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Glocal Amazônia 2024: evento posiciona bioma no centro do debate sobre sustentabilidade

Foto: Divulgação/Acervo FRAM

Com o intuito de colocar o bioma amazônico no centro das principais discussões sobre sustentabilidade, a segunda edição da Glocal Experience na Amazônia ocorre entre os dias 22 e 24 de agosto de 2024 no Centro Histórico de Manaus (AM).

O evento proporciona diálogos com potências de relevância nacional e internacional sobre soluções sustentáveis, inovação sistêmica, negócios de impacto, bioeconomia e outros temas essenciais para o bioma amazônico, que afetam a sociedade brasileira de modo geral.

Os debates promovidos pela Glocal Amazônia 2024 serão divididos em cinco macrotemas:

  • 1- Brasil no centro das discussões, que abordará a COP 30 realizada na Amazônia em 2023, o G20, queimadas e estiagem;
  • 2 – Conectividade, infraestrutura e educação;
  • 3 – Saúde e segurança;
  • 4 – Saneamento básico, equidade social e cultura;
  • 5 – Bioeconomia.

Estes macrotemas são guias para os painéis, palestras, workshops e demais atividades que ocorrerão nesta edição da Glocal Amazônia.

As atividades serão realizadas em três espaços, no entorno do simbólico Teatro Amazonas. São eles:

  • Palco Glow: Localizado no Largo de São Sebastião, neste espaço ficarão as atrações culturais, música e manifestações artísticas.
  • Palco Glocal:  Localizado no Contemporâneo Eventos, na região do Teatro Amazonas, o espaço sediará painéis e debates pertinentes às temáticas da experiência Glocal.
  • Glocal Lab: O Glocal Lab será no Palácio da Justiça, com experiências imersivas, palestras, No espaço também terá o Glocal Estúdio e Tecnoglocal.

Confira algumas das atrações já confirmadas:

Sobre o Acelera Amazônia

A Glocal Experience Amazônia faz parte do projeto Acelera Amazônia 2024 e tem o apoio da Apa Móveis, Prefeitura de Manaus, Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), Amazonastur e Governo do Amazonas. Idealização e operação: Dream Factory. Realização: Fundação Rede Amazônica (FRAM).

A Glocal Experience nasceu em maio de 2022 com sua primeira edição no Rio de Janeiro. O encontro busca se tornar anual e tem a intenção de ser realizado em cada Estado da Amazônia. Em 2024, Manaus (AM) recebe o evento pela segunda vez.

Atlético Rio Negro Clube: museu mostra o sonho de garotos que se fez realidade

Elson Judá de Oliveira Assayag, Amazonino Armando Mendes (então governador do Amazonas) e Abrahim Baze. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br

O torcedor Rio Negrino que tiver interesse em conhecer a história de um dos mais importantes clubes sociais e esportivos do Amazonas é só visitar o museu lá instalado. São mais de três mil e oitocentas pecas entre manuscritos, documentos, fotografias, livros de atas, troféus, medalhas, móveis, reportagens de jornais, revistas e até objetos pessoais de atletas que ajudaram a construir com sua participação os momentos de glória do clube que, desde sua fundação, marcou um período importante da história esportiva no Amazonas. O museu foi inaugurado em 13 de novembro de 1993 e recebeu o nome de um antigo diretor Rubens Samuel Benzecry em homenagem póstuma.

Resultado de 15 anos de pesquisa levantando, recuperando e restaurando objetos, o clube preservou seu acervo. Todas as peças e objetos ali encontrados têm uma história ligando personagens que participaram do clube.

O Atlético Rio Negro Clube tem sua história intimamente ligada ao futebol. Foi fundado no dia 13 de novembro de 1913, na casa da família Nascimento, na Rua Henrique Martins hoje Lauro Cavalcante (em Manaus/AM), sonho de um grupo de jovens adolescentes que gostavam de se reunir para jogar futebol. O idealizador do clube foi Schinda Uchôa, à época com dezesseis anos. No decorrer dos anos, Schinda Uchôa, na época residindo na cidade do Rio de Janeiro, retornou a Manaus para receber o título de Presidente de Honra do Clube. Porém, o passo importante para sua fundação foi dado por outro fundador: Manoel Affonso do Nascimento, que cedeu o porão de sua residência para a fundação da agremiação.

Abrahim Baze, Amazonino Armando Mendes e Elson Judá de Oliveira Assayag. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Edgar Lobão, o mais velho do grupo com dezenove anos, foi o primeiro presidente do clube. O pai de Manoel Affonso do Nascimento, Paulo Ferreira do Nascimento, entrega as taças de cristal bacará de propriedade da família para brindar com vinho do Porto a criação do clube.

Nasce assim, desta forma, a festa mais tradicional do clube: ‘Porto de Honra’, que tradicionalmente foi executado sempre no dia do aniversário do clube. A família Nascimento é a maior responsável pelo surgimento da agremiação, sendo que, a matriarca Maria Affonso do Nascimento foi sua eterna madrinha. Foi ela que contribuiu com o suporte para que o Clube fosse fundado. Foi nesse mesmo dia que Maria Affonso do Nascimento presenteou na pessoa de seu filho, Manoel Affonso do Nascimento, um broche de brilhante que lhe pertencia. O que foi vendido um a um dos brilhantes para comprar os primeiros equipamentos que eram importados da Inglaterra.

