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A Rebelião de 1924 em Manaus

O tenente Alfredo Augusto Ribeiro Júnior, ajudantes de ordens e soldados da guarda do palácio. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br

Tornava-se claro que a arrecadação muito pequena e consequentemente as despesas aumentadas, o funcionalismo sem receber seus vencimentos, a dívida externa em moratória, com juros e amortização em atraso, o desemprego, a fome se constituíam para que as organizações se unissem contra a família Rêgo Monteiro.

Na cidade de Manaus, a tragédia da fome e no interior do estado o bandidismo se alastrava, a Associação Comercial do Amazonas em uma de suas reuniões de diretoria previu em tempo, um possível levante das populações interioranas, que de certa forma impulsionadas pela carência de gêneros alimentícios atacavam comércio e propriedades do Baixo Amazonas.

Era um período difícil especialmente para o interior do estado, a medida em que a família Rêgo Monteiro se firmava no poder, os municípios se transformavam em verdadeiros feudos dos chefes políticos que usufruíram de seu beneplácito. As concessões das vastas reuniões, a saber segundo a professora doutora Eloina Monteiro dos Santos afirma:

[…] Balatais e seringais eram feitas a indivíduos privilegiados, os quais necessitava da ajuda parcial para submeter as populações voltas contra a servidão. As transações do Estado do Amazonas e seus credores externos, desde 1918 achavam-se completamente paralisadas.

O poder central não concretizava a indenização do Acre, devida ao Amazonas pela sessão de terras à União pendente no Supremo Tribunal Federal. Ressarcindo que segundo Rêgo Monteiro seria, a solução para minorar a crise que atravessava o estado”.

Fonte: SANTOS, Eloina Monteiro dos. A Rebelião de 1924 em Manaus. 4ª Edição Revista Ampliada, Manaus: Editora Valer, 2021. Pág. 61 e 62.

Em demonstração de solidariedade, o povo clama pelo líder já preso no navio. Mato Grosso. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A medida que a família Rêgo Monteiro se incompatibilizava o Poder Central, acentuava-se em nível local a sua perpetuação no poder, o que por sua vez desencadeou internamente criticas às suas praticas administrativas. Em julho de 1923 Guerreiro Antony em sua carta aberta a Rêgo Monteiro, expunha-se a ausência de garantias individuais e de propriedade e a corrupção do poder governamental.

[…] Ninguém ignora a falta absoluta de garantias de vida e propriedade na capital e no interior, nenhum respeito aos direitos e liberdades dos nossos concidadão quanto em jogo os interesse inconfessáveis do mandonismo, ou falseamento do voto deste a estupenda falsificação de livros eleitorais presidida pelo Secretário-Geral do Estado até das Atas de eleição e apuração: a perseguição oficial a todos os nossos correligionários da Aliança Republicana: o desbarato dos dinheiros públicos em proveito único e exclusivo de Vossa Excelência filhos e fâmulos”.

Fonte: SANTOS, Eloina Monteiro dos. A Rebelião de 1924 em Manaus. 4ª Edição. Revista Ampliada, Manaus: Editora Valer, 2021. Pág. 63 e 64.

Críticas e denúncias contra os Rêgo Monteiro eram também formuladas na imprensa local pelos jornais Amazonas e Gazeta da Tarde. Aliás, a dominação da oligarquia Rêgo Monteiro se fazia de modo radical, tanto por meio da censura à imprensa como por métodos violentos. A gravidade da situação no estado exigia atitudes mais extremas. A organização de Silverio Nery procurou, em março de 1923 realizar aproximações com o Governador Rêgo Monteiro. A tentativa de acordo conforme telegrama ao Presidente da República pretendia harmonizar a política amazonense. Não foi todavia apoiada pelo Presidente Arthur Bernardes o que viria a provocar outras tentativas de conciliação de novos ajustes.

Destemidos soldados que atacaram o Palácio Rio Negro na noite de 23 de julho de 1924. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A sucessão de 1924

Aproximava-se nova sucessão Rêgo Monteiro pediu licença para tratamento de saúde e viajou para Europa, transferindo o governo para Turiano Meira, que a esta altura era presidente da Assembleia Legislativa.

1924 era um ano eleitoral, a disputa entre as organizações oligárquicas excluídas do poder propiciava rearticulação e condições para qualquer iniciativa que permitisse fazer oposição ao governo de Rêgo Monteiro. Assim, buscando apoio de Turiano Meira, tentaram fazer acordo a fim de retirá-lo da oligarquia Rêgo Monteiro. Por essa atitude foi organizado um baquete oferecido no dia 14 de julho do mesmo ano, pela Associação Comercial do Amazonas, em nome das classes conservadoras, ao futuro Governador Turiano Meira.

A esta altura estava presente uma profunda divergência entre o Grupo Político que apoiava a família Rêgo Monteiro e a oposição que se aglutinava em torno de Turiano Meira, com a expectativa de ver antigos privilégios restaurados e que o apoiava na candidatura de quatriênio de 1924 a 1927. Essa atitude de afastar Turiano Meira de Rêgo Monteiro caiu por terra quando aquele, em mensagem à Assembleia do Estado, firmou continuar dando total apoio a Rêgo Monteiro.

O navio ‘Bahia’, navegando para Óbidos em 28 de julho de 1924. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Diante de fatos que desvaneciam o intento do grupo de oposição, encontravam-se circunstâncias que conjugadas permitia a geminação da rebeldia. Quanto ao grupo do governo da situação ligada a Rêgo Monteiro deu apoio a candidatura de Aristides Rocha que contava com forte beneplácito do Poder Central. Aliás, a representação do Amazonas e o governo em exercício de Turiano Meira haviam trocado telegramas, estabelecendo acordos para garantir a candidatura.

