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Herbário do Museu Goeldi celebra 130 anos como guardião da flora amazônica

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Herbário MG é o terceiro mais antigo do Brasil, o pioneiro das regiões Norte e Nordeste. Foto: Reprodução/MPEG

Entrar em um herbário, uma coleção de plantas desidratadas e preservadas para estudos botânicos, pode ser comparável a entrar em uma floresta, em uma caatinga, em campos, em cangas, enfim, trilhar os caminhos de um bioma. É assim que Ricardo Secco, biólogo, Doutor em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo e pesquisador emérito do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), gosta de definir este espaço privilegiado de exemplares da flora, coletados por especialistas ao longo de 130 anos, celebrados em 2025. O Herbário João Murça Pires, ou Herbário MG (sigla internacional), representa um importante legado para a Amazônia e para o mundo.

O ponto de partida da coleção do terceiro herbário mais antigo do Brasil, e o primeiro das regiões Norte e Nordeste do país, se deu com a coleta de Cleome aculeata L., feita pelo botânico suíço Jacques Huber (1867-1914). A espécie referida é um tipo de planta que cresce espontaneamente em terrenos baldios, frestas de calçadas e muros de áreas urbanas, ou seja, uma planta ruderal, sendo comum encontrá-la na cidade de Belém.

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De 30 de julho de 1895 até os dias atuais, o esforço de coleta e amostragem do Museu Goeldi e parceiros gerou um acervo de, aproximadamente, 255 mil amostras de plantas, sobretudo amazônicas, que documentam a diversidade, riquezas e raridades da flora. A coleção principal de exsicatas se completa com as coleções associadas com amostras de madeira; de frutos; de pólen; de óleos aromáticos; de plântulas e de etnobotânica.

Curador do herbário por 20 anos, até 2015, Ricardo Secco destaca outro aspecto singular do acervo botânico do Museu Goeldi. “O maior acervo de tipos da Amazônia está no Museu Goeldi”, ressalta.

Trata-se de mais de três mil tipos – são as primeiras amostras nomenclaturais, utilizadas para descrever uma espécie nova. Este acervo é um indicador da importância do Herbário MG. A coleção de tipos do MPEG, que incluem imagens digitais em alta resolução, pode ser consultada no site Global Plants  e na base de dados do Herbário Virtual do Reflora.

O pesquisador Ricardo Secco já foi curador do Herbário por 20 anos. Foto: Reprodução/MPEG

Apenas nas primeiras décadas do Século XXI, o herbário da instituição catalogou mais de cem espécies novas de flora para a Amazônia. No Herbário MG, anualmente, são feitos quatro mil registros de plantas, volume resultante das coletas feitas no campo.

O incremento do acervo é impulsionado por projetos voltados ao conhecimento da diversidade da flora amazônica e por resultados de dissertações e teses dos programas de pós-graduação vinculados ao Museu Paraense. E Secco enfatiza a importância fundamental das coleções do Herbário em todas as pesquisas botânicas.

Valor científico 

Doutor em Ciências Agrárias e técnico especializado do Museu Goeldi, Antônio Elielson Sousa da Rocha fala com orgulho de um diferencial científico do Herbário João Murça Pires: “nós primamos pelas coletas mais completas, ou seja, amostras férteis. Ou elas estão com flor ou com fruto. Outros herbários aceitam registrar amostras estéreis. Mas, com amostra estéril você não tem muita segurança na identificação, porque está faltando o caráter mais importante que é a flor”, assegura. Caso uma amostra esteja incompleta, ela pode figurar em coleções didáticas.

Elielson foi contratado pelo Museu Goeldi em 2005, mas, já era bolsista da instituição em 1988. Tem nutrido carinho especial pela coleção histórica, aquela formada por exemplares coletados por botânicos notáveis. “Eu estudo a história da instituição, pesquiso esses naturalistas que trabalharam no herbário e contribuíram com a coleção. São coleções mais frágeis, porque são mais antigas. A gente tem um tratamento diferenciado”, revela.

Dentre as 15 coleções históricas, existem as que estão assinadas por Adolpho Ducke, Ernst Ule, Jacques Huber, Richard Spruce, André Goeldi e Emília Snethlage. Não menos significativas, estão as de João Murça Pires, Walter Egler, Paulo Cavalcante, Nelson Rosa e Ricardo Secco.

Com o alerta científico mundial para a crescente perda de ecossistemas naturais, cabe ressaltar que o herbário também é um guardião de amostras de espécies extintas, ameaçadas ou que anda nem chegaram a ser estudadas.

“Em herbários como o nosso, tão longevos, nós podemos ter uma noção de quais espécies estão extintas ou em risco, porque espécies coletadas 13 décadas atrás e que não são mais encontradas são um indicativo”, pondera Elielson. Indicativo importante para novas pesquisas de campo.

Antônio Elielson Sousa da Rocha fala com orgulho do Herbário João Murça Pires. Foto: Reprodução/MPEG

Informatização 

Ricardo Secco colaborou com uma série de marcos para a área da Botânica, tanto com a criação do programa de pós-graduação quanto com a adoção de um banco de dados no herbário, na década de 1990. “Um programa de informatização, preparado para herbário pela Universidade de Oxford, ou seja – Botanical Research And Herbarium Management System, o BRAHMS. Era para fazer manejo de coleção de herbário. Foi para informatizar e disponibilizar o material para pessoas que viessem pesquisar”, justifica.

O BRAHMS possibilitou aos pesquisadores a confecção de mapas que, com base nas amostras depositadas no herbário, informavam áreas de ocorrências de plantas de valor econômico, como a mandioca, seringueira, copaíba, andiroba e cedro, entre outras.

Atualmente, a instituição adota o programa Specify, que Elielson define como uma ferramenta mais intuitiva. “Tem um terceiro para o qual estamos pensando em migrar, o Jabot, que é do Jardim Botânico, do Rio de Janeiro. É um banco de dados construído no Brasil e é específico para Botânica”, argumenta o professor.

O professor Ricardo Secco segue como pesquisador voluntário do Museu Goeldi desde sua aposentadoria. E a família das Euphorbiaceae, que engloba a seringueira e inúmeras outras espécies, é predileção dele desde o início da carreira, por “uma sugestão do doutor João Murça Pires”, admite.

Quem é João Murça Pires?

O pesquisador paulista que dá nome ao herbário do Museu Goeldi é um especialista da taxonomia da flora amazônica, tendo sido orientado por Adolpho Ducke, inicialmente. Seus trabalhos se tornaram clássicos e até hoje são os mais completos e consultados.

