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11 guardiões da Amazônia que o Greenpeace reencontrou após 20 anos

Guardiões da floresta no Amazonas foram reencontrados pelo Greenpeace durante expedição em 2025. Foto: Nilmar Lage/Greenpeace

Mesmo diante do avanço de ameaças como o PL da Devastação, é preciso manter a força e a coragem. Para se inspirar, o Greenpeace reuniu, no Dia Nacional das Florestas (17/07), informações sobre 11 guardiões da Amazônia que a associação conheceu há mais de duas décadas e, em maio de 2025, realizou um novo encontr durante a ‘Expedição Respeitem a Amazônia’, no Médio Juruá, no Amazonas.

À convite de ribeirinhos e do povo Deni, o Greenpeace visitou a região, entre 1999 e 2003, para apoiar no combate ao desmatamento e na luta pelo território. Até os anos 90, as populações locais enfrentavam trabalho análogo à escravidão e extração ilegal de madeira.

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Mas, com muita união, conseguiram transformar um cenário de destruição em solução. Além de expulsar os invasores e se libertar, conquistaram um mosaico de áreas protegidas, com quase 2 milhões de hectares:

  • duas Unidades de Conservação: a Resex Médio Juruá (criada em 1997) e RDS Uacari (oficializada em 2005);
  • e a Terra Indígena Deni (demarcada em 2003).

Leia também: Guardiões da cultura ancestral são destaque em dossiê do Boletim do Museu Goeldi

Hoje, o Médio Juruá (AM) é um exemplo de superação. As comunidades e aldeias vivem do manejo e da extração sustentável de seringa, açaí, copaíba, mel, sementes e pesca, como pirarucu. Juntando saberes ancestrais e tecnologias sociais, geram renda, bem viver, proteção ambiental e equilíbrio climático.

Conheça histórias reais de quem está cuidando da maior floresta tropical do mundo:

Manoel Cunha

Manuel Cunha era seringueiro quando conheceu o Greenpeace, em 1999. Atualmente, seu principal trabalho é como liderança e gestor da Resex Médio Juruá pelo ICMBio.

“É possível faturar sem derrubar uma árvore. Não conheço nenhuma comunidade que destrua o ambiente e viva bem. Eu conheço patrão que melhorou de vida, mas comunidade não. É muito mais fácil melhorar a qualidade de vida com uso sustentável dos recursos, do que desmatando”, afirma.

Vititivi Hava Deni

Vititivi Hava Deni é ancião do povo Deni, morador da aldeia Itaúba, e atuou na autodemarcação da Terra Indígena, ou seja, o próprio povo Deni demarcou seu território, homologado pelo Estado em 2004.

Hoje Vititivi conta as histórias para os mais novos, descrevendo os anos de luta pelo reconhecimento da terra, e se orgulha de cultivar roças em harmonia com a floresta.

Miriane Silva

Em 1999, Miriane Silva era menina quando o Greenpeace visitou sua comunidade Bauana pela primeira vez, antes mesmo da criação da RDS Uacari. Reencontramos com ela 25 anos depois, na casa de farinha de sua família.

“A vida na floresta é pesada, igual fazer farinha, mas tenho muito orgulho. Antes da reserva era difícil. Não tinha preservação ou peixe, só ataque. Hoje melhorou muito”, conta.

Baba Hava Deni

Baba Hava Deni é ancião e agente de saúde do povo Deni, cuida da qualidade da água e até do calendário de vacinas. Também participou da luta pela demarcação da Terra Indígena Deni no início dos anos 2000 e lembra das primeiras visitas do Greenpeace: “Iam para mata e até para Manaus com a gente, ajudavam a marcar o território e nas reuniões com autoridades”.

Flavio do Carmo

Nascido e criado na comunidade Bauana, Flavio do Carmo é conselheiro da Asproc, associação mãe do Médio Juruá, secretário do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e assistente do Memorial Chico Mendes (MCM). Assim como a maioria do povo juarense, ele vem de uma família de seringueiros, como seu tio Xeruã, que aparece na foto antiga, em 1999.

Antonio Raimundo (De Açúcar)

“Sem mel, não temos vida”, destaca seu Antônio Raimundo, conhecido como ‘De Açúcar’. Ele sempre gostou de coletar mel, como mostra a foto dele em 1999. Só que, antigamente, derrubavam árvores para extrair, já hoje é o inverso: a criação de abelhas sem ferrão, que ele mesmo implantou no seu quintal, ajuda a polinizar a floresta e gerar vida ao redor.

Mavarivi Bukure Deni (Leo)

Mavarivi Bukure Deni coordena a fiscalização da Terra Indígena Deni, mantendo a área livre de invasores, e registra tudo nos documentos da vigilância. Na foto de 2003, ele aparece ajudando a carregar os marcos para a demarcação do território, quando passaram 20 dias na floresta, com fome e frio, mapeando toda a área — e o Greenpeace estava junto.

Raimundo de Souza (Seu Pi)

Aos 73 anos, Seu Pi (Raimundo de Souza) é um dos mais velhos a coletar andiroba na comunidade do Roque, na Resex Médio Juruá — como mostram as fotos de 1999. A diferença é que hoje o trabalho melhorou: tem mais renda, tecnologia e parceiros, e as sementes viram cosméticos vendidos em todo o Brasil.

Maria Lenicia

“Criei seis filhos na agricultura, nunca tirei nenhum da escola para ir trabalhar e nunca precisei derrubar a mata”, relata dona Maria Lenicia, da comunidade Bauana, na RDS Uacari.

Quando ela era menina, eram raras as escolas no Médio Juruá (AM) — os antigos “patrões” proibiam, para seguir explorando ilegalmente a floresta e a mão de obra dos ribeirinhos e indígenas. Hoje, as comunidades e aldeias conquistaram suas escolas, embora precisem de melhorias e mais assistência do poder pública, afinal educação é um direito.

