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Agência Nacional de Águas declara situação de escassez hídrica na Bacia do Tapajós, no Pará

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Alter do Chão em Santarém. Foto: Bruno Cruz/Agência Pará

Durante a 916ª Reunião Deliberativa Ordinário da Diretoria Colegiada, realizada em 23 de setembro, a Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) aprovou a proposta de Declaração de Situação de Escassez Quantitativa de Recursos Hídricos no trecho baixo do rio Tapajós, compreendido entre as cidades de Itaituba e Santarém, no Pará, até 30 de novembro. A medida visa a aumentar a segurança hídrica da região e mitigar os impactos dos baixos níveis dos rios sobre os usos da água.

De acordo com os institutos de climatologia, a precipitação acumulada na bacia do rio Tapajós de outubro de 2023 a agosto de 2024 foi caracterizada por chuvas abaixo da média, tendência que continua no atual período seco.

As anomalias negativas de chuva afetaram os níveis do rio do Tapajós, especialmente no trecho entre Itaituba (PA) e Santarém (PA), onde as vazões atualmente estão abaixo dos mínimos observados no histórico. Como resultado, os usos da água estão sendo impactados, especialmente aqueles que dependem de níveis adequados nos corpos hídricos, como a navegação e as estruturas de captação.

O transporte aquaviário desempenha um papel crucial no desenvolvimento econômico e social da região amazônica, particularmente na Hidrovia do Baixo Tapajós. A carga transportada em 2023 foi de cerca de 14,6 milhões de toneladas, o equivalente a 11% da carga total transportada em vias interiores, destacando-se milho (45%) e soja (45%). Além de possibilitar o escoamento de cargas, os rios são as principais vias de acesso para muitas comunidades amazônicas, permitindo o deslocamento para serviços essenciais como saúde e educação.

Leia também: Seca histórica do Rio Madeira afeta transporte de cargas em Porto Velho

Segundo a Lei nº 9.984/2000, que dispõe sobre a criação da Agência, compete à ANA “declarar a situação crítica de escassez quantitativa ou qualitativa de recursos hídricos nos corpos hídricos que impacte o atendimento aos usos múltiplos localizados em rios de domínio da União, por prazo determinado, com base em estudos e dados de monitoramento”.

Os cenários hidrometeorológicos para este ano indicam a possibilidade de serem atingidos níveis ainda mais críticos em setembro e outubro com impacto sobre os usos, razão pela qual a proposta de Declaração de Situação de Escassez Quantitativa de Recursos Hídricos no trecho do Baixo Tapajós foi aprovada com o objetivo de aumentar a segurança hídrica da região e mitigar os impactos dos baixos níveis dos rios sobre os usos da água. 

Além disso, a declaração busca comunicar à população a gravidade da situação de seca na região, permitir que instituições gestoras e diferentes usuários de recursos hídricos no rio Tapajós adotem medidas preventivas para mitigar os impactos nos diversos usos da água e sinalizar aos usuários que a ANA, se necessário, poderá alterar regras de uso da água e adotar outras medidas.

Declaração de escassez hídrica

Esse instrumento foi utilizado pela primeira vez em 2021 na Região Hidrográfica do Paraná, por meio da Resolução ANA nº 77/2021. Naquele cenário, a RH do Paraná – que ocupa 10% do território brasileiro, abrangendo áreas de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Distrito Federal – vinha acumulando chuvas abaixo da média, impactando negativamente os volumes armazenados nos reservatórios.

Essa situação colocou em risco o atendimento dos usos múltiplos da água, especialmente a geração hidrelétrica, o que poderia comprometer todo o Sistema Interligado Nacional e a navegação. Por isso, a ANA emitiu a primeira Declaração de Escassez Hídrica. 

*Com informações da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)

Gramática Wapichana é lançada em Roraima para fortalecer língua indígena

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Imagem: Reprodução/Gramática Pedagógica Wapichana

A Comunidade Indígena Tabalascada, no município de Cantá (RR), é palco do lançamento da Gramática Pedagógica da língua Wapichana, nesta terça-feira (24). A iniciativa, promovida pelo Museu do Índio, órgão científico-cultural da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), conta com educacionais e de valorização cultural.

A Gramática Pedagógica Wapichana foi construída para ser uma das frentes de fortalecimento e revitalização da língua indígena Wapichana, em um contexto de escassez de formação específica para professores e falta de material didático adequado.

A nova coleção de Gramáticas Pedagógicas em línguas indígenas foi produzida no contexto do Projeto de Documentação de Línguas Indígenas, desenvolvido desde 2008 por meio de uma parceria entre Funai/Museu do Índio e Unesco, e surge como uma ferramenta essencial para fortalecer o ensino e a aprendizagem das línguas originárias, ao mesmo tempo em que promove reflexões sobre as estruturas gramaticais e a importância política do uso contínuo de suas línguas maternas.

O evento conta com a presença de lideranças e mestres do povo Wapichana, além de representantes de diversas instituições, como o diretor do Departamento Indígena, Leonardo Pereira da Silva; e o reitor da Universidade Federal de Roraima, José Geraldo Ticianeli. Exemplares da Gramática Pedagógica já foram distribuídos às escolas Wapichana com o apoio da Coordenação Regional da Funai em Roraima.

A gramática busca atender à heterogeneidade dos falantes, contribuindo para o fortalecimento da identidade e preservação cultural do povo Wapichana.

Sua criação atende a uma demanda por continuidade da formação de professores e ampliação dos materiais de apoio ao ensino da língua Wapichana.

A íntegra da Gramática Pedagógica da língua Wapichana pode ser consultada AQUI.