Os méritos de Murça Pires extrapolam sua enorme contribuição no Museu Goeldi, onde trabalhou de 1975 até sua aposentadoria. Murça Pires também fundou quatro herbários no Brasil: o do IAN – precursora do Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Norte/Ipean, hoje chamado Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental/Cpatu/Embrapa; o da Universidade de Brasília; o da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira/Ceplac, em Itabuna; e, por fim, o da Universidade Federal do Maranhão.  Saiba mais sobre esse fascinante personagem da ciência brasileira no artigo “Vida e obra de João Murça Pires (1917-1994)”.

Um mundo a descobrir 

Além da visita de pesquisadores, o herbário do Museu Goeldi abre as portas para turmas de alunos de Ensino Médio, no intuito de despertar o interesse dos jovens para o estudo das plantas da Amazônia. Elielson escolhe um caminho para este processo de sedução.

“Muita gente, quando pensa em planta, pensa em um ser estático, que não tem movimento, não tem inteligência. Eu gosto de mostrar, justamente, alguns mecanismos que as plantas desenvolvem e são muito interessantes”, revela.

Acervo também pode ser acessado online. Foto: Reprodução/MPEG

Para ilustrar essa criatividade tão encantadora da flora, ele menciona: “existe polinização das plantas que é feita pelo vento. A maioria das plantas, no entanto, depende de vetores, de animais, como pequenos mamíferos e, sobretudo, insetos. Mas, o mérito não é só do animal. Metade do esforço é da planta, de criar mecanismos, de criar estruturas para atrair esse animal para a planta. Essa é a grande sacada das plantas”.

Elielson conta para as novas gerações, que visitam o Herbário MG em programações como o Museu de Portas Abertas ou em cursos de extensão direcionados a professores do ensino fundamental e médio, existirem “plantas que se camuflam de uma abelha feminina para atrair o polinizador. Existem plantas que atiram grãos de pólen para que colem no corpo do animal. Existem vários mecanismos que as plantas utilizam para realizar o cruzamento entre as plantas, fazer a fecundação e transformar a flor em fruto. Esses mecanismos são os mais diversos possíveis. Quando as pessoas conhecem, se apaixonam pela flora”.

Junto com André Gil, atual curador do acervo botânico da instituição, Elielson assina a edição Herbário, da série Coleções Científicas do Museu Goeldi, voltado aos jovens e acessível online.

*Com informações do MPEG

Aranha encontrada na Amazônia tem teia dourada como joia e resistente como aço

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Foto: Irmãos Mello (2022)/UFRJ

Se os superpoderes do Homem-Aranha já parecem incríveis nos filmes, a natureza mostra que a realidade pode ser ainda mais surpreendente. Em regiões tropicais, como a Amazônia, especialmente em Rondônia, vive uma aranha com uma habilidade impressionante, ela tece teias douradas como joias e resistentes como o aço: a aranha-do-fio-de-ouro.

Conhecida cientificamente como Trichonephila clavipes, a espécie chama atenção pela coloração naturalmente dourada de sua teia, que reflete a luz do sol e atrai insetos curiosos com o brilho. O Grupo Rede Amazônica conversou com um especialista em aracnídeos para entender os segredos por trás dessa peculiaridade fascinante do mundo animal.

Leia também: Conheça 3 aranhas mais venenosas que vivem em Rondônia

Por que a teia é dourada?

De acordo com o biólogo Henrique Abrahão, a coloração surge das proteínas que compõe a seda, responsável por deixar ela leve, flexível e resistente, superando de 3 a 5 vezes a resistência de um fio de aço.

“Essas propriedades vêm despertando o interesse de cientistas, com objetivo de produzir um tecido resistente, até mesmo a produção de coletes a prova de balas utilizando a seda da aranha-do-fio-de-ouro”, comenta o especialista.

O que a aranha-do-fio-de-ouro come?

Embora a alimentação principal da Trichonephila clavipes seja composta por insetos voadores, como moscas, mariposas e besouros, sua teia é tão eficiente que já foram registrados casos de captura de pequenos vertebrados, como lagartos, morcegos e até pássaros de pequeno porte.

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Ela é venenosa para os humanos?

Não. De acordo com Henrique, as aranhas-do-fio-de-ouro não são aracnídeos agressivos e nem apresentam perigo ao ser humano, Apesar de ser uma aranha peçonhenta, o veneno da Trichonephila clavipes serve somente para paralisar presas.

Acidentes com essa espécie são raros, pois ela costuma evitar contato com os humanos. Em casos de picadas, que são incomuns, podem ocorrer reações leves, como inchaço e coceira, pessoas alérgicas devem procurar atendimento médico.

Leia também: Saiba quais são as aranhas mais perigosas da Amazônia

Diferenças entre fêmeas e machos

Uma das características marcantes da espécie é o forte dimorfismo sexual, ou seja, apresenta uma diferença visível entre fêmeas e machos da mesma espécie. As fêmeas são muito maiores que os machos, podendo medir entre 2,5 a 4,5 centímetros, com um corpo alongado e coloração dourada, amarelo-alaranjado ou bronze, frequentemente com marcas pretas ou brancas.

Já os machos são pequenos, geralmente com menos de 1 centímetro de comprimento, e têm aparência mais discreta. Eles vivem nas proximidades da teia da fêmea, esperando o momento certo para a reprodução.

Papel ecológico essencial

Na natureza, a aranha-do-fio-de-ouro exerce o papel de predadora de topo de cadeia alimentar entre os invertebrados. Isso significa que ela ajuda a regular a população de insetos e outros pequenos animais, contribuindo diretamente para o equilíbrio ecológico dos ambientes onde vive. Sua presença é fundamental para controlar surtos de pragas e manter a biodiversidade saudável.

*Por Beatriz Rodrigues e Mateus Santos, da Rede Amazônica RO

Quilombos titulados desmatam até 55% menos em países da Amazônia, aponta estudo

Território quilombola de Cachoeira Porteira, em Oriximiná (PA), é um quilombo titulado. Foto: Antônio Silva/Agência Pará

Os territórios quilombolas – quilombos – em quatro países amazônicos podem ser, agora, oficialmente considerados como guardiões da floresta – fenômeno similar ao que já acontece nos territórios indígenas. Estudo inédito da organização Conservação Internacional, publicado dia 22 na revista Communications Earth and Environment, do grupo Nature, revela que o desmatamento em territórios afrodescendentes titulados  no Brasil, Colômbia, Equador e Suriname, têm taxas de 29% a 55% menores do que áreas similares. 

“Os povos afrodescendentes das Américas serviram por muito tempo como guardiões do meio ambiente sem reconhecimento nem compensação, inclusive, a maioria de seus territórios nem sequer está formalmente reconhecida”, lamenta Martha Cecilia Rosero Peña, Ph.D., diretora de Inclusão Social na Conservação Internacional. “No entanto, a evidência é indiscutível; o mundo tem muito a aprender com suas práticas de gestão territorial”.

