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Cardápio de companhia aérea para voos internacionais é criado por chefs brasileira e peruana com sabores da Amazônia

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A LATAM apresentou seu novo cardápio para voos internacionais com mais de 7 horas que decolam do Brasil. Assinado pela chef brasileira Débora Shornik em colaboração com a peruana Andrea Suárez, o novo cardápio marca o início de uma nova fase do ‘Sabor à Brasileira’, programa da LATAM que empodera e dá visibilidade ao talento de chefs brasileiras. 

Agora, a iniciativa contará com menus desenvolvidos em colaboração com outras chefs sul-americanas que assinam o cardápio de voos internacionais no Chile, Peru, Equador e Colômbia por meio do programa ‘Sabores que Transportam’.

Segundo Paulo Miranda, vice-presidente de Clientes do Grupo LATAM, a nova fase do programa promove um intercâmbio criativo com alto potencial de sabor ao combinar elementos de gastronomias reconhecidas mundialmente. 

O ‘Sabor à Brasileira’ é um programa para fortalecer o caráter diverso, inclusivo e multicultural, dando protagonismo aos produtos locais da América Latina. No caso do Brasil, reforça a brasilidade da companhia aérea e está vinculado diretamente ao ‘Sem Fronteiras’. 

A série apresenta um novo prato signature a cada três meses, sempre assinado por uma chef de uma região do Brasil. Todas as regiões do Brasil já foram representadas:

Débora Shornik e Andrea Suárez: talentos sul-americanos 

Foto: Divulgação/ LATAM

Escolhida para representar a Região Norte do Brasil, a chef Débora Shornik é nascida e criada em São Paulo, mas encontrou na Amazônia o seu lugar para viver, desenvolver e produzir sabores relacionados à natureza. 

Débora está hoje à frente do Restaurante Caxiri, que fica ao lado do Teatro Amazonas, e serve culinária amazônica com ingredientes orgânicos de famílias produtoras, além de peixes locais como Pirarucu, Tambaqui e Matrinxã.

Foto: Divulgação/ LATAM

Já a chef Andrea Suárez trabalha no Cosme, um dos restaurantes mais importantes de Lima, e foi escolhida para surpreender com sua culinária e levar a identidade local peruana, tão característica por sua gastronomia, a múltiplos destinos.

Pensando nisso, Suárez escolheu os ingredientes com a precisão que só uma chef experiente, formada pela prestigiada escola e fundação de culinária Pachacútec, fundada pelo famoso chef peruano Gastón Acurio, poderia montar. 

Além de compartilharem uma paixão pela gastronomia, ambas as chefs encontram inspiração nas culturas do Brasil e do Peru. Essa conexão foi fundamental para a criação de um menu especial que inclui uma entrada (palmito grelhado, abacaxi, tomate, rabanete e macadâmias), um prato principal (Pirarucu grelhado ao molho huancaína, batata nativa gratinada e farofa de quinoa com milho) e uma sobremesa (Brioche, queijo Minas Frescal, Coco e Goiaba).

Amazônia: a geografia do garimpo

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O garimpo de ouro é uma característica da Amazônia andina desde os tempos pré-colombianos e, juntamente com a prata, foi a pedra angular da economia nos períodos colonial e republicano. No Brasil, a mineração de ouro foi uma fonte de riqueza para a coroa portuguesa e um importante fator na colonização de Mato Grosso e Rondônia durante o século 18. A Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa tiveram corridas do ouro no século 19, assim como a Venezuela nas primeiras décadas do século 20. Esses eventos históricos, no entanto, foram ofuscados pelas corridas do ouro da era moderna, todas ocorridas depois que os Estados Unidos encerraram a conversibilidade do dólar em 1971.

A decisão de desvincular os mercados internacionais de ouro coincidiu com uma década marcada pela inflação que desencadeou um aumento exponencial no preço do ouro. Coincidentemente, os países amazônicos adotaram políticas para abrir o interior de suas florestas à migração e ao desenvolvimento. A intenção era catalisar a expansão da economia nacional por meio do desenvolvimento agrícola e mineral. Os obstáculos estruturais e a arrogância condenaram muitas iniciativas, pelo menos no início, mas dezenas de milhares de famílias responderam migrando para a Amazônia. Muitos foram para os campos de ouro recém-descobertos em Carajás, Tapajós, Roraima, Madre de Dios e na costa da Guiana.

Esses garimpeiros logo se tornaram adeptos da exploração de ouro aluvial, que exploravam com o total apoio de seus governos. Os garimpeiros corporativos acabaram seguindo-os, munidos de informações de pesquisas geológicas de alta qualidade publicadas pelos ministérios de mineração nacionais. Esses documentos técnicos divulgam informações em um nível relativamente alto, mas a presença de ouro deve ser verificada e validada pelo trabalho de campo. Esse é o domínio das pequenas empresas de mineração, cujos geólogos de campo sabiam que o melhor lugar para procurar ouro era seguir o exemplo dos garimpeiros.

O Grupo Especializado de Fiscalização (GEF) era um braço militarizado do Ibama que realizava incursões periódicas para interceptar a exploração de minas ilegais que operavam em parques nacionais e terras indígenas; No entanto, a unidade foi desfinanciada durante o governo Bolsonaro. Foto: Ibama & Felipe Werneck, CC BY-SA 2.0.