Mas é o esporte o principal motivo da existência e manutenção do clube e é, sobretudo, a ele que se refere a maior parte das peças do Museu do Rio Negro. Histórias de títulos, pioneirismo, de craques e figuras intimamente ligadas ao clube. Um fantástico acervo, dificilmente encontrado em outro clube de futebol. Memórias registradas com detalhes reveladores, uma verdadeira viagem ao passado de uma cidade encravada em plena floresta amazônica.

O voleibol surgiu no Amazonas através do Atlético Rio Negro Clube, por exemplo. Em 1928, os atletas Ésio, Heitor, Lúcio, Edwuino, Euclides e Arthur formaram o primeiro time de voleibol do clube. Em 30 de dezembro de 1930 o esporte já estava consolidado e conquista o Campeonato Norte/Nordeste em Recife.

O Clube foi campeão da taça Luiz Martins, com os seguintes atletas: Augusto Brito, Jacob Melo, Januário Nóbrega, Agnaldo, Renato Sá de Andrade e Humberto Ponzi. Figuras importantes do cenário político do Amazonas foram atletas de voleibol do Rio Negro, Arthur Virgílio Filho, Leopoldo Amorim da Silva Neves (pudico), Adalberto Ferreira do Vale (este destacou-se no time do Santos em São Paulo).

Amazonino Armando Mendes e Abrahim Baze. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

O Clube também teve tradição em regatas, sendo campeão desse esporte em 1922. A competição se deu na baía do Rio Negro, foi em comemoração ao primeiro século de imigração francesa para o Estado do Amazonas, patrocinada pelo Consulado da França em Manaus.

Porém, é o futebol que tem o maior número de recordações. A foto do primeiro time campeão amazonense de 1921 tem lugar especial. Antes disso, não havia campeonato estadual, os times se enfrentavam entre si, em torneios de onde saia os campeões.

O primeiro campeonato amazonense de tênis de quadra também foi realizado pelo Atlético Rio Negro Clube sob o patrocínio da Federação Amazonense de Desportos Atléticos (FADA), em 1949, ocasião em que o clube foi campeão.

O Atlético Rio Negro Clube também foi o único clube amazonense, cujo, um diretor seu foi presidente de um clube nacional. Hilton Gonçalves, seu ex-diretor de esporte foi presidente do Flamengo de 1946 à 1947 e de 1957 à 1960. A carta de renúncia dele para o Rio Negro, encontra-se na parede do Museu, junto a uma carta do ex-presidente do Flamengo, Augusto Veloso.

Esportes Olímpicos nasceram no clube

Na área de esporte de competição, o Rio Negro manteve equipes de handebol (infanto-juvenil, juvenil, júnior e adulto) nos naipes masculinos e femininos. Natação (mirim, petiz e sênior). Triathlon, voleibol, (infantil, juvenil, infanto-juvenil e adulto) masculino e feminino. Futebol (infantil, juvenil, júnior e profissional), futebol feminino de campo e de areia, além do basquete. O primeiro título de beisebol foi conquistado em 1920 e de esgrima em 1923, o basquete em 1931 e o tênis de mesa em 1940.

No futebol profissional começou a conquista em 1921, seguindo-se nos anos 1923, em 1927, 1931, 1932, 1938, 1940, 1941 e 1943. Em 1945 à 1959 o clube ficou afastado do futebol. O próximo título veio em 1962, 1965, 1968, 1971, 1974, 1975, 1977, 1979, 1981, 1982 e 1985. O Rio Negro foi Tetra Campeão Amazonense nos anos de 1977, 1988, 1989 e 1990, data em que encerramos a pesquisa.

Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Quem não conhece a história da Miss amazonas, Miss Brasil e Vice Miss Universo, Terezinha Morango? Mas não é só Terezinha Morango que merece destaque, tais como: Edna Frazão Ribeiro, a primeira Miss Amazonas pelo clube, em 1929; com destaque também para Maria Amália, que conquistou o título estadual pelo clube em 1949; e finalmente Ane César, a última Miss Amazonas candidata pelo Clube, em 1987.

O Atlético Rio Negro Clube também têm tradição na vida cultural, uma vez que grandes escritores que foram membros do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e da Academia Amazonense de Letras foram diretores, tais como: Genesino Braga, Álvaro Maia, Manoel Bastos Lira, Arlindo Porto, Moacir de Andrade, Aristophano Antony, Max Carpenthier, Robério Braga, Jurandir Batista de Sales, Gebes Medeiros e tantos outros nomes.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Panela de barro indígena de Roraima recebe reconhecimento de Indicação Geográfica

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O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) publicou nesta terça-feira (13) o reconhecimento da Indicação Geográfica (IG), na espécie Indicação de Procedência (IP), para a região de Raposa (RR), produtora de panelas de barro. É a primeira IG do estado de Roraima. A região faz parte do território da Comunidade Indígena Raposa I, inserida na área demarcada do Território Indígena Raposa Serra do Sol, localizada no município roraimense de Normandia.