Nesses momentos de incerteza política, a candidatura de Aristides Rocha veio acentuar a agitação entre as organizações. Quanto a atuação do poder central se encaminhava de tal forma para impor a candidatura que contava com seu apoio.

As articulações do movimento de 1924 se organizava

Diante da crise do capitalismo internacional, que de certa forma refletia nos países periféricos, especialmente o Brasil, numa perda do volume de exportações e dos preços de produtos, especialmente o látex. Somados aos conflitos e contradições da sociedade brasileira a esta altura, emergentes, criavam possibilidades de provocar críticas de vários setores do poder constituído, responsabilizando-o pelas crises e indicando a necessidade de uma completa reformulação das bases políticas existentes.

Dessa forma este período anunciava a desintegração da Primeira República, apresentando-se particularmente agitada no campo político com rebeliões de 1922, 1924 e a Coluna Prestes que atingiram vários pontos do país nesse processo de contestação surgia um grupo de militares futuramente revoltosos. Este grupo que possuía condições especiais para liderar rebeldia contra o governo e os tenentes detinham predominância numérica no conjunto das forças armadas, resultando da própria estrutura burocrática que regia o corpo de oficiais e de sua legislação de aposentadoria e promoções.

O tenente Alfredo Augusto Júnior fala ao povo. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Outro fato interessante era a lentidão das promoções que causava insatisfação gerando predisposição para desobediência. Esses militares contestadores pertencia à geração revolucionária da Escola Militar de Realengo que se contraponha à velha Escola da Praia Vermelha, essencialmente técnica objetivando formar oficiais para funções exclusivamente militares. Desta forma fica constatada a necessidade de luta armada os militares inconformados iniciaram articulações visando sistematizar o movimento para se tornar realidade diferente da que ocorrera em 1922. Sobre o levante do Forte de Copacabana.

O fracasso de 1922 e as decepções resultantes contribuíram para o desanimo e o afastamento de alguns, em contra partida outros foram conduzidos para uma posição crítica, em face dos erros cometidos, buscando formas mais racionais de luta. Essa luta se viabilizava pela prática de transferências que ocorriam com o objetivo de desarticular articulações entre os oficiais rebeldes, principalmente do Rio de Janeiro para outras capitais.

Para Manaus, foram transferidos o Tenente do Exército Barata e o Tenente da Armada José Backer Azamor. Nessas condições os militares removidos trouxeram para Manaus suas experiências pessoais em atentados contra o poder estabelecido. Os militares rebeldes percebiam a necessidade de programar uma ação mais decisiva e sistematizar o movimento, iniciando sua atuação através da criação de um núcleo revolucionário que além de justificar a necessidade de luta armada, sob a responsabilidade dos militares deveria estabelecer um plano de aliciamento de indivíduos dispostos a participar do movimento de acordo com seus objetivos.

Dessa maneira, cabe situar a rebelião de julho de 1924 em Manaus, no contexto das rebeliões tenentistas ocorrido na década de 20, cujo, foco propagador foi São Paulo a partir da ação militar aí desencadeada a 5 de julho ocorreram nesse mês movimentos semelhantes em vários pontos do país, tais como Sergipe, Amazonas, Mato Grosso e Pará. Esses movimentos armados que irromperam em julho de 1924, demonstraram a articulação programada da ação dos militares rebeldes no sentido de desencadear o movimento de caráter nacional.

General João de Deus Mena Barreto e seu estado maior no Palácio Rio Negro. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Para a Amazônia ou mais precisamente, para guarnições de Manaus 27º Batalhão de Caçadores e de Belém 26º Batalhão de Caçadores, sede da 8ª Região Militar foram efetuadas as transferências militares, principalmente Tenente que precediam do Rio de Janeiro e outras capitais do Sul e Nordeste, implicados movimentos de rebeldia contra o poder.

Como destacou o Coronel Raimundo Barbosa, Comandante da 8º Região, a oficialidade da Amazônia era constituída na sua quase totalidade por militares transferidos de outros estados, considerados como rebeldes indesejáveis.

[…] Uma força do 27º Batalhão descia a Avenida Eduardo Ribeiro, conduzindo a artilharia. Os soldados marchavam na melhor ordem, em forma, como se fossem realizar uma parada. Mas, o carro de guerra, que puxavam despertou a inquietação em toda a gente, que observava o desfilar da tropa. Dez minutos depois, ouviam-se o ruido da fuzilaria e alguns disparos de canhão, em rumo do Quartel da Polícia.

A população de Manaus ficou sobressaltada, tomada de pânico, todas as portas se fecharam. O tiroteio não demora senão uma hora. Sabe-se então, que aquela unidade do nosso Exército comandada pelo capitão José Carlos Dubois, revolta-se, depondo as autoridades constituídas do estado.

Turiano Meira Governador em Exercício, que substituía César do Rêgo Monteiro, em viagens pela Europa, retirava-se pelos fundos do Palácio Rio Negro, visto que este fora atacado de surpresa pela frente. O 1º Tenente Alfredo Augusto Ribeiro Júnior faz ocupação efetiva do prédio que era a sede governamental.

No quartel da Polícia Militar o Cel. Pedro José de Souza não desmentindo sua lealdade de velho soldado, resiste ao ataque, até ser gravemente ferido. É ocupada também aquela posição. Estava a revolta triunfante.