As formações minerais que contêm ouro são normalmente classificadas como depósitos primários (rocha dura) ou secundários (aluvial/coluvial/saprólito). A presença de depósitos secundários é uma indicação da existência de um depósito primário. Os garimpeiros extraem “ouro livre” de depósitos secundários usando a tecnologia de mineração de placer. Esse tipo de mineração acabará eventualmente na Amazônia, seja quando as autoridades limitarem sua expansão ou quando os garimpeiros descobrirem e explorarem todos os depósitos secundários acessíveis. Muito antes disso, no entanto, o setor de mineração de ouro terá feito a transição para o modelo de produção de mineração de rocha dura, muito mais lucrativo.

Os depósitos de rocha dura têm duas manifestações: (a) filões e veios de alto teor localizados em falhas ou zonas de cisalhamento dentro de uma matriz rochosa; e (b) corpos de minério de baixo teor em que o ouro está fortemente ligado em baixas concentrações dentro da matriz mineral da rocha. Algumas mineradoras de médio porte já fizeram a transição para a mineração de rocha dura usando minas subterrâneas e cianeto para explorar os minérios de alto teor. Os minérios de baixo teor serão explorados por corporações que operam minas a céu aberto dentro ou perto de paisagens já destruídas pelo flagelo da mineração de aluvião.

O garimpo do Tapajós

A mineração de ouro no sudoeste do Pará começou no final da década de 1950, quando os garimpeiros descobriram depósitos aluviais no Rio Crepori, um afluente do Rio Tapajós localizado a cerca de 500 quilômetros ao sul da cidade portuária de Santarém (Figura 5.22). O acesso era limitado ao que os pequenos aviões conseguiam transportar até pistas de pouso remotas ou ao que era transportado rio acima contornando vários conjuntos de corredeiras. Os primeiros garimpeiros usavam a tecnologia mais rudimentar de placer e desmataram cerca de 1.540 hectares de mata ciliar até 1975. A migração aumentou após a construção da rodovia principal (BR-163) que ligava Cuiabá a Santarém no final da década de 1970 (consulte o Capítulo 2). Dezenas de milhares de garimpeiros chegaram à região e, em 1984, a presença espacial do Garimpo do Tapajós havia triplicado para 4.750 hectares ao mesmo tempo em que o acesso à região foi melhorado pela construção da Rodovia Transgarimpeira, que permitiu que os mineradores expandissem a escala de suas atividades com equipamentos pesados. A área de floresta de várzea perdida até 1993 ultrapassou 16.500 hectares.

A produção de ouro aumentou de oito toneladas anuais em 1970 para mais de 26 toneladas em 1990, mas o valor nominal aumentou de somente US$ 7 milhões para US$ 175 milhões – uma soma muito grande na Amazônia do final da década de 1980. O preço do ouro estagnou na década de 1990; no entanto, os garimpeiros ainda conseguiam produzir entre oito e doze toneladas por ano. A recuperação dos preços do ouro após 2007 levou a outro boom na atividade de mineração, aumentando a pegada espacial total para 26.170 hectares até 2015. Em comparação com o desmatamento causado pela criação de gado, essa pode não parecer uma área particularmente grande. No entanto, a floresta destruída nos campos de ouro do Tapajós é quase sempre floresta de várzea.

O campo de ouro do Tapajós, que é em grande parte limitado pelo município de Itaituba, tem sido continuamente o foco de garimpeiros desde a década de 1950, mas a região experimentou um aumento na atividade desde 2011, como evidenciado pelo aumento de vales fluviais desnudados característicos da técnica de placer. Praticamente todos os garimpeiros de jazidas evitaram pagar impostos até 2015, quando o governo local e as autoridades estaduais começaram a cobrar impostos sobre royalties para apoiar o desenvolvimento local. Fonte de dados: ANM (2022).

Em 2013, um jornal de Santarém estimou que a região havia produzido cerca de 758 toneladas de ouro ao longo de cinquenta anos, com um valor calculado em ~R$ 79 bilhões (então ~US$ 25 bilhões). O objetivo do artigo do jornal era protestar contra a perda de receitas públicas provenientes de mineradoras de ouro que só recentemente haviam começado a pagar royalties. A produção de ouro da região em 2013 foi registrada em doze toneladas, o que teria um valor nominal de mercado de ~US$ 447 milhões; no entanto, apenas R$ 1,6 milhão foi transferido para o município de Itaituba, cerca de sete por cento do valor putativo realmente devido (R$ 24 milhões). As receitas anuais melhoraram constantemente desde então, à medida que empresas e cooperativas de médio porte começaram a operar no setor formal. Em 2019, um total de R$ 64 milhões em royalties foi transferido para o município, o que corresponde, talvez, a cinquenta por cento de cumprimento de suas obrigações de acordo com a legislação brasileira.

Em 2020, um serviço de notícias regional estimou que havia 2.700 minas de garimpo ativas, empregando cerca de 27 mil pessoas. Alguns estão retrabalhando minas de aluvião pré-existentes usando tecnologia mais sofisticada, mas a presença de mineração de aluvião continua a se expandir pelos afluentes secundários e terciários do Crepori e do Jamanxim. Imagens de satélite revelam que entre 3.000 e 4.000 hectares de floresta de várzea foram perdidos a cada ano entre 2010 e 2020. Pelo menos alguns garimpeiros evoluíram para mineiros de rocha dura em pequena escala e agora estão explorando os depósitos de ouro primário de acesso mais fácil. Havia apenas duas minas subterrâneas em escala industrial operando na região em 2020, mas pequenas empresas estavam desenvolvendo quatro minas subterrâneas e três minas a céu aberto (consulte a Figura 5.22), enquanto realizavam campanhas de exploração em toda a região.