*Com informações da Funai

Galeria em Nova York, nos EUA, recebe imersão sensorial na Amazônia

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Foto: Márcio Menasce/Embratur

A Galeria Visit Brasil – Amazônia foi oficialmente aberta no dia 23 de setembro, em Nova York, nos Estados Unidos (EUA). A iniciativa da Embratur, em parceria com o Sebrae, apresenta as riquezas da região amazônica e a sustentabilidade de vida das comunidades locais por meio de uma jornada multissensorial: música, artesanato, fotografia, artes visuais, moda e gastronomia. 

O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, participou da cerimônia de abertura e reforçou o objetivo do projeto.

O projeto inovador permite uma imersão pelo maior bioma do mundo instalado numa galeria de arte e receberá empresários, associações e operadores de turismo, formadores de opinião, influenciadores e jornalistas internacionais até o dia 27 de setembro.

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, também marcou presença no primeiro dia de galeria. Ela acredita que o espaço-conceito irá contribuir para uma maior conscientização sobre a importância da ancestralidade indígena brasileira em sua totalidade.

“É um espaço para a chamada da tomada de consciência, onde as pessoas que não conhecem a Amazônia de perto, que nunca visitaram a Amazônia, têm aqui uma noção do que é a Amazônia em toda a sua diversidade, de culturas, de povos, de territórios, de espécies, e essas espécies precisam ser protegidas não só por nós indígenas, mas por todas as pessoas”, afirmou Guajajara.

De acordo com a diretora de Administração e Finanças do Sebrae, Margarete Coelho, a parceria entre a entidade e a Embratur aproxima o Brasil dos Estados Unidos e do público-alvo. “É aqui, na Galeria Visit Brasil, que o turismo brasileiro, principalmente com o destino da Amazônia, está sendo apresentado para os Estados Unidos e para o mundo. O Sebrae e a  Embratur têm uma parceria longeva, potente e que tem preparado os pequenos negócios para serem cada vez mais efetivos, mais lucrativos, mais sustentáveis, mais inclusivos e inovadores também no turismo”, pontuou Margarete Coelho. 

Estratégia

O mercado norte-americano é estratégico para a Embratur. Os Estados Unidos foram o segundo maior emissor de turistas internacionais para o Brasil em 2023, atrás apenas da Argentina. Segundo o Portal de Dados da Embratur, o país enviou 668.478 visitantes aos destinos brasileiros no ano passado, um salto de mais de 50% em relação a 2022, quando 441 mil turistas dos EUA visitaram o Brasil. De janeiro a agosto deste ano, já foram 461,3 mil visitantes. 

Para o cônsul-geral do Brasil em Nova York, Adalnio Senna, a importância deste momento vai além do turismo. “É importante uma integração global que mostre a importância da Amazônia para o mundo. Temos a convicção de que a partir da COP30 tenhamos uma inflexão positiva para manter a floresta em pé, sob a liderança do Brasil. Bioeconomia e transição energética são temas prioritários que tratamos com os Estados Unidos”, reforçou. 

Amazônia Legal

Os estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Pará, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão compõem a região amazônica, segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até 27 de setembro, os visitantes irão participar de painéis com representantes de entidades ligadas ao turismo sustentável, bioeconomia e a promoção de toda a Amazônia, exposições digitais de fotógrafos brasileiros renomados, degustação da gastronomia regional de chefs brasileiros e experiências interativas. 

Leia também: Entenda a diferença entre Amazônia Legal, Internacional e Região Norte

Para o governador do Pará, Helder Barbalho, a Galeria é uma oportunidade de os norte-americanos conhecerem mais sobre a diversidade do estado. “Esta imersão na Amazônia, este chamamento para que se possa conhecer um pouco da experiência das nossas belezas, das nossas riquezas, certamente alavanca a visibilidade, a estratégia de apresentação da Amazônia”, afirmou.

O governador de Rondônia, Marcos Rocha, endossou as palavras de Barbalho. “A Amazônia é um local diferenciado. Ela faz com que a gente sinta experiências únicas, que não existem em outros lugares. Existem locais que o mundo sempre fala, agora é hora de conhecer esses lugares”, acrescentou. 

Diversidade

A riqueza de ingredientes amazônicos será representada por chefs brasileiros renomados que estarão no comando da cozinha da Galeria Visit Brasil em Nova York, promovendo degustações para encantar os visitantes internacionais. Para o chef paraense Saulo Jennings, um dos nomes que integram o time da gastronomia do espaço, a galeria consolida a Amazônia em um alto patamar da gastronomia mundial.

“Recentemente, fui nomeado pela ONU como embaixador do turismo gastronômico mundial e acredito que essa galeria vem mostrar toda essa diversidade do nosso turismo, diversidade do que a gente tem para oferecer para o mundo. É uma oportunidade de levar para o Brasil pessoas importantes, networking para a gente transformar em negócio e geração de emprego e renda”, finalizou. 

Conectividade

A promoção internacional da região amazônica também é acompanhada de uma estratégia que busca ampliar a conectividade aérea. A Embratur atua em parceria com as companhias aéreas para atrair novos voos internacionais, em acordos que preveem promoção conjunta das novas rotas. Hoje, os  visitantes estrangeiros podem acessar a região pela nova rota Lisboa (PT)-Belém (PA)-Manaus (AM), da companhia aérea TAP. Além disso, a frequência de voos para a região também aumentou. Atualmente são cinco voos Lisboa-Belém (TAP) e sete saindo de Fort Lauderdale, nos Estados Unidos, para Belém, pela Azul.

*Com informações da Embratur

Pescadores temem que Manaus sofra escassez de peixes devido à seca

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Para os feirantes o maior aumento foi na logística para trazer o pescado até Manaus. Foto: Lucas Macedo/g1 Amazonas

A seca severa que atinge o Amazonas deve ocasionar a escassez de peixe nas feiras e mercados de Manaus ainda em 2024, é o que diz a Federação de Pescadores do Amazonas (Fepesca-AM). Os impactos já são sentidos no bolso de quem compra e de quem depende da venda do animal para sobreviver.