Fonte: BITTENCOURT, Agnello. O Momento Histórico. Boletim Maçônico. Agosto e Setembro de 1924.

Durante a ação militar inicial as lideranças estiveram constituídas pelos seguintes oficiais:

1º Tenente Alfredo Augusto Ribeiro, 1º Tenente Joaquim de Magalhães Barata, Capitão Comandante do 27º Batalhão de Caçadores, José Carlos Dubois e os primeiros-tenentes da Armada José de Lemos Cunha e José Backer Azamor.

Fonte: SANTOS, Eloina Monteiro dos. A Rebelião de 1924 em Manaus. 4ª edição. Revista. Manaus: Editora Valer, 2021.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Robótica é usada por projeto no Amazonas para auxiliar no ensino-aprendizagem de Física

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A aplicação da robótica educacional como ferramenta de ensino na disciplina de Física para alunos do 1º ano do Novo Ensino Médio tornou as aulas mais didáticas no Centro Educacional de Tempo Integral Tarcila Prado de Negreiros Mendes, no município de Humaitá (AM).

Coordenado pelo professor, Romildo Pereira da Cruz, as atividades desenvolvidas envolveram oficinas e minicursos de robótica, além de analisar o rendimento e a motivação dos alunos na disciplina de Física. Os resultados da pesquisa e atividades desenvolvidas contribuíram para um melhor aproveitamento nos processos de ensino e de aprendizagem no contexto da disciplina de Física.

Segundo o professor Romildo, os participantes se sentiram seguros ao fazer proposições acerca do projeto, desafiados e motivados à investigação e utilização das ferramentas disponibilizadas para as práticas, resultando num processo de redirecionamento de seus estudos.

“Os alunos que fizeram parte da pesquisa não desenvolveram somente o que estava propondo, mas também passaram a pesquisar e fazer inferências acerca de outros projetos que viam, sobretudo na rede internet”, comemora o coordenador.

Fotos: Romildo Pereira da Cruz/Acervo pessoal

Para Romildo, o empenho de todos os envolvidos certificou que a robótica é o caminho para tirar os alunos do comodismo, conforto, ociosidade e inseri-los num contexto de aprendizagem significativa.

Conforme explica o coordenador, enquanto o método tradicional volta-se para uma aprendizagem mecânica dos conteúdos, a robótica preconiza o contrário, que o aluno inicie de um projeto já estruturado, desenvolva-o e em seguida argumente por meio da experiência que teve em que momento os conceitos foram aplicados dentro do projeto.

O projeto é apoiado pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), e foi desenvolvido no âmbito do Programa Ciência na Escola (PCE), que apoia a participação de professores e estudantes em projetos de pesquisa a serem desenvolvidos em escolas públicas estaduais sediadas no Amazonas.

*Com informações da Agência Amazonas

MEC realizará consulta para criação da Universidade Indígena; saiba quais Estados da Amazônia estão incluídos na pesquisa

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O Ministério da Educação (MEC) promoverá diversos seminários voltados à escuta dos povos indígenas. Durante cerca de dois meses, a pasta passará por 12 estados brasileiros para consultar essa parcela da população com a finalidade de subsidiar a criação, implementação e organização da universidade indígena. A iniciativa faz parte das ações do Grupo de Trabalho instituído pela Portaria n° 350, de 15 de abril.

A criação de universidades indígenas e outras instituições de ensino superior (multicampi ou polos) é uma demanda antiga dos povos indígenas. Por meio delas, esses povos teriam garantia de gestão e de recursos para sua consulta e participação, em todas as etapas do processo de construção do projeto, com recursos humanos e financeiros adequados para seu funcionamento e sua manutenção, priorizando a atuação dos indígenas em seu quadro institucional.

O pedido foi apresentado nas Conferências Nacionais de Educação Escolar Indígena (I e II Coneei), realizadas em 2009 e 2018. Essas são as instâncias máximas de consulta aos representantes dos povos indígenas e de espaço para proposições de políticas públicas voltadas à melhoria da qualidade da Educação Escolar Indígena, em todas as esferas governamentais.

Cronograma

Os encontros serão realizados em todas as regiões do Brasil, entre os dias 5 de julho e 11 de setembro de 2024, conforme o cronograma abaixo:

Ordens dos SemináriosAglomeração de estados e regiões por seminárioLocal de realização do SeminárioRegiõesData
Bahia, Sergipe e AlagoasSalvador – BANordeste05/07/2024
Mato Grosso do SulCampo Grande – MSCentro Oeste11/07/2024
3 ºPernambuco, Paraíba e Rio Grande do NorteRecife – PENordeste15/07/2024
4 ºCeará, Maranhão e PiauíFortaleza – CENordeste16/07/2024
5 ºAmazonas e RoraimaManaus – AMNorte22/07/2024
6 ºAmazonasTabatinga – AMNorte25/07/2024
7 ºAmazonasSão Gabriel da Cachoeira – AMNorte29/07/2024
8 ºMinas e Espírito SantosBelo Horizonte – MGSudeste01/08/2024
9 ºSão Paulo e Rio de JaneiroSão Paulo – SPSudeste02/08/2024
10 ºMato GrossoCuiabá – MTCentro Oeste08/08/2024
11 º12 a 16/08 – Seminário no Encontro Nacional de Estudantes Indígenas -ENEI – UNB/Brasília
12 ºPará e AmapáBelém – PANorte23/08/2024
13 ºPará e TocantinsSantarém – PANorte28/08/2024
14 ºGoiás e TocantinsGoiânia – GOCentro Oeste29/08/2024
15 ºAcre e RondôniaPorto Velho – RONorte05/09/2024
16 ºRio Grande do Sul, Paraná e Santa CatarinaIraí (Terra Indígena) – Rio Grande do SulSul11/09/2024
Fonte: MEC

*Com informações do MEC

Dez projetos da Amazônia Legal são classificados para oficina de turismo comunitário do ICMBio

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A lista de 14 pré-projetos classificados para a segunda fase do processo de chamada para apoio ao turismo comunitário em unidades de conservação federais foi divulgada pela Coordenação Geral de Uso Público e Negócios (CGEUP/DIMAN).

