências, em que colhe material e os examina regularmente.
Laboratório de Dermatologia e Imunologia
O Laboratório de Dermatologia e Imunologia da UFPA, especializado em tratamento da hanseníase, foi fundado em 2001, dentro da Ex-Colônia do Prata, em Marituba, no estado do Pará, com a finalidade de dar suporte de pesquisa à Unidade de Referência em Dermatologia Sanitária “Dr. Marcello Cândia”, mantido pela Secretaria de Saúde do Estado, em parceria com a Sociedade Pobres Servos da Divina Providência, entidade católica proprietária do prédio.
Foto: Cláudio Salgado.
“Eu passava o dia inteiro lá, fazendo atendimento, inclusive almoçava com os padres da Sociedade. Um dia, eu falei que precisava fazer pesquisa e os irmãos disseram que havia uma casa ali perto, onde funcionou o antigo Marcello Cândia. Naquela época, eu havia submetido um projeto de pesquisa a um edital da Secretaria de Ciência e Tecnologia, do governo do estado. Então, perguntei ao diretor da Sociedade que, se meu projeto fosse aprovado, a Sociedade reformaria a casa. Ele respondeu que sim. E, de fato, ganhei o edital, eles cumpriram a promessa, a casa foi reformada e virou o laboratório no qual estamos há 24 anos”, conta o médico Claudio Guedes Salgado, que havia regressado do doutorado no Japão, em 1999, quando recebeu convite feito pelo então diretor do Marcello Cândia, Dr. Paulo Mendonça, para trabalhar no atendimento de pacientes com hanseníase naquela unidade.
Já em 2002, após o médico ser aprovado em concurso para a UFPA, o dinheiro do projeto repassado pela Sectam foi empregado na montagem do Laboratório, no qual trabalhou nos cinco primeiros anos mediante convênio entre UFPA, UEPA, Sociedade e Sespa.
Ao final do convênio, o trabalho não parou. Atualmente, a equipe de pesquisadores do laboratório é formada por Claudio Salgado; pelos biólogos e professores efetivos da UFPA Patrícia Fagundes da Costa e Moisés Silva; pelo fisioterapeuta Josafá Barreto, da UFPA-Campus Castanhal; pelo médico Pablo Pinto, do Instituto de Ciências Médicas; e pela professora substituta Raquel Bouth. Nestes 24 anos de existência, o Laboratório de Dermatologia e Imunologia da UFPA formou mais de 20 mestres e mais de 10 doutores.
Atualmente, o professor Claudio Salgado faz parte do Comitê Ciências Biológicas II da Capes e foi recentemente eleito conselheiro da International Leprosy Association (ILA) para as Américas. Ele diz que o Laboratório de Dermatologia e Imunologia possui bons equipamentos e que tem, pela frente, um enorme campo aberto para pesquisas, sendo uma referência em pesquisas sobre hanseníase no Brasil.
Os estudos que estão sendo realizados sobre o Mycobacterium leprae contam com as parcerias de outros importantes laboratórios, como o Instituto Pasteur e a Universidade do Colorado, no exterior, o Departamento de Dermatologia da USP Ribeirão Preto e o Instituto Lauro de Souza Lima, em São Paulo, além do Laboratório de Genética Humana e Médica, do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Universidade Federal do Pará, escrito por Walter Pinto e com fotos de Cláudio Salgado
Festa do Guaraná em Maués. Foto: Fernando Cavalcanti/Ambev Brasil
A cultura amazônica é vasta e, apesar de ter influências de outros locais, consegue adaptá-la à sua realidade. Um exemplo disso é o volume de festivais que acontecem na região. Eles celebram características locais, colheitas, animais, manifestações típicas, entre tantas outras.
Existem muitos festivais populares internacionalmente, como o Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas, mas muitos outros festivais regionais revelam a grandiosidade do território amazônida. Confira alguns deles realizados no Pará e no Amazonas:
Festival Encontro das Águas – Porto de Moz (PA)
O Festival Encontro das Águas começou em julho de 2019 em Porto de Moz, no Oeste do Pará, e às margens do Rio Xingu. O evento encena o duelo entre a onça-pintada e o jacaré-açu, expressão das heranças culturais indígenas.
