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Cachoeiras estão entre atrações imperdíveis do Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas

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Foto: Reprodução/Ideflor-Bio

Localizado no estado do Pará, o Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas (PESAM) é um dos tesouros naturais da região, abrigando mais de 30 cachoeiras, além de trilhas, cavernas e sítios arqueológicos.

Saiba mais: Tesouro natural paraense: conheça o Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas

Entre as quedas d’água mais visitadas, destacam-se a Cachoeira das 3 Quedas e a Cachoeira Spanner, que encantam turistas em busca de contato com a natureza e aventura:

Cachoeira das 3 Quedas

Localizada próxima à entrada do PESAM, na BR-153, a Cachoeira das 3 Quedas é um dos principais atrativos do parque. O nome se deve à sua formação, composta por três quedas sequenciais, criando um espetáculo visual. O local é ideal para aqueles que buscam tranquilidade, banhos refrescantes e uma imersão na biodiversidade amazônica.

Cachoeira Spanner

Outra atração natural do parque é a Cachoeira Spanner, uma das mais frequentadas. Com uma queda d’água imponente com cerca de 70 metros e piscinas naturais propícias para banho (com profundidade entre um a dois metros), a Spanner atrai visitantes em busca de sossego e contato direto com a natureza. Seu ambiente cercado por vegetação torna a experiência ainda mais especial.

Foto: Reprodução/Ideflor-Bio

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Novas quedas d’água

Duas novas cachoeiras foram descobertas no PESAM recentemente. O achado foi feito por equipes da Gerência da Região Administrativa do Araguaia (GRA) do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio).

As quedas d’água estão localizadas em uma área montanhosa de difícil acesso na Unidade de Conservação (UC). Elas foram identificadas pelo ex-titular da GRA, Douglas Costa, durante um monitoramento aéreo pela região no ano de 2019, como parte do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), que financia ações e projetos no Parque.

Batizadas como Cachoeira Andorinha e Cachoeira Martírio, as cascatas foram localizadas pelos condutores de trilhas Roberto Cerqueira, Oséias Passos e Francinaldo Alves, dos grupos Raposas da Serra e GAAV.

O local fica a cerca de 10 km da região da Cachoeira Três Quedas, em uma área que pode ser acessada apenas com ajuda de condutores de trilha.

Foto: Ascom Ideflor-Bio

Outras atrações

Além das cachoeiras, o Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas oferece outras opções para os amantes do ecoturismo:

  • Trilhas: Percursos de diferentes níveis de dificuldade, ideais para caminhadas e observação da fauna e flora local;
  • Cavernas: Locais com formações rochosas únicas e muitas histórias;
  • Sítios arqueológicos: Registros de civilizações antigas que habitaram a região;
  • Formas rochosas: Esculturas naturais curiosas esculpidas pela ação do tempo;
  • Praias de água doce: Pequenos refúgios propícios para relaxamento e contemplação.

Entre as formações rochosas mais grandiosas, destaca-se a Casa de Pedra, um dos pontos mais altos da Serra das Andorinhas, que proporciona uma visão panorâmica da paisagem ao redor.

Leia também: Casa de Pedra, o coração do Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas

Foto: Reprodução/Ideflor-Bio

Dicas para uma visita segura

Para aproveitar ao máximo a visita ao PESAM, é essencial contar com um condutor de trilha autorizado pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio). O acompanhamento garante uma experiência segura, respeitando as normas ambientais e preservando a beleza natural do parque.

O biólogo do Instituto, Wagner Bastos, ressalta a importância desses profissionais para evitar qualquer intercorrência durante o passeio:

“Contratar um condutor de trilha devidamente autorizado pelo Instituto é fundamental para garantir a segurança dos visitantes ao explorar os pontos turísticos do Parque Estadual da Serra dos Martírios/Andorinhas. Além de conhecerem profundamente a região, esses profissionais estão preparados para lidar com possíveis situações de risco, proporcionando uma experiência segura e preservando a integridade do ambiente natural”, explica.

Como chegar?

A Serra das Andorinhas está localizada no município de São Geraldo do Araguaia, no sudeste do Pará, próximo à divisa com o Tocantins. O acesso pode ser feito por estrada, sendo a capital Belém o ponto de partida mais distante, a 680 km de distância, com uma viagem de aproximadamente 12 horas, seja de ônibus ou veículo particular.

Para quem opta pelo transporte rodoviário, uma alternativa é viajar até Marabá e, de lá, seguir para São Geraldo do Araguaia, que fica a cerca de 135 km.