Antonio da Cunha (Seu Tota)

“A gente não pensa só no hoje, pensa no amanhã. Antes a gente só fazia o que o patrão mandava, podia ser bom ou ruim. Hoje, dentro da Reserva Extrativista, a gente trabalha com liberdade e responsabilidade, cuidando do que é nosso”, explica seu Antônio da Cunha (Seu Tota), seringueiro da comunidade São Raimundo, na Resex Médio Juruá. Na foto de 1999, aparece mostrando borrachas coloridas, feitas através da tecnologia que Greenpeace ajudou a instalar na época.

Bunarivi Varasha Deni (Dr. Barro)

Bunarivi Varasha Deni, pajé, também atuou na autodemarcação e até hoje se lembra das pessoas do Greenpeace que participaram do processo. Seu apelido é Dr. Barro, dado por médicos e antropólogos que estudam a medicina indígena Deni, porque ele trata as pessoas com argila da terra, um conhecimento ancestral. “Se mulher grávida tem hemorragia, cavo um buraco fundo e pego terra para curar”.

*Com informações do Greenpeace

Rio Negro inicia vazante em Manaus, mas níveis seguem altos para o período

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Vazante em 2024. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O monitoramento realizado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) indica o início da vazante do rio Negro em Manaus (AM). Nos últimos dias, o nível do rio desceu, em média, 1,5 centímetro por dia e chegou à marca de 28,89 metros na terça-feira (15). Apesar da tendência de descida, os níveis permanecem elevados para a época, o que mantém a classificação da enchente no intervalo de cota de inundação severa em algumas estações do baixo curso do rio Solimões e no Amazonas. Os dados são apresentados no 28º Boletim de Alerta Hidrológico do Sistema de Alerta Hidrológico da Bacia do rio Amazonas.

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A situação do rio Negro também é acompanhada em outras localidades da bacia e indica o fim do período de cheia e a transição para a vazante, explica o gerente de Hidrologia e Gestão Territorial da Superintendência de Manaus, Andre Martinelli:

“Esse processo já foi iniciado há mais tempo nos rios da margem direita – Madeira, Purus e Juruá, e iniciou na parte mais baixa da bacia, na região de Manaus, na semana passada. Em todas as estações monitoradas, o ritmo de descida é considerado normal para a época”.

A cheia deste ano foi considerada grande, demonstrando recuperação da bacia do Amazonas após a seca severa de 2023/2024. “Em toda a bacia foram observados níveis acima do esperado para a época e, em alguns pontos, as marcas superaram a cota de inundação severa”, destacou Martinelli.

Leia também: Portal Amazônia responde: como funcionam os processos de enchente e vazante dos rios?

Níveis em processo de descida

Outros importantes rios da região também apresentam tendência de redução. O rio Solimões, por exemplo, mantém recessão em diversos pontos:

  • em Tabatinga (AM), o declínio médio é de 12 cm por dia;
  • em Fonte Boa (AM), 4 cm;
  • e em Manacapuru (AM), o recuo é mais suave, na ordem de 1 cm diário.

O rio Purus começa a entrar em processo de vazante em Beruri (AM), e o rio Acre continua com níveis baixos em Rio Branco (AC).

Na bacia do Madeira, a redução é mais expressiva. Em Porto Velho (RO), o rio desceu 27 cm em um dia. Já o Amazonas mostra os primeiros sinais de descida, com registros de queda em Itacoatiara (AM), Parintins (AM) e Óbidos (PA) — todas em média de 1,5 cm por dia. Na bacia do rio Branco, o nível permanece alto em Caracaraí (RR), acima da cota de atenção (8,5 m), embora em Boa Vista (RR) a cheia apresente elevações menores.

O Boletim de Monitoramento Hidrológico da Bacia do Rio Amazonas é divulgado às terças-feiras na plataforma do Sistema de Alerta Hidrológico.

Monitoramento 

O monitoramento dos rios é feito a partir de estações, que fazem parte da Rede Hidrometeorológica Nacional (RHN), coordenada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O SGB opera cerca de 80% das estações e gera informações que apoiam os sistemas de prevenção de desastres, a gestão dos recursos hídricos e pesquisas. As informações estão disponíveis na plataforma SACE e são atualizadas diariamente. 

*Com informações do SGB

Criação do Mosaico Gurupi garante proteção da sociobiodiversidade na Amazônia Oriental

O Mosaico Gurupi é formado por uma UC e seis Terras Indígenas. – Foto: Mapa: Magda V. C. Miranda

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima reconheceu a criação do Mosaico Gurupi, um conjunto de unidades de conservação (UC) e Terras Indígenas (TI) localizadas na região amazônica, entre os estados do Pará e Maranhão.

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De acordo com a Lei nº 9.985/2000 que instituiu o SNUC, um mosaíco pode ser constituído quando existir um conjunto de unidades de conservação de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou sobrepostas, e outras áreas protegidas públicas ou privadas. No caso do Mosaico Gurupi, a área é de aproximadamente 46 mil km², abrangendo a Reserva Biológica (Rebio) do Gurupi, as TI’s Araribóia, Caru, Rio Pindaré, Alto Turiaçu, Awá, no Maranhão; e Alto Rio Guamá, no Pará. 

A articulação para a criação de um mosaico de áreas protegidas começou em 2014, mas já era um sonho antigo das comunidades locais visando fortalecer a gestão participativa dos territórios, a conservação da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e conter o avanço do desmatamento. No território encontra-se o maior remanescente de floresta da Amazônia, espécies endêmicas e ecossistemas ameaçados, além de diversos povos indígenas, incluindo os Awá-Guajá, que vivem em isolamento voluntário. 