É realizado em julho e o evento é dividido entre os grupos que levam os nomes dos rios: Xingu e Amazonas. Cada um possui mais de 1.200 integrantes, que trabalham ao longo do ano na criação das alegorias e demais elementos ornamentais que compõem as apresentações do festival.
O “Encontro das Águas” leva ao público lendas da região através da dança, da música e da arte, dando ao público uma oportunidade para quem quer aproveitar as praias do município, apreciar a boa gastronomia e testemunhar o duelo que simboliza a beleza e a força da Amazônia paraense.
Festival Encontro das Águas. Foto: Reprodução/Equatorial Energia
Festival do Camarão – Afuá (PA)
Veneza Marajoara, como é conhecido o município paraense de Afuá, distante aproximadamente 2 horas de lancha de Macapá (AP), realiza o Festival do Camarão há 40 anos. É realizado no fim de julho, na Quadra de Esportes Dr. Nelson Salomão, conhecida como ‘Camaródromo’.
O Festival marca uma tradição na ilha que tem como suas principais características a fartura de camarão, açaí e o seu meio de transporte: as bicicletas. Inclusive a festa começa com uma ‘biciata’ e conta com diversas atrações musicais.
Festival do Camarão. Foto: Reprodução/Prefeitura de Afuá
Festival dos Botos – Alter do Chão e Santarém (PA)
O Festival dos Botos, realizado em Alter do Chão (PA), é uma manifestação cultural emblemática da Amazônia. A festa reúne tradição, lendas regionais e consciência ambiental, atraindo visitantes do Brasil e do mundo para a vila conhecida por suas belezas naturais e sua rica herança cultural.
Inspirado nas lendas do boto cor-de-rosa — criatura mítica que, segundo a tradição, transforma-se em um jovem sedutor durante as noites de festa —, o evento resgata narrativas que há gerações povoam o imaginário das comunidades ribeirinhas. A festividade, que teve início como uma celebração simples entre pescadores, hoje envolve apresentações folclóricas, danças, música e encenações teatrais que exaltam a conexão entre os povos da floresta e os rios amazônicos.
Geralmente realizado em setembro, o Festival é palco de disputa entre duas agremiações principais, que representam os botos rosa e tucuxi, e que encenam com criatividade e emoção as histórias do boto e sua relação com os humanos. A celebração destaca a importância da preservação dos rios e da fauna aquática, reforçando mensagens de sustentabilidade e respeito à natureza.
Além de promover a cultura local, o festival impulsiona o turismo em Alter do Chão, contribuindo para o fortalecimento da economia ribeirinha. A iniciativa conta com apoio de autoridades locais e organizações culturais, reafirmando seu papel como um dos eventos mais importantes do calendário amazônico.
Botos Rosa e Tucuxi se enfrentam no festival. Foto: Reprodução/Prefeitura de Santarém
Festribal – Juruti (PA)
O Festribal de Juruti (PA) nasceu como uma ramificação do Festival Folclórico de Juruti. A celebração apresentava cordões de pássaros, quadrilhas, bumba-meu-boi e carimbó. Em 1993, surgiu uma dança com coreografia indígena de nome ‘Tribo Munduruku’.
Como não havia essa categoria no festival, no ano seguinte foi criado um outro grupo intitulado ‘Tribo Muirapinima’ para concorrer com os Munduruku. A primeira disputa entre as duas tribos ocorreu em 1995.
O palco das apresentações do Festribal é o Tribódromo, arena onde as tribos se apresentam. No espaço, as tribos Muirapinima (vermelho e azul) e Munduruku (vermelho e amarelo) se enfrentam pela conquista de mais um título.
Festribal, no Pará. Foto: Divulgação/Agência Pará
Festival cultural dos Povos Indígenas do Alto Rio Negro (Festribal) – São Gabriel da Cachoeira (AM)
O Festribal amazonense celebra a diversidade dos povos indígenas no estado. O evento, criado em 1998, exalta a diversidade étnica indígena dos povos pertencentes à região, conhecida como ‘Cabeça do Cachorro’. Considerado a maior manifestação cultural dos povos originários da floresta, o Festival Cultural dos Povos Indígenas do Alto Rio Negro (Festribal) recebe milhares de interessados em conhecer as lendas e tradições da festividade amazônica, no município de São Gabriel da Cachoeira.