A maior parte da mineração ocorreu dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Tapajós, uma categoria de conservação que permite a mineração; no entanto, a maioria das minas é considerada ilegal por não estar em conformidade com as regulamentações ambientais ou fiscais.

A região também contém dois parques nacionais (Jamanxim, Rio Novo), onde a mineração não é permitida, e cinco reservas florestais nacionais: Floresta Nacional (FLONA) Itaituba I e II, onde a mineração é permitida, e FLONA Amaná e Jamanxim, onde não é permitida. Todas ainda estão em estágios iniciais de consolidação e sofrem pressão de colonos, grileiros e garimpeiros. Em 2017, o governo de Michel Temer tentou reduzir o tamanho e recategorizar a FLONA Jamanxim, mas a medida foi declarada ilegal pelo Supremo Tribunal Federal.

Garimpeiros invadiram repetidamente a Terra Indígena Yanomami ao longo de seus mais de 40 anos de existência, em um constante jogo de gato e rato com programas organizados pela Funai, Ibama e Forças Armadas Brasileiras. Foto: Valentina Ricardo/Greenpeace.

A maior parte do setor médio da bacia hidrográfica do Tapajós já foi domínio incontestável dos Munduruku, uma nação indígena que tem lutado para coexistir com os garimpeiros e proteger a integridade ecológica da região. Uma etnia relativamente numerosa, que agora reside principalmente em comunidades ribeirinhas em seus territórios legalmente constituídos (TI Munduruku, TI Sai Cinza e TI Sawré Muybu), todos adjacentes aos campos de ouro. Suas comunidades continuam sofrendo invasão territorial, principalmente ao longo do Rio das Tropas e do Rio Cabitutu. Em 2014, eles criaram o Movimento Ipereg Ayu , uma força de autoproteção, cuja primeira ação foi autodemarcar suas terras e organizar patrulhas para combater a mineração e a extração ilegal de madeira.

Leste do Pará

A mina de ouro mais famosa da Amazônia brasileira é Serra Pelada, no leste do Pará, local de uma corrida do ouro que começou em 1981 e terminou com o fechamento do maior garimpo do mundo escavado a mão a céu aberto em 1993. Em seu auge, em meados da década de 1980, a população de garimpeiros chegou a 80.000 homens e meninos, enquanto dezenas de milhares de mulheres e crianças viviam em assentamentos adjacentes. Hoje, Serra Pelada é cercada por fazendas e ranchos, mas em 1981 era uma fronteira florestal e, previsivelmente, um garimp o caótico e violento.

A corrida do ouro ocorreu no auge do governo militar, o qual enviou um oficial familiarizado com a região para administrar a mina, que logo se tornou famosa pela situação caótica e pelas condições de trabalho infernais. Sebastião Rodrigues de Moura, conhecido pelo apelido de Major Curió, impôs a ordem usando uma combinação de coerção, persuasão e bom senso. Os garimpeiros se organizaram na Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (COOMIGASP). A concessão foi originalmente detida por uma subsidiária da empresa estatal de mineração (Companhia Vale do Rio Doce – CVRD), que cedeu a propriedade à COOMIGASP em 1982, quando ficou óbvio que as condições sociais tornariam impossível o desenvolvimento de uma mina industrial.

Os campos de ouro do Tapajós têm sido dominados por garimpeiros desde a década de 1950, mas garimpeiros iniciantes documentaram a presença de vários depósitos de ouro em rocha dura que estão em diferentes estágios de desenvolvimento. A maior parte da atividade de mineração ocorre dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Crepori, uma área protegida de uso múltiplo. A mineração ilegal também ocorre dentro da FLONA Jamanxim e da reserva indígena Munduruku. Fontes de dados: RAISG (2022) e relatórios corporativos.

As chuvas tropicais acabaram superando a capacidade das bombas de manter a cava livre de água, enquanto seu projeto aleatório e os solos lateríticos não consolidados (saprólito) resultaram em vários deslizamentos de terra recorrentes que mataram dezenas de trabalhadores. A mina foi fechada em 1992, embora houvesse abundantes recursos de ouro que ainda não haviam sido totalmente explorados. A quantidade de ouro que foi extraído de Serra Pelada é estimada, de forma conservadora, em 42 toneladas, o que, na época, teria representado cerca de US$ 500 milhões. Presume-se que o valor real seja maior porque o banco encarregado de comprar a produção dos garimpeiros pagou apenas 75% do preço do mercado internacional.

A jazida de Serra Pelada é conhecida por se estender por vários milhares de metros abaixo da superfície e estima-se que contenha mais ~100 toneladas de ouro, além de platina (~35 toneladas) e paládio (~18 toneladas). A cooperativa de garimpeiros não possui capacidade técnica nem financeira para desenvolver o recurso. No entanto, em 2000, a COOMIGASP firmou uma joint venture com uma empresa canadense (Colossus Minerals) para instalar uma mina subterrânea em escala industrial. A iniciativa não foi bem-sucedida, devido à complexa dinâmica social que exigia que a empresa canadense entrasse em um empreendimento comercial com uma associação indisciplinada de garimpeiros.