Luta indígena ajuda a preservar remanescentes da floresta amazônica. Foto: Guel Bernucci Acervo Pessoal

“Só com essa união de nós todos vamos conseguir salvar as florestas ainda existentes no estado do Maranhão”, disse Wilson Guajajara, escolhido para representar as populações indígenas do Mosaico Gurupi. “Esse reconhecimento é algo que vamos levar para sempre porque ninguém acreditava que íamos chegar nesse momento, Vale a pena lutar e acreditar”, comemorou. 

“Todas essas áreas protegidas e essa aliança entre povos indígenas e as comunidades tradicionais nada mais é do que a gente sonhar em ter um futuro”, declarou a ministra, salientando a importância da reconhecimento do Mosaico como marco do fortalecimento da política ambiental no Brasil em diálogo com a sociedade. 

Governança

O Museu Goeldi pesquisa o Gurupi há décadas e desde os estudos desenvolvidos nos anos 80 por David Oren (1953-2023) defende a criação da proteção ambiental do Vale do Gurupi. As pesquisas de Oren sobre a fauna ornitológica foram essenciais para a criação da Rebio em 1988. A meta de conservar o Gurupi foi abraçada por gerações de cientistas do Museu Goeldi além de Oren, como os antropólogos Louis Forline e Cláudia López, o primatólogo José de Souza da Silva Júnior (Cazuza), o biogeógrafo Jose Maria Cardoso da Silva, a etnobotânica Márlia Coelho-Ferreira e a ecóloga Marlúcia Martins.

Mosaico Gurupi
O Mosaico Gurupi é formado por uma UC e seis Terras Indígenas. – Foto: Mapa: Magda V. C. Miranda

Novas pesquisas são continuamente realizadas no território, sobretudo nas áreas de antropologia, conservação e ecologia, razão pela qual o Museu Goeldi integra o conselho gestor do Mosaico desde o início. 

“Publicamos um artigo sobre a situação da Amazônia maranhense, mostrando essa questão territorial e fomos avançando tanto no aspecto de entendimento da importância dessa gestão territorial desses últimos blocos de floresta que existem ainda nessa região entre o nordeste paraense e o Maranhão, mas também agregamos a isso essa luta cultural e de proteção territorial que era um anseio dos grupos indígenas”, comenta a pesquisadora Marlúcia Martins, representante do Museu Goeldi no conselho do Mosaico Gurupi. 

Organizações de povos indígenas, da sociedade civil, órgãos dos governos estaduais e federal, organizações não-governamentais, empresas e instituições de ensino e pesquisa compõem o conselho gestor responsável por garantir a governança territorial e a participação ativa dos diferentes grupos sociais da região. 

“O Mosaico tem sido muito profícuo em termos de demonstrar a importância de se formar uma rede de proteção territorial com o objetivo de preservar a biodiversidade, mas também de manter e dar condições de vida e de respeitabilidade às populações indígenas da região”, afirma Marlúcia Martins.

*Com informações do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima

Incêndios florestais representam risco para investimentos na Amazônia

Incêndio florestal em Roraima. Foto: Jader Souza/AL Roraima

O cenário de emergência climática já é suficiente para aumentar o risco de incêndios florestais. O fogo, no entanto, se tornou também um risco para os investimentos econômicos na Amazônia. A constatação ocorreu durante o painel ‘Impacto do fogo no cenário de investimentos na Amazônia’, no dia 17 de julho, durante a Semana do Clima da Amazônia, em Belém (PA). O evento teve apoio do Fundo Vale, Hydro, Fundação Walmart e Norad, e foi organizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

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Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM, apresentou dados que mostram um crescimento dos incêndios. Somente em 2024, foram 30 milhões de hectares queimados no Brasil, um aumento de 64% em relação à média histórica. Segundo Ane, as mudanças climáticas favorecem uma floresta mais inflamável, mas acredita que prevenir  econtrolar o fogo pode ajudar a mitigar esse cenário. 

“Nós, em nossas casas, utilizamos o fogo, mas controlamos. Se usássemos o fogo para tomar banho, e o fogo descontrolasse, não teria bombeiro suficiente para apagar a quantidade de incêndios nas casas das pessoas”, exemplificou. “É a mesma coisa na zona rural. Muita gente usa fogo. Mas precisa ser de forma responsável, senão, não há corpo de bombeiros, exército, Ibama, ICMBio, todas as brigadas disponíveis, não vão ser capazes de controlar e combater o fogo num clima como esse”.

Leia também: Inédito no Brasil: Bombeiros do Amazonas atendem primeira ocorrência com drone para combater incêndio

Mantido o cenário com altos índices de incêndios florestais, o impacto econômico é inevitável, na avaliação de Andrea Azevedo, vice-presidente na Emergent, responsável pelo Coalizão LEAF, que reúne entidades e empresas, para criar incentivos aos Estados que cumprem metas e critérios de preservação ambiental. Para ela, repetir o resultado de 2024 na questão do fogo significa perda de dinheiro para os cofres estaduais.  

“A cobrança também vem de um controle social, de uma percepção maior de que reduzir o desmatamento, fogo e a degradação, de forma geral, gera dividendos e é importante, além de melhorar o ambiente de negócio”, avaliou. 

Exemplo do Pará 

Renata Nobre, secretária adjunta de gestão de recursos hídricos e clima da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas-PA), apresentou os resultados do programa Pará sem Fogo, que tornou prioritária a prevenção para evitar anular esforços do governo do Estado num cenário de incêndios florestais.  

“Isso compromete o nosso programa de REDD. Como podemos falar em restaurar áreas degradadas tendo uma ameaça tão grande, que é o fogo descontrolado?”, questionou. 

A iniciativa Pará Sem Fogo permitiu mapear 22 áreas prioritárias, além de garantir respostas mais rápidas das brigadas de incêndio a partir de uma coordenação integradas entre os órgãos do Estado. 