As Associações Culturais Tribo Tukano, Baré e Filhos do Rio Negro são responsáveis pelo espetáculo. Durante os dias da festa, representantes das três associações se vestem com suas cores que retratam a história e a cultura dos povos originários do Noroeste do Amazonas.
Além das apresentações culturais, o festival traz na programação atrações musicais regionais e nacionais, feira de artesanato e gastronomia.
A programação da Festa do Guaraná em Maués (AM) começa geralmente em uma quinta e termina em um sábado, em dezembro, e conta com shows musicais, danças e a escolha da Rainha do Guaraná. As atrações musicais são geralmente locais e ainda artistas reconhecidos nacionalmente.
A Festa é realizada anualmente para celebrar o ciclo de produção do fruto, que tem enorme importância econômica e cultural para o município. O cenário do evento é o cartão postal da cidade: a extensão de praia da Ponta da Maresia, na orla do município.
Festa do Guaraná em Maués. Foto: Fernando Cavalcanti/Ambev Brasil
Festival de Cirandas – Manacapuru (AM)
Realizado anualmente em Manacapuru (AM), o Festival de Cirandas é uma das maiores manifestações culturais do Amazonas. O evento acontece tradicionalmente no último fim de semana de agosto, no Parque do Ingá, reunindo milhares de pessoas em torno da tradição folclórica das cirandas — forma de dança e música típica da região amazônica.
Três agremiações participam da disputa: Flor Matizada, Guerreiros Mura e Tradicional. Em apresentações marcadas por cores, coreografias e ritmos contagiantes, os grupos competem entre si com enredos e encenações que valorizam elementos culturais, lendas e costumes da Amazônia.
Além de movimentar o turismo local, o Festival de Cirandas reforça a identidade cultural da cidade e destaca a importância da preservação das tradições populares.
Festival de Cirandas. Foto: Marcio James/Secretaria de Cultura e Economia Criativa AM
Festival internacional das tribos do alto solimões – Festisol – Tabatinga (AM)
Entre o fim do mês de novembro e o início de dezembro, a cidade de Tabatinga (AM), realiza o Festival Internacional de Tribos do Alto Solimões (Festisol). O evento, que se consolidou como uma das principais celebrações culturais do município, destaca as tradições indígenas locais por meio de uma disputa simbólica entre duas representações tribais: a Onça Preta, que representa o povo Ticuna, e a Onça Pintada, que simboliza os Omágua.
Durante os quatro dias de programação, o público acompanha encenações teatrais, danças e músicas tradicionais das etnias, além de apresentações que retratam mitos, lendas e valores dos povos originários da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. O festival também conta com shows de artistas locais e nacionais.
Com forte presença das comunidades indígenas, o evento também contribui para o fortalecimento da identidade cultural da região e para a difusão de saberes tradicionais.
Festisol. Foto: Reprodução/2.ª Vara da Comarca de Tabatinga
Eco-festival do Peixe-boi – Novo Airão (AM)
Realizado anualmente no último fim de semana de outubro, o Eco-Festival do Peixe-Boi movimenta o município de Novo Airão (AM) com uma programação que une cultura popular e conscientização ambiental. Conhecido também como Festival do Peixe-Boi, o evento homenageia o peixe-boi amazônico — espécie ameaçada de extinção — e reforça a importância da preservação da biodiversidade local.
A festa conta com apresentações temáticas de duas agremiações folclóricas: Peixe-Boi Anavilhanas e Peixe-Boi Jaú, que representam, respectivamente, a Estação Ecológica de Anavilhanas e o Parque Nacional do Jaú, duas das mais importantes reservas ecológicas da região. Por meio de danças, músicas e encenações, as agremiações disputam a preferência do público e jurados, promovendo a valorização da fauna e da flora amazônicas.
Além de seu caráter festivo, o festival tem forte apelo educativo e ambiental. A programação inclui oficinas, palestras e ações de sensibilização sobre conservação de espécies e práticas sustentáveis, envolvendo escolas, instituições ambientais e moradores da cidade.