Com esse registro, o Instituto chega a 127 IGs reconhecidas no Brasil, sendo 89 IPs (todas nacionais) e 38 DOs (28 nacionais e 10 estrangeiras).

Na mídia

Para comprovar que o nome geográfico Raposa se tornou conhecido pela produção de panelas de barro, requisito fundamental da IP, um elemento-chave do processo está em notícias publicadas pela imprensa.

Uma reportagem veiculada no site G1 informa que as “ceramistas da Comunidade Raposa I, no município de Normandia, sentem orgulho da arte secular e passam a cultura de geração para geração”. O texto acrescenta que “os indígenas não conseguem definir uma data de quem iniciou primeiro a tradição, mas garantem que o trabalho começou há muito tempo, ainda no século 19”.

Por sua vez, a Revista Xapuri Sócio Ambiental afirma que a “produção das panelas de barro da Raposa não é só cultura material, ela permeia o campo do sagrado, como sempre é nas culturas indígenas. Com a permissão da Vovó Barro, um espírito da natureza, colhe-se a argila e a ensaca”.

Foto: Reprodução/Rede Amazônica-RR

Estudos


Também foram apresentados trechos de uma tese de Doutorado que descreve as tradições, a cultura local e a forma de produção das panelas de barro, através da “convivência durante alguns períodos na Comunidade Indígena Raposa I, participando de ações voltadas para a produção cerâmica e momentos de festividade, como o Festival das Panelas de Barro”. O estudo também aborda “a relação cultural, social e cosmológica que evidencia o modo de vida e o pensamento que gira em torno do barro nas ‘Terras de Makunaimî'”, que se refere à localidade de Raposa.

As comprovações mostraram ainda que a produção de panelas de barro, iniciada na coleta da matéria-prima e seguindo tradições e rituais específicos até a modelagem feita de forma manual, é uma tradição local na Comunidade de Raposa, estabelecida ao longo de gerações.

Uma das principais características do produto é sua resistência térmica, que pode alcançar até 1000ºC, o que é possível graças ao conhecimento e ao saber fazer das artesãs, que passa de mãe para filha através dos anos, mostrando ser uma atividade essencialmente feminina na Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

*Com informações do INPI

Marina da Silva, obstinadamente contrária à BR-319, comete crime socioambiental contra a Amazônia e seu povo

Por Osíris M. Araújo da Silva

A ministra do Meio Ambiente (MMA), Marina da Silva, anda falando demais. Além de não enxergar os graves problemas ambientais observados em seu próprio quintal com relação à proliferação de focos de queimadas na Amazônia e no Pantanal. Desastres que já somam 830 mil km² até julho de 2024 durante os três mandatos do presidente Lula da Silva (Lula I, II e III). A despeito desse horror ambiental, em pronunciamento divulgado quando de sua estada em Porto Velho, Rondônia, ela defendeu o cancelamento do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) aprovado em julho de 2022 e, obviamente, da Licença Prévia (LP). “Socialmente, até a gente entende; agora, ambientalmente e economicamente, não se faz uma estrada de 400 quilômetros, no meio da floresta virgem, apenas para passear de carro, se não estiver associada a um projeto produtivo”, insiste a ministra.

Pressionada por poderosas ONGs internacionais, Marina da Silva esquece, ou finge esquecer, que a BR-319 é importante via de integração regional, de interesse e segurança nacional, especialmente dos estados de Roraima, Amazonas e Rondônia. Com sua trafegabilidade comprometida e o rio Madeira superando níveis históricos de estiagem a cada dia, a população é levada a enfrentar dificuldades para receber assistência médica, suprimentos básicos e mercadorias. De acordo com texto do engenheiro Marcos Maurício, do GT Rodovia CREA-AM, divulgado na página do Grupo “Na Guerra pela BR-319”, a proposição apresentada pela ministra significa, para quem ainda não percebeu, “de forma clara e objetiva, o cancelamento do EIA – Estudo de Impacto Ambiental aprovado em julho de 2022 e, obviamente, o da Licença Prévia (LP)”, observando-se que tanto “a ADA (Área Diretamente Afetada), a AID (Área de Influência Direta) e a AII (Área de Influência Indireta) são elementos essenciais à validação do EIA.

Seu cancelamento, por outro lado, configura um contrassenso para quem defende a sustentabilidade ambiental. Por absolutamente “inadmissível, exige resposta urgente por parte dos nossos parlamentares, das entidades de classe, da sociedade civil organizada; do contrário, a pavimentação da Rodovia BR-319 será mesmo jogada no limbo e definitivamente sepultada”. Ele observa ainda que “o tema da viabilidade ambiental estaria superado com a aprovação do EIA, que igualmente conclui pela viabilidade social, como a também inquestionável viabilidade técnica e econômica, de responsabilidade do DNIT”, o maior responsável pela obra”. O “imbróglio” em torno da rodovia conduz a uma só conclusão: “o claro propósito do MMA de apenas fulminar o EIA com novos discursos discriminatórios e desrespeitosos ao povo amazônico e à economia nacional”.