“Estamos em busca de campanhas de informação, mas principalmente de capacitação e equipamentos estruturantes e recursos humanos capazes para que tenham brigadistas frequentemente para, quando o fogo é, termos capacidade de ação mais cedo”, afirmou. 

Saiba mais em: semanadoclimaamazonia.com.br  

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo IPAM

Cobras contribuem para equilíbrio ecossistêmico na BR-319

Foto: Reprodução

No dia 16 de julho é celebrado o Dia Mundial da Cobra, uma data que busca enfatizar a importância desses répteis para os ecossistemas onde vivem e incentivar a sociedade a atuar em sua proteção. Na área de influência da rodovia BR-319, desempenham um papel importante no equilíbrio ecossistêmico, o que também beneficia a população humana.

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É o que explica Igor Yuri Fernandes, mestre em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e fundador do Projeto Suaçuboia, que atua no Amazonas.

“As cobras são predadores intermediários. Em alguns casos, predadores de topo. Elas desempenham um papel de equilíbrio no ecossistema, servindo tanto de presas para grandes predadores quanto de predadoras para pequenos animais. Dessa forma, auxiliando no controle populacional de diversas espécies”, explica.

Leia também: Portal Amazônia responde: Cobra e serpente são diferentes?

Ligando os estados do Amazonas e Rondônia, a área de influência da BR-319 é composta por uma transição entre florestas densa e aberta, o que dá abrigo para mais de 40 espécies de cobras, dentre as quais estão a cascavel (Crotalus durissus) e cobra-cipó (Chironius exoletus).

Fotos: Reprodução

No ano de 2020, Fernandes ajudou a fundar o Projeto Suaçuboia, hoje reconhecido como um grupo de pesquisa no Instituto de Biodiversidade e Conservação da Amazônia (IBCAM).

O trabalho parte da escuta das crenças populares alinhado ao saber científico. O biólogo explica que além de valorizar o conhecimento popular, isso incentiva novas pesquisas acadêmicas que esclarecem dúvidas sociais e científicas.

Leia também: Primeiro registro de vocalização para uma serpente na América do Sul é realizado na Amazônia

Fernandes reconhece que ainda há um preconceito em relação a esses répteis, mas reafirma a sua importância. “Nós trazemos uma outra visão de que nem todas as cobras são mortais, e que muitas são benéficas ao fazer o controle de algumas pragas e até no fornecimento de insumos farmacêuticos”, acrescenta.

Igor Yuri Fernandes é biólogo pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e mestre em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), fundador e pesquisador do projeto Suaçuboia. Atualmente, ocupa o cargo de diretor técnico-científico no Instituto de Biodiversidade e Conservação da Amazônia (IBCAM).

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Observatório BR-319

Rede Wetscape visa proteger áreas úmidas em todo o território nacional

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Áreas úmidas da Amazônia também fazem parte dos complexos de proteção. Foto: Miguel Monteiro/Instituto Mamirauá

O Brasil se destaca mundialmente por sua riqueza em recursos hídricos nos diferentes biomas e ao longo do sistema costeiro-marinho, que sustentam vastas paisagens úmidas (PUs) com centenas a milhares de quilômetros quadrados.

Esses complexos paisagísticos são formados por conjuntos de macro-hábitats, unidades funcionais interconectadas pela água ao longo de gradientes, que apresentam grande heterogeneidade em área, biodiversidade, serviços ecossistêmicos, vulnerabilidade e resiliência, o que tem fortes implicações para a gestão ambiental inclusiva e participativa.

O quadro de desproteção das PUs interiores e costeiras é alarmante, frente às crescentes ameaças da mudança climática e inúmeros impactos de origem humana, que causam desequilíbrio, perda de biodiversidade, serviços ecossistêmicos e vidas humanas e insegurança alimentar e hídrica, evidenciando a grave ausência de políticas públicas eficazes e consistentes para sua gestão. 

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O principal aspecto inovador do INCT Rede de Paisagens Úmidas Brasileiras (Wetscape), coordenado pelo pesquisador do INPA, Jochen Schöngart, é analisar de forma holística cada paisagem úmida componente da rede focando em estressores e mitigadores comuns a todas.

Para isso, será aplicada uma abordagem interdisciplinar que permitirá analisar padrões de resiliência das PUs a múltiplos estressores, como o aumento do nível do mar, eventos climáticos extremos, fogo e presença de espécies exóticas de flora e fauna.

Das dezenas de PUs que ocorrem nos biomas e no sistema costeiro-marinho do Brasil, foram selecionadas sete PUs estratégicas para formar a rede interativa, a Restinga de Jurubatiba, o Complexo Estuarino de Paranaguá, o Taim, o Interflúvio Rio Negro-Rio Branco, as Áreas Alagáveis da Amazônia Central, o Araguaia/Ilha do Bananal e o Pantanal Matogrossense. O eixo das Áreas Alagáveis da Amazônia Central será coordenado por Ayan Fleischmann, pesquisador titular do Instituto Mamirauá.

Leia também: Zonas Úmidas: guardiãs do equilíbrio ecológico no Peru

Segundo Ayan, “é uma oportunidade muito interessante para integrar pesquisadores do Instituto Mamirauá a diversos outros pesquisadores que atuam na temática de áreas úmidas do Brasil. Vamos fazer uma integração do que se tem de informação ecológica com informações socioeconômicas para fazer o que estamos chamando de um zoneamento ecológico-econômico da paisagem úmida, algo que será importante para a manutenção da saúde dos ecossistemas amazônicos e das populações amazônidas”.

A rede científico-tecnológica deste Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia é formada por 76 pesquisadores de 26 instituições nacionais e internacionais de excelência em estudos de áreas úmidas. O instituto terá como objetivos principais a formação de recursos humanos, a divulgação científica, a internacionalização e a transferência de conhecimento para os setores público e social.