Das iniciativas classificadas, dez projetos localizam-se na região da Amazônia Legal e outros quatro nos demais biomas. Conduzida em parceria com a Coordenação Geral de Populações Tradicionais (DISAT/ICMBio), a chamada recebeu um total de 55 projetos, abrangendo 38 unidades descentralizadas do Instituto Chico Mendes (ICMBio).

Os critérios de seleção foram baseados no conteúdo de duas publicações: ‘Turismo de Base Comunitária em Unidades de Conservação Federais: Caderno de Experiências’ e ‘Rol de Oportunidades de Visitação em Unidades de Conservação’.

Os recursos para apoio aos projetos são provenientes da cooperação do Instituto Chico Mendes com o Serviço Florestal dos Estados Unidos e com a USAID.

Próximos passos

A próxima etapa envolverá uma oficina de capacitação das equipes para elaboração dos projetos finais, visando otimizar suas abordagens e garantir sua viabilidade e impacto positivo. A última fase do processo indicará as seis iniciativas que serão apoiadas, sendo quatro na região da Amazônia Legal e duas nos outros biomas.

Os projetos que não se classificarem no processo seletivo serão integrados a um banco de iniciativas, aguardando oportunidades futuras de financiamento. Este banco representará um recurso valioso para identificar e apoiar iniciativas adicionais à medida que novos recursos se tornarem disponíveis.

A chamada para apoio a iniciativas de turismo comunitário em unidades de conservação federais demonstra o compromisso do Instituto Chico Mendes com a promoção do desenvolvimento sustentável e a valorização das comunidades locais, ao mesmo tempo, em que busca fomentar práticas de turismo responsável e consciente nas unidades de conservação federais.

O edital de apoio aos projetos é um resultado da cooperação do Instituto Chico Mendes com o Serviço Florestal dos Estados Unidos e com a USAID.

Veja a lista de projetos selecionados para a próxima fase:

Floresta Nacional do Tapajós – Promoção e qualificação do turismo em comunidades tradicionais na Flona do Tapajós 

Reserva Extrativista do Lago do Cuniã - Do lago ao cais: sistematização do turismo comunitário na Reserva Extrativista Lago do Cuniã 

Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto - Turismo Comunitário da Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto: a sustentabilidade e o conhecimento tradicional das práticas extrativistas 

Parque Nacional da Serra do Divisor – Fortalecendo o turismo no parque que é a joia rara no Acre: formando pessoas, dialogando com as culturas e potencializando a sociobiodiversidade 

Parque Nacional de Pacaás Novos – Turismo comunitário no PARNA de Pacaás Novos e na terra indígena URU-EU-WAU-WAU como ferramenta para conservação da sociobiodiversidade, geração de renda e fortalecimento da organização dos povos indígenas 

Floresta Nacional do Purus – Trilha no Purus: sinergia entre comunidade e turismo 

Reserva Extrativista Maracanã – O caminho da praia: turismo comunitário na RESEX Maracanã 

Reserva Extrativista Marinha de Soure – Fortalecimento do turismo comunitário por meio da sinalização turística e da capacitação comunitária na RESEXMar Soure 

Reserva Extrativista do Lago do Capanã Grande – Construindo turismo para a valorização da sociobiodiversidade do Lago Capanã Grande 

Parque Nacional da Amazônia – Raízes do sustento: trilhando o futuro sustentável das comunidades junto ao Parque Nacional da Amazônia 

Reserva Extrativista de Cassurubá – Turismo comunitário para integrar e fortalecer a RESEX Cassurubá 

Parque Nacional da Chapada Diamantina – Projeto de reestruturação e fortalecimento dos roteiros de turismo comunitário em cantos da Chapada Diamantina 

Reserva Extrativista Marinha da Lagoa do Jequiá – Mulheres da Lagumar: protagonismo, tradição, pesca e cultura no desenvolvimento do turismo comunitário na RESEXMar da Lagoa de Jequiá 

Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal – Etnovivência Pataxó no Parque Nacional e histórico do Monte Pascoal: fortalecendo os caminhos ancestrais 

*Com informações do ICMBio

Professora peruana promove iniciativa que salva tartarugas em Ucayali

Graças à iniciativa de uma professora e seus alunos das Escolas Innova da cidade de Pucallpa (região de Ucayali), no Peru, as taricayas (tartarugas nativas da selva peruana) estarão mais protegidas pelo cuidado e acompanhamento realizado pelos jovens estudantes que se preocupam com a flora e a fauna da Amazônia peruana.

Nataly Concha Muñoz, professora nascida em Jauja (região de Junín), tornou-se uma figura chave na educação e na conservação ambiental. Como professora de ciências nas Escolas Innova, Nataly transmite conhecimentos acadêmicos e inspira seus alunos a proteger o meio ambiente através do programa ‘Taricalovers‘.