O estudo compara quilombos titulados de todos os biomas dos quatro países latinoamericanos com áreas parecidas, exceto territórios indígenas. “São áreas fora dos territórios quilombolas que apresentam características mensuráveis semelhantes, incluindo cobertura florestal inicial, uso e proteção da terra, tempo de viagem até cidades, elevação, entre outros”, explica Sushma Shrestha, diretora de Ciência Indígena, Pesquisa e Conhecimento na Conservação Internacional e principal autora do artigo. 

Leia também: Conheça 9 guardiões que defendem a Amazônia todos os dias

No Brasil, apenas 4,3% da população quilombola reside em territórios titulados segundo dados do Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A população total quilombola do país, o que inclui territórios não titulados, é de 1,32 milhão de pessoas, ou 0,65% do total de brasileiros.

De acordo com o levantamento da Conservação Internacional, além do desmatamento menor, esses territórios latinoamericanos têm maiores quantidades tanto de biodiversidade quanto de carbono irrecuperável (o carbono armazenado em ecossistemas naturais que, se perdido, não pode ser recuperado em menos de 30 anos).

Mais da metade dessas terras (57%) estão entre os 5% de áreas mais biodiversas do planeta – no Equador, esse índice chega a 99%. Ao todo, esses territórios quilombolas armazenam mais de 486 milhões de toneladas de carbono irrecuperável, o que torna sua preservação, sob gestão das comunidades, essencial para prevenir os efeitos mais graves das mudanças climáticas.

O artigo é a primeira pesquisa que combina dados estatísticos, espaciais e históricos para quantificar o papel dos povos afrodescendentes na proteção da natureza. A pesquisa é publicada após o reconhecimento formal do ano passado pela Convenção sobre Diversidade Biológica na Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16), sobre o papel vital que pessoas afrodescentes possuem na conservação da biodiversidade e nas metas de conservação global.

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A sua divulgação acontece enquanto o Brasil se prepara para sediar a cúpula climática da ONU (COP30), colocando o foco internacional no papel das Américas diante das mudanças climáticas.

Mapas do estudo mostram concentração de biodiversidade (á esquerda) e carbono irrecuperável nas terras quilombolas pesquisadas. Imagens: Afro-descendant lands in South America contribute to biodiversity conservation and climate change mitigation. Commun Earth Environ 6, 458 (2025).

As descobertas do estudo ressaltam uma lacuna. Embora quase uma em cada quatro pessoas na América Latina se identifique como afrodescendente, esses povos estão sub-representados em fóruns ambientais globais, incluindo as cúpulas de clima e biodiversidade da ONU, onde são definidas políticas, financiamento e decisões de liderança.

“Durante séculos, as comunidades afrodescendentes têm gerido paisagens que sustentam tanto as pessoas quanto a natureza, no entanto, suas contribuições continuam sendo e grande parte invisíveis”, lamenta Shretha.  “Esta pesquisa deixa claro que sua gestão ambiental não é apenas histórica. Está em curso e deve ser reconhecida, apoiada e tomada como exemplo”.

Leia também: Conheça 10 afrodescendentes símbolos de resistência no Amazonas

O estudo faz um chamado à adoção de medidas similares às que ainda são necessárias para os povos indígenas e comunidades locais, cujas contribuições para a conservação e direitos sobre a terra seguem sem ser plenamente reconhecidas, apesar da sólida evidência científica existente. A recomendação da organização é que esses territórios quilombolas sejam reconhecidos, que exista mais pesquisa e financiamento para apoiar os afrodescendentes e seu trabalho de conservação e que as práticas sustentáveis desses povos sejam integradas pelas políticas climáticas e de biodiversidade globais. 

“As comunidades afrodescendentes protegem ecossistemas críticos. Este estudo pioneiro quantifica seu impacto e demonstra que justiça, segurança da posse da terra e ganhos em biodiversidade estão alinhados. As negociações globais que buscam impacto real deve colocar a liderança afrodescendente no centro, e o Fórum Permanente as apoia para garantir esse espaço”, disse o Embaixador Martin Kimani, Presidente do Fórum Permanente da ONU para Pessoas de Ascendência Africana.

“A titulação coletiva de terras para comunidades afrodescendentes é um mecanismo comprovado e eficaz para a conservação ambiental, contribuindo significativamente para a preservação de ecossistemas estratégicos na América Latina e no Caribe”, disse Angélica Mayolo, ex-ministra da Cultura da Colômbia e bolsista MLK na Iniciativa de Soluções Ambientais do MIT, originária do centro afrodescendente de Buenaventura, Colômbia.

A titulação coletiva de terras para comunidades afrodescendentes é um mecanismo comprovado e eficaz para a conservação ambiental, contribuindo significativamente para a preservação de ecossistemas estratégicos na América Latina e no Caribe.Angélica Mayolo, originária do centro afrodescendente de Buenaventura, ex-ministra da Cultura da Colômbia e bolsista MLK na Iniciativa de Soluções Ambientais do MIT

A pesquisa foi realizada pela Conservação Internacional, em colaboração com a Iniciativa de Soluções Ambientais do MIT, o Smithsonian Environmental Research Center, a Universidade da Flórida e a Universidade de Nova York.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela InfoAmazonia

Amazonas tem maior número de mortes de crianças indígenas pelo 2º ano seguido

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Foto: Rovena Rosa/Acervo/Agência Brasil

Pelo segundo ano consecutivo, o Amazonas foi o estado que mais registrou mortes de crianças indígenas no Brasil. Em 2024, foram 274 casos, segundo o relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil‘, divulgado nesta segunda-feira (28) pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

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O Grupo Rede Amazônica procurou o Governo do Amazonas e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para saber quais medidas estão sendo adotadas diante dos altos índices de violência contra os povos indígenas, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

Em 2024, o Amazonas registrou 274 mortes de crianças indígenas de até 4 anos, segundo o relatório. O número é o mais alto do país, à frente de Roraima (139 casos) e Mato Grosso (127).

As principais causas das mortes foram pneumonia (103 casos), diarreia (64) e desnutrição (43).

Assassinatos de indígenas

O Amazonas também foi o segundo estado com mais registros de assassinatos de indígenas em 2024, com 45 casos. Roraima lidera esse ranking, com 57 mortes.

Violência por omissão do poder público

O estado também teve o maior número de casos de violência por omissão do poder público, com 75 registros. Em seguida, aparecem Mato Grosso do Sul (42) e Roraima (26).

*Com informações da Rede Amazônica AM

Cabo Maciel recebe lideranças do Sul do Amazonas e fortalece diálogo institucional sobre licenciamento e regularização fundiária

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Foto: Paulo Ferraz

O deputado estadual Cabo Maciel (PL) promoveu uma série de reuniões voltadas à discussão dos impactos do licenciamento ambiental no sul do Amazonas e dos processos de regularização fundiária, fortalecendo canais de interlocução entre produtores rurais e órgãos do governo estadual.