O governador Wilson Lima, contando com o suporte da bancada parlamentar amazonense, tem se empenhado junto ao governo Federal para superar a intransigência e solucionar o impasse gerado por exclusiva implicância e má vontade da ministra. Ela, obstinada e raivosa, não cede um milímetro de sua decisão de inviabilizar a conclusão das obras da BR-319. Só não conta com a determinação do amazonense, que não descansará enquanto não tivermos de volta nossa rodovia. Todavia, ao que se questiona amiúde, ressente-se do aparente “distanciamento e pouco empenho” do secretário estadual do Meio Ambiente, Eduardo Taveira.

Reclama de posicionamentos mais incisivos na defesa dos interesses do Estado, que, necessariamente, encontra-se acima de quaisquer conveniências políticas, econômicas ou ideológicas. Ao que sugere um leitor, a aparente tergiversação do secretário leva inevitavelmente à dramática dúvida shakespeariana: o titular da Sema é contra ou favor da nossa BR-319? Afinal, a autoridade, como sugere a frase lapidar do imperador de Roma, Júlio César (ano 62 d.C.), “a mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta, estar acima de qualquer suspeita”.

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Pesquisadores estudam saúde mental e cognição em idosos quilombolas no Maranhão

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Foto ilustrativa, 2022. Foto: Reprodução/Acervo Governo do Maranhão

Com o objetivo de analisar a saúde mental e a cognição das comunidades quilombolas, pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) conduzem um estudo que busca envolver comunidades quilombolas em pesquisas sobre a doença de Alzheimer. A pesquisa está sendo desenvolvida pelos professores Gilberto Sousa Alves e Bruno Luciano Carneiro Alves de Oliveira, do Departamento de Medicina da UFMA, em colaboração com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a Universidade de Columbia e a Escola de Medicina Icahn, no Monte Sinai.

Recentemente, resultados da investigação foram apresentados no Alzheimer’s Association International Conference (acesse aqui).

De acordo com os pesquisadores, os quilombos, geralmente localizados em áreas rurais remotas, enfrentam desafios significativos, como saneamento básico deficiente, altos níveis de analfabetismo e acesso limitado a serviços sociais e de saúde, especialmente entre os idosos. Estes fatores tornam a população quilombola socialmente vulnerável e potencialmente em maior risco de demência, embora, frequentemente, sub-representada em pesquisas sobre envelhecimento e demência.

O estudo, parte do projeto “Pesquisa Populacional sobre Condições de Vida e Saúde de Idosos Residentes em Comunidades Quilombolas da Baixada Maranhense (IQUIBEq)”, desenvolvido na UFMA em parceria com a Universidade de Columbia e o Mount Sinai Hospital, ambos de Nova Iorque. O projeto tem por objetivo principal analisar vulnerabilidades, níveis de bem-estar, variantes de riscos genéticos e biomarcadores associados às doenças ao envelhecimento em quilombolas da cidade de Bequimão, a 76,5 km de São Luís, na Baixada Maranhense.

A pesquisa foi realizada em onze comunidades quilombolas do Maranhão, incluindo 221 idosos com idades entre 60 e 104 anos. Os participantes foram selecionados em parceria com serviços sociais locais e agentes comunitários de saúde.

O professor e pesquisador da UFMA Bruno de Oliveira explica que a escolha do grupo de idosos como foco do estudo se justifica pela escassez de pesquisas direcionadas a essa faixa etária.

O professor destaca que o projeto é importante por abordar especificidades locais, como as populações quilombolas, além de contribuir para a formação de recursos humanos e produção acadêmica significativa. 

Pesquisa 

Os idosos realizaram um teste cognitivo utilizando o Miniexame do Estado Mental. Foram coletados dados demográficos, fatores de risco cardiovascular (como relação cintura-quadril e índice de massa corporal), desempenho cognitivo e envolvimento social. A análise buscou relacionar o engajamento social com a cognição, levando em conta idade, sexo, raça, escolaridade, renda familiar e fatores de risco cardiovascular. A pesquisa também investigou se idade e sexo influenciavam essa associação.

Os resultados revelaram que um maior envolvimento social está associado a uma melhor cognição, independentemente da demografia e dos fatores de risco cardiovascular. As atividades sociais que mais contribuíram para esses resultados foram a participação em reuniões comunitárias e em serviços religiosos. Não foram encontradas diferenças significativas na associação entre envolvimento social e cognição em relação à idade e ao sexo dos participantes.

A conclusão do estudo sugere que o engajamento social pode ser um aspecto fundamental da saúde cognitiva na população quilombola, que enfrenta condições de vida desafiadoras. O envolvimento social não apenas proporciona apoio social e emocional, mas também facilita o acesso a necessidades básicas, como habitação e saneamento. Outros mecanismos potenciais incluem a estimulação cognitiva presente nas interações sociais e os efeitos do envolvimento espiritual e religioso.

*Com informações da Universidade Federal do Maranhão

Projeto leva robótica para escola indígena em comunidade no Amazonas

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A equipe de Robótica da Escola SESI Dra. Emina Barbosa Mustafa, juntamente com a equipe pedagógica da Secretaria Municipal de Educação (Semed), percorreu o rio Negro por três horas em uma lancha para entregar o Kit Lego Education Spike Prime para a Escola Indígena Municipal Arú Waimî, no último dia 12. A escola funciona na Comunidade Terra Preta, uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro, a 80 quilômetros de Manaus.