Foto: Reprodução/Agência Andina

“Eu sou de Jauja. Quando cheguei a Pucallpa, em 2022, fiquei muito curiosa sobre a Amazônia. Os alunos falaram sobre como existiam tartarugas gigantes e agora não existem mais. Os jovens comentaram sobre os problemas ambientais que sua cidade enfrenta. A partir daí propusemos uma alternativa para resolver esta crise e nasceu o ‘Taricalovers‘”, comenta a educadora.

O projeto, desenvolvido em colaboração com o Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas pelo Estado (Sernanp) e o Instituto Nacional de Inovação Agrária (INIA), é dedicado à proteção da taricaya, espécie em perigo de extinção na Amazônia.

Nataly e seus alunos lançaram com sucesso 411 taricayas nos primeiros dois anos (2022 e 2023). Além disso, envolveram mais de 140 alunos e famílias, colaborando com três comunidades nativas. Este esforço não só educa sobre a importância da biodiversidade, mas também promove um sentido de responsabilidade e cuidado com o ambiente natural entre os jovens.

“Os ovos de taricaya nos são entregues pela Sernanp, nós os nidificamos e as crianças recebem instruções dos especialistas. Depois tomamos especial cuidado para que vespas e outras ameaças não entrem nos ninhos”, disse a professora.

“Da mesma forma, medimos a temperatura e a umidade para que as condições sejam semelhantes às das praias naturais e também realizamos monitoramentos todos os dias, três vezes ao dia, para fazer medições e observações caso surja uma ameaça às taricayas”, acrescentou.

Essa paixão pelo ensino se reflete no entusiasmo dos alunos, que, inspirados pelo ambiente amazônico que os rodeia, participam ativamente do projeto.

“Os alunos têm muito amor pela natureza. O fato de terem nascido na Amazônia faz com que eles amem muito o meio ambiente. Eles estão entusiasmados em participar deste projeto e contribuir com suas próprias ideias. Eles querem ser protagonistas de seu próprio aprendizado”, diz a professora.

Foto: Reprodução/Agência Andina

Além disso, segundo Nataly, novos projetos estão sendo desenvolvidos como biojardins com plantas medicinais e novas tecnologias de fertilizantes. “Tudo com o propósito de sustentabilidade e conservação ambiental”, afirmou.

Bióloga e educadora, Nataly Concha vê seu trabalho como uma vocação para servir a sociedade, transmitindo aos seus alunos o conhecimento acadêmico e os profundos valores da conservação ambiental e da responsabilidade social.

*Com informações da Agência Andina

Governo de Rondônia decreta emergência devido ao período crítico de estiagem

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Bancos de areias sugem devido a seca do rio Madeira. Foto: Thiago Frota/Rede Amazônica RO

O governo de Rondônia publicou um decreto em que declara emergência em razão do período ‘crítico’ de estiagem enfrentado no estado. O decreto foi publicado no dia 4 de julho no Diário Oficial do Estado de Rondônia (Diof).

Em 2023, o rio Madeira chegou ao menor nível já registrado na história. Bancos de areia e montanhas de pedras surgiram onde antes era possível enxergar somente água. Desde então, especialistas já previam uma seca ainda mais extrema no estado em 2024.

Leia também: Entenda o que levou o rio Madeira a alcançar o menor nível já registrado

De acordo com o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), no dia 25 de Junho a cidade de Porto Velho completou um mês sem registro de chuva. Os moradores enfrentam altas temperaturas e tempo seco.

O monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) também demonstra que não houve acumulado de chuva em junho e julho (até o momento) na capital de Rondônia.

No decreto, o governo de Rondônia considera as previsões que indicam baixos níveis pluviométricos prolongados no estado em virtude do fenômeno El Niño. O documento também aponta uma diminuição significativa nos níveis dos rios.

A Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia (Caerd) informou ao g1 que ainda não há registros de desabastecimento devido à seca, mas é possível observar uma redução significativa em rios como:

  • Madeira, em Porto Velho;
  • Palmeira, em Espigão do Oeste;
  • Boa Vista, em Ouro Preto do Oeste;
  • Araras, em Cerejeiras;
  • Jaru, em Jaru.

O Executivo também aponta como justificativa do decreto a necessidade de evitar “risco pedagógico e de insegurança alimentar e nutricional” aos alunos da rede pública nos municípios mais afetados pela seca em caso de suspensão das atividades escolares por falta de água.

O que muda com o decreto?

O decreto que já etá em vigor tem validade de 180 dias. Através dele, autoriza a mobilização de todos os órgãos públicos estaduais para atuarem sob a coordenação do Comitê de Crise hídrica que foi instaurado durante a seca de 2023 e continua atuando.

O decreto do governo também dispensa a necessidade de licitação em casos de emergência ou de calamidade pública somente na “aquisição de bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de um ano”.

*Por Jefferson Carvalho, da Rede Amazônica RO

Pará segue na liderança da produção nacional de cacau e está entre as melhores amêndoas do mundo

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No Dia Mundial dedicado ao chocolate, celebrado em 7 de julho, destaca-se a expansão do mercado do produto no Brasil que ocupa, atualmente, o 6º lugar no ranking mundial e a posição do Estado do Pará como o maior produtor de cacau do país, reconhecido por estar entre as melhores amêndoas do planeta.

Todos os dias, após o almoço, acompanhado de um cafezinho. É assim que a paraense e chocólatra Andreia Oliveira consome o chocolate no seu dia a dia e conta que sua relação com o chocolate vem desde a infância. “Amo chocolate desde que me conheço por gente. Sempre esteve presente em minha vida, para além da Páscoa. Não sou fã de doces, mas sim de chocolate”, reforça.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), o brasileiro consome atualmente, em média, 3,9 kg de chocolate por ano. A tendência é de crescimento desse consumo, especialmente, aliando saúde e bem-estar ao desenvolvimento sustentável.