A primeira etapa do diálogo ocorreu na sede da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), com representantes de Apuí, Humaitá, Lábrea, Manicoré, Canutama, Novo Aripuanã e Boca do Acre.

Os produtores expuseram as dificuldades enfrentadas em campo, especialmente em função de ações fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), muitas vezes realizadas sem a devida regularização dos imóveis. Eles ressaltaram a necessidade de medidas que garantam segurança jurídica e apoio para fortalecer a agricultura sustentável na região.

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Em continuidade ao debate, Cabo Maciel acompanhou as lideranças em reunião com o diretor-presidente do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Gustavo Picanço Feitoza, em Manaus. No encontro, realizado no gabinete do instituto, foram tratados temas como a agilidade no licenciamento via Sistema de Licenciamento Ambiental (Sislam), o aprimoramento da fiscalização estadual e o apoio técnico aos pequenos produtores que buscam a formalização de seus imóveis.

Para o deputado, o esforço conjunto reforça o compromisso com um desenvolvimento rural equilibrado e com a justiça social.

“A interlocução com o Ipaam permite acelerar soluções, reduzindo a sobreposição de critérios entre as esferas federal e estadual. Estamos lutando para garantir que o produtor rural não seja penalizado pela falta de estrutura jurídica”, afirmou Cabo Maciel.

Também foi deliberado, durante a reunião, o planejamento de Audiências Públicas na Aleam, com a presença do Ibama, da Força Nacional, de lideranças rurais e de órgãos estaduais, como o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam) e a Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror) para avançar em propostas concretas de apoio técnico, financeiro e jurídico, além da facilitação do licenciamento ambiental.

O parlamentar concluiu a agenda reforçando que seguirá na mobilização institucional pela regularização fundiária e pela defesa do pequeno produtor.

“É dessa forma, ouvindo, debatendo e propondo ações, que viabilizamos um modelo de desenvolvimento sustentável, que respeita as famílias do interior e preserva a nossa floresta”, afirmou Cabo Maciel.

Expedição científica busca as origens da biodiversidade da Amazônia peruana

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O paleontólogo peruano Rodolfo Salas-Gismondi liderará a equipe. Foto: Cortesia de Daiji Umemoto

Uma equipe científica multidisciplinar, liderada pelo paleontólogo peruano Rodolfo Salas-Gismondi, está se preparando para mais uma “viagem no tempo”. Coletando fósseis de plantas e animais da Formação Pebas (de 20 a 11 milhões de anos) na região de Loreto, no Peru, eles esperam aprender sobre a origem e a evolução da biodiversidade na Amazônia peruana.

E, claro, sobre um parente do “Pebanista yacuruna“, o maior golfinho-de-rio do planeta, ou sobre outros golfinhos que viveram com ele.

Leia também: Golfinho gigante de água doce viveu há 16 milhões de anos na Amazônia peruana, aponta pesquisa

“As expectativas são muito altas”, disse o cientista da Universidade Peruana Cayetano Heredia (UPCH), comentando que a área de Pebas já foi explorada por geólogos e pesquisadores de moluscos fósseis, mas por ninguém que trabalhe com fósseis de vertebrados, e muito menos por uma equipe multidisciplinar como será feita nesta ocasião.

Não está descartada a descoberta da família Pebanista yacuruna, cuja descoberta despertou grande interesse na comunidade científica devido ao potencial paleontológico do Peru. Na região sul de Ica, na costa peruana, por exemplo, foi encontrado o fóssil do cetáceo mais pesado da história: o Perecetus colossus.

Leia também: Cientistas encontram vértebras de baleia que teria vivido no Peru há 40 milhões de anos

“O objetivo é buscar não apenas mais restos mortais de Pebanista, mas também outros golfinhos que viveram com ele, cujos nomes ainda não sabemos. Atualmente, existem dois golfinhos no Rio Amazonas; naquela época, suspeitamos que havia mais dois além de Pebanista”, disse o pesquisador.

Para Salas-Gismondi, “esta é uma ótima oportunidade para aprender como era a comunidade de golfinhos. Imagine, três golfinhos tornariam a área incrivelmente interessante [e única], porque quase não há registros fósseis de golfinhos de água doce no mundo”.

“Adoro ter a oportunidade de reconhecer e descobrir novas espécies animais e entender como ocorreu a evolução na Amazônia, como a hiperdiversidade foi gerada”, comentou.

Foto: Cortesia de Daiji Umemoto

Pela primeira vez

A área a ser estudada abrange quase 500 quilômetros ao longo do Rio Amazonas, de Nauta a Pebas, o assentamento mais antigo da Amazônia peruana, que deu nome ao sistema Pebas, que antecedeu o sistema Amazonas, indicou.

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“Pela primeira vez, vamos a Pebas e não sabemos o que vamos encontrar, mas esperamos encontrar muitas coisas interessantes, porque a Formação Pebas foi nomeada na cidade de Pebas e arredores. Deve haver afloramentos rochosos em grandes quantidades”, enfatizou.

Ali foram descritas pela primeira vez as típicas rochas pretas e argilas azuis que caracterizam a Formação Pebas, que se distribui por grande parte do território do departamento de Loreto. A Formação Pebas é o cerne da compreensão do sistema Pebas. É uma unidade geológica que representa os sedimentos depositados neste sistema lacustre. Ambos os termos estão ligados à história geológica e à biodiversidade da Amazônia peruana.

“Sem essa formação [os fósseis encontrados], não teríamos evidências da existência desse sistema de pântanos, zonas úmidas e lagos periodicamente invadidos pelo mar do Caribe. Nem saberíamos quem eram os habitantes desse sistema”, enfatizou.

Assim, o sistema Pebas é muito importante porque nos permite entender a riqueza da Amazônia ocidental, que é a mais próxima dos Andes, observou ele, lembrando que a primeira viagem está marcada para 10 a 24 de agosto. A área a ser estudada — de 13 a 11 milhões de anos atrás — corresponde ao início do crescimento dos Andes, o que determinou o fim do sistema Pebas, explicou.

“Será incrivelmente emocionante: desembarcar em cada possível sítio arqueológico fóssil e viajar no tempo; ter a chance de ver coisas que nunca vimos antes; ver o que o Rio Amazonas ou a chuva revelaram. Não temos dúvidas de que seremos capazes de desenterrar coisas incríveis”, disse ele.

Em que consiste o projeto?

Foto: Cortesia de Daiji Umemoto

Esta expedição será possível graças ao projeto de pesquisa ‘Registro Fóssil de Loreto: Arquivos sobre a Origem da Biodiversidade Amazônica’, que será financiado com 500.000 soles (moeda peruana) do Programa Nacional de Pesquisa Científica e Estudos Avançados (ProCiencia), órgão executor do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação Tecnológica (Concytec), durante 30 meses de trabalho.