Do ato de entrega participaram a gestora de robótica da Escola SESI, Ana Karina de Holanda, o gerente de tecnologia educacional da Semed, Austônio dos Santos, o cacique Clodoaldo Silva Aleixo e o diretor da Escola Indígena, Anderson Ribeiro. Na ocasião, o SESI desenvolveu uma oficina de capacitação para quatro alunos que serão multiplicadores de Robótica na escola.

A ação é uma parceria do SESI Amazonas e a empresa Ardagh, que desde o ano de 2023 vêm treinando robótica à professores de escolas da Rede Pública de Manaus, em parceria com a Semed. Trinta e dois professores de oito escolas já foram capacitados para o ensino de Robótica, graças à parceria.

Leia também: RDS Puranga Conquista e Rio Negro iniciam monitoramento da biodiversidade

Parceria do SESI e Argagh leva robótica para comunidades indígenas. Foto: Divulgação

Austônio dos Santos destaca que todas as escolas e professores que receberam formação vão atuar em robótica educacional com os alunos, desenvolvendo tecnicamente projetos e aplicando a robótica na educação como mais um recurso pedagógico para o desenvolvimento cognitivo, social e até mesmo já pensando na empregabilidade dos alunos, porque a robótica desenvolve muitas potencialidades nos alunos, muitas habilidades que o século 21 exige, como o trabalho em equipe e a resolução de problemas do cotidiano.

Os professores Vitor Gabriel de Souza e Ana Caroline da Silva conduziram a oficina para Fernanda Brazão, 14 anos, 9° ano, Max Guilherme Brandão, 11 anos, e Rodrigo Manoel Ambrósio, 11 anos, ambos do 6° ano°, e Caleb Paulino Aleixo, 14 anos, 8° ano.  Fernanda classificou a programação como maravilhosa e prometeu repassar todo o seu aprendizado aos demais alunos. “Indígena também pode aprender”, disse a aluna, enquanto manuseava as peças do kit.

Os desafios da educação à beira do rio

Alunos da Escola Indígena Municipal Arú Waimi. Foto: Divulgação

Leia também: Projeto educacional em RDS no Amazonas trabalha conservação de espécies-bandeira da fauna e flora da Amazônia

Para chegar à Terra Preta, situada às margens do rio Negro, uma lancha movida a diesel leva em torno de 2h20, mas equipes levaram cerca de três horas de viagem na lancha “Arara”, que teve problemas mecânicos e precisou do apoio da Prefeitura de Manaus para continuar o trajeto.

O tempo de viagem de Manaus para a comunidade é um dos fatores que leva os professores, moradores em Manaus, a ocupar o alojamento criado especificamente para eles na vila indígena, diminuindo contratempos, tempo e os custos, explica Anderson. Segundo o diretor, os professores se revezam para passar um tempo em suas casas. A escola também conta com professores da própria comunidade, o torna a escola bilíngue, em português e nheengatu.

De acordo com o diretor, todos sofrem com a estiagem, principalmente os alunos, pois muitos moram nos chamados “ramais” e precisam de transporte escolar para chegar até a escola, e esse transporte é lancha. Na seca, ficam impossibilitados de locomoção. “O transporte dos alunos começa às 6h da manhã, com duração de 30 minutos de viagem ida e volta, de segunda a sábado, para concluirmos a carga horária”, ressalta.

A escola indígena tem mais de 30 anos de existência e atua na área educacional com o Maternal 3, Educação Infantil, Fundamental 1, Fundamental 2, e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Possui seis salas de aula e atende 46 alunos.

Ciclo vicioso: aumento da temperatura na Amazônia reduz absorção de gás de efeito estufa por bactérias

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Divulgado no primeiro semestre deste ano, o Relatório sobre o Estado Global do Clima, elaborado pela Organização Meteorológica Mundial, alertou sobre níveis alarmantes de aumento da temperatura do planeta, atestando mais uma vez que as mudanças climáticas representam um dos maiores desafios da humanidade.

Uma nova pesquisa realizada pela USP revelou como as comunidades microbianas, responsáveis pelo ciclo do metano – um gás de efeito estufa -, respondem a essas mudanças na Amazônia. Dentre as principais conclusões, trabalho em laboratório apontou que, com o aumento da temperatura, houve uma redução drástica na capacidade de consumo de metano em florestas de terra firme na Amazônia.

Liderado pela engenheira agrônoma e pesquisadora Júlia Brandão Gontijo, pós-graduada pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP com orientação da professora Tsai Siu Mui, o estudo foi publicado na revista Environmental Microbiome, em julho.

Floresta em laboratório

Em linhas gerais, a pesquisa buscou investigar como as comunidades microbianas nas várzeas e florestas de terra firme da Amazônia respondem a cenários simulados de mudanças climáticas, com foco na variação de temperatura e no regime de inundações. “Nosso objetivo era compreender o impacto dessas mudanças sobre a composição e a dinâmica das comunidades microbianas e suas implicações nas emissões de metano”, explica ela.

Para realizar o estudo, os pesquisadores coletaram solos de duas várzeas (rios Amazonas e Tapajós) e de uma floresta de terra firme, simulando condições de seca e inundação em diferentes temperaturas (27 °C e 30 °C), em um experimento de microcosmo.