Na sexta-feira (20), data da atualização mais recente, o nível do Rio Negro em Manaus era de 15,08 metros. No último dia 11, a Prefeitura de Manaus declarou situação de emergência na cidade.

Segundo a Fepesca-AM, com a redução drástica dos níveis dos rios, muitos pescadores enfrentam dificuldades para acessar os pontos de pesca tradicionais, o que pode significar uma redução na oferta de peixe no estado.

A situação se agrava com o aumento dos custos operacionais, uma vez que os pescadores precisam se deslocar para áreas mais distantes e menos produtivas. Durante o período de seca, as embarcações têm dificuldade de acesso aos locais. Por conta dessas variáveis, o preço dos peixes também pode subir.

Leia também: Seca histórica do Rio Madeira afeta transporte de cargas em Porto Velho

O pescador ainda ressalta que, o jaraqui, uma das espécies mais consumida pelos amazonenses, pode sofrer um aumento de até 40% neste devido a dificuldade da logística no atual cenário do estado.

Luiz Carvalho, de 52 anos, é vendedor de peixes na Feira da Manaus Moderna e garante que o frete para trazer o peixe está mais caro.

“Hoje tem mais dificuldade do peixe chegar até o consumidor. O que vem sendo caro é a logística, canoa, carreteiro, gelo”, explicou o feirante.

Outro trabalhador da feira, Thiago Queiroz, de 22 anos, afirmou que a dificuldade para o transporte da produção vem desde o início da seca, em julho deste ano.

Os impactos já são sentidos pelos consumidores. A autônoma Célia Amazonas, 62 anos, diz que não abre mão do peixe na mesa de casa, mas se surpreendeu negativamente com os valores.

“Eu consumo bastante peixe, só que hoje o peixe está mais caro que a carne, um absurdo. Antes comprávamos seis unidades de jaraqui por R$10, hoje em dia está custando seis (unidades) por R$25 ou R$30″, comentou.

Impacto Econômico

Segundo a economista Michele Aracaty, uma alternativa para driblar a escassez é a importação de pescado do estado de Rondônia, mas a medida pode não surtir efeito por muito tempo.

A economista, ressalta ainda, que o impacto da seca não se aplica só aos peixes, mas em toda a produção que é comercializada no estado por meio dos rios.

Levando-se em consideração a relevância regional dos rios todo e qualquer alteração ocorrida neste cenário impacta sobre o cotidiano de todos. No período da estiagem ou seca dos rios culturalmente os produtos ficam mais escassos o que eleva o seu preço para o consumidor final sem contar a ampliação do prazo de entrega”, explicou Michele.

Medidas do Governo do Amazonas

Em nota, o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM), informou que o Governo do Amazonas está em fase inicial de estudos para encontrar uma solução para os pescadores que sofrem o impacto da estiagem.

Para mitigar os impactos da estiagem, algumas iniciativas estão sendo propostas, informou o Idam. Organizações locais e entidades governamentais estão discutindo estratégias para a recuperação dos habitats aquáticos e a implementação de sistemas de monitoramento que ajudem a prever e gerenciar melhor os recursos pesqueiros.

“O Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam) informa que está em fase de levantamento de informações, por meio de 75 Unidades Locais (UnLoc’s) e postos avançados próprios, para identificar as necessidades dos pescadores artesanais no estado, que, atualmente, são mais de 60 mil, durante a estiagem”, afirma a nota.

O órgão também explica que mesmo com a grande vazante das calhas dos rios, os valores dos pescados que são comercializados no estado, ainda não sofrem um grande aumento.

“Com relação ao preço do pescado durante a estiagem, embora a captura seja mais fácil por conta da baixa da água dos rios, a tendência é o aumento do valor em algumas regiões do estado devido aos entraves logísticos. Por isso, o Idam tem realizado ações de crédito para que o pescador artesanal tenha meios para custear a atividade e garantir a chegada da produção dele nos mercados consumidores”, conclui o IDAM.

*Por Lucas Macedo, da Rede Amazônica AM

Pará avança na criação de parque para preservação das árvores gigantes da Amazônia

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Foto: Fernando Sette

O Dia da Árvore, em 21 de setembro, foi celebrado em todo o Brasil, destacando a importância da preservação ambiental. No Pará, as comemorações ganham um significado especial devido aos esforços para a criação do Parque Estadual das Árvores Gigantes da Amazônia. A nova Unidade de Conservação (UC), prevista para ser instituída nas próximas semanas, tem como objetivo proteger a maior árvore da América Latina e uma das maiores do mundo, um angelim-vermelho (Dinizia excelsa) de 88,5 metros de altura.

Leia também: Consulta pública é realizada no Oeste do Pará para criação da UC Árvores Gigantes da Amazônia

Descoberta em 2018, a árvore monumental está na Floresta Estadual (Flota) do Paru, município de Almeirim, no oeste paraense, a mais de 800 quilômetros de Belém. Ao seu redor foram identificadas outras 38 árvores de grande porte, duas com mais de 80 metros. Esta é a maior incidência de árvores gigantes na Amazônia, evidenciando a biodiversidade da localidade e sua prioridade nos planos de conservação do bioma.

A iniciativa para a criação do Parque Estadual das Árvores Gigantes é liderada pelo Governo do Pará, por meio do Ideflor-Bio, em parceria com a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e financiamento do Andes Amazon Fund (AAF). Em maio de 2024, uma nova expedição foi realizada para aprofundar análises físicas e biológicas, a fim de estabelecer uma área protegida que preserve as árvores gigantes.