“Iremos em agosto porque o nível do rio baixa nessa época. Esperamos um ano seco, ou pelo menos que o nível baixe o suficiente. Este ano choveu muito, o ano passado foi extremamente seco. Estamos à mercê de condições climáticas imprevisíveis. Quanto mais seco, maior a probabilidade de encontrarmos coisas. Faz parte de como trabalhamos na Amazônia”, disse ele.

O financiamento será usado para:

  • comprar materiais, ferramentas, armários, equipamentos e suprimentos para trabalho de laboratório;
  • financiar duas teses de mestrado sobre os fósseis da Formação Pebas;
  • e cobrir três viagens à Amazônia.

“Ele propõe estudar o registro fóssil de plantas, vertebrados, invertebrados e microfósseis da Formação Pebas, na região de Loreto, considerado o sítio paleontológico mais rico da Amazônia e que tem sido a base científica para a reconstrução do sistema Pebas”, explicou o pesquisador.

O argumento é que a origem de vertebrados e plantas com ancestrais marinhos — golfinhos e peixes-boi, por exemplo, que agora vivem na Amazônia — e não marinhos, como jacarés, preguiças, palmeiras e samambaias, foi forjada na dinâmica ambiental das fases marinhas e secas do sistema Pebas antes do estabelecimento do Rio Amazonas.

Para testar essa hipótese, dados geológicos e paleontológicos serão coletados, e a análise isotópica será usada para caracterizar os ambientes marinhos e não marinhos em cada fase. “Estou focado e obcecado em encontrar novas espécies que existiram nesses ecossistemas megadiversos, como crocodilos terrestres ou pássaros-terroristas; agora acho que elas podem ter existido”, disse ele.

Coleção pioneira

O projeto de pesquisa também permitirá a coleta de fósseis coletados para formar a primeira coleção paleobotânica do interior do país, desta vez, na região de Loreto.

Leia também: Loreto: o incrível reino das onças que protege parque nacional no Peru

“Será complementado pela coleção botânica de árvores encontradas na Amazônia do Instituto Peruano de Pesquisas da Amazônia (IIAP)”, disse ele.

O paleontólogo esclareceu que a Formação Pebas não contém apenas fósseis de animais vertebrados, mas também fósseis de moluscos, âmbar, organismos dentro do âmbar e folhas, troncos e frutos de milhões de anos atrás.

“Os resultados deste projeto e sua disseminação demonstrarão o valor do registro fóssil para a compreensão dos processos que regem a origem e a evolução da Amazônia peruana. Tentar entender como ela funcionava no passado pode ajudar a prever o que pode acontecer no futuro”, alertou.

Esta primeira expedição tem como primeiro objetivo encontrar seções geológicas que apresentem uma sequência de estratos (vários metros) com diferentes fases, a fim de observar um ciclo completo (do ciclo marinho ao mais terrestre) e caracterizar o ambiente em cada etapa.

Ou seja, “desde o momento em que a incursão marinha avançou e penetrou até que gradualmente secou e deu lugar a ambientes mais terrestres. Passou de sedimentos azuis para pretos”. “Há grandes afloramentos em Pebas, e queremos documentar cada nível, o que estava acontecendo no nível fóssil, no nível ambiental, no nível climático”, explicou o pesquisador.

A próxima viagem, prevista para 2026, está prevista para chegar a Letícia, na tríplice fronteira entre Peru e Brasil e Colômbia.

O segundo objetivo da pesquisa é encontrar novos animais que fizeram parte desses ecossistemas e que podem ajudar a responder algumas das perguntas sobre como e quando ocorreu a diversificação em certas espécies de crocodilos, sirênios, golfinhos, etc.

“Estou confiante, ou pelo menos esperançoso, de que conseguiremos, porque cada vez que visitamos novos sítios arqueológicos, encontramos coisas completamente diferentes. Estabelecer idades na Amazônia é muito difícil porque não existem sequências rochosas completas. Agora temos a possibilidade de encontrar sequências mais longas e documentar cada uma delas”, afirmou.

Equipe multidisciplinar

A equipe é formada por quase 20 pesquisadores de três instituições peruanas: a Universidade Peruana Cayetano Heredia (UPCH), o Museu de História Natural (pesquisador Alí Altamirano e o técnico Walter Aguirre do MHN) da Universidade Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM) e o Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana, representado pelo botânico Ricardo Zárate.

Além disso, três instituições estrangeiras: o Museu Americano de História Natural, em Nova York, e o Museu Field, em Chicago, ambos nos Estados Unidos; e o laboratório L’Ocean, na Universidade Pierre e Marie Curie, ambos na França.

Foto: Cortesia de Daiji Umemoto

A paleobotânica colombiana Fabiany Herrera, do Museu Field, interessada em estudar o sistema Pebas, “nos ajudará a construir a coleção paleobotânica”, observou o especialista.

Também faz parte da equipe o paleontólogo americano John Flynn, especialista em mamíferos do Museu Americano de História Natural. “Começamos a trabalhar na Formação Pebas em 2004, e ele participou da expedição ao Rio Napo que descobriu o Pebanista yacuruna. Sua instituição contribuirá com recursos”.

Com o paleoclimatologista francês Matthieu Carré, da L’Ocean, estão em andamento planos para conduzir análises de isótopos de vários elementos para explorar, por exemplo, a salinidade e a temperatura da água no passado, umidade, precipitação e outros parâmetros que fazem parte de sua área de especialização.

A geóloga colombiana Diana Ochoa, da UPCH, será responsável por estudar a estratigrafia, para ver que informações os sedimentos podem oferecer sobre paleoambientes (ambientes passados).

Embora não faça parte do projeto ProCiencia, a paleontóloga peruana Julia Tejada, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, integra a equipe de pesquisa como colaboradora. Ela conduzirá estudos de isótopos para entender as teias alimentares — em termos simples, quais espécies se alimentaram de quais.

Da mesma forma, a paleontóloga holandesa Carina Hoorn, que estuda o sistema Pebas, postula que a floresta amazônica deve sua biodiversidade aos Andes e ao sistema Pebas. Ambos participarão com recursos próprios.

Além dos cientistas, duas equipes de documentaristas (Daniel Winitzky, Romina Castagnino e Daiji Umemoto) serão responsáveis por registrar toda a expedição, com o objetivo de divulgar o trabalho na Amazônia e a riqueza paleontológica de Loreto.

Com a contagem regressiva em andamento, a equipe não só está fazendo as malas, como também está cada vez mais ansiosa para documentar as mudanças no meio ambiente e explorar como as comunidades de vertebrados e invertebrados, bem como as plantas, estão mudando. Em suma, eles estão tentando desvendar e entender como esse ecossistema funcionava antes do Rio Amazonas.