Reconhecido como o maior evento ecológico do Amazonas, o Eco-Festival do Peixe-Boi foi declarado patrimônio cultural do estado pela Assembleia Legislativa do Amazonas. A celebração atrai turistas, pesquisadores e defensores do meio ambiente, transformando Novo Airão em um polo de difusão da cultura tradicional amazônica aliada à luta pela preservação da natureza.
Eco-festival do Peixe-boi. Foto: Reprodução/Prefeitura de Novo Airão
Festival do Peixe Ornamental – Barcelos (AM)
Ainda no Amazonas, outro festejo importante é o Festival do Peixe Ornamental de Barcelos (Fespob), que acontece no primeiro bimestre do ano na Arena Piabódromo. O evento celebra a cultura e a identidade do povo barcelense, com destaque para as apresentações culturais dos peixes ornamentais Acará-disco e Cardinal.
O festival é uma festa popular que movimenta a economia local e atrai turistas, sendo considerado um importante evento para a região. Além da competição entre as agremiações, o festival conta com a participação de artesãos indígenas, shows musicais e outras atividades culturais.
Festival do Peixe Ornamental. Foto: Reprodução/Instagram-fespob
Festival Folclórico do Amazonas – Manaus (AM)
O Festival Folclórico do Amazonas, realizado em Manaus, é um dos mais tradicionais eventos culturais do estado. Ocorre anualmente, geralmente entre junho e julho, reunindo apresentações folclóricas de grupos da capital e do interior. O festival celebra a cultura popular por meio de danças típicas, como o boi-bumbá, cirandas, quadrilhas, cacetinho, tribos indígenas, entre outras manifestações.
O evento acontece tradicionalmente há anos no Centro Cultural dos Povos da Amazônia e reúne dezenas de grupos folclóricos que competem em diferentes categorias, com músicas, coreografias e fantasias elaboradas. O objetivo principal do festival é valorizar as tradições do povo amazonense, promovendo a diversidade cultural, a identidade regional e o intercâmbio entre comunidades.
Além da competição, o festival movimenta o turismo local e fortalece a economia criativa, atraindo milhares de visitantes e moradores.
Festival Folclórico do Amazonas. Foto: Aguilar Abecassis/Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa AM
Festival dos Botos – Maraã (AM)
Conhecido como ‘Princesinha Japurá’, o município de Maraã está localizado a 634 km de Manaus e se destaca pela realização do Festival dos Botos de Maraã, que acontece sempre no final do mês de Julho, levando para o remanso os Botos Tucuxi e Vermelho.
O festival teve sua primeira edição em 2006 e se tornou um importante chamativo turístico para que as pessoas conheçam as praias típicas da região que surgem com a chegada do verão e o início de seca dos rios, que inicia normalmente em julho.
Festival do Cará-roxo e Cará-branco – Caapiranga (AM)
O Festival do Cará-roxo e Cará-branco, também conhecido como Festival dos Carás, é um evento cultural anual que acontece em Caapiranga (AM) no início de setembro. O festival celebra a cultura local e a produção agrícola, especialmente o cará-roxo e o cará-branco, com apresentações culturais e exposição de produtos regionais.
O festival é uma manifestação da cultura popular e valoriza os produtores locais, além de fortalecer a identidade do município. O evento conta com a participação dos grupos Cará-Roxo e Cará-Branco, que representam a rivalidade cultural, mas também a união da comunidade. O festival também movimenta a economia local e impulsiona o turismo na região.
Festival dos Carás. Foto: Reprodução/Instagram-euamo_caapiranga
Jambu e açaí. Para além do consumo tradicional nos pratos típicos do paraense, esses dois ingredientes também aparecem em diversas formas: geleias, cachaças, conservas, pimentas e licores. A novidade é que ambos vêm sendo estudados para aplicações que vão além da culinária, como na área da saúde bucal. Resultado da Pós-Graduação em Odontologia, da Universidade Federal do Pará (UFPA), a tese de Brennda Lucy Freitas de Paula e a dissertação de Zuleni Alexandre da Silva utilizaram o jambu e o açaí, respectivamente, em suas pesquisas.
O uso de plantas medicinais é uma prática ancestral que vem ganhando espaço nas pesquisas científicas. Mesmo com o avanço dos medicamentos sintéticos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 80% da população ainda recorre aos medicamentos naturais, especialmente em países em desenvolvimento. Inserida nesse cenário de valorização dos saberes tradicionais, a pesquisa de Brennda de Paula buscou uma abordagem natural para um problema comum: a sensibilidade após o clareamento dental.