A cooperativa, que agora conta com 45 mil associados, continua buscando parceiros e oportunidades para reabrir o poço escavado pela Colossus entre 2000 e 2014. Em janeiro de 2022, a COOMIGASP recebeu um compromisso do governo Bolsonaro para reativar a mina, uma decisão influenciada pelas lembranças da experiência de seu pai como garimpeiro na mina no início da década de 1980.

As jazidas de ouro do Tapajós têm atraído vários mineradores “juniores”, termo usado para designar pequenos geólogos e investidores empreendedores que descobrem e exploram jazidas, que geralmente são exploradas por meio de minas subterrâneas e tecnologia de lixiviação de cianeto. As jazidas São Chico (acima) e Palitos (abaixo) são exploradas pela Serabi Gold, do Canadá.

Serra Pelada foi apenas um dos vários garimpos que se beneficiaram dos programas federais na década de 1980; os subsídios diretos incluíam assistência técnica, serviços financeiros, transporte aéreo, assistência médica e alimentação. O garimpo de maior destaque patrocinado pelo governo federal foi o Projeto Cumaru, localizado em uma paisagem florestal remota em terras habitadas pela tribo Gorotire da nação Kayapó. A onda de migrantes oprimiu os Gorotire, cujos líderes originalmente buscavam um acordo com os garimpeiros em troca de uma parte das receitas e da delimitação de seu território. Os Kayapó logo se sentiram frustrados com a situação, pois sentiram os impactos em sua saúde bem como em seus meios de subsistência e perceberam que estavam sendo enganados em relação às receitas. A atividade de mineração diminuiu durante a década de 1990, pois o valor do ouro sofreu um declínio cíclico, mas os garimpeiros voltaram a se instalar na área depois de 2015 (Figura 5.24). Os Kayapó são firmes em sua oposição à mineração, mas não conseguiram proteger seu território, apesar da assistência do Ministério Público e da sociedade civil.

A imprensa popular enfatiza o conflito entre os povos indígenas e os garimpeiros, mas a retomada da expansão do garimpo também afetou negativamente as comunidades que residem em paisagens agrícolas. Dezenas de milhares de garimpeiros foram atraídos para o leste do Pará durante a década de 1980 e, embora alguns tenham se mudado para outros lugares, muitos se estabeleceram em assentamentos patrocinados pelo INCRA que caracterizam a região (consulte o Capítulo 4). Essa reserva demográfica de garimpeiros, ou de seus descendentes, surge quando o preço do ouro dispara. Alguns invadem áreas indígenas, mas outros reocupam os garimpos abandonados da década de 1980, que agora estão cercados por fazendas e ranchos. Imagens de satélite revelam que novos garimpos destruíram milhares de hectares de habitat ribeirinho e remanescentes de matas ciliares nos municípios de Xinguara, Rio Maria, Curionópolis e Eldorado dos Carajás.

Assim como no Tapajós, o sucesso dos garimpeiros atraiu o interesse das empresas, que sabem que o ouro aluvial é um indício de depósitos maiores contidos nos corpos mineralizados da Província Mineral de Carajás. A Vale operou uma mina de ouro industrial em Igarapé Bahia entre 1990 e 2000, que produziu cerca de 100 toneladas de ouro e cerca de US$ 1,6 bilhão em receita bruta. Atualmente, o interesse corporativo está concentrado no cobre e no níquel como os principais minerais-alvo; no entanto, esses depósitos minerais (IOCG) também produzem ouro. Em 2021, as minas de Sossego e Salobo produziram, respectivamente, duas e dez toneladas de ouro, representando cerca de 25% de suas receitas combinadas de US$ 2,5 bilhões.

“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horse em 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0).

*O conteúdo foi publicado originalmente pela Mongabay, escrito por Timothy J. Killeen e traduzido por Lisete Correa.

Entenda como a seca afeta o abastecimento de combustível em Rondônia

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A seca antecipada do rio Madeira, além de colocar Porto Velho em emergência, tem dificultado a navegação e, consequentemente, o escoamento de produtos: o que pode aumentar o preço do combustível no estado, segundo informações do Sindicato dos Petroleiros de Rondônia (Sindipetro).

Há quase dois meses, a Capitania Fluvial da Marinha do Brasil proibiu a navegação noturna no Madeira no trecho entre a capital rondoniense a Novo Aripuanã (AM), por prazo indeterminado. Além disso, a carga das embarcações precisam ser reduzidas pela metade durante o período de estiagem.

Atualmente, o transporte de combustível é realizado de forma fluvial pelo rio Madeira: a saída acontece das cidades de Itacoatiara ou Manaus (AM) e Porto Velho (RO). O trajeto, que dura, em média, de 7 a 8 dias de balsa, passa a ser de 18 a 20 dias devido á proibição de navegação noturna durante o período de estiagem.

Caso a seca dos rios se intensifique, a carga passará a ser enviada por outras alternativas, como rodovias: um trajeto de mais de 2.400 quilômetros (km), conforme informações do presidente.

Conforme o Sindipetro, essa mudança na logística deve aumentar o valor do combustível para os revendedores (postos de gasolina), devido aos custos mais elevados do transporte rodoviário.

“O aumento será no custo de frente para trazer o combustível. Porque o frete é alto e isso impactará no preço final que chega para o consumidor. Não vai faltar combustível, mas pode acontecer de ter restrições de venda e consequentemente, os postos podem aumentar o preço.”, explica Eduardo.