“Acredito que temos uma oportunidade única. Agora que estamos indo mais longe [para Pebas], coisas que nunca vimos antes podem aparecer “, afirmou Salas-Gismondi com convicção.

*Com informações da Agência Andina

Óleos essenciais de plantas cultivadas na Amazônia combatem parasitas em tambaquis

A espécie de planta Piper hispidum se mostrou eficiente na redução da infestação por vermes monogenéticos nas brânquias dos peixes. Foto: Maria José Tupinamba

Óleos essenciais obtidos de plantas cultivadas na Amazônia demonstraram eficácia no combate a parasitas que atacam principalmente as brânquias do tambaqui (Colossoma macropomum), o peixe nativo mais cultivado no Brasil. A descoberta, resultado de pesquisas realizadas pela Embrapa, oferece uma alternativa natural ao uso de produtos químicos tradicionais (quimioterápicos), com potencial para transformar práticas na piscicultura brasileira.

O estudo avaliou a ação de óleos essenciais extraídos de três espécies do gênero PiperP. callosumP. hispidum e P. marginatum. As duas primeiras mostraram resultados significativos na redução da infestação por vermes monogenéticos nas brânquias dos peixes, enquanto a terceira espécie não apresentou a mesma eficácia terapêutica.

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Coordenado pelo pesquisador Marcos Tavares Dias, da Embrapa Amapá e em parceria com a Universidade Federal do Amapá (Unifap) e a Embrapa Amazônia Ocidental (AM), o estudo foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em Edital Universal.

Plantas presentes no bioma Amazônia  

As três espécies de plantas – P. callosumP hispidum e P. marginatum – cujo óleo essencial foi utilizado nesse trabalho, foram cultivadas na Embrapa Amazônia Ocidental em Manaus (AM), sob responsabilidade do pesquisador Francisco Célio Chaves.

No local, é feito o estudo agronômico com essas espécies para sistemas de cultivo, como produção de mudas, plantio, adubação, irrigação, e na fase reprodutiva as plantas são cortadas e levadas à secagem para que os materiais vegetais sejam preparados para destilação e purificação dos óleos essenciais no Laboratório de Plantas Medicinais e Fitoquímica da Embrapa Amazônia Ocidental.

Os óleos obtidos foram enviados para Embrapa Agroindústria de Alimentos, no Rio de Janeiro, onde o pesquisador Humberto Bizzo fez as análises da composição química dos componentes majoritários de cada óleo, por cromatografia gasosa, conforme explica Chaves. 

Leia também: Startup que estuda produção de óleos essenciais a partir de plantas amazônica recebe apoio no Amapá

O pesquisador explica que a família Piperaceae está presente na flora do bioma Amazônia e apresenta uma diversidade de moléculas químicas de comprovada atividade biológica. “A partir dessas análises da composição, a gente conhece que substâncias químicas majoritárias que compõem esses óleos essenciais, que passam a ser testados na piscicultura para o controle de doenças parasitárias, ou também são testados no uso em controle de pragas e doenças em vegetais e outros animais”.

Alternativa aos produtos químicos

Foto: Marcos Tavares Dias/Acervo pessoal

Marcos Tavares Dias, os parasitas combatidos — vermes monogenéticos — costumam se fixar nas brânquias dos peixes, comprometendo a respiração e prejudicando a produção da piscicultura. O controle tradicional envolve produtos químicos tais como formalina, organofosforados, albendazol, entre outros produtos. Apesar de eficazes, esses produtos químicos apresentam riscos à saúde dos trabalhadores que os manipulam, além de impactos ambientais e possibilidade de seleção de parasitas resistentes.

“Os óleos essenciais vêm ganhando espaço mundialmente como alternativa mais segura e sustentável”, relata o pesquisador. “O uso contínuo de quimioterápicos pode favorecer a resistência dos parasitas. Já os óleos, além de eficazes, não apresentaram toxicidade para os peixes nas doses testadas e não oferecem riscos à saúde dos trabalhadores, compara o cientista.

Foto: Siglia Souza/Embrapa

Banhos terapêuticos

Nos testes laboratoriais, os peixes foram submetidos a banhos terapêuticos com diferentes concentrações dos óleos. O óleo de P. callosum foi aplicado em banhos  de 20 minutos cada, com 24 horas de intervalo entre eles . Já o óleo de P. hispidum foi utilizado em três banhos de uma hora cada, com 48 horas de intervalo entre banhos. Em ambos os casos, houve significativa redução na infestação parasitária nas brânquias dos tambaquis.

As análises, realizadas com microscopia eletrônica de varredura, mostraram que os componentes químicos dos óleos alteram a estrutura da membrana dos parasitas, comprometendo sua fixação nas brânquias e facilitando sua eliminação. A segurança dos tratamentos foi confirmada pela ausência de mortalidade nos peixes durante os experimentos.

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Plantas usadas por comunidades da região

O gênero Piper é um dos mais diversos da flora amazônica, com cerca de 400 espécies conhecidas no Brasil. Muitas dessas plantas são tradicionalmente usadas por comunidades da região como remédios naturais, o que reforça seu potencial para inovação na agricultura e na saúde animal.

A pesquisa reforça ainda a importância do manejo preventivo de doenças causadas por monogenéticos em peixes na piscicultura. Práticas como quarentena, controle da densidade dos peixes nos tanques e monitoramento da qualidade da água são essenciais para evitar surtos de doenças e reduzir prejuízos na produção. O controle de parasitas pode representar até 22% dos custos totais de cultivo, o que torna o uso de soluções naturais ainda mais estratégico.

A expectativa dos cientistas é que os resultados sirvam de base para orientar técnicos e piscicultores no uso desses óleos como alternativa aos tratamentos quimioterápicos. A proposta está alinhada aos princípios de uma piscicultura mais sustentável, em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente o ODS 8, que promove o crescimento econômico sustentável e trabalho decente.

Apesar dos avanços, os pesquisadores alertam que ainda é necessário enfrentar desafios, como a disponibilidade e o custo da produção dessas plantas medicinais em larga escala. Para que essas alternativas se tornem viáveis na prática, será preciso estabelecer diretrizes de uso sustentável e regulamentação específica para sua aplicação na aquicultura, bem como a validação destes resultados em tanques de piscicultura.

Foto: Jefferson Christofoletti/Acervo pessoal

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Embrapa

DSX 2025 realiza mais de 40 palestras sobre marketing, IA e inovação em Manaus; veja a programação

Evento acontece no Centro de Convenções Vasco Vasques na terça (30) e quarta-feira (31). Foto: Lucas Silva/Acervo/Amazonastur

Manaus (AM) recebe, na quarta (30) e quinta-feira (31), o DSX 2025 – Digital Summit Experience, maior evento de marketing, vendas, inovação e negócios do Norte do Brasil. O evento acontece no Centro de Convenções Vasco Vasques, a partir das 10h.