A missão do INCT Wetscape para os próximos cinco anos é gerar conhecimento e fomentar políticas públicas nacionais e internacionais inovadoras, despertar a conscientização ambiental da sociedade e apontar formas de uso parcimonioso das PUs pela sociedade. As ações serão inclusivas, com foco nas Populações Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais (PIQCTs), desenvolvendo estratégias colaborativas para a conservação da sociobiodiversidade.

*Com informações do Instituto Mamirauá

Pará tem nova trilha ecológica na APA Jará, em Juruti

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Trilha está localizada na Área de Proteção Ambiental Jará. Foto: Daniel Govino

A comunidade da Área de Proteção Ambiental (APA) Jará, em Juruti (PA), vai inaugurar neste sábado (20) a Trilha Tucunaré, nova rota ecológica construída com o protagonismo dos moradores locais. A abertura ocorre como parte do Um Dia no Parque, que valoriza as unidades de conservação e aproxima as pessoas da natureza.

A trilha segue parte de um caminho conhecido por muitos comunitários: o antigo trajeto percorrido diariamente por estudantes que saíam de suas casas rumo ao Lago Jará para chegar à escola na cidade. Com aproximadamente 1,2 km, ela foi revitalizada com base nesse percurso histórico, resgatando a memória local e valorizando a relação entre a população e o lugar.

“Essa iniciativa é muito mais do que um novo atrativo de visitação. Ela representa uma reconexão com o passado e uma valorização dos saberes de quem vive na região, que foram fundamentais em todo o processo de planejamento”, explica a pesquisadora do Imazon Jakeline Pereira.

Leia também: Confira a localização de nove trilhas para aproveitar na Amazônia

O percurso é predominantemente no terreno reto e, durante o mapeamento, foram identificados pontos de interesse, obstáculos naturais e potencial para atividades de educação ambiental e ciclismo leve. A condução é realizada por integrantes do território e o trajeto tem duração média de 50 minutos, sendo considerado de baixa dificuldade.

A programação de inauguração será a partir das 8h, no Porto do Junhão, com o embarque dos participantes em rabetas para deslocamento até o ponto de acesso à trilha. O trajeto terrestre incluirá o plantio simbólico de espécies nativas, como ação educativa e de sensibilização ambiental. Após a caminhada, o retorno será feito também por via aquática, permitindo a contemplação da paisagem e reforçando a conexão entre os meios terrestre e fluvial.

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Construção realizada com diálogo, cuidado e capacitação local

A Trilha Tucunaré é resultado de um processo coletivo, que envolveu oficinas, mutirões, capacitações e ações de comunicação. O projeto foi apresentado durante reunião do conselho gestor da APA Jará, com a definição de um cronograma participativo que orientou desde a abertura do caminho até a instalação da sinalização. 

Além disso, 20 moradores da região participaram do curso “Boas Práticas na Condução de Trilhas Interpretativas”, formando os primeiros condutores aptos a guiar visitantes com foco no turismo de base comunitária.

“A formação foi pensada para valorizar os conhecimentos que eles já têm sobre a sua localidade e, ao mesmo tempo, fortalecer práticas seguras e sustentáveis de condução de visitantes. Mais do que capacitar, foi uma troca de saberes que fortalece o protagonismo da comunidade na gestão da ação e da unidade de conservação”, afirma Jakeline.

Aula para formação dos condutores da Trilha Tucunaré na APA Jará. Foto: Divulgação

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Outra iniciativa foi a formação em comunicação realizada durante o curso “Minha Comunidade nas Redes” para 17 pessoas de Juruti, principalmente da APA Jará. A atividade focava em técnicas para registrar e divulgar as vivências locais e a importância da conservação ambiental nas redes sociais. Com a inauguração, a APA Jará dá mais um passo para fortalecer a gestão participativa da unidade e o desenvolvimento de atividades sustentáveis.

A atividade foi realizada no âmbito do projeto “Promoção da Visitação Pública da APA Jará”, realizado em parceria com a Prefeitura de Juruti e apoiado pela Alcoa Foundation.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Imazon

Cinco municípios da região Norte apresentam piores índices de saneamento básico em 2025

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Capitais da região Norte figuram entre as piores no que diz respeito ao saneamento básico. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Levantamento realizado pelo Instituto Trata Brasil (ITB), em parceria com GO Associados, voltado à análise da universalização dos serviços de saneamento básico, evidencia que oito dos 20 municípios com pior desempenho em 2025 são capitais estaduais do Norte e Nordeste: Recife (PE), Maceió (AL), Manaus (AM), São Luís (MA), Belém (PA), Rio Branco (AC), Macapá (AP) e Porto Velho (RO).
 
Os dados da 17ª edição do Ranking do Saneamento, com o foco nos 100 municípios mais populosos do Brasil, revelam que as maiores dificuldades relacionadas ao saneamento básico entre as capitais brasileiras estão concentradas nessas regiões. 

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Nesse recorte, o estudo aponta que a macrorregião Norte foi a mais afetada, onde diversas capitais apresentaram baixos índices de coleta e tratamento de esgoto, além de cobertura limitada no abastecimento de água. Porto Velho (RO), Macapá (AP) e Rio Branco (AC), por exemplo, registraram indicadores significativamente inferiores à média nacional.

A presidente executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, acredita que “muitas vezes não se prioriza o saneamento básico como deveria. Então, por isso, os investimentos não acontecem e aí a gente não vê também o indicador evoluir”.

Tratamento de esgoto

Das 27 capitais brasileiras, apenas cinco tratam ao menos 80% do esgoto gerado: Curitiba (PR), Brasília (DF), Boa Vista (RR), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA). Enquanto quatro capitais tratam abaixo de 20% do esgoto coletado: Porto Velho (RO) com 12,18%; Macapá (AP) com 14,42%; São Luís (MA) com 15,89%; e Teresina (PI) com 19,19%.