Foto: Fernando Sette

Descobertas

Durante a expedição realizada em maio, um grupo de pesquisadores e técnicos do Ideflor-Bio, IFAP e FAS percorreu rios e trilhas na Flota do Paru, coletando dados sobre a fauna, flora e características do solo. Foram identificadas novas árvores gigantes, incluindo exemplares de angelim-vermelho com mais de 65 metros de altura. Esse achado revelou a existência de um verdadeiro santuário de árvores gigantes, indicando que sua ocorrência é mais frequente e dispersa pelo território do que se imaginava.

Além do papel fundamental na preservação da biodiversidade, as árvores gigantes têm uma função vital na regulação do clima, absorvendo grande quantidade de carbono e ajudando a mitigar os impactos das mudanças climáticas. Elas são abrigo e fonte de vida para uma ampla variedade de espécies, tornando-se um patrimônio cultural, histórico e científico.

Foto: Fernando Sette

Futuro do bioma

A criação da Unidade de Conservação não só protegerá essas árvores monumentais, mas também promoverá a pesquisa científica e a sustentabilidade na região. “Os esforços conjuntos do Governo do Pará e da sociedade civil salvaguardam não apenas o futuro do bioma, mas também promovem o bem-estar das comunidades locais e em todo o mundo,” destaca o diretor de Gestão da Biodiversidade do Ideflor-Bio, Crisomar Lobato.

Com a conclusão dos estudos e relatórios técnicos, o Governo do Pará realizou, no último dia 11 de setembro, consulta pública com moradores do distrito de Monte Dourado, pertencente ao município de Almeirim, que abriga a floresta onde está localizada a árvore monumental, sobre a criação da nova UC.

O superintendente de Inovação e Desenvolvimento Institucional da FAS, Victor Salviati, ressalta o simbolismo da iniciativa. “A recategorização parcial da Flota do Paru é um compromisso concreto do Estado com a conservação da Amazônia. É uma honra para a FAS prover apoio técnico e buscar parceiros financiadores para intensificar essas ações”, enfatiza.

*Com informações da Agência Pará

Agroecologia pode aliviar efeito da crise climática e gerar renda, apontam pesquisadores

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Foto: Divulgação/Acervo do projeto

Depois de algumas semanas com diversas cidades brasileiras encobertas por uma densa fumaça, fica difícil imaginar que esteja tudo “ok” com o clima. Sentimos literalmente na pele, seca, o efeito prolongado da baixíssima umidade do ar. Nos olhos e no pulmão o efeito da poluição. E mesmo que a maioria dos incêndios em si não sejam obra de uma ação direta e criminosa, o que o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas afirma há anos é que sim, grande parte das mudanças climáticas que fazem com que essas catástrofes sejam cada vez mais frequentes são, de fato, responsabilidade de ação humana.

A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), como Instituição de Pesquisa localizada em um estado que reúne três dos principais biomas do Brasil – Amazônia, Cerrado e Pantanal – e que estão sofrendo com as queimadas, é responsável por acompanhar esses fenômenos e propor inovações para que a sociedade possa mitigar os efeitos já bastante graves da crise climática.

Parte desses esforços podem ser vistos no campo da agricultura. Um dos principais setores responsáveis pela liberação de carbono fóssil na atmosfera, de acordo com o IPCC, é também um setor fundamental para a Economia de Mato Grosso, então o desafio dos pesquisadores é apontar as soluções para uma produção mais consciente. É o caso das pesquisas desenvolvidas pelo Centro Vocacional Tecnológico em Agroecologia (CVT AGROECO), coordenado pelo professor Henderson Nobre, do Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade (DFF) da Faculdade de Agronomia e Zootecnia (FAAZ).

Em duas pesquisas apresentadas durante o X Congresso Internacional de Agroecologia, entre os dias 2 e 6 de setembro, em Portugal, os pesquisadores do CVT AGROECO apontaram possíveis formas de diminuir os impactos da produção.

A primeira delas é referente ao projeto “Do Campo à Mesa”, cujo objetivo é consolidar cadeias produtivas baseadas em princípios agroecológicos de integração de árvores com os cultivos em uma mesma área e no uso de tecnologias de baixo carbono, permitindo aos agricultores familiares aumentar sua renda com o fortalecimento de redes locais de comercialização, sem agredir o meio-ambiente.

“A gente pode dizer que os sistemas agroflorestais são uma das estratégias mais promissoras no sentido de alcançar um equilíbrio dinâmico dentro das áreas agrícolas, porque incorporam uma grande gama de processos ecológicos que conseguem, com isso, promover essa mitigação das mudanças climáticas. Por exemplo, a incorporação de árvores no sistema, o banimento do uso de agrotóxico, o melhor reuso da água, a cobertura do solo, evitando erosão e a menor pressão sobre as áreas de ecossistema natural em função dessa otimização dos agroecossistemas”, completou.

Nesse sentido, o projeto do Campo à Mesa teve como principais resultados a implantação de 47 unidades de referência em sistemas agroflorestais, que representam um manejo de cerca de 900 hectares, em 10 municípios da Baixada Cuiabana.

Outro estudo, esse do pesquisador associado ao CVT AGROECO e doutorando do Programa de Pós Graduação em Agricultura Tropical (PPGAT), Rafael Laranja, focou na produção de algodão via sistema agroflorestal como alternativa sustentável. Neste, concluiu-se que essa é uma alternativa viável para a agricultura familiar do estado, proporcionando benefícios ambientais e econômicos.

Já existem práticas da agroecologia sendo utilizadas, aponta o pesquisador. O uso de adubação verde para rotação de culturas, plantio direto, controle de pragas e doenças com microrganismos ao invés de agrotóxicos; todas estratégias no sentido de promover uma transição em pequena, média e grande escala.