Da plantação até a barra

Acompanhando a expansão por segmentos especializados, a Da Cruz Chocolates integra uma ampla cadeia de microempreendedores paraenses que produzem chocolates de alta qualidade, com incentivos do governo paraense.

A Da Cruz Chocolates é um exemplo de empreendimento familiar que produz chocolates artesanais, com plantação no município de Moju, nordeste paraense, baseada em agricultura sustentável e sistema agroflorestal. Apenas 30% da propriedade é utilizada para a plantação de cacau, sendo os outros 70% área preservada e enriquecida de espécies florestais, livres de agrotóxicos.

Foto: Valéria Nascimento

Chiara da Cruz, uma das donas do local, conta que após o processo de seleção e fermentação, o cacau é levado para a fábrica, no município de Ananindeua, onde realizam a torra, trituração, até a temperagem, sem adição de nenhum outro elemento, mantendo as características do produto.

“Nossa ideia sempre foi produzir um produto saudável, sem glúten, sem lactose, somente cacau e açúcar demerara como ingredientes”, explica.

Reconhecimento e incentivos

O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento da Agricultura e da Pesca (Sedap), garante uma atenção especial à cadeia produtiva do cacau no Pará. A secretaria possui o Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Cacauicultura no Pará (Procacau), que possibilita a autossuficiência na produção de sementes, com o consequente aumento da produtividade. Conforme a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), o Pará produziu 149.396 toneladas de amêndoas em 2023.

O coordenador do Procacau, engenheiro agrônomo Ivaldo Santana, explica que a Sedap apoia o segmento de várias formas, com ações financiadas pelo Fundo de Desenvolvimento da Cacauicultura do Pará (Funcacau).

“Repassamos os recursos do Funcacau para instituições que fazem apoio técnico e fornecem sementes híbridas aos produtores de cacau do estado. Apoiamos diretamente também os produtores quando os levamos todos os anos para os principais eventos de cacau do Brasil ou fora, como, por exemplo, Portugal, Bélgica e França, por meio do projeto chamado Internacionalização das Amêndoas”, destaca.

Com incentivos do governo do estado, além de o Pará ser o maior produtor do país, também é reconhecido por estar entre as melhores amêndoas do planeta. Esse importante reconhecimento veio com uma dupla premiação em 2024, quando os produtores Miriam Federicci e Robson Brogni levaram o primeiro e segundo lugar, respectivamente, entre as melhores amêndoas da América do Sul, na premiação Cocoa of Excellence, realizada em Amsterdã, na Holanda. Ambos produtores são de Medicilândia, município localizado na Região de Integração do Xingu, conhecida como Transamazônica.

Foto: Divulgação/Sedap

Fábricas e Escolas Indústrias de Chocolate

Ivaldo Santana também destaca, entre as ações da Sedap, a construção das Fábricas e Escolas Indústrias de Chocolate. “Temos no Pará em torno de 50 fábricas artesanais de chocolate e derivados que produzem produtos derivados do cacau como chocolate, geleia, polpas e outros. Também levamos essas fábricas para comercializar seus produtos nos eventos. E, em parceria com o Senar [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural], foram construídas cinco Escolas Indústrias de chocolate, nas cidades de Igarapé-Miri, Medicilândia, Altamira, Castanhal e Tomé-Açu, e uma unidade móvel que viaja nos municípios interessados em capacitar empreendedores para fazer chocolates e derivados”, ressalta.

*Com informações da Agência Pará e Sedap

Indígenas ampliam participação na produção de chocolate do Médio Xingu

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Há mais de uma década a produção de cacau vem passando por transformações no Pará, estado que concentra mais de 50% da produção nacional do fruto, com participação em uma indústria que, segundo a Embrapa, movimenta R$ 3,5 bilhões ao ano no país. Ao longo dessa transformação, novas portas se abriram ao mercado produtor e consumidor. Isso permitiu que indígenas empreendedores da região do Médio Xingu, com o apoio de projetos de responsabilidade social da Norte Energia, concessionária da usina Belo Monte, se lançassem nessa saborosa empreitada, através de iniciativas próprias com potencial de se tornarem negócios lucrativos.

Marcas como Karaum Paru e Yudjá vêm conquistando o Brasil e ganhando participação em eventos do setor. Exemplo recente foi a edição do Chocolat Xingu, festival internacional realizado entre em junho passado na cidade de Altamira, sexta maior produtora de cacau do estado. De origem amazônica e produzidos a partir das amêndoas do fruto, ambas as marcas foram lançadas durante o evento, com o diferencial de carregarem em suas composições os saberes dos povos originários e a preservação da natureza e da biodiversidade.

É também uma forma de fortalecer a cultura indígena, valorizar frutas regionais e gerar renda para as comunidades. Além do valor agregado ao fruto do cacau, iniciativas como essas vão ao encontro de linhas sustentáveis de beneficiamento, especialmente à produção do chocolate em suas várias formas, cores, aromas, sabores e teor.

Os dois chocolates nasceram do trabalho dos povos indígenas Arara da Volta Grande do Xingu e Yudjá, em parceria com a Norte Energia, e com a Cacauway, primeira fábrica de chocolate da região. A expectativa é que a parceria gere renda para seis aldeias da Terra Indígena Paquiçamba e para quatro da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu.