Leia também: Galerias Subterrâneas de Manaus: a realidade do aterramento de igarapés

Quanto à coleta total de esgoto, somente seis cidades-sede superam 90% de atendimento: Goiânia (GO), São Paulo (SP), Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG), Boa Vista (RR) e Porto Alegre (RS). Em contraste, duas capitais da Região Norte do país registram taxas de esgotamento sanitário inferiores a 10%. São os casos de Porto Velho (RO), com 9,27%, e Macapá (AP), com 7,78%.

Abastecimento de água

Em relação ao abastecimento total de água, sete capitais alcançaram pelo menos 99% de cobertura. Embora a média nacional seja de 94,11%, regiões no Norte registram indicadores próximos ou abaixo de 50%, como Rio Branco (AC), com 53,13%; Macapá (AP), com 40,04%; e Porto Velho (RO), com 35,02%.

Os indicadores de perdas de água também apresentaram números elevados. No que se refere a perdas na distribuição, apenas Goiânia (GO) e Teresina (PI) apresentaram índices abaixo de 25%, com 12,68% e 24,20%, respectivamente, e foram considerados exemplos para o país.

Investimentos

Entre 2019 e junho de 2023, o total somado dos investimentos realizados por todas as 27 capitais brasileiras em saneamento básico foi de aproximadamente R$ 30,5 bilhões. O município de São Paulo (SP) realizou o maior investimento do período, no qual concentrou 40% do montante, com aproximadamente R$ 11,5 bilhões. Enquanto o Rio de Janeiro (RJ) investiu R$ 2,9 bilhões e Fortaleza (CE), R$ 1,8 bilhão.

A análise mostra que, em investimento médio anual por habitante, a média das capitais é de R$ 130,05. A cidade de Cuiabá (MT) lidera com R$ 415,02, seguida por São Paulo (SP) com R$ 198,97 e Campo Grande (MS) com R$ 195,31. Porém, apenas Cuiabá supera o patamar do Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB) de R$ 223,82; as demais capitais apresentaram investimentos por habitantes inferiores ao valor estimado.

Pretto afirma que “os municípios que se destacaram fizeram um planejamento de longo prazo em relação ao saneamento básico. Viram quais obras eram necessárias e o que precisaria ser feito para universalizar. Transformaram o saneamento básico em uma política de estado, mantendo os investimentos ano a ano e não alterando essa política que havia sido estabelecida. Isso ajuda muito para que o saneamento avance”.

O patamar mais baixo foi observado em Rio Branco (AC), que registrou R$ 8,09 por habitante. O fator justifica parcialmente a posição do município como último do ranking de 2025.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Brasil 61

Sabor, imagem e discurso: a experiência do chocolate Filha do Combu 

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Foto: Reprodução/Filha do Combu

Quem experimenta os chocolates Filha do Combu dificilmente esquece. O sabor denso do cacau nativo, colhido às margens do rio Guamá, vem acompanhado de histórias de vida, ancestralidade e resistência. Foi esse conjunto de sensações e sentidos que inspirou a pesquisadora Giselle do Carmo Souza Moraes a desenvolver sua pesquisa de mestrado, defendida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCom/UFPA).

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Orientado pela professora Manuela do Corral Vieira, o estudo investiga como o consumo da marca se torna mediador de experiências comunicacionais e identitárias das populações ribeirinhas da Amazônia.

“Em 2010, comecei a trabalhar em um restaurante na Ilha do Combu e, com esse convívio, entendi que aquele território era mais do que moradia ou renda: era uma forma de vida. O chocolate da Dona Nena despertou meu interesse pela potência de comunicação que ele carrega – uma experiência amazônica no sabor, na imagem e no discurso”, conta Giselle Moraes.

Criada por Izete Costa, a Dona Nena, a marca Filha do Combu surgiu da vontade de compartilhar um chocolate feito de modo artesanal, saudável e com ingredientes locais.

“Ela sempre acreditou no produto, mesmo quando a família achava que não daria certo. Ela dizia: ‘As pessoas vão gostar’. E gostaram”, relata a pesquisadora.

Ao longo dos anos, a marca expandiu e se tornou símbolo da produção sustentável e criativa da Ilha do Combu, reunindo o que há de mais autêntico na cultura amazônica.

Mas o diferencial vai além da receita: a marca comunica. Desde os rótulos até as experiências presenciais no local de produção, tudo é pensado para provocar os sentidos, despertar as emoções e criar vínculos com a floresta.

De acordo com a autora, Dona Nena possui uma consciência ambiental que advém de saberes ancestrais e da sua relação com a ilha. “Ela é uma fonte inesgotável de conhecimento sobre a floresta e sobre como viver em harmonia com ela”, destaca Giselle.

Foto: Reprodução/Filha do Combu

Marca usa marketing de experiência como estratégia

A pesquisa utilizou métodos como observação participante, entrevistas, netnografia e análise de materiais digitais da marca para mapear como o chocolate do Combu comunica mais do que o sabor.

“Durante a pesquisa, uma imagem me marcou: uma turista segurando o chocolate, com um ‘paredão’ verde ao fundo, tirando uma foto, como quem diz: ‘Eu também sou parte disso aqui’. Aquele chocolate vira status, vira símbolo de uma Amazônia desejada, que se consome com todos os sentidos”, afirma Giselle Moraes.

Esse desejo também é construído com estratégias de marketing de experiência que encantam pelo sensorial. Desde a travessia do porto – já filmada e compartilhada pela marca – até o contato com o cacau, as espécies nativas e o bioma local, tudo é pensado para criar uma vivência de consumo imaterial. Segundo a pesquisadora, por disputar espaço em um mercado bastante competitivo, a Filha do Combu aposta em diferenciais que moldam uma Amazônia que encanta e seduz o consumidor.