Armadilha fotográfica registra aparição de cachorro-vinagre em Rondônia

Matilha de cachorros-vinagre em Cacoal (RO). Foto: Carlos Tuyama/Projeto Harpia

Um registro raro do fotógrafo Carlos Tuyama, através de uma câmera trap, mostra uma matilha de “cachorros-vinagre” caminhando pela floresta na Reserva Água Doce, em Cacoal (RO). No vídeo, pelo menos três animais parecem estar em uma caçada e, logo em seguida, uma paca sai de dentro do buraco.

Leia também: VÍDEO: Confira imagens de cachorros raros que vivem na Amazônia

A cena, que parece enredo de animação, foi postada no Instagram pessoal do fotógrafo e chamou atenção, já que não é comum animais desta espécie serem avistados. Segundo Carlos, o registro ocorreu durante uma atividade do Projeto Harpia, que monitora ninhos dessas aves na região.

A equipe de monitoramento instalou a câmera no local depois de notar um buraco próximo das árvores, que parecia uma toca de tatu-canastra, espécie comum na Amazônia.

“Instalamos uma câmera trap próximo ao que parecia a entrada principal, no intuito de registrá-lo. Ao voltarmos um mês depois para recolher as filmagens e trocar as pilhas da câmera, tivemos uma grande surpresa: na verdade a toca estava sendo usada por uma paca e havia uma filmagem da visita de uma matilha de cachorro-do-mato-vinagre”, conta.

Leia também: Fotógrafo usa técnicas de camuflagem para registrar vida selvagem na Amazônia

Segundo o biólogo Flávio Terassini, a espécie de canídeos é abundante em todo Brasil, especialmente na Amazônia, mas o registro é raro porque esses animais preferem viver em áreas mais isoladas da floresta.

Diferente dos seus parentes que vivem nas cidades, o cachorro-vinagre tem como hábito andar em grupos de até doze animais e costumam se alimentar de outras espécies pouco convencionais.

“Como um canídeo é também um carnívoro, ele se alimenta de animais da floresta, pequenos roedores, aves e pode comer inclusive anfíbios, cobras e algumas espécies de insetos”, afirma Flávio.

Por que ‘cachorro-vinagre’?

Especialistas explicam que o nome da espécie está relacionado ao forte odor que animal exala no ambiente quando urina, lembrando o cheiro do vinagre de cozinha. Segundo Flávio, o animal é considerado “vulnerável” de extinção devido ao avanço da perda da vegetação em algumas regiões do país.

Para Carlos, que é acostumado a registrar animais em momentos raros, o vídeo dos cachorros-do-mato não apenas surpreendeu a equipe pela raridade, mas também despertou um sentimento de alento diante da degradação ambiental.

Leia também: Ameaçado de extinção, cachorro-vinagre é registrado pela primeira vez no Parna Montanhas do Tumucumaque

“Foi uma grande e alegre surpresa, pois não esperávamos um registro dessa espécie tão rara de canídeo. É alentador saber que matilhas de cachorro-do-mato-vinagre sobrevivam em fragmentos florestais cercadas por áreas de pastagens e lavouras”, afirma o fotógrafo.

*Por Agaminon Sales, da Rede Amazônica RO

Sargassum: o que se sabe sobre as algas que chegaram à região costeira paraense?

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Sargassum é uma macroalga marinha flutuante que se forma no oceano e chegou à região costeira paraense. Foto: Edson Vasconcelos

A região do salgado paraense, que concentra algumas das mais populares praias turísticas do estado do Pará, tem também recebido um outro tipo de visita: o Sargassum, uma enorme massa marrom que chegou do oceano e que contrasta com as águas claras da região do estado em que o rio encontra o mar. 

Leia também: Portal Amazônia responde: a Amazônia é banhada por algum oceano?

Segundo o professor Edson Vasconcelos, doutor em oceanografia e docente no Instituto Socioambiental e dos Recursos Hídricos (ISARH), da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), o Sargassum é uma macroalga marinha flutuante que se forma no oceano. E sua biomassa, de cor marrom, serve de alimento para alguns animais e como abrigo e local de “ninho” para espécies de peixes, moluscos e crustáceos.

Em praias em que há desova de tartarugas, o professor explica que isso pode atrapalhar o fluxo dos animais. E que o encalhe de sargassum na praia e em redes de pesca afetam o trabalho dos pescadores e a economia local.