Foto: Edson Gabriel

Seca antecipada

Há menos de um ano da seca histórica que deixou milhares de ribeirinhos sem água e paralisou operações de uma das maiores hidrelétricas do Brasil, o rio Madeira entrou em “situação crítica” até 30 de novembro, de acordo com um decreto emitido pela Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA).

A escassez dos recursos hídricos foi reconhecida pela ANA por causa da redução na vazão dos rios e no nível de chuvas na região Norte, em relação à média histórica para o período do ano.

Especialistas acreditam que os meses de agosto e setembro poderão apresentar o ápice da estiagem em 2024. Desde o início de junho, o nível do Madeira tem diminuído na capital, segundo dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB).

Além disso, o Governo de Rondônia, revelou que o nível do Rio Madeira, em Porto Velho, poderá ficar abaixo da cota de emergência (1,70 metros), até o mês de agosto de 2024, quando a estiagem no estado se intensifica.

Com o avanço da seca, ribeirinhos relataram apreensão, e poços começaram a ser escavados em comunidades ribeirinhas.

A seca extrema que o Norte enfrenta desde outubro do ano passado, está relacionada a dois fatores que inibem a formação de nuvens e chuvas — comprometendo o nível do manancial.

  • Oceano Atlântico Norte mais aquecido que o normal, e mais quente que o Atlântico Sul.
  • Fenômeno El Niño, que causa atrasos no início da estação chuvosa e enfraquecimento das chuvas iniciais do período.

*Com informações da Rede Amazônica RO

Tele pré-natal de alto risco do HUGV monitora mais de 120 mulheres indígenas

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Você já ouviu falar sobre o tele pré-natal? Com o objetivo de garantir autodeterminação e os direitos humanos às diversas etnias indígenas do mundo, foi instituído, pela ONU, em 1994, o dia 9 de agosto como o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Para atender demandas dessa população, o Hospital Universitário Getúlio Vargas da Universidade Federal do Amazonas, vinculado à Rede Ebserh (HUGV-Ufam/Ebserh), faz atendimento e realiza projetos de atenção à Saúde, direcionados a esse público.

O Projeto Telessaúde lançado em junho desse ano no HUGV-Ufam/Ebserh é um programa mais extenso que já está propiciando tele assistência ampla, para todos os territórios indígenas do estado, no escopo dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIS), considerando que o Amazonas possui a maior população indígena do país.

Por meio do tele pré-natal de alto risco, atualmente mais de 120 mulheres indígenas estão sendo monitoradas pelo projeto no HUGV.  “O telemonitoramento é feito usando tecnologias digitais de informação e comunicação, no qual obstetras orientam e conduzem casos dessa natureza, orientando os profissionais que atuam na saúde indígenas com vista a reduzir a mortalidade materna, garantindo atendimento digno e qualificado”, explica o médico e chefe da Unidade E-Saúde do HUGV-Ufam/Ebserh, Pedro Elias de Souza.

De acordo com ele, são mais de 50 municípios, em um total de 62 existentes, atendidos pelo tele-pré-natal. Em outras especialidades, são mais 25 municípios cobertos nas áreas indígenas. “Nosso planejamento é chegar em todo estado até o final de outubro”, diz.

Atualmente são realizadas teleinterconsultas em diversas especialidades como cardiologia, neurologia, neuropediatria, pediatria, endocrinologia, oftalmologia para pacientes indígenas de todo o estado, sempre com a participação e compartilhamento de conduta com os profissionais de saúde que atuam nesses territórios remotos do estado.

Foto: HUGV-Ufam /Ebserh

“Os teleatendimentos acontecem através da realização de teleinterconsultas nas diversas especialidades e será ampliado em breve, com o apoio do telediagnóstico, ou seja, realização de exames remotos como teleletrocardiograma, teleespirometria, teleretinografia, telradiologia, dentre outros, para toda a população indígena do estado”, informa Pedro Elias.

Além desses projetos, segundo ele, a partir de setembro, com o objetivo de combater a desnutrição em crianças indígenas, o hospital vai oferecer teleassistência em saúde mental, e no âmbito da educação em saúde à distância (teleducação), vai ofertar diversas capacitações e cursos voltados para profissionais de saúde indígena.

O HUGV oferece atendimento, em saúde em geral, tanto consultas, exames e procedimentos, incluindo internações, quando necessário, e programas assistenciais realizados na Casa de Saúde Indígena (CASAI MANAUS), especialmente na especialidade de Pediatria. “Isso deverá ser ampliado exponencialmente a partir da celebração do programa denominado IAE-PI, um incentivo diferenciado do Ministério da Saúde, para unidades de saúde pública que realizam atendimento a pacientes indígenas’, informa Pedro Elias.

*Com informações do HUGV

COP 30 precisa tratar com urgência crise climática global, afirma especialista

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A terceira edição do evento USP Pensa Brasil 2024, de 12 a 16 de agosto, teve como tema ‘COP 30: Desafios para o Brasil‘. O primeiro dia foi marcado pelo encontro entre universidades, apresentação de livro e dados do Sensor USP de Sustentabilidade. O professor Carlos Nobre, climatologista e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, do Instituto Amazônia 4.0 e interlocutor no primeiro dia do evento, falou sobre a importância dos temas abordados.