Experimento em microcosmos em que foram simuladas as condições de mudanças climáticas testadas neste estudo – Foto de Wanderlei Bieluczyk

As comunidades microbianas foram monitoradas ao longo de 30 dias através de sequenciamento do gene 16S rRNA e qPCR. O sequenciamento permitiu identificar os tipos de microrganismos presentes no solo, enquanto o qPCR quantificou sua abundância. Eles também analisaram propriedades químicas do solo, fluxos de metano e distribuições específicas de isótopos, para apontar como variações de temperatura e inundações afetam a produção e consumo de metano.

Uma das conclusões mais surpreendentes foi a estabilidade das comunidades microbianas nas várzeas, mesmo com o aumento da temperatura. “Eu esperava encontrar maiores diferenças nas várzeas, mas elas se mostraram bem estáveis. Provavelmente, a microbiota já está ‘acostumada’ a essas variações sazonais de inundação e seca”, observa.

Por outro lado, as florestas de terra firme mostraram uma resposta alarmante. “A capacidade de consumo de metano foi reduzida em 70% com o aumento da temperatura. Isso indica que áreas antes consideradas sumidouros de metano podem se tornar fontes desse gás com o aquecimento global”, sugere Júlia.

Variações no nível da água nas estações de cheia e seca no Rio Amazonas, nas proximidades de Santarém-PA. Foto: Júlia B. Gontijo
Medições das condições de campo e amostragem de solos para montagem do experimento. Foto: Fabiana S. Paula

Pautando políticas públicas

De acordo com a pesquisadora, os resultados podem fundamentar a formulação de políticas públicas e motivar esforços de mitigação das mudanças climáticas. “Nossos dados mostram a importância de manter a floresta em pé, já que ela é um sumidouro de metano. Precisamos criar políticas públicas que evitem o desmatamento e freiem as emissões de gases de efeito estufa”, reforça.

Agora em seu pós-doutorado na Universidade da Califórnia, Júlia permanece estudando a Amazônia, correlacionando a presença de microrganismos com sua atividade.

Para a engenheira, o próximo passo é ampliar os estudos em campo, em colaboração com o Soil Eco Genomics Laboratory, da Universidade da Califórnia, liderado pelo professor Jorge Rodrigues. “Estamos estudando diretamente no campo, correlacionando a presença dos microrganismos com sua atividade nas diferentes estações”, conta ela, ao alertar que “mais estudos são essenciais para uma compreensão mais profunda dos ciclos de metano na Amazônia”.

O artigo pode ser acessado neste link.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, escrito por Denis Pacheco.

E-books gratuitos buscam contribuir para promoção do turismo em Roraima

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Duas obras científicas, em formato digital (e-books), elaboradas por egressas e docentes do curso Tecnologia em Gestão do Turismo (TGT) do Instituto Federal de Roraima (CBV-IFRR), contribuem para a promoção e o desenvolvimento do turismo em Roraima.

Os e-books ‘Ponte dos Macuxi Vista de Outra Vista’, de autoria de Renata Peres Lorensi, Maria Ednalva Sousa Lima, Orlando Marinho Cerqueira Júnior e Leila Márcia Ghedin, e ‘Coletânea de Atividades: City Tour Histórico em Boa Vista-RR’, de autoria de Vanessa Gomes Bezerra de Brito, com participação da professora Leila Márcia Ghedin como prefaciadora, foram lançados em solenidade realizada no fim do mês de julho, no CBV, e estão disponíveis para download no site do IFRR.

Para Renata Lorensi, o e-book é importante, pois contribuirá para o turismo ao divulgar o projeto de “revitalização da ponte” e, assim, promover o conhecimento sobre esse importante monumento arquitetônico e ponto turístico.

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E-book aborda o projeto de revitalização arquitetônica da ponte dos macuxi

Segundo Vanessa de Brito, o livro representa a realização de um projeto pessoal e acadêmico.

“Este é o meu primeiro livro. Ele é o produto do meu Trabalho de Conclusão de Curso, o TCC, concluído em 2022, que foi imensamente significativo para a minha vida, pois eu pude trabalhar em conjunto com uma mulher incrível e uma professora maravilhosa, que é a Leila Márcia Ghedin. É uma obra voltada à família, à comunidade, aos acadêmicos e a todos aqueles que desejam vivenciar o city tour sobre a história da cidade de Boa Vista. Focada no turismo pedagógico e turismo social, a obra agrega conhecimento e reúne um conjunto de atividades recreativas para tornar esse passeio ainda mais criativo e divertido”, explicou.

Grupo de pesquisa

As publicações são também o resultado do trabalho do Grupo de Estudo e Pesquisa em Turismo, Tecnologia, Educação e Cultura (GEPTTEC). Elas foram selecionadas por meio de edital da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação destinado para a ajuda de custo à publicação científica, tecnológica e cultural de servidores e estudantes da instituição.

De acordo com a coordenadora do GEPTTEC, professora Leila Márcia Ghedin, o grupo realiza diversos estudos e pesquisas, incluindo orientações de TCC do curso TGT, bem como aqueles voltados à educação e à tecnologia aplicadas ao turismo.