“Essas algas são oriundas do chamado Mar de Sargassum, no Atlântico Norte e registradas há séculos, desde as grandes navegações. Porém, a comunidade científica notou que de 2011 para cá tem se formado um grande cinturão de Sargassum no Atlântico Central, é essa que está encalhando aqui na nossa região. Todos os anos, parte dessa massa se desprende do cinturão e chega por aqui”, explica.   

Salinas

O município de Salinópolis, ou Salinas, como é mais conhecido, é um dos mais afetados da região. No local, o pesquisador diz que a prefeitura municipal retira diariamente toneladas de Sargassum da praia. Ele diz que o município, por sua geografia e posição mais ao litoral, tende a receber esse maior impacto da biomassa, além de maior visibilidade.

“Outra situação é que o litoral de Salinas é habitado e com praias com atividade econômica, então esse monitoramento e maior percepção pela população ocorre com mais frequência e naturalmente”, diz.

Leia também: Pesquisadores analisam impacto ambiental do fluxo de pessoas e veículos nas areias das praias de Salinópolis

Porém ele explica que foram registrados Sargassum em outras localidades, mas em menor quantidade. “Foram registrados também no município de Marudá, nas praias do Crispim e na praia de Marieta. A praia de Ajuruteua, no passado, também foi afetada por grande biomassa, e muito provavelmente será afetada nesse novo evento”, diz.

Quantidade de Sargassum em Salinópolis é a maior registrada nos últimos anos, afirma pesquisador. Foto de Juliane Vasconcelos, em visita no dia 18.03.2025

Edson Vasconcelos diz que a chegada do Sargassum no litoral paraense já ocorreu em outros momentos, o que foi registrado por pescadores e moradores locais nos anos de 2014, 2015, 2017 e 2019. O que preocupa é a quantidade que está sendo registrada esse ano.

“Apesar de não chegar todos os anos em grandes quantidades, registros feitos pela comunidade local e pesquisadores mostram que todo ano temos alguma biomassa de Sargassum chegando na costa paraense. Esse ano estamos vivenciando quantidades maiores do que há 10 anos atrás, quando foi observado o último grande evento de encalhe em Salinópolis”, diz.

Pesquisador alerta para que se evite o contato as algas. Foto de Juliane Vasconcelos, em visita no dia 18.03.2025

Em parceria com os órgão locais, o pesquisador não indica o fechamento das praias afetadas pelo Sargassum, mas alerta para que se evite o contato as algas.

“O contato direto com a alga não apresenta problema, porém é preciso ter cuidado fauna acompanhante, como os cnidários, entre eles as águas vivas, que podem causar acidentes, como queimaduras e urticarias. A outra questão é que esse material em decomposição libera enxofre, o que pode causar alergias e incômodos”, diz.

Ele explica que o relato de pesquisadores e moradores locais é muito importante para compreender o Sargassum. E embora não seja possível traçar uma previsão sobre quando esse fenômeno vai encerrar, relatos de moradores de Salinas atestam que os últimos eventos ocorreram entre os meses de fevereiro e maio. “É pouco provável que perdure mais que isso, mas temos que ficar vigilantes”, alerta.

Pesquisa

Essa vigilância ocorre também via sensoriamento remoto, onde a mancha de Sargassum em deslocamento para a região costeira paraense foi observada pelos pesquisadores. O professor, que atua diretamente com estudos sobre essa alga, está realizando pesquisas voltadas ao crescimento do Sargassum em condições do mar amazônico, além do monitoramento da costa e trabalhos de conscientização junto aos grupos de comerciantes e atores locais, como as secretarias de meio ambiente e associações.

Um dos projetos em atividade faz parte do consórcio “Weeds of Change”, financiado pelas agências de fomento da França (Agence nationale de la recherche – ANR) e do Brasil (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco – FACEPE), que envolve França, Holanda, México e Brasil. O objetivo do projeto é saber qual o papel do mar amazônico na proliferação do Sargassum, um problema de escala transcontinental.

Professor Edson Vasconcelos integra projeto internacional sobre o Sargassum. Foto: Bruno Chaves

Desde 2012, regiões como o México, Caribe e países da costa oeste do continente africano, (como Ghana, Marrocos, Senegal e Nigeria), chegam a ter encalhes anuais de Sargassum, períodos que chegam a durar de seis a nove meses de encalhe. “Nesses países já existe uma gestão costeira para redução dos danos e uma grande quantidade de recurso envolvida. O que inclui pesquisas que estão sendo feitas para que exista o reaproveitamento dessa biomassa, na construção civil, biocarvão e biofiltro”, diz.