“Fato é que a gente precisa de uma mudança de jeito, de matriz tecnológica de fazer agricultura. E, nesse sentido, nós da UFMT, com os projetos do CVT AGROECO, já estamos jogando uma luz, um farol para onde essa agricultura pode caminhar no sentido de alcançar mais sustentabilidade”, concluiu.

*Com informações da UFMT

Papel é produzido a partir da fibra do caroço do açaí no Pará

Foto: Divulgação/UFRA

Além de cultura alimentar na Amazônia, o açaí é um dos principais produtos de exportação do Pará. Dados divulgados pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) apontaram que só no primeiro quadrimestre de 2024, o Pará exportou 4,2 mil toneladas de açaí. Um número que mantém o estado na liderança nacional de produção do fruto.

Mas a preocupação de pesquisadores como a professora Lina Bufalino, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), não é o açaí consumido ou o que sai da região. Mas o que sobra disso tudo.

O caroço do açaí é um poluente ambiental que ainda não possui uma destinação adequada na região.

Diante dessa preocupação surgiu o AmazonCel, o primeiro laboratório de produção de celulose a partir da fibra de caroço do açaí. A fibra é aquele “pelinho” que encobre o caroço depois que é extraída a polpa. Pelo menos oito equipamentos instalados no laboratório possibilitam toda a linha de produção de celulose até a formação do papel.

“Existem outros laboratórios de celulose no Brasil, mas a intenção do AmazonCel é o contexto da Amazônia, porque a maioria dos laboratórios produz a partir do eucalipto, enquanto o AmazonCel visa atender demandas relacionadas à matérias-primas da Amazônia”, explica. O laboratório Amazoncel foi inaugurado na Ufra em junho de 2024, a partir de recursos da Fundação de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa).

O projeto visa o potencial da fibra do caroço do açaí na produção de embalagens, que podem ser utilizadas na indústria de cosméticos, farmacêutica, alimentícia. “Hoje fazemos um protótipo desses papéis, porque precisamos descobrir a melhor forma de produção e aí sim pensar num escalonamento de produção”, explica Bufalino.

Os estudos iniciais focam na fibra do caroço do açaí, mas há a possibilidade de que sejam utilizadas outras fibras de plantas amazônicas. “A estrutura que temos vai permitir que futuramente possamos diversificar e testar outras matérias-primas, como o Miriti; cipó titica, Paricá, tachi branco, são várias possibilidades”, afirma.

Os pesquisadores já conseguiram produzir o papel de forma eficiente, agora estão realizando testes para verificar o quanto o produto é resistente.

O caroço, recolhido junto a batedores de açaí da cidade, precisa passar por um tratamento antes que vire papel. É preciso lavá-lo, secá-lo e depois separar as fibras.

“Nesse primeiro processo há um grande potencial de envolvimento e parceria de cooperativas e das comunidades nessa separação, porque para a fabricação do papel precisamos de fibra em muita quantidade”, diz.

A equipe também está planejando o desenvolvimento de máquinas que possibilitem essa remoção e auxiliem no processo, visando a transferência dessa tecnologia para mais pessoas.

Foto: Divulgação/UFRA

Etapas para a produção do papel

  • Com as fibras em mãos, o papel pode ser produzido em três dias, passando por oito equipamentos na linha de produção.
  • O primeiro processo se chama polpação ou cozimento, um processo em alta temperatura, pressão e com reagentes químicos. É um processo que serve para isolar a celulose.
  • A partir disso é preciso fazer uma limpeza dessa polpa, em um processo chamado depuração, onde será coletada qualquer sujeira ou fibra que não foi bem despolpada e precisa ser limpa.
  • Depois disso é feito um refino, que serve para deixar a fibra mais reativa, o que dá uma resistência melhor ao papel.
  • Então é feito o processo de formação da folha, onde são usados quatro equipamentos, incluindo uma prensa de folhas;
  • Aí se tem o papel pronto.

Óleo amazônicos

Outra etapa do projeto é associar esse papel à óleos amazônicos bem conhecidos na região, como a copaíba e a andiroba. Lina Bufalino explica que esses óleos poderiam agregar ao papel capacidade antifúngicas antibacterianas, por exemplo, o que seria interessante para a indústria de cosméticos.

“Ultimamente também estamos fazendo alguns papeis com valor decorativo, então seria interessante esses aromas para a identidade de papéis da Amazônia”, observa.

Para esses estudos é necessário um Nanofibrilador, equipamento que deve chegar ainda esse ano ao laboratório.

O caroço que fica

Enquanto a fibra tem potencial para produtos de maior valor agregado, ainda assim sobra o caroço. Segundo a pesquisadora, o caroço apresenta enorme potencial de virar bioenergia e biocarvão, ambas pesquisas que também são feitas pelo grupo.

“Bioenergia seria a queima direta do resíduo para produção de energia, algumas empresas já fazem isso”. Ela explica que para a bioenergia é necessário que tenha muita disponibilidade de resíduo (biomassa), o que é o caso do caroço.

O caroço também tem alta densidade, o que significa que num pequeno volume de caroço há bastante massa e consequentemente bastante energia estocada. “ Na prática isso significa maior rendimento energético ou maior rendimento em carvão vegetal”.

Já na produção como carvão, o Biochar, o caroço tem a vantagem de ter um tamanho regular, o que possibilita que a carbonização seja feita de modo regular. Mas é preciso ter cuidado com a carbonização, a partir de um processo chamado pirólise. “É um processo que temos que ter a presença controlada ou ausência de oxigênio. Se não tiver isso, a biomassa vira cinza, para ela virar carvão, essa degradação térmica tem que ser controlada”, explica.

O Biochar tem sido utilizado na agricultura, especialmente como potencial para recuperação de solos degradados e como retenção de carbono, estimulando os chamados créditos de carbono. O projeto também é desenvolvido por outros pesquisadores da universidade.