Ainda segundo Leila, o grupo de pesquisa conta com professores do curso TGT, acadêmicos e outros pesquisadores, que, de maneira voluntária, colaboram para o desenvolvimento dos estudos e produtos originados das pesquisas.

“Temos ancorado as nossas orientações de TCC no grupo de pesquisa e, geralmente, a partir desse trabalho, saem os produtos. Os alunos são orientados sobre como funciona esse processo de publicação, e, nesse caso dos dois e-books, ocorreu dessa maneira. As autoras se interessaram, e submetemos suas publicações, por meio do edital de fomento, que representou uma grande oportunidade para que elas, mediante ajustes e atualizações dos textos, em conjunto com os coautores, transformassem os TCCs em e-books”, disse.

Falando sobre a importância dessas obras para o meio acadêmico e científico, Leila afirma que os e-books ratificam a possibilidade de os TCCs se transformarem em importantes obras científicas.

*Com informações do Instituto Federal de Roraima

Escritores indígenas são porta-vozes de ancestralidades e de memórias

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Por muito tempo, os povos indígenas foram retratados na literatura sob uma visão colonizadora e estereotipada, com características folclóricas e sempre descritos em terceira pessoa, como se não tivessem sua própria voz. Este é o exemplo de ‘Iracema’, do escritor José de Alencar, obra literária do romantismo brasileiro.

Silenciada por muito tempo, as vozes dos povos indígenas, no entanto, sempre resistiram. 

“Mesmo que nossa língua seja proibida, a gente vai continuar resistindo através de outras línguas ou linguagens, sempre”, reforçou.

Em uma mesa promovida pelo Sesc-Senac dentro da programação da oitava edição da Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), em Salvador (BA), Sony Ferseck e Edson Kayapó discutiram as literaturas indígenas e as poéticas de pertencimento, mostrando que a visão romantizada sobre os indígenas sempre foi parte de uma política colonialista e de extermínio dessas populações.

Salvador (BA), 08/08/2024 - A escritora Sony Ferseck participam da mesa Que eu sou feito da terra: poéticas do pertencimento, na Festa Literária Internacional do Pelourinho - Flipelô. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Escritora Sony Ferseck. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

“José de Alencar fez um absoluto desserviço para os povos indígenas à medida que nos apresentou como pessoas dóceis ou domesticadas, sem qualquer resistência contra a força colonizadora”, disse o professor, pesquisador, ativista e escritor indígena Edson Kayapó. 

“O indígena de José de Alencar é uma pessoa que ama de paixão a violência colonizadora e, no final da narrativa, vemos a morte das personagens indígenas, como também morreu Moema na pintura [de Victor Meirelles]. Disseram que os indígenas seriam extintos por não conseguirem acompanhar o progresso nacional e que o último indígena viveria até os anos 2000. Mas nós somos, como já falou Raul Seixas, a ‘mosca na sopa’ dessas profecias falidas e desse projeto”, acrescentou.

De acordo com Kayapó, os escritores indígenas não são apenas a mosca na sopa cantada nos versos de Raul Seixas. Eles são também os porta-vozes dessas memórias que foram silenciadas.

Salvador (BA), 08/08/2024 - O escritor Edson Kayapó participa da mesa Que eu sou feito da terra: poéticas do pertencimento, na Festa Literária Internacional do Pelourinho - Flipelô. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Escritor Edson Kayapó. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A literatura indígena, definiu o escritor, é “uma fala coletiva e ancestral” e também um instrumento de combate ao projeto de progresso “que tem promovido muita dor, muito genocídio, muito epistemicídio e que tem provocado a destruição da vida”. “A necropolítica não pode continuar”, defendeu Edson Kayapó.

O apagamento ainda presente

Embora a literatura brasileira tenha se aberto para as histórias e cosmologias testemunhadas pelos próprios indígenas, a política de apagamento ainda permanece muito presente.

A poeta Sony Ferseck cita um exemplo: há relutância das editoras de livros em publicarem essas histórias. Foi por isso que ela fundou a Wei, uma produtora independente de Roraima especializada em autores indígenas. 

“Cansei de mandar livros para as editoras e eles ficarem no esquecimento. Então resolvi fundar a editora, com foco especial em autores indígenas porque há muita dificuldade. Primeiro, a questão da distância. Roraima está muito distante da região sudeste, onde se encontra maior circulação em relação à literatura. Outra dificuldade é com relação às escritas de pessoas indígenas. E, por último, os mais velhos e mais antigos têm muita dificuldade com a língua portuguesa ou em compreender esse mercado [editorial]”, falou.

“Mas, enfim, seguimos resistindo e a arte foi esse campo que escolhemos para dialogar com a sociedade e de trazer essas outras vozes entrelaçadas nas nossas”.

Para Edson Kayapó, uma das formas de combate a esse apagamento é não só pela garantia de direitos, como também por meio da educação. “Temos que arregaçar as mangas para que a temática indígena e a literatura indígena por nós protagonizadas estejam nas salas de aulas”, defendeu.