Se, no início, o chocolate parecia apenas um elo entre produtor e consumidor, a pesquisa mostra que ele vai além. Ele ativa sensações, desperta o afeto e a memória, e carrega a identidade ribeirinha. Ao longo das experiências proporcionadas pela marca, o visitante é envolvido por um recorte da vida da Dona Nena e de seus familiares.

“É impossível sair de lá sem comprar ao menos um bombom”, brinca a pesquisadora ao relatar as experiências observadas em campo. O consumo deixa de ser apenas comercial e passa a carregar sentimento e pertencimento.

Região precisa se desprender da validação externa

Ao contar a história da marca e da mulher que a criou, a dissertação também traz à tona a necessidade de reconhecimento da potência dos povos e dos saberes tradicionais. Em tempos de discursos sobre a Amazônia, pensados de fora para dentro, Giselle do Carmo Souza Moraes defende a urgência de se desprender da validação externa: “Nós somos potentes e autênticos, temos uma floresta exuberante, além de tecnologia, cidade e movimento”.

Foto: Reprodução/Filha do Combu

A pesquisa mostra como a marca soube capitalizar essa força simbólica sem se desconectar de sua raiz ribeirinha, seja ao empregar moradores locais, ao associar os produtos à cultura da ilha, seja ao resgatar receitas da infância de Dona Nena. A empresa construiu uma narrativa poderosa, que gera valor emocional e social. O ponto de venda, mais do que um espaço comercial, tornou-se um território de “ambientabilidade”, onde pulsa uma Amazônia viva e coletiva.

Além de um estudo sobre uma marca, a dissertação de Giselle Moraes é uma afirmação política e afetiva sobre o poder de comunicar tendo por base a Amazônia. A autora reforça que os produtos da região podem – e devem – carregar identidade e história. “As pessoas estão cansadas das mesmas coisas. Elas querem autenticidade. E nós temos isso de sobra”, conclui.

Sobre a pesquisa

A dissertação As experiências comunicacionais e identitárias ribeirinhas amazônicas por meio do consumo do chocolate da marca Filha do Combu foi defendida por Giselle do Carmo Souza Moraes, em 2023, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCom/ILC), da Universidade Federal do Pará, sob orientação da professora Manuela do Corral Vieira.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, da UFPA, edição 175, escrito por Luan Cardoso

Nova espécie de bagre é descoberta na bacia do rio Xingu, em Mato Grosso

Fotografia de um exemplar de I. arceae, utilizada para destacar e comparar características morfológicas do animal. Crédito: Silva et al. 2025 

Encontrados em todo o mundo, os bagres formam um grupo de peixes cuja diversidade impressiona. Não fosse pelos característicos “bigodes” — o que rendeu ao animal o nome de “peixe gato” em alguns países — seria difícil afirmar, apenas pela aparência externa, que as mais de 4.200 espécies conhecidas pertencem ao mesmo grupo de peixes.

Além das diferenças de comportamento, habitat e dos variados padrões de coloração, os bagres também apresentam grande variação de tamanho, indo de minúsculos exemplares, medindo poucos milímetros, até espécies gigantes, como o Pangasianodon gigas, um dos maiores peixes de água doce já identificados.

A grande variedade de locais onde é possível encontrar esses peixes também faz com que muitas espécies ainda permaneçam desconhecidas. Algumas dessas pertencem ao gênero Imparfinis, que reúne representantes espalhados nos rios de água doce de toda a América do Sul, desde a Costa Rica até a Argentina passando, evidentemente, pelo Brasil.

Foi nos rios da bacia do rio Xingu, no norte do Mato Grosso, que um grupo de pesquisadores do Instituto de Biociências da Unesp, no câmpus de Botucatu, descobriu uma nova espécie de Imparfinis, adicionando mais um elemento da rica biodiversidade latino americana. 

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O achado foi divulgado no artigo ‘Integrative Taxonomy Reveals a New Species of Imparfinis (Siluriformes: Heptapteridae) from the Upper Xingu River Basin‘ e publicado na revista científica Ichthyology & Herpetology em abril deste ano.

No trabalho, o grupo descreve as características morfológicas, relacionadas à aparência, e genéticas dos exemplares encontrados, evidenciando as diferenças existentes entre outras espécies de Imparfinis e, também, o grau de proximidade da nova espécie com as outras conhecidas. 

Uma década de espera até a descoberta

Nomeada Imparfinis arceae, a primeira característica que chamou a atenção dos pesquisadores para a possibilidade de se tratar de uma espécie ainda não descoberta é uma faixa preta presente em toda a lateral do peixe.

“Existem algumas espécies de bagres que apresentam essa faixa lateral escura, mas elas não são tão amplas como essa, o que despertou nossa desconfiança”, conta Gabriel de Souza da Costa e Silva, que liderou a investigação e atualmente realiza pós-doutorado no IB-Unesp.

O ictiólogo (nome dado aos especialistas em peixes) explica que a busca por novas espécies não é linear e nunca é possível prever o que será encontrado. Por isso, o primeiro sinal, para um olhar mais cuidadoso, são sempre as características físicas: um padrão diferente, uma coloração que varia, o formato da cauda que é levemente distinto dos demais. A partir disso é que os pesquisadores irão aprofundar, ou não, a investigação.

No caso da I. arceae, a espécie conta com uma história de espera de mais de uma década para ser descrita. Os exemplares foram coletados em 2012, durante uma expedição do professor Claudio Oliveira, líder do Laboratório de Biologia e Genética de Peixes do IB-Unesp, à região do Alto Xingu, na Amazônia, e foram armazenadas na coleção do laboratório, sem receber atenção naquele momento.