O professor comentou sobre as responsabilidades do Brasil nessa questão global. “Em 2022, o Brasil foi o quinto maior emissor de gás carbônico no mundo, com 4% das emissões. No Brasil, a maior parte das emissões vem do setor agropecuário e do desmatamento. O objetivo brasileiro deve ser o de zerar essas emissões. O nosso país pode ser o primeiro grande emissor de gás carbônico a zerar suas emissões. Só de cessar as emissões por desmatamento, já resolve 50% da questão das nossas emissões até 2030. Outra medida é buscar a transição energética para fontes renováveis, já que somos um dos países que têm o maior porcentual da fonte de oferta de energia limpa, como eólica e solar, que vêm crescendo nos últimos anos. Começamos também a construir a primeira fábrica de hidrogênio verde. O Brasil é um país com um grande potencial de zerar suas emissões primeiro que os demais”, destacou.

Carlos Nobre afirma que é preciso ligar o alerta e que já estamos em situações complicadas.

*Com informações do Jornal da USP

Plantação de mandioca no Amapá registra praga inédita no país

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Uma praga conhecida como ‘Vassoura de Bruxa‘ da mandioca foi registrada pela primeira vez no Brasil em plantios de três municípios do estado do Amapá, na Região Norte do estado: Oiapoque, Amapá e Calçoene.

A praga foi encontrada pela primeira vez em terras indígenas por técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e em seguida nos outros dois municípios. O fungo foi detectado também na Guiana Francesa, que faz fronteira com Oiapoque. O governo do Amapá decretou situação de emergência aos três municípios.

Segundo a nota técnica da Embrapa, o transporte de produtos agrícolas entre as regiões pode ter espalhado o fungo, assim aumentando o risco de infecção em outras áreas. (Veja a nota técnica da Embrapa na íntegra)

O fungo causa uma redução na produtividade de mandioca, além de comprometer a qualidade dos produtos consumidos pela comunidade ou comercializados.

Conforme a Embrapa, a transmissão do fungo pode acontecer através de materiais de manuseio das plantas, como ferramentas de corte e poda, que estejam infectadas, além da movimentação de solo e água.

Outros tipos de fungo semelhantes já apareceram no Amapá em frutos como o cupuaçú e em outras regiões do Brasil, como a crise do cacau do sul da Bahia nos anos 90. Mas a praga que afeta os plantios de mandioca especificamente foi registrada pela primeira vez.

A chefe de pesquisas da Embrapa, Cristiane Ramos, explicou que o fungo registrado na região norte, trata-se de uma praga quarentenária, que consiste em um organismo que a presença pode danificar ou destruir cultivos inteiros e ser um obstáculo na exportação, afetando diretamente a economia local.

Cristiane disse ainda que a chegada da doença ao país ainda está sendo investigada, e pode ter sido transmitida tanto pelo transporte de materiais, quanto pelas pessoas.

No Brasil, há 12 espécies de pragas quarentenárias presentes em território nacional, conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e mais de 500 consideradas pragas quarentenárias ausentes (PQA), não registradas no país.

Destas pragas, cerca de 10 já foram transmitidas para outros países na América do Sul e na região do Caribe, e possuem a probabilidade de entrada no Brasil. Cada uma deve ser monitorada com ações de controle específicas conforme as características, sendo reprodução, sobrevivência, capacidade de dispersão e outros.

Aspectos da planta infectada:

A doença Ceratobasidium theobromae (Rhizoctonia theobromae), leva o apelido por deixar a planta seca como uma vassoura de bruxa, deixando os ramos deformados, com nanismo, além da proliferação de brotos fracos e finos nos caules.

É comum após a evolução do vírus a presença da clorose, que deixa as folhas com uma aparência amarela esverdeada ou o ‘verde pálido’.

Em seguida vem a morte da gema apical, quando a temperatura é inferior à -2,2ºC, durante 3 horas, ou a morte descendente, quando todos os órgãos da planta são atingidos pela praga.

Praga 'vassoura de bruxa' deixa plantio de mandioca com aspecto amarelado ou verde claro — Foto: Divulgação/Embrapa
Foto: Divulgação/Embrapa

O fungo foi coletado e isolado por pesquisadores do Centro Francês de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Internacional (CIRAD/França), em parceria com o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT/Colômbia), pois os solos brasileiros afetados apresentas semelhantes aos atingidos na Guiana Francesa.

A Embrapa destacou ainda que é necessária a ação imediata dos órgãos competentes, para que medidas oportunas possam ser tomadas, para manejo e controle, até mesmo avançando para um melhoramento genético das sementes de mandioca.

O secretário de Estado do Desenvolvimento Rural (SDR), Rafael Martins, contou que medidas já estão sendo tomadas para o controle de pragas, com as orientações aos produtores rurais para manter a segurança e garantir que o fungo seja contido.

Como diminuir o impacto do fungo?

Monitoramento e Vigilância: o monitoramento nos plantios identifica e evita a proliferação;

Quarentena: limita que os materiais infectados sejam transferidos para outro lugar;

Manivas Sadias: uso de manivas com saúde comprovada, que não desenvolvam patógenos;

Tratamento Químico: utilização de fungicidas específicos para controlar a dispersão;

Práticas culturais: queima das plantas doentes para reduzir as áreas afetadas;

Sanitização: higienizar corretamente ferramentas usadas para destruir as plantas infectadas, com água e detergente e em seguida a sanitização com solução de hipoclorito de sódio a 1,25%

Isolar roupas: roupas usadas nas visitas às áreas atingidas, devem ser colocadas em um saco e lavadas rapidamente;

Comunicar a população: publicações, vídeos, fotos devem esclarecer á população sobre a condição, sinais e modos de transmissão.