Lina Bufalino explica que o maior desafio com relação à bioenergia e biocarvão é a alta umidade do caroço. Mas a equipe já tem esse trabalho em andamento, testando formas de secagem para acelerar esse processo. “Além de perspectivas futuras, como secadores solar”, diz a professora.

*Com informações da UFRA

Quantas agremiações concorrem ao Festival Folclórico de Santarém? Saiba a resposta dessa e outras curiosidades

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A Associação Santarena dos Grupos Folclóricos (ASGRUF) e a Associação da Liga Independente dos Grupos Folclóricos de Santarém (ALISGRUF), juntos, realizam o Festival Folclórico de Santarém. No total, são 35 grupos e os espetáculos ocorrem na Praça Barão de Santarém, tradicionalmente na última semana de agosto.  

O festival valoriza a cultura e a história do município, através das modalidades folclóricas como: carimbós, danças folclóricas, quadrilhas tradicionais, quadrilhas estilizadas, quadrilhas de matutos e humorísticos. O evento conta ainda com o apoio da Prefeitura Municipal de Santarém (PMS) e Secretaria Municipal de Cultura (SEMC).

Confira as 35 agremiações: 

Foto: Divulgação/Prefeitura de Santarém

Grupos de Carimbó

  1. Mistura de Carimbó
  2. Carimbó do Pará
  3. Encantos do Tapajós
  4. Conquista de Carimbó
  5. Gingado Paraense
  6. Bailado de Carimbó
  7. Festa de Carimbó
  8. Sedução de Carimbó
  9. Encanto de Carimbó
  10. Regional Tapajoara

Grupos de Quadrilha Estilizada

  1. Flor Do Sertão
  2. Funk na Roça
  3. Aquarela do Brasil
  4. Furacão Junino
  5. Raiar do Sertão
  6. Coração Brasileiro
  7. Quadrilheiro Show
  8. Junina Caipira
  9. Big Ben
  10. Meu Xodó

Grupos de Quadrilha Humorística

Foto: Divulgação/Prefeitura de Santarém
  1. Só Fuleragem
  2. As Peruas Na Roça
  3. Daninhas Poderosas
  4. Bofes e Babados
  5. As Popozudas
  6. Fuzuê das Laranjeiras
  7. As Turbinadas da Bebel
  8. Indecisos na Roça
  9. Imperatriz Real
  10. Nós na Roça

Grupos de Quadrilha tradicional 

  1. Trevo do Amor
  2. Flor Do Pará
  3. 5 Aros
  4. Estrela Dalva
  5. Coração Paraense

Jurados e quesitos de avaliação  

Cada agremiação é avaliada por um grupo de 3 jurados, especialistas em conhecimentos de artes e cultura, que examinam cada categoria, de acordo com o que pede o regulamento do festival de forma imparcial. 

Quesitos avaliados

Por mais que em outros grandes festivais, como o de Parintins, no Amazonas, a avaliação seja dividida em diversas categorias, pelo volume de apresentações, o de Santarém criou um sistema mais simples, mas que abrange todas as características necessárias dos grupos:

Marcador

Coreografia  

Evolução  

Vestuário

Casamento na roça

Valsa e organização do conjunto folclórico

E aí? Já conhecia os detalhes dessa festa?

Especialista fala sobre causas e consequências dos incêndios na Amazônia: “proposital”

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A Amazônia teve 2.026.474 hectares de área queimada somente no mês de agosto, segundo o Monitor do Fogo, do instituto MapBiomas. O Pará é o segundo estado brasileiro mais afetado, ficando atrás apenas do Mato Grosso (MT).

Em 20 de setembro, véspera do dia da árvore, o estado do Pará contabilizava 309 focos de queimadas em 22 municípios, segundo monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O município de São Félix do Xingu, sudeste paraense, ocupava a terceira posição nacional entre os municípios brasileiros que mais estão queimando.

No dia 17 de setembro, o governador do Pará, Helder Barbalho, decretou situação de emergência no estado e autorizou a mobilização de todos os órgãos estaduais para “atuarem sob a coordenação da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil nas ações de resposta ao desastre e reabilitação do cenário, incluindo a execução de programas e projetos prioritários de recuperação”, conforme consta no decreto.

O agravamento das queimadas e da seca severa ocorre em todo o território paraense, sendo as regiões mais afetadas o Araguaia, Baixo Amazonas, Carajás, Guajará, Guamá, Lago de Tucuruí, Marajó, Rio Caeté, Rio Capim, Tapajós, Tocantins e Xingu. No mesmo dia o governador lançou o Plano Estadual de Ações de Combate à Estiagem, Queimadas e Incêndios Florestais (PAEINF 2024), com uma série de ações urgentes.

Em 27 de setembro o estado já havia decretado situação de emergência, proibindo a utilização do fogo, inclusive para limpeza e manejo, documento válido por 180 dias e que prevê sanções penais, civis e administrativas para quem descumprir as determinações.

Para o professor Divino Silvério, doutor em ecologia e docente da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), campus Capitão Poço, há mais pessoas usando o fogo propositalmente. Isso, associado às condições climáticas de maior temperatura e menor umidade, o que acaba facilitando a propagação do fogo e a multiplicação dos incêndios na região.

Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Nessa entrevista, o professor, que atua na área de ecologia do fogo, fala sobre as principais causas de incêndio na Amazônia, as políticas de manejo do fogo, impactos do fogo para a biodiversidade, e o papel das terras indígenas e unidades de conservação na proteção contra o fogo.

Professor, quais seriam as principais causas do aumento de incêndios na região amazônica?