Em 2022, Gabriel, durante a pesquisa de pós-doutorado que tinha como foco o estudo do grupo Imparfinis, decidiu trabalhar com os exemplares que integravam a coleção do grupo e percebeu que, entre os animais, haviam alguns pequenos exemplares, que mediam entre 27mm e 67mm e apresentavam uma estranha faixa preta na lateral do corpo.

“Foi apenas nesse momento que começamos as análises e percebemos que se tratava de uma espécie nova”, diz o pesquisador.

Análise morfológica detalha as diferenças físicas 

Na biologia, a área responsável por descrever, nomear e classificar os seres vivos é chamada de taxonomia. Graças aos estudos nessa disciplina — que envolvem desde a identificação de diferenças físicas entre os organismos até a determinação do grau de parentesco entre eles —, toda a biodiversidade conhecida atualmente está organizada em uma hierarquia de grupos: reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie. Essa classificação permite compreender a evolução dos animais e vegetais, bem como as conexões que mantêm entre si ao longo do tempo.

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Portanto, para que uma nova espécie seja reconhecida, ela deve apresentar características suficientemente semelhantes às de outras espécies do mesmo gênero — como Imparfinis —, de modo a justificar sua inclusão nesse grupo. Ao mesmo tempo, deve exibir diferenças significativas que a distingam das demais espécies que integram esse grupo, garantindo seu reconhecimento como uma espécie única.

Com a suspeita de uma nova espécie, o grupo realizou uma análise morfológica na qual foram coletadas diversas informações físicas dos vinte indivíduos coletados: padrões de coloração, número de vértebras, comprimento, diâmetro dos olhos, tamanho da cabeça, etc.

Imagem radiográfica de Imparfinis arceae, espécie de bagre descoberta por pesquisadores da Unesp. Crédito: Silva et al. 2025

Esse primeiro passo permitiu demarcar algumas diferenças em relação a espécies Imparfinis hasemani, que também conta com uma faixa escura lateral e que poderia levar a confundir um exemplar com outro. Além dos padrões das faixas apresentarem tamanhos distintos, outras diferenças emergiram: a I. arceae possui 39 vértebras, enquanto a I. hasemani conta com 40; os olhos da nova espécie também são menores e, além disso, o comprimento da cabeça é maior.

Comparação genética comprova nova espécie de bagre

Combinado com as análises morfológicas, o grupo realizou, também, análises genéticas para conseguir um detalhamento maior das características do animal. “Nós fizemos um sequenciamento de um fragmento de DNA das diferentes espécies, o que permite que a gente compare os DNAs entre si”, explica Gabriel. Isso faz parte de um ramo chamado de taxonomia integrativa, que combina dados morfológicos e moleculares para entender melhor a história evolutiva e a classificação de organismos que estão sendo estudados.

Para a análise genética, o grupo extraiu o DNA dos peixes a partir de um pedaço da musculatura dos animais. A ideia por trás desse processo é adquirir uma mesma parte da sequência genética de cada indivíduo, que consiste na ordem específica dos nucleotídeos, as “letras” do código genético (A, T, C e G) que compõem o DNA. Com essa sequência de letras, é possível alinhar as diferentes sequências e ver em quais pontos houve alguma mutação.

Por exemplo, se temos três indivíduos com as sequências “A-C-C-T-G”; “A-C-C-T-G” e “A-C-T-T-G”, é possível perceber que o terceiro indivíduo sofreu uma mutação na terceira base, que passou de “C”, para “T”. Esse é o mesmo processo feito pelo grupo para analisar as diferenças genéticas dos peixes coletados e identificar aqueles da mesma espécie, porém, com sequências muito maiores.

Além disso, para garantir que será extraída a mesma parte da sequência genética de cada um dos peixes, os pesquisadores vão atrás de um gene marcador chamado COI (citocromo c oxidase). Para encontrar esse gene específico, após a extração do DNA, são utilizados primers que se ligam as extremidades do gene COI e promovem a amplificação desse fragmento, tornando possível o seu sequenciamento. 

Ao obter e comparar as sequências dos diferentes peixes, os pesquisadores puderam comprovar que além de compartilharem um código genético semelhante, os exemplares estudados apresentavam mais de 6% de divergência genética em relação a outras espécies do gênero Imparfinis.

“Isso evidenciou o fato de que esses animais correspondem a uma nova espécie”, afirma Gabriel.

Descoberta é um apelo pela conservação

O grupo optou por nomear o achado em homenagem à uma colega de profissão: a ictióloga Mariangeles Arce Hernández. A pesquisadora é diretora do Centro de Biologia Sistemática e Evolução da Academia de Ciências Naturais da Universidade Drexel, nos Estados Unidos, onde Gabriel realizou parte do seu pós-doutorado entre 2023 e 2024, quando estava trabalhando na descrição da espécie.

Para o pesquisador, um dos pontos mais importantes quando se fala sobre a descoberta e a descrição de novas espécies reside na conservação da biodiversidade – inclusive daquela que ainda não é conhecida. O grupo não realizou um levantamento para saber o quão comuns são os representantes de bagre recém encontrados, entretanto, com base nas coletas realizadas, Gabriel acredita que eles não são um grupo tão abundante.

“Essa é uma espécie endêmica do Alto Xingu, o que significa que ela só ocorre naquela região. Igual a ela, existem outras espécies que também são restritas a essa área”, afirma. “Nós sabemos que o sul da Amazônia vem sofrendo com muito desmatamento e, se eliminarmos o habitat dessas espécies endêmicas, elas serão completamente extintas”, completa.

Para Gabriel, a importância de descobrir mais espécies e sua ocorrência vai ao encontro dos objetivos de conservação e preservação de habitats naturais. “A medida que a gente vai estudando, nós também descobrimos que a maioria dos peixes de água doce são endêmicas. Por isso a necessidade de conservar esses ambientes, porque se nós destruirmos esses espaços, essas espécies não vão estar em outro lugar”, diz.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da Unesp, escrito por Malena Stariolo