Na região do salgado paraense, os primeiros registros de encalhe são de 2014.  Para verificar se essas algas estão conseguindo se desenvolver na região amazônica o professor coordena uma série de experimentos no Laboratório de Ecologia Marinha e Oceanografia Pesqueira da Amazônia (LEMOPA/Isarh/Ufra).

A partir da coleta e análise de Sargassum encalhado no salgado paraense, o objetivo é verificar se essas algas estão conseguindo se desenvolver na região amazônica. Até então, o Sargassum não sobrevivia diante na salinidade e das correntes do litoral paraense.

“O Sargassum dessa espécie não é criado aqui. Ele vem do oceano a partir de um complexo sistema de correntes costeiras. Ele não costuma se desenvolver em salinidade abaixo de 20. Ao coletar material e água na região de salinas encontramos, a 10 milhas da costa, uma salinidade máxima de 17. Essa baixa salinidade pode funcionar como uma barreira para impedir o crescimento, mas não a chegada do material através das correntes costeiras”, diz.

Mas estamos diante das mudanças climáticas. “Aumento da temperatura do oceano, modificação na intensidade da direção de algumas correntes marítimas e massas de ar são alguns dos fatores que influenciam diretamente no Sargassum”, afirma o professor.

Mudanças climáticas

“Alguns artigos sugerem que a vazão do sistema estuarino amazônico e o que acontece no continente, como o aumento no uso de fertilizantes, o desmatamento, processos de urbanização desordenada, queimadas e lixiviação,  podem ser fatores que implicam na formação dessa grande massa em ambiente oceânico. No entanto é um sistema pouco compreendido e ainda com diversas hipóteses a serem testadas”, explica Edson Vasconcelos.

Entre essas hipóteses o professor cita desde a poeira do Saara que chega aos oceanos, até a redução de velocidade das correntes marinhas em nível global e fenômenos como El Niño e La Niña.

Mudanças climáticas influenciam no Sargassum, afirma pesquisador. Foto: Bruno Chaves

Embora o pesquisador acredite que o Sargassum não consegue se desenvolver na região, já que é uma alga de oceano, as pesquisas esperam confirmar isso.

“Nós temos a questão da salinidade e das correntes que impedem esse crescimento. É muito improvável que ele se desenvolva aqui, mas precisamos observar.  Isso porque, se ele crescer, é uma alga exótica, já que não pertence à Amazônia. Seria um vetor de animais exóticos que podem ter potencial invasor na região, modificando toda a dinâmica ecossistêmica”, alerta.

*Com informações da UFRA

Raimundo Venâncio de Vasconcelos: a história de um chef de cozinha

Foto: Reprodução/Acervo da família

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br 

Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançaram a misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados de filhos de Deus.

Manaus, antes do ‘boom’, nada mais era do que um vilarejo perdido na floresta amazônica, centro comercial industrial de pequena importância, vivendo de umas poucas indústrias de transformação e de algum comércio de produto de extração. Ao apagarem-se as luzes do império, a Província do Amazonas e sua capital não pesavam no rol do comércio ou da indústria do país. Como centro urbano, resta-nos o precioso depoimento dos Agassiz que, vislumbrando um futuro de possibilidades ilimitadas para a cidade, como entreposto comercial, não deixaram de se desiludir com sua aparência mais do que modesta. Casebres e partideiros de madeira, ostentando nomes pomposos de palácios ou repartições públicas.

Veio a borracha e a cidade conheceu o surto de progresso, poucas vezes igualado na história da economia universal. Em pouco mais de duas décadas, sanearam-se os rios e igarapés, aterraram-se baixios, abriram-se ruas e estradas, pavimentaram-se avenidas, construíram-se obras importantes – como porto, usina de luz, instalação de água e esgoto -, em um empreendimento algumas vezes superior a construção da nova capital brasileira, se levarmos em consideração que esta teve a sua disposição recursos da técnica moderna, o esforço nacional de um povo em estágio de desenvolvimento. Manaus foi apenas a vontade de uma pequena comunidade pioneira, ainda sustentada por um único produto: a borracha.

É nesse estágio de desenvolvimento da borracha que promoveram o aparecimento de muitos seringais, dentre eles o Ajuricaba, na década de trinta. É nesse espaço de desenvolvimento que o senhor Antônio Venâncio da Silva assume o Seringal Ajuricaba, junto a sua esposa, Francisca Ataíde de Vasconcelos da Silva. Fruto deste casamento nasceram os filhos: Ladir, Elson, Nelson, Maria das Gracas