Orientada pela professora Cecy Martins Silva, ela desenvolveu a tese ‘Desenvolvimento e Avaliação de um Gel Experimental de Extrato de Acmella oleracea (Jambu) sobre o Esmalte e Controle da Sensibilidade Dentária Pós-Clareamento: Um Estudo Laboratorial e Clínico‘, com o objetivo de aliviar esse desconforto e ampliar as opções terapêuticas na odontologia.
Zuleni da Silva, por sua vez, voltou-se para outro problema frequente de saúde bucal: a periodontite, doença que tem início com um quadro de gengivite, que, se não tratada adequadamente, pode evoluir e provocar a destruição dos tecidos que sustentam os dentes, levando à perda dentária.
Com o objetivo de encontrar alternativas que complementam o tratamento convencional, Zuleni desenvolveu a dissertação ‘Avaliação Bioquímica e Morfológica do Açaí Clarificado como Tratamento Adjuvante em Modelo Experimental de Periodontite por Ligadura‘, orientada pela professora Renata Duarte de Souza Rodrigues. O estudo avaliou os efeitos bioquímicos e morfológicos do açaí clarificado como possível agente complementar no tratamento da periodontite, utilizando um modelo experimental com ratos.
Jambu. Foto: Reprodução
Ainda não havia registro de jambu aliado à odontologia
Quem já comeu jambu se lembra bem da sensação de tremor na boca. A dormência ao mastigar a folha é conhecida por suas propriedades sensoriais específicas, que provocam um estímulo tátil diferente dos estímulos gustativos de outras ervas ou compostos naturais. Foi justamente esse efeito curioso que despertou o interesse da pesquisadora Brennda de Paula em sua tese.
“Como ele dá essa sensação anestésica, sentimos um tremor nos lábios, uma sensação de dormência na boca. As pesquisas mostram que essa sensação, na verdade, é derivada do bloqueio dos canais de sensibilidade de dor. Trata-se de um efeito neural. E esses mesmos canais estão presentes nas células do dente — no nervo dental ou na polpa dentária. Assim surgiu a ideia de utilizar esse ativo, pois, até então, não havia nada na literatura relacionando o jambu à odontologia”, explica Brennda.
Com uma proposta inédita, a construção da metodologia foi o maior desafio enfrentado pela pesquisadora. Como não havia nenhum estudo anterior que servisse de base, cada etapa precisou ser criada do zero. “O estudo foi realizado em parceria com o Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (CVACBA), coordenado pelo professor Hervé Rogez.
Cada etapa foi pioneira, pois não havia nada padronizado. Não conseguimos encontrar nenhuma pesquisa que tivesse uma ‘receitinha’ para nos guiar. O mais desafiador foram as etapas que envolviam outras áreas de conhecimento. Precisei sair muito da minha zona de conforto para entender de química, de engenharia, de biotecnologia e tudo mais”.
Antes de chegar aos testes em humanos, o estudo passou por diversas fases. Inicialmente, os experimentos foram feitos utilizando células, depois, com dentes bovinos, até chegar ao ensaio clínico. Nessa etapa, foram utilizados dois tipos de gel: um placebo e outro com o extrato de jambu. Os voluntários não sabiam a que grupo pertenciam, uma estratégia adotada para garantir a imparcialidade dos resultados. O extrato utilizado era purificado, ou seja, límpido, incolor, sem odor e com alta concentração do ativo. Como ele era aplicado apenas em consultório e não apresentava características perceptíveis, os participantes não tinham como identificar qual gel estavam usando.
Apesar de o jambu já ter sido estudado para outras aplicações, na odontologia ele surge como uma possibilidade inovadora. Hoje, os tratamentos para sensibilidade pós-clareamento disponíveis não garantem 100% de alívio da dor.
“Nosso objetivo é ir além do que já existe, permitir que as pessoas possam fazer um clareamento de forma mais confortável, utilizando um gel à base de jambu. Estamos falando de fitoterápicos, que são fármacos derivados de plantas e que têm um potencial imenso”, defende a pesquisadora.