Divino Silvério: O uso do fogo na Amazônia está geralmente associado a três diferentes objetivos: manejo de áreas abertas, principalmente áreas de pastagem; limpeza de áreas recém desmatadas e sistema corte e queima na agricultura familiar e comunidades tradicionais. A maioria esmagadora dos incêndios está associado aos dois primeiros objetivos, ou seja, o uso como ferramenta de manejo das áreas abertas, geralmente pastagens, e a limpeza de áreas recém desmatadas. Um dos grandes problemas, é que esse fogo costuma sair do controle e avançar para as áreas de vegetação nativa, resultados em processos extensos de degradação florestal.

O uso do fogo aqui na região teria uma questão cultural?

Divino Silvério: A maioria dos incêndios está relacionada ao uso como ferramenta de manejo das áreas já degradadas, as pastagens. É uma grande quantidade dos incêndios iniciando nessas áreas já desmatadas. O fogo tem sido utilizado tradicionalmente com diferentes propósitos e faz parte da cultura de diversas comunidades tradicionais, principalmente as populações ribeirinhas e os povos indígenas. Isso é um fato. No entanto, para a Amazônia em particular, esse uso tradicional do fogo não é o responsável pelos grandes incêndios, não é a principal causa desses aumentos exacerbados da quantidade de queimadas. Eles contribuem para a soma total de incêndios, sobretudo em condições mais extremas de seca. Alguns desses incêndios, mesmo que conduzido de forma tradicional, podem sair do controle e avançar além da área planejada para ser queimada causando prejuízos indesejados. Assim, o fogo também pelas comunidades tradicionais também deve ser repensado nessas condições mais extremas como a que estamos passando agora, até como uma estratégia para amenizar os efeitos das mudanças climáticas.

Se dividirmos os números dos incêndios por causa do manejo de áreas desmatadas para pastagem, limpeza de áreas novas e desmatamento, eles representam a maioria dos incêndios. Especialmente aqueles que escapam do controle e acabam indo para as áreas de vegetação nativa. Há uma pequena fração que está associada ao uso tradicional. Este número pode variar de acordo com o ano, mas é uma fração menor”.

Por que é urgente a recomendação para que não ocorra essa queima? O que é queima prescrita?

Divino Silvério: Primeiro precisamos entender que o conceito do manejo do fogo é amplo e representa uma estratégia sobre como lidar com o fogo na paisagem. O manejo do fogo não quer dizer queima prescrita. Queimada prescrita é o uso do fogo de forma planejada e controlada, e seu uso tem ocorrido no Cerrado nos últimos anos, principalmente em áreas de conservação pelo ICMBio. Quando pensamos no manejo do fogo para o Cerrado, pode haver sim queimada prescrita. Manejo do fogo para a Amazônia, não deve incluir queimada prescrita para vegetação nativa, o ecossistema não é adaptado a este distúrbio e os prejuízos ecológicos são enormes. Mesmo assim, precisamos pensar o manejo do fogo na Amazônia, o fogo é um problema em grande escala que precisa de uma estratégia de gestão bem definida. Para agricultura familiar por exemplo, podemos incentivar e apoiar o uso de outras ferramentas para a limpeza de áreas para cultivo que dispensam o uso do fogo. Então, tem uma série de outras medidas, ações de manejo que podem ser pensadas e que não necessariamente implicam o uso do fogo.

A Amazônia possui alguma característica específica que a torna mais vulnerável?

Divino Silvério: A Amazônia é um ecossistema que não tem adaptações ao fogo. O normal é não ter fogo. O fogo sempre foi um fator bastante raro nesse ecossistema, ocorrendo somente em intervalos de milhares de anos. Então as espécies, o ecossistema como um todo, não estão adaptados ao fogo. Quando ocorre um incêndio, as consequências para a biodiversidade, para o funcionamento desse ecossistema são devastadoras em todas as dimensões.

Que tipos de consequências?

Divino Silvério: O fogo na Amazônia causa grandes prejuízos, como a morte de muitas árvores e a redução do estoque de carbono, o que afeta diretamente a capacidade da floresta de regular o clima. Espécies mais sensíveis ao fogo podem ser extintas localmente, prejudicando relações ecológicas, como a interação entre plantas e animais. Além disso, a ocorrência de um incêndio torna a floresta mais vulnerável a novos incêndios, pois nos anos seguintes as copas das árvores permitem a entrada de luz aumentando a temperatura e há um acúmulo de material seco que serve como combustível.

Os incêndios também afetam a saúde pública, pois aumentam a concentração de fumaça, piorando a qualidade do ar e causando problemas respiratórios. Esse impacto é prolongado e afeta principalmente as crianças e as pessoas idosas. Por isso, é crucial que todos evitem o uso do fogo, principalmente durante este período mais seco, quando o risco dos incêndios sair do controle é maior. A infraestrutura de combate a incêndios na região amazônica é muito pequena, o que torna as ações de prevenção a principal ferramenta para evitar catástrofes ambientais e sociais associadas aos incêndios.

Existem regiões aqui no Pará em que incêndios e queimadas são mais frequentes? Há um motivo para isso?

Divino Silvério: Em geral, o que temos observado é que os municípios com maior porcentagem de áreas já desmatadas também são os que apresentam maior frequência de fogo. Então, os municípios do Pará que estão no arco-do-desmatamento apresentam, invariavelmente, uma grande quantidade de incêndios. Por outro lado, a região oeste do estado onde estão os maiores contingentes de floresta intactas, e menor densidade de pessoas, coincide com a região com menor quantidade de incêndios. Este padrão tem se repetido nos últimos 20 anos. Além disso, a região ao longo das grandes rodovias, como a Belém-Brasília, com fronteira agrícola mais antiga, concentra uma quantidade de incêndios maior que em outras regiões.

Nesse sentido, os territórios indígenas e unidades de conservação ainda conseguem atuar como barreira climática, ou também estão sendo afetados?