Essa educação, acrescentou ele, precisa ser ‘reencantada’, abrindo-se ao diálogo com outras culturas. “O Ailton Krenak diz que enquanto tiver indígenas para narrar suas cosmologias histórias e vivências, haverá possibilidade de adiarmos o fim do mundo porque os nossos povos fazem isso por excelência. Eu ainda diria que os escritos da nossa literatura são exatamente ensaios para adiar o fim do mundo e ao mesmo tempo diria que essa é uma forma de reencantar a academia. A academia quer estabelecer uma única verdade hegemônica e nós, povos indígenas, estamos falando sobre a necessidade de pensamentos múltiplos estarem dialogando dentro das universidades”.

A Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô) aconteceu até o dia 11 de agosto.

*Com informações da Agência Brasil

Com recursos da Alemanha, instituições planejam ações para reduzir desmatamento na Amazônia

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Avançar na bioeconomia e reduzir o desmatamento é o objetivo da implantação do ‘Programa Floresta em Pé’, uma iniciativa resultado da cooperação financeira entre os governos da Alemanha e Brasil, por meio do Banco de Desenvolvimento KfW. No projeto, a Fundação Amazônia Sustentável será a gestora dos recursos de mais de 170 milhões de reais, para a execução de projetos idealizados pelas Secretarias de Meio Ambiente dos estados do Amazonas e Pará, ao longo de três anos. 

A fundação foi selecionada, há dois anos, pelo KfW a partir de um processo de seleção competitivo, concorrendo com 13 instituições nacionais e internacionais, tendo sido escolhida para ser gestora dos recursos financeiros e também assistência técnica do projeto. 

A FAS está atuando em parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), no Amazonas, e Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), no Pará, que garantem a implementação de políticas na área socioambiental na região amazônica. É a primeira vez que uma organização da Amazônia vence uma seleção do Governo da Alemanha para gerenciar um recurso estrangeiro.  

De acordo com o superintendente geral da FAS, Virgílio Viana, a escolha da instituição para gerenciar um programa da magnitude que é o Floresta em Pé é a comprovação de que o trabalho realizado ao longo de 16 anos, feito com seriedade e por pessoas que acreditam que o futuro da Amazônia é cuidar do desenvolvimento de suas populações, promovendo qualidade de vida e prosperidade. 

Oficina de planejamento 

Ao longo de duas semanas, em maio, autoridades públicas, do terceiro setor e cooperação financeira internacional se reuniram em uma oficina na sede da FAS para avaliar os indicadores do programa no Amazonas, dentro do Projeto Governança Ambiental e Bioeconomia Sustentável, para início de sua implementação. No Pará, os indicadores foram definidos em oficina na sede da Semas em Belém, dentro do projeto ‘Realiza Pará’, que está inserido no Floresta em Pé. 

O Programa Floresta em Pé visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento, valorizando a floresta amazônica em pé por meio da promoção da bioeconomia, do apoio no controle ao desmatamento e do fortalecimento da governança ambiental. A iniciativa prevê que nos primeiros dois anos, os esforços serão convertidos em ações de comando e controle mais efetivas, governança ambiental fortalecida, incentivos para a bioeconomia e restauração florestal. 

Na mesma linha, a secretária-adjunta de gestão ambiental da Sema, Fabrícia Arruda Moreira, reforça a capacidade técnica da FAS em ser agência executora do projeto e a parceria de longa data com o Governo do Amazonas. 

“A Fundação Amazônia Sustentável já é parceira da Secretaria do Estado de Meio Ambiente do Amazonas em vários projetos. Nesse projeto, ela entra como uma agência executora para aprimorar a execução direta dos recursos, sem internalização desses recursos no Estado. O que vai facilitar a execução em questão de lapso temporal. Então, a gente consegue executar um projeto de forma mais rápida, fora a experiência da fundação no campo”, afirma. 

Amazônia
 Foto: Jeferson Rudy/MMA

Urgência da bioeconomia  

Em complemento às ações de combate ao desmatamento, o projeto visa apoiar na transformação de uma economia baseada na degradação ambiental para uma economia focada na bioeconomia amazônica, considerando um conjunto de atividades que envolvem cadeias da sociobiodiversidade sustentáveis e nativas do bioma.  

A bioeconomia amazônica, esclarece Virgílio, é o caminho para conciliar melhoria da qualidade de vida da população da região com manutenção dos serviços ambientais essenciais para o futuro do Brasil e do planeta.

Recursos estrangeiros devem ter um executor 

O gerente do Programa Floresta em Pé, Luis Henrique Piva, explica que a cooperação internacional entre dois países pode ser feita por empréstimo ou doação, sendo que os recursos que o KfW aportará para FAS serão doações, ou seja, recursos não reembolsáveis. Nesse caso, o doador não pode transferir recursos diretamente para o governo, mas deve selecionar uma entidade executora para receber e empregar os recursos de acordo com as orientações estratégicas do Estado.

Após a seleção da FAS, uma diligência foi realizada para verificar se a organização tinha condições objetivas de receber o recurso com transparência, compliance e sistemas adequados de prestação de contas e salvaguardas. 

A entidade executora deve cumprir dois papéis: executar os recursos com transparência, celeridade e efetividade, e prestar assessoria técnica para apoiar tecnicamente o projeto, como o Floresta em Pé, com o objetivo de cumprir as metas estabelecidas. 

*Com informações da FAS