Açaí é usado como agente terapêutico paraperiodontite
Uma das principais formas de tratamento da periodontite é o protocolo de raspagem e alisamento radicular, o qual consiste na remoção do biofilme dental, uma camada de microrganismos que se forma sobre os dentes e está diretamente ligada ao processo inflamatório. A ideia de unir o açaí a esse tratamento surgiu como uma forma de investigar seus efeitos sobre a doença, já que o fruto apresenta propriedades antioxidantes comprovadas em diversos estudos.
Açaí. Foto: Reprodução/IDAM
De acordo com Zuleni Alexandre da Silva, já existem estudos anteriores envolvendo o açaí em outros contextos. No entanto o diferencial da sua pesquisa foi investigar o fruto como agente terapêutico após o surgimento da doença periodontal. “O primeiro estudo realizado pelo nosso grupo avaliou o uso do açaí clarificado durante a progressão da periodontite. No meu estudo, ele foi utilizado logo após o diagnóstico da doença”, explica.
A metodologia envolveu um modelo experimental com ratos, etapa essencial em pesquisas inéditas como esta, que visam abrir caminho para aplicações futuras. A indução da periodontite nos animais foi feita com a colocação de um fio de algodão entre os dentes inferiores, o qual permanecia ali por 14 dias. Nesse período, o acúmulo de biofilme gerava a inflamação necessária para o estudo.
Após a indução da doença, o tratamento experimental foi realizado ao longo de 28 dias. Apesar de não terem sido observados resultados quanto à regeneração óssea nesse período, os efeitos bioquímicos se destacaram.
“Observamos uma melhora nos parâmetros antioxidantes no sangue dos animais. Como sabemos que o desequilíbrio da bioquímica oxidativa influencia bastante no desenvolvimento dos processos inflamatórios, essa melhora significa um resultado importante. O açaí ajudou a modular esses parâmetros, contribuindo na mediação do processo inflamatório”, conta Zuleni da Silva.
A pesquisadora reforça que, embora ainda sejam iniciais, os resultados indicam um potencial de aplicação futura em humanos, principalmente como terapia complementar no tratamento da periodontite. “Estamos planejando fazer novos estudos, avaliando um período de tratamento maior, e entender se pode haver uma resposta óssea mais significativa”, completa Zuleni.
Estudos valorizam potencial dos saberes tradicionais
Tanto o jambu quanto o açaí, tradicionalmente presentes em nossa cultura alimentar, foram explorados cientificamente como forma de potencializar tratamentos já consolidados. Mais do que contribuir de forma inovadora na área da saúde bucal, os estudos também representam uma maneira de reconhecer e valorizar o potencial da floresta e seus saberes.
A pesquisa desenvolvida por Brennda de Paula com o extrato de jambu foi um projeto pioneiro que abriu caminhos para investigações futuras. Para que o gel desenvolvido possa se tornar comercialmente viável, seja a curto ou a longo prazos, serão necessários novos testes, inclusive com um número maior de participantes e avaliações clínicas mais amplas. Porém a linha de pesquisa segue ativa com a professora Cecy Martins Silva, orientadora de Brennda, que tem aprofundado os estudos sobre o jambu em aplicações mais abrangentes na odontologia.
A investigação com o açaí não encerrou com a defesa da dissertação de Zuleni Alexandre da Silva. Mais integrantes do grupo de pesquisa aprofundam os estudos utilizando outros modelos experimentais de doenças da cavidade oral, especialmente para entender os efeitos da suplementação por períodos bastante longos. “Eu mudei a minha linha de pesquisa porque estamos desenvolvendo um novo modelo com tratamento de fotobiomodulação, uma técnica que utiliza luz para promover a cicatrização, aliviar a dor e modular a inflamação”, afirma Zuleni.