*Por Isadora Pereira, da Rede Amazônica AP

Terra Indígena Karipuna tem queda expressiva de desmatamento registrada pelo Governo

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O Governo Federal acaba de computar os dados obtidos com a desintrusão da Terra Indígena Karipuna, uma área de aproximadamente 153 mil hectares, localizada no estado de Rondônia, entre os municípios de Porto Velho e Nova Mamoré. No levantamento, o grande destaque é a queda do desmatamento em razão das medidas adotadas no processo de desintrusão, que ocorreu entre junho e julho deste ano.

A plataforma do Ministério da Justiça, Rede Brasil Mais, constatou que zerou o desmatamento dentro da terra Indígena em junho e julho deste ano. Foi registrada queda de 86% ao ser comparado com o mesmo período em 2022 – 2023, quando o número de alertas estava em 20. A redução fica mais expressiva se comparada a junho e julho de 2022, com 160 alertas de desmatamento. No mesmo período 2022 -2024, a queda é de 100%.

O processo de desintrusão ocorreu dentro do prazo estabelecido, no período de dois meses, junho e julho, com a participação de 20 órgãos federais. De acordo com o relatório final da Casa Civil, que oficializa o trabalho e os resultados, as ações foram exitosas, com “a retirada dos invasores, a inutilização de maquinários e equipamentos, o monitoramento e a conservação das áreas invadidas”.

Entre os resultados, estão a apreensão de 27 metros cúbicos de madeira e a inutilização de mais 27 m³; a destruição de uma balsa, de 38 acessos e de 17 pontes.

Houve ainda a inutilização de 28 edificações dentro da TIKA, locais que serviam de suporte para armazenar materiais a serem utilizados para o desmatamento, como combustível para motosserra. Os quatro acessos terrestres clandestinos identificados foram desfeitos. 

Todas as 152 ações planejadas foram cumpridas, com isso, os 42 indígenas que resistiram à dizimação de seus parentes têm de volta a sua terra em completude e maior segurança. O Governo Federal, através da Força Nacional e da Funai, seguirá presente na área, com patrulhamento e monitoramento para evitar que novas invasões aconteçam.

A homologação da TI Karipuna ocorreu em 1998, com isso, os indígenas estão oficialmente autorizados, e apenas eles, a usufruir de forma plena e exclusiva dos recursos naturais, conforme prevê a Constituição.

O processo de desintrusão atende ainda à uma determinação judicial do Supremo Tribunal Federal (STF) em cumprimento à ADPF nº 709 e a ação do Ministério Público Federal (MPF) em face da União, Funai e Estado de Rondônia.

*Com informações Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal

Assentamentos rurais de Mato Grosso ganham projeto sustentável


O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), lançou no início de agosto um projeto com foco no fortalecimento estrutural de assentamentos rurais e na sustentabilidade da agricultura familiar do estado.

O objetivo é fomentar a produção agropecuária em Mato Grosso, buscando maior rentabilidade e garantindo a conservação ambiental. A ideia é mecanizar o processo de produção agrícola, visando redução do trabalho manual e elevando a qualidade dos produtos.

A iniciativa tem quatro metas: o fortalecimento das cadeias produtivas; capacitação; assistência técnica; e gestão e monitoramento. Com isso, o Projeto vai estimular a produção agropecuária de mais de 4.300 agricultores familiares.

Os municípios contemplados pela iniciativa no estado são Cláudia, Mirassol d’Oeste, Tangará da Serra, Juscimeira, Várzea Grande, Acorizal, Campo Verde, Nova Olímpia, Nortelândia, Sorriso, Poconé, Rondonópolis, Pedra Preta, São José dos Quatro Marcos, Poxoréu, São José do Povo e Vila Bela da Santíssima Trindade.

Mulheres Emancipadas

Com o apoio da ONG Lírios, o projeto também visa estimular o desenvolvimento das mulheres rurais e suas famílias, com incentivo no planejamento e gestão agrícola, por meio do projeto “Elas e agricultura: empreendedorismo feminino no campo”.

Ainda, serão ofertadas ações de capacitação, divulgação, intercooperação e organização produtiva entre as participantes, além de promover equidade de gênero e a igualdade de oportunidades no campo. Isso por meio de oficinas temáticas, com foco no fortalecimento pessoal, econômico, social e de cidadania das mulheres do campo.

Ao todo, espera-se que mais de 1500 pessoas sejam atendidas. De forma direta, o projeto pretende atender mulheres das comunidades e dos assentamentos rurais, além disso, comunidades e contemplados no Programa Estratégico de Fortalecimento Estrutural de Assentamentos Rurais e Sustentabilidade da Agricultura Familiar em Mato Grosso, indiretamente.

*Com informações do MAPA

Enquanto estivermos por aqui

Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br

De tempos em tempos, somos tocados coletivamente com tragédias que nos lembram a fragilidade da vida, ao mesmo tempo que da sua força. Chuvas, desabamentos, guerras e acidentes de avião, por exemplo, levam vidas de uma só vez. Cada uma delas é uma história, e esta é a parte da força. Cada uma delas tem um enredo interrompido por algo inesperado que, de uma hora para outra, muda a trajetória de quem vai e de quem fica.