Divino Silvério: Nas últimas décadas está muito claro que os territórios indígenas têm servido como uma forte barreira tanto contra o desmatamento quanto aos incêndios, que são muito mais reduzidos nessas áreas protegidas, assim como nas unidades de conservação. Esse é um padrão ainda vigente e importante. Porém nos últimos anos a gente observa que em anos com seca e, esse escudo de proteção está se enfraquecendo. As terras indígenas têm uma contribuição histórica para a redução dos incêndios florestais, mas é uma região que está também em transição. Essa força está se tornando um pouco mais fragilizada, devido às condições mais recentes de mudança do clima que acabam favorecendo grandes incêndios florestais, mesmo dentro das áreas protegidas. É uma situação mais nova.

É possível pensar num plano integrado de prevenção, reunindo todos os biomas, já que eles acabam se relacionando?

Divino Silvério: Sim, eu acho que é possível. Tem algumas experiências interessantes, o Estado tem um papel primordial nessas políticas, que é tanto de uma política de campanhas de conscientização quanto uma política de fiscalização, mais eficiente e até antecipada. Isso passa por ações planejadas de uso, de manejo integrado do fogo em todas as diferentes paisagens. Quando falamos em manejo, é uma coisa diferente para o Cerrado, é outra completamente diferente para a Amazônia, mas essa ideia da percepção do fogo e olhar como um manejo é uma questão que precisa avançar.

A Política Nacional de Manejo do Fogo (LEI nº 14.944, de 2024), recém aprovada, traz um arcabouço legal para ampliar essas ações associadas ao manejo integrado do fogo. É um marco importante, porque antes existia a política de fogo zero, que não permitia utilizar o fogo como ferramenta de manejo da paisagem, mesmo para o Cerrado que é mais adaptado ao fogo. Esta nova lei abre possibilidades desse manejo do fogo ser pensado em mais a longo prazo. Vale relembrar, no entanto, que para a Amazônia, manejo do fogo não precisa e não deve incluir queimada prescrita da vegetação nativa.

Esta nova lei representa um ganho, um avanço, mas outros aspectos, como a quantidade de recursos alocados para o combate aos incêndios, ainda são insuficientes. Uma resposta rápida com ações de comando e controle emergenciais, demanda mão de obra e equipamentos prontamente disponíveis. Mas isso precisa ser pensado como uma política de longo prazo para as brigadas de incêndio. Por exemplo o contrato dos brigadistas dura apenas alguns meses, por isso ações de prevenção que precisam de atenção no período de menor incidência do fogo ficam prejudicadas. As políticas públicas precisam serem repensadas para incorporar no manejo do fogo de longo prazo, tanto as ações de prevenção quanto de conscientização, que são mais baratas e mais eficientes do que ações de resposta nos momentos de crise.

O decreto emergencial do governo do estado do Pará, que proibiu qualquer uso do fogo na região, é importante?

Divino Silvério: É positivo porque prevê a mobilização de órgãos estaduais para ações de enfrentamento a atual crise relacionada ao grande número de incêndios no estado. Acredito que isso facilita a fiscalização e ajuda coibir os incêndios criminosos. Mas é bom lembrar que queimadas em áreas de vegetação são proibidas por lei a qualquer tempo. Isso não é algo temporário, é permanentemente proibido o uso do fogo em qualquer área com vegetação nativa.

*Com informações da Ufra

7 atos de incentivo à educação e cultura promovidos pelo projeto ‘Pipoca em Cena’

Há quase 10 anos, o projeto ‘Pipoca em Cena’ tem a missão de difundir a sétima arte para o Amazonas. O projeto, que nasceu em 2015, já levou programação de qualidade para diversas comunidades do Estado, sempre pensando em como o audiovisual pode ajudar na educação e estimular os jovens.

Confira algumas curiosidades do projeto nessa década de atividades:

  • A primeira edição do ‘Pipoca em Cena’ aconteceu no dia 27 de junho de 2015, no Centro de Convivência Pedro Vignola, na Cidade Nova, já com o objetivo de difundir a sétima arte para todo o Amazonas.
  • No início, o ‘Pipoca em Cena’ levava sessão de cinema, intervenções artísticas e informativas para diferentes bairros de Manaus, sempre priorizando as comunidades mais carentes.
  • A primeira edição teve como tema ‘dança’, com apresentação ao público da Cia Sesc de Dança, e a exibição do filme ‘Hairspray‘, filme baseado em um musical da Broadway (EUA). Toda edição tem um tema e, em 2024, trata dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
  • O nome ‘Pipoca em Cena’ é levado a sério! Durante as exibições dos filmes, a equipe do projeto distribui pipoca para os espectadores, em um momento de relaxamento para os participantes.
  • A partir de 2017, o ‘Pipoca em Cena’ passou a desafiar estudantes de escolas públicas de Manaus. Além de aprender sobre a sétima arte, os jovens passaram a receber orientações de profissionais do audiovisual e desenvolver os próprios curtas-metragens.
  • Para celebrar o projeto, a equipe prepara um dia especial, geralmente, na escola onde as oficinas aconteceram. Na ocasião, os curtas-metragens desenvolvidos pelos estudantes participam de uma mostra e os familiares também são convidados a assistir o resultado do esforço e criatividade dos alunos.
  • Nessa jornada, o projeto já conta em seu currículo com mais de 50 produções feitas pelos alunos!
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

Sobre o Pipoca em Cena

A décima edição do Projeto Pipoca em Cena, da Fundação Rede Amazônica (FRAM), tem o apoio institucional da Globo Filmes; Policia Militar do Amazonas; Secretaria de Estado de Educação e Deporto Escolar (SEDUC); e o apoio da Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC); Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SEC) e Governo do Amazonas.