Sobre a pesquisa
A tese Desenvolvimento e Avaliação de um Gel Experimental de Extrato de Acmella oleracea (Jambu) sobre o Esmalte e Controle da Sensibilidade Dentária Pós-Clareamento: Um Estudo Laboratorial e Clínico foi desenvolvida por Brennda Lucy Freitas de Paula, no Programa de Pós-Graduação em Odontologia (PPGO/UFPA), sob orientação da professora Cecy Martins Silva, e defendida em 2024. Já a dissertação Avaliação Bioquímica e Morfológica do Açaí Clarificado como Tratamento Adjuvante em Modelo Experimental de Periodontite por Ligadura foi desenvolvida por Zuleni Alexandre da Silva, no mesmo programa de pós-graduação, com orientação da professora Renata Duarte de Souza Rodrigues, e defendida em 2024.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, da UFPA, edição 175, escrito por Evelyn Ludovina
Um novo estudo realizado por cientistas da Universidade Federal do Pará (UFPA), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) mostrou que as mudanças climáticas e a poluição por microplásticos podem afetar diretamente os processos de decomposição nos igarapés amazônicos, com possíveis consequências para a biodiversidade, para o ciclo do carbono e para a qualidade da água.
O experimento foi realizado no Projeto Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (Adapta), uma iniciativa do Inpa voltada a investigar como os organismos aquáticos amazônicos respondem aos cenários de mudanças climáticas.
O estudo, publicado na revista científica Science of The Total Environment, foi conduzido em microcosmos, que são pequenos ambientes controlados em laboratório, projetados para simular as condições previstas para o clima amazônico até o final do século. Dentro dessas câmaras, os pesquisadores controlaram temperatura e concentração de gás carbônico (CO₂) com alta precisão e também adicionaram diferentes níveis de microplásticos semelhantes aos encontrados nos rios da região.
O projeto conta com uma infraestrutura pioneira de câmaras climáticas controladas, localizadas em Manaus (AM), capazes de simular diferentes combinações de temperatura e concentração de CO₂ previstas para o futuro. Essa estrutura permite aos pesquisadores observar, em tempo real, como as espécies da região reagem fisiológica, ecológica e comportamentalmente ao aquecimento global, contribuindo com dados fundamentais para a formulação de políticas públicas para a conservação da biodiversidade.
“Criamos um cenário do futuro em miniatura para entender como os organismos que mantêm os igarapés funcionando vão reagir às mudanças que já estão em curso. Os fungos aquáticos são invisíveis aos nossos olhos, mas cumprem um papel central ao decompor folhas e garantir o fluxo de nutrientes nos ambientes de água doce. Sem eles, toda a cadeia alimentar pode ser impactada, incluindo os peixes e a segurança alimentar de muitas comunidades”, explica a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PPGECO/UFPA) Viviane Firmino, que liderou o estudo.
Os fungos estudados são conhecidos como fungos conidiais e desempenham um papel importante na decomposição das folhas que caem na água provenientes da vegetação ripári, reciclando nutrientes e sustentando a base da cadeia alimentar aquática.
Para entender como esses organismos respondem às ameaças ambientais, os pesquisadores simularam três cenários climáticos – o atual, de acordo com as condições ambientais que estamos vivendo no momento, um intermediário e um mais extremo, baseados em projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – além de testarem diferentes concentrações de microplásticos.
A pesquisa utilizou folhas de espécies de árvores típicas da floresta amazônica, que foram submersas em água e expostas nas câmaras climatizadas. Os cientistas, então, analisaram quantas espécies fúngicas se desenvolveram, quantos esporos foram produzidos (indicando sua atividade reprodutiva) e qual foi a taxa de decomposição da matéria orgânica.
Por que esses fungos são importantes?
Nos igarapés amazônicos, especialmente aqueles cercados por florestas densas, a principal fonte de alimento disponível para os organismos aquáticos (insetos, camarões, caranguejos, peixes etc.) é a matéria orgânica que vem das folhas que caem das árvores. No entanto a maior parte desses organismos, como os insetos aquáticos, não consegue se alimentar diretamente dessas folhas, que são difíceis de digerir por serem ricas em compostos complexos, como a lignina e a celulose.
É neste momento que aparecem os fungos. Eles colonizam as folhas submersas e iniciam o processo de decomposição, quebrando a matéria orgânica em partículas menores e mais nutritivas. Além disso, tornam as folhas mais palatáveis e acessíveis para outros organismos, funcionando como “pré-digestores” naturais.
Sem essa atuação, o alimento simplesmente não estaria disponível para a maioria dos seres vivos que habita esses ecossistemas. Por isso os fungos são considerados fundamentais para o funcionamento dos igarapés: eles conectam a floresta às cadeias alimentares aquáticas e mantêm em equilíbrio o ciclo de nutrientes.