O jornalismo traz algumas destas histórias à tona e, enquanto faz isso, nos faz sentir humanos ao emocionar e até fazer correr algumas lágrimas disfarçadas. É um pai, uma mãe ou um filho que saiu de casa naquele dia normalmente, saiu daqui e ia para ali, tinha esse ou aquele jeito, seu sonho era realizar isto ou aquilo. Ouvimos as histórias e sentimos um pedacinho das perdas. Empatia é conexão e, por alguns segundos ou minutos, nos sentimos conectados com pessoas que nem conhecemos, mas que sentimos próximas.

Sabemos pouco sobre a morte. Há quem não queira falar da morte, seja porque dá azar, seja porque não quer pensar nisso. Todos nós, enquanto estamos vivos, lidamos com a morte, até que um dia lidaremos com a nossa. Para alguns, a morte significa o fim absoluto, o que deve tornar tudo ainda mais doloroso quando se perde alguém amado.

Outros, como eu, pensam que é um fim de um ciclo e início de outro, só que, para quem se foi, não mais entre nós. Para muitos é reconfortante pensar que a pessoa continua a existir, principalmente, para os que acreditam que poderão continuar a cuidar delas, por meio de orações e outras práticas, de acordo com as crenças de cada um.

Para uns e para outros, há o fator tempo. O tempo futuro cuidará para tornar a dor menos intensa e poderá trazer até um presente, o que chamo de saudade boa. Pensar em alguém que amamos e as suas lembranças nos traz uma sensação gostosa, serena, sem mais a dor da perda.

É no tempo passado que estão estas lembranças e a quem poderemos recorrer para desfrutar de momentos que ficarão para sempre. Eles não são uma possibilidade. Estão no passado, mas são uma realidade.

Representam conquistas ou desafios que foram superados, de alguma forma. Podemos selecionar as que queremos cultivar e as que deixaremos de lado. Podemos ressignificar e compreender melhor até desentendimentos que, na época, pareciam tão importantes, mas que percebemos agora tão pequenos.

O fator tempo, porém, não vive apenas no futuro ou no passado. É no presente que ele pode ser mais bem usufruído. A morte nos lembra da importância de cada encontro com nossos pais, com nossos filhos, com nossos amigos e ajuda a sermos mais empáticos com a dor de quem não conhecemos. A morte, pela força e pela fragilidade da vida, nos lembra do valor de cada dia, seja de trabalho, seja um dia de domingo. A morte, se bem compreendida, pode nos levar a sermos mais gratos e mais altruístas.

Não queremos a morte, mas ela é inevitável. Podemos tirar o melhor proveito dela, chorando sem disfarces quando quisermos chorar e celebrando a vida e construindo felicidade para todos, enquanto ainda estivemos por aqui.

Sobre o autor

Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

3 quadrinhos para conhecer a realidade do Amazonas

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Os fãs de quadrinhos podem viajar sem sair do lugar e a região amazônica está repleta de artistas que constroem uma cena de histórias em quadrinhos única, levando seus leitores a conhecerem diversos locais desta forma. São quadrinistas que retomam memórias, ancestralidades indígenas e negras, falam sobre questões ambientais e muito mais em suas criações.

Algumas HQ’s (histórias em quadrinhos) ajudam a mostrar a realidade do Amazonas, por exemplo, e também revelam o quanto é importante valorizar os artistas locais. Conheça três quadrinhos dedicados a isso:

Death Hunt

Death Hunt – história inédita escrita por Stan Lee – se passa na Amazônia dos dias atuais. John Cord, um policial de Nova York (EUA) está em busca seu irmão, o ambientalista Brent, que despareceu em circunstâncias misteriosas enquanto investigava um garimpo ilegal que estaria ocorrendo nas terras de um povo indígena isolado do mundo exterior.

Cord chega a Manaus (AM) e encontra Niara, uma jornalista de origem indígena, que também está investigando o caso por conta própria. A partir daí a história conta com reviravoltas, suspense, ficção científica e ação, que se desenrolam em um thriller revelador.

O título conta com três amazonenses na sua equipe criativa: Ademar Vieira (roteirista), Raquel Teixeira (Capista) e edição de Sâmela Hidalgo.

Foto: Reprodução

Sete Cores da Amazônia

Sarah é mais uma menina que vive nas inúmeras palafitas da periferia de Manaus. Acostumada com sua rotina de pobreza, Sarah vê seu mundo se expandir enormemente quando conhece sua avó, Ceucy, e embarca em uma jornada de descoberta de suas raízes indígenas.

Desenvolvido por Ademar Vieira e Tieê Santos, a HQ Sete Cores da Amazônia foi lançada em 2018 pelo estúdio independente Black Eye.

Foto: Reprodução

Ajuricaba

A ocupação europeia na Amazônia e o avanço do colonialismo português foi marcado pelo genocídio de centenas de povos nativos. Após anos de conflitos, massacres, doenças e escravização, a resposta indígena veio à altura, com o surgimento de um grande líder oriundo da maior nação guerreira da selva, os manaós, Ajuricaba, um jovem corajoso e inteligente que foi capaz de reunir mais de 30 tribos contra as investidas da coroa portuguesa e conseguiu impedir, durante cinco anos, a expansão do projeto colonial português em toda a calha do Rio Negro.

Seus feitos épicos e sua bravura nunca foram esquecidos e é por isso que, hoje, a capital do Amazonas se chama Manaus, em homenagem a ele e ao povo que deu a vida pela liberdade.

Foto: Reprodução