A programação oficial reúne mais de 40 palestras, distribuídas em três palcos simultâneos, com temas que abrangem inteligência artificial, marketing digital, liderança, storytelling, comunicação, vendas, varejo, branding, entre outros.

O DSX reúne especialistas reconhecidos nacionalmente e nomes locais que têm transformado o mercado regional.

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Além do conteúdo, o evento contará com uma estrutura completa, incluindo praça de alimentação, feira de negócios, espaços para networking e happy hour.

Para Antônio Lima Júnior, CEO do Grupo Digital e idealizador do evento, o DSX representa uma virada de chave para o empreendedorismo na região:

“O DSX nasceu com o propósito muito claro de valorizar o que é nosso, de valorizar os empresários, os profissionais sonhadores e os realizadores que fazem a nossa terra. São dois dias de imersão total, com conteúdo prático de verdade, grandes palestrantes locais e nacionais, em uma atmosfera de conhecimento que inspira evolução”.

Os passaportes para a imersão junto a grandes nomes do marketing nacional estão disponíveis on-line. Grupos de empresas e instituições têm descontos exclusivos que podem chegar a 15%. A compra é exclusiva pelo WhatsApp: (92) 98132-3426.

Programação oficial

30 de julho (quarta-feira)

Plenária

  • 10h – Rafael Liporace | Transformando ideias em ações memoráveis
  • 11h – Carlos Oshiro | Nova Economia
  • 12h – Rodrigo Waughan | Arquitetura do Varejo do Futuro
  • 13h – Nicolas Charão | IA Comercial: Como usar tecnologia para aumentar suas vendas
  • 14h – Marcel Roxo | Neurovendas
  • 15h – Lucas Pimenta | Política é negócio: votos além dos likes
  • 16h – Fernando Miranda | O Futuro do Marketing com IA
  • 17h – Camila Renaux | Tendências que vão definir o marketing até 2030
  • 18h – Alfredo Soares | O Jogo da Máquina de Vendas
  • 19h – Tallis Gomes | Gestão e Cultura
  • 20h – Painel com Alfredo Soares e Tallis Gomes | Gestão e Vendas

Palco 2

  • 10h – Carol Guerra | Branding: a importância para o sucesso do seu negócio
  • 11h – Luis Eduardo Leal | IA aplicada em vendas e marketing
  • 12h – Amanda Maria | Liderança em vendas
  • 13h – Rodrigo Kallas | Smart Cities e Marketing Urbano
  • 14h – Jacqueline Guedes | A Voz que Vende
  • 15h – Suelen Scop | IA e o futuro do trabalho
  • 16h – Rafael Amorim | Estratégias comerciais que funcionam
  • 17h – Fabrício Alva | Saúde com resultado e responsabilidade

Palco 3

  • 10h – Erick Fernandes | A trilha da fortuna das vendas
  • 11h – Flávia Sausmikait | Marketing e Pesquisa
  • 12h – Aimee | Tráfego Pago
  • 13h – Djalma Pinheiro | Case Sushi Ponta Negra
  • 14h – Rodrigo Araújo | Mapa do ROI
  • 15h – Breno Maciel | WhatsApp e Vendas
  • 16h – Afrânio Soares | Pesquisas Eleitorais
  • 17h – Paulo de Lima | IA para Empresários

31 de julho (quinta-feira)

Plenária

  • 10h – Marc Tawil | As 5 Habilidades que a IA não substitui
  • 11h – Cristiano Santos | LinkedIn e Conexões de Valor
  • 12h – Gisele Oshiro | Ansiedade Digital e Produtividade
  • 13h – João Brognoli | A Nova Era dos Negócios Digitais
  • 14h – Ben Ludmer | Storytelling no Processo Criativo
  • 15h – Carolina Lima | Autenticidade e Redes Sociais
  • 16h – André Siqueira | Aquisição de Clientes
  • 17h – Hanah Franklin | Conteúdo Autêntico e Criativo
  • 18h – Rafael Kiso | A Era da Retenção
  • 19h – João Kepler | Smart Money: Estratégias para Escalar Negócios Inovadores

Palco 2

  • 10h – Jessica Nery | Integração de Marketing e Vendas
  • 11h – Magno Rodrigues | Gestão Financeira Eficiente
  • 12h – Diego Cestaro | PDV do Futuro
  • 13h – Bianca Guedes | Conteúdo com Verdade
  • 14h – Ana Eliza Costa | Venda Muito Mais
  • 15h – Jack Serafim | Marketing Político que Funciona
  • 16h – Painel com Alcides Netto, Dois REC, Mariah (Time) | Vídeo no Marketing
  • 17h – Mesa de Debate com Kallas, Vanguarda e Santo Remédio | Dinâmica da Comunicação

Palco 3

  • 10h – Marcus Evangelista | Conteúdo nas Redes Sociais
  • 11h – Mauricio Stellato | Automação para Engajar e Vender
  • 12h – Glauber Gomes | IA na sua Empresa
  • 13h – Alex Mota – Engeco | Marketing de Alto Padrão
  • 14h – Eduardo Lopes | Distribuição de Conteúdo Digital
  • 15h – Gerson Toller | IA no Varejo: Riscos e Oportunidades
  • 16h – Roberta Gaspar | Experiência do Cliente

Sapo Tarô Bequê: companhia de teatro apresenta mitologia Tukano em turnê pela Amazônia

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Foto: Bruno Lopes

Com apresentações gratuitas e ações formativas, o projeto ‘INFÂNCIAS – Nos beiradões do grande rio’ circula pela Amazônia com o espetáculo ‘A Maravilhosa História do Sapo Tarô Bequê‘, que une teatro e tradição oral em uma narrativa baseada na mitologia do povo Tukano, do Alto Rio Negro, no Amazonas.

A peça tem apresentações nos estados do Amazonas, Pará e Roraima, com datas confirmadas em diferentes cidades. No Amazonas, já passou por Itacoatiara (20 de maio) e Parintins (28 de julho) e, em Manaus, a apresentação será no Teatro Amazonas, no dia 3 de setembro, às 20h.

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Já no Pará, o espetáculo chega a Santarém no dia 2 de agosto, às 20h, no Auditório Maestro Wilson Fonseca, na UFOPA (Unidade Rondon). E em Roraima, será apresentado em Boa Vista, no dia 19 de agosto, no Teatro Municipal.

O projeto foi contemplado com o Prêmio Myriam Muniz de Teatro 2023, concedido pela Fundação Nacional de Artes – FUNARTE, com apoio do Ministério da Cultura.

Foto: Bruno Lopes

O sapo que quer virar gente

Inspirado na oralidade tradicional, o espetáculo conta a trajetória do personagem Tarô Bequê, um sapo que deseja virar gente. A transformação acontece pelas mãos do Pai do Mato, Cainhamé, que também cria sua companheira, a Moça Juruti da folha do tajá. Mas a união só será aceita quando ela puder cozinhar, e para isso, Tarô Bequê precisa conseguir o fogo, enfrentando o temido feiticeiro Urubu-Rei, guardião desse elemento sagrado.