Assim, os resultados do estudo chamaram atenção devido a alguns fungos desaparecerem nos cenários mais quentes ou quando foram colocados em condições com mais microplástico. Já outros fungos resistiram, e uma espécie em particular, Pestalotiopsis microspora, aumentou sua atividade, possivelmente por conseguir degradar certos tipos de plástico.
O estudo apontou, ainda, que a combinação entre aquecimento e microplásticos reduziu a eficiência da decomposição das folhas, um processo essencial para manter a saúde dos igarapés e controlar o ciclo do carbono nesses ambientes.
“Esse tipo de experimento ajuda a antecipar as consequências antes que elas ocorram de forma irreversível na natureza. É como se estivéssemos testando a resiliência dos ecossistemas amazônicos em uma cápsula do tempo. Então, é fundamental estudar esses processos nos ambientes tropicais, porque a maior parte do que se sabe sobre as mudanças climáticas e microplásticos ainda vem de estudos em regiões temperadas”, destaca o professor da UFPA Leandro Juen
Mudança na cadeia alimentar
Um alerta que o estudo traz é o potencial que condições muito drásticas têm para a redução da decomposição, o que significaria menos nutrientes disponíveis na água, menos alimentos para os organismos aquáticos e ações que resultam em mudanças em toda a cadeia alimentar, afetando desde insetos e peixes até a pesca, a segurança alimentar e o abastecimento de água das populações humanas.
Pesquisa que avalia riscos das mudanças climáticas e da poluição por microplásticos para a saúde dos igarapés da Amazônia. Foto: Viviane Firmino/Acervo pessoal
De acordo com os pesquisadores, essas mudanças na ciclagem de nutrientes ou na biodiversidade podem afetar na potabilidade da água e, com isso, diminuir o acesso a esse recurso essencial para a sobrevivência humana. Além disso, esse processo também influencia diretamente na liberação de gases como o CO₂ e o metano, podendo retroalimentar o aquecimento global.
“Esses fungos são como os recicladores do ecossistema. Quando eles não funcionam bem, o ciclo de nutrientes é comprometido, o que pode afetar toda a vida aquática”, destaca Viviane Firmino.
Como a maior parte dos estudos sobre aquecimento global se concentra em regiões temperadas, que não representam a realidade amazônica de clima e de biodiversidade, “estudos como este ajudam a preencher essa lacuna e mostram que os impactos ambientais amazônicos precisam ser estudados na Amazônia, com sua biodiversidade.
Só conhecendo esses padrões podemos planejar ações eficazes de mitigação e adaptação que façam sentido para a Amazônia, uma vez que as regiões temperadas têm uma biodiversidade infimamente menor e menos complexa que a Amazônia”, completa o professor Leandro Brasil (UFMT), um dos coautores do estudo.
Tendo a região amazônica como centro de debate sobre as mudanças climáticas, especialmente no ano que se prepara para sediar a COP 30, os autores destacam que proteger os pequenos organismos que sustentam os ecossistemas é tão urgente quanto preservar as grandes paisagens.
Neste sentido, conhecer o que acontece nos igarapés é fundamental para entender como a floresta responde ou resiste às mudanças do planeta, uma vez que os fungos e a biodiversidade de pequenos corpos d’água, como a dos igarapés amazônicos, são fundamentais para a manutenção do complexo e rico sistema de drenagem da Bacia Amazônica.
A pesquisa foi conduzida por uma equipe interdisciplinar composta por Viviane Caetano Firmino (UFPA), Leandro Juen (UFPA), Rafael Costa Bastos (UFPA), Renato Tavares Martins (Inpa), Neusa Hamada (Inpa), Raul Bismarck Pinedo-Garcia (Inpa), Leandro S. Brasil (UFMT), Adriana Medeiros Oliveira (UFBA), Natalia Natiely Barroso Mandarino (UFBA) e Giseli Gomes Barreto (UFBA), e recebeu suporte e financiamento do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), por meio de bolsas de apoio à pesquisa no eixo temático “Mudanças climáticas e conservação da biodiversidade” da Chamada 05/2021.
*O conteúdo foi originalmente publicado na Universidade Federal do Pará