O Karaum Paru e o Yudjá foram criados após o sucesso de outras duas marcas de chocolates com proposta semelhante e que também surgiram na região. O Sidjä Wahiü (“Mulher Forte”), iniciativa da líder indígena Katyana Xipaya, da comunidade Ribeirinha de Jericoá 2, na região da Volta Grande do Xingu, foi lançado também graças a programas de apoio da Norte Energia. Virou uma referência de visibilidade nacional.

“Podemos mostrar para outras comunidades que a vida não é só o que a sociedade impõe. O indígena quer trabalhar e se sustentar. O chocolate que estou produzindo é de alta qualidade e quero levar a cultura indígena, as riquezas da Amazônia e a força da Natureza para lugares que nem imagino”, afirma Katyana.

Outro caso bem-sucedido é o do chocolate Iawá – nome é uma homenagem à matriarca da comunidade – desenvolvido pelos Kuruaya, premiado com o 3° lugar na categoria Melhor Chocolate ao Leite 50% Cacau, na edição de 2023 do Chocolat Xingu.

Uma das representantes da marca Yudjá, Leliane Jacinto Juruna, da aldeia Mïratu, da Terra Indígena Paquiçamba, esperava a oportunidade de trabalhar com a produção de chocolate desde que uma oficina foi realizada na comunidade em 2022. “É uma oportunidade muito boa que estamos tendo, porque é única. Eu tive uma criação, por morar na aldeia, mas os meus filhos vão ter outra visão, porque eles já vão aprender a trabalhar com cacau e com chocolate, o que vai gerar uma boa renda e valorizar o que a gente está fazendo”, comemora a Leliane, grávida do quinto filho.

Gerente de Projetos de Sustentabilidade da Norte Energia, Thomás Sottili destaca a importância da valorização da cultura indígena e da geração de renda para as comunidades.

“Nosso objetivo é construir um legado positivo e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico dos territórios onde a Usina está instalada. Temos como premissas no processo de desenvolvimento dos chocolates potencializar as produções indígenas, incentivar o empreendedorismo sustentável, dialogar com as comunidades na elaboração das identidades visuais, agregar valor nas vendas e trazer desenvolvimento socioeconômico com foco na qualidade de vida da população e na proteção ambiental da bacia do rio Xingu. Queremos criar uma experiência sensorial capaz de honrar, pelo menos, parte de toda biodiversidade amazônica”, explica Thomás Sottili, responsável pelo programa.

Apesar dos quatro chocolates serem resultados recentes do apoio de projetos como o Belo Monte Empreende e o Belo Monte Comunidade, a jornada dos indígenas com o cacau começou bem antes, há cerca de dez anos, com a execução do Plano Básico Ambiental do Componente Indígena da Usina Hidrelétrica Belo Monte.

“Nos últimos anos, os povos indígenas vêm desconstruindo estereótipos e lançando-se em empreendimentos próprios, inclusive os gerados em torno do licenciamento ambiental. Ações dessa natureza, além de implementar o etnodesenvolvimento, oportunizam criar seus próprios negócios e gerar melhorias para suas comunidades, o que também contribui para a economia em geral”, avalia Sabrina Miranda Borges, Gerência Socioambiental do Componente Indígena da Norte Energia.

Karaum Paru

As quatro aldeias da Terra Indígena Arara da Volta Grande do Xingu (Terrawangã, Guary-Duan, Itkoum e Maricá), no Pará, abrigam cerca de 78 famílias que cultivam as amêndoas usadas no Karaum Paru. O chocolate é leve, com 53% de cacau, contém cupuaçu desidratado, equilibrando a acidez típica da fruta amazônica com o doce do chocolate ao leite, o que resulta em um sabor único.

Yudjá

As seis aldeias da Terra Indígena Paquiçamba (Mïratu, Iya -Pukaká, Lakariká, Pupekuri, Jaguá, além da Paquiçamba), no Pará, abrigam aproximadamente 92 famílias que cultivam, de maneira integrada com a floresta, as amêndoas do Yudjá. O chocolate, feito com manteiga de cupuaçu, tem 63% de cacau e leva mangarataia, um gengibre cultivado na Amazônia, que traz um toque forte e apimentado, realçando o sabor intenso desse delicioso alimento.

Demanda do Centro-Sul por produção agropecuária pressiona desmatamento na Amazônia

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A demanda por produtos agrícolas e pecuários no Centro-Sul do Brasil pressiona de forma significativa o desmatamento da Amazônia, aponta estudo da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP. Os pesquisadores mapearam as relações comerciais com o restante do Brasil e do mundo, para identificar todos os elos da cadeia produtiva. Desse modo, constataram que a procura por produtos e insumos dentro do País, e não apenas as exportações, apresentam um impacto relevante sobre os recursos naturais da região amazônica.

As conclusões do estudo foram publicadas em artigo. Com base nos resultados, os autores do artigo recomendam o aumento das ações de rastreamento da produção agropecuária da Amazônia, hoje restritas a algumas grandes empresas, a fim de mapear também entre os pequenos produtores os impactos do desmatamento.

“O principal objetivo da pesquisa foi mapear e quantificar pelo lado da demanda quais as principais pressões econômicas sobre o desmatamento da Amazônia Legal”, afirma o professor e pesquisador Eduardo Haddad, da FEA, primeiro autor do artigo. “A grande novidade que nós introduzimos foi a possibilidade de fazer a identificação do ponto de vista geográfico da origem dessas pressões; seja referente ao mercado interno, ao da própria Amazônia ou ao do restante do País, as demandas geradas pressionam o desmatamento de forma direta e indireta.”