A narrativa atinge o ápice quando Tarô Bequê encontra sua própria tragédia na maloca dos mortos, revivendo umas das mais exploradas sequências da literatura universal: a jornada de Orfeu aos infernos em busca de Eurídice.

Leia também: A origem do ‘Povo do Sapo’, segundo os próprios Puyanawa

Ele falha na tentativa de resgatar sua amada. “Mesquinho, talvez, mas humano, demasiadamente humano. Terminava ali seu aprendizado de como é duro ser um homem”, diz o ator e diretor Douglas Rodrigues, diretor geral do espetáculo.

Ao final da peça, a metáfora ressoa: “O sapo que vira homem; o homem que não suporta a dor de existir e volta a ser sapo, rastejando-se pela eternidade”.

O protagonista Tarô Bequê é descrito como “um dos personagens mais conhecidos da dramaturgia Amazônica”. “A peça surge do mergulho feito por Márcio Souza nas narrativas da etnia Tukano, levando ao palco todo conhecimento ancestral dos povos tradicionais”, afirma Douglas.

Foto: Bruno Lopes

A temática do espetáculo é abordada como urgente e necessária. “Uma cultura que foi silenciada, quase extinta. Hoje, com os novos movimentos sociais, busca reconhecimento e protagonismo”, afirma Douglas, membro da Associação dos Artistas Cênicos do Amazonas – Arte&Fato, responsável pela montagem e circulação da obra.

Rodrigues ressalta que, desde sua fundação em 1999, antes mesmo das políticas afirmativas, a Cia. reconhece no território amazônico e nas suas populações a motivação da sua criação. “Isso se reflete tanto na escrita dramatúrgica, ou inserindo na equipe criativa, quanto no desejo constante de expandir os diálogos e estimular a equidade no mercado cultural”.

A Arte&Fato também se destaca, segundo o diretor, por uma abordagem não estereotipada: “É uma Cia. reconhecida pela investigação aos povos da floresta, de forma técnica, fugindo sempre do exótico já explícito nas colonizações”.

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Uma viagem cênica

O processo de criação está vinculado à proposta de interiorização do teatro. “O projeto, no Amazonas, parte de Manaus e faz escalas no Aldeamento Indígena Sateré Mawé, situado às margens do Rio Tarumã-Açu, além de passar por Itacoatiara e Parintins. No Pará, a navegação segue pelo Rio Tapajós até Santarém, e, finalmente, ancora em Boa Vista, capital de Roraima”, lembra Douglas.

Foto: Bruno Lopes

Além das encenações, o projeto oferece oficinas, workshops, distribuição da coletânea dramatúrgica “O outro entre nós” (publicada pelo coletivo AACA/Arte & Fato), e atividades formativas voltadas ao público infanto-juvenil.

Tais ações fazem parte de uma estratégia de democratização do acesso à cultura e se alinham ao enfoque político-artístico do Programa de Difusão Cultural da edição presente da Bolsa Funarte de Teatro Myriam Muniz, em 25 anos de atividades no território amazônico.

Manáos Tramways: o legado dos bondes elétricos que marcaram a história da mobilidade urbana em Manaus

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Passeio de bonde em Manaus, na década de 1930. Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte

Por quase seis décadas, os bondes de Manaus (AM) – Manáos Tramways – foram mais que um simples meio de transporte: representaram um marco da modernização urbana na capital amazonense. Implantado no fim do século XIX, o sistema foi pioneiro na adoção do bonde elétrico no Brasil, colocando Manaus entre as primeiras cidades do país a oferecer esse tipo de serviço público, ao lado de Campos e do Rio de Janeiro.

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De acordo com o historiador Abrahim Baze, o impulso para essa modernização veio com o governo do urbanista Eduardo Ribeiro, que, vislumbrando uma cidade alinhada aos padrões europeus, promulgou em 1895 a Lei nº 124, autorizando a concorrência pública para a instalação dos bondes.

O vencedor foi o engenheiro inglês Frank Hirst Habbletwhite, que assinou um contrato para a construção de 20 quilômetros de trilhos, com subvenções escalonadas nos primeiros quinze anos.

Leia também: Da carroça ao ‘busão’: veja a evolução histórica do transporte coletivo em Manaus

Mapa de Manaus do livro ‘História do Transporte Urbano no Brasil’. Foto: Acervo ‘The Tramways of Brazil a 130 year survey by Allen Morrison’

A Manaus Railway Company foi a primeira a operar o sistema, promovendo uma inauguração experimental em 1896. Os dados do período informavam que a cidade já contava com 16 km de linhas, 35 bondes, sendo 10 destinados a passageiros, e mais de 170 mil pessoas transportadas em um único ano. A tarifa? Apenas 250 réis (moeda da época). A inauguração oficial ocorreu em 1º de agosto de 1899 e mantinha dezenas de viagens diárias.

Leia também: Bonde: registros da presença inglesa no Amazonas

Em 1902, o Estado assumiu o controle do sistema, repassando-o depois a diferentes administrações até a criação, em 1908, da Manaus Tramways and Light Company Limited, de capital inglês. A nova concessionária, que também cuidava da iluminação pública, deu continuidade aos serviços a partir de 1909.

Decadência

O declínio do sistema começou a partir da Primeira Guerra Mundial (1914–1918), quando o conflito dificultou a importação de peças e materiais essenciais para a manutenção dos bondes.

Assim, com baixa lucratividade, os investimentos foram encerrando e o sistema passou a se deteriorar lentamente.

Bonde na então Avenida Eduardo Ribeiro. Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte

Em 1950, já com as usinas de energia elétrica defasadas e os bondes em condições precárias, a Manaus Tramways foi encampada pelo governo estadual. A crise energética que se seguiu obrigou a suspensão dos serviços, mergulhando Manaus em um apagão literal e simbólico.

Uma tentativa de reativação ocorreu em 1956, com a criação da Companhia Elétrica de Manaus (CEM), que colocou nove bondes em operação. A frota, porém, era insuficiente, e não havia recursos para expansão. Em meio a disputas judiciais com a antiga empresa inglesa, os trilhos do passado foram definitivamente desativados em 28 de fevereiro de 1957.

Novo fôlego?

O prefeito de Manaus, David Almeida, anunciou em novembro do ano passado um projeto em que os bondinhos devem voltar a circular no Centro de Manaus. A estação inicial, de acordo com a prefeitura, seria o prédio histórico da BoothLine. A proposta, segundo Almeida, é para dar incentivar o turismo no Centro Histórico, que já conta com outros pontos revitalizados e criados pensando em atrair o público da capital e de fora.