De acordo com Haddad, a literatura científica tem colocado grande ênfase na demanda externa, ou seja, das exportações que são feitas para outros países de itens produzidos na Amazônia, principalmente da agropecuária.

“Ao mapearmos as nossas origens de demanda, nós também identificamos o peso da procura local e principalmente o papel crítico que a demanda no resto do País, especialmente no Centro-Sul, de modo direto e indireto, exerce sobre o desmatamento da região amazônica”, aponta. “O grande resultado da pesquisa é mostrar essa relevância das relações da Amazônia com o restante do Brasil, de forma a pressionar os recursos naturais.”

Pressão da demanda

Os pesquisadores, por meio de uma abordagem sistêmica, mapearam todas as relações de compra e venda nas várias regiões, dentro e fora da Amazônia, e no resto do mundo, de modo a obter uma visão de cadeia de valor.

“Dessa forma, nós conseguimos identificar a demanda gerada, por exemplo, aqui em São Paulo, influenciando, direta ou indiretamente o desmatamento”, relata Haddad.

“Diretamente, demandando por produtos finais, que exercem alguma pressão, especialmente os da agricultura e pecuária, e de forma indireta quando há uso de insumos da floresta que possam pressionar a mudanças no uso da terra, e dessa forma identificamos a relação do Centro-Sul do Brasil com o desmatamento por meio dos fluxos de comércio e das interações econômicas.”

“Ao fazermos esta análise no contexto de cadeia produtiva e efeitos sistêmicos, olhando pelo lado da demanda, a gente consegue olhar todos os elos dessa cadeia que chegam no desmatamento”, enfatiza Haddad. “Então o que a gente sugere, e isso já tem sido feito por intermédio de algumas grandes empresas que usam recursos naturais na Amazônia, é identificar quem são os fornecedores, e ao rastreá-los, garantir que tenham práticas ambientalmente saudáveis, ou seja, não estejam desmatando na sua produção; é importante aumentar esse procedimento para que o problema não persista.”

“Essa é uma das questões que levantamos no trabalho: o processo de rastreamento teria que tomar uma escala nacional para chegar até os pequenos produtores”, recomenda o pesquisador da FEA. “A pesquisa demonstra que é possível mapear e rastrear os elos da cadeia produtiva, até chegar, no início do processo, aos pontos que estariam associados ao desmatamento”.

Outro ponto discutido no artigo, que tem a ver com políticas públicas, se refere a consequências não desejadas de algumas medidas, como, por exemplo, a Reforma Tributária, que eventualmente pode gerar pressões sobre os recursos naturais ao desonerar exportações e gerar isenções totais ou parciais sobre produtos agrícolas, caso não haja rastreabilidade ou fiscalização”, explica Haddad. 

“Por outro lado, essa mesma reforma pode gerar recursos adicionais para a criação de fundos de desenvolvimento regionais direcionados a ações de adaptação e mitigação visando políticas de desmatamento zero.”

Participaram do estudo Inácio Araújo, pós-doutorando, Ademir Rocha e Karina Sass, pesquisadores associados do Núcleo de Economia Regional e Urbana (Nereus) da USP, sediado na FEA, e Fernando Perobelli, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Também colaboraram, por meio do projeto sobre a Nova Economia da Amazônia, da organização World Resources Institute Brasil (WRI Brasil), o economista Rafael Feltran Babieri, da WRI Brasil, e Carlos Nobre, coordenador do projeto e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, escrito por Júlio Bernardes

Equipe interdisciplinar registra pesquisa sobre relação de indígenas e o Rio Nãnsepotiti, na Amazônia

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Uma equipe da Secretaria Executiva de Comunicação (SEC) da Unicamp acompanha pesquisadoras da Universidade em um trabalho de campo na aldeia Nãnsepotiti, terra indígena Panará, que ocupa parte do território do município de Altamira, no vale do rio Nãnsepotiti (rio Iriri para os não Panará), divisa dos estados do Mato Grosso e do Pará, desde o dia 1º de julho. 

A professora Cassiana Montagner, do Instituto de Química (IQ), e a geógrafa Zaira Anislen Moutinho, doutoranda no Instituto de Geociências (IG), orientada pelo Professor Raul Reis, realizam uma pesquisa interdisciplinar sobre a ligação entre o povo Panará e o Rio Nãnsepotiti, evidenciando sua importância para a aldeia e o impacto que o uso e ocupação da terra na sub-bacia do Iriri provocam para os indígenas. 

Foto: Divulgação/ Jornal da UNICAMP

O objetivo desta viagem, entre as já feitas até agora pelas pesquisadoras às terras dos Panará, é registrar em vídeo o processo de coleta de amostras das águas do rio e os depoimentos dos anciãos da aldeia.

A intenção é obter também, por meio dos relatos, a visão Panará sobre a história da reconquista de parte da terra indígena, em meados da década de 1990, após o processo de saída do Parque Indígena do Xingu, onde a aldeia ficou reduzida a pouco mais de 70 indivíduos.

Hoje a população Panará chega a 600 pessoas, um exemplo de resistência e da relação estruturante entre a existência do povo e o rio Iriri.

A Associação Iakiô é a principal parceira e financiadora da pesquisa, por meio do projeto Lira (Legado Integrado da Região Amazônica), além do ISA (Instituto Socioambiental).

A jornalista Hebe Rios e o repórter cinematográfico Marcos Botelho Jr. retornam neste domingo (7) com parte da equipe de pesquisa. O resultado do trabalho de campo e os relatos obtidos nos dias vividos na aldeia Nãnsepotiti serão divulgados.

*Com informações do Jornal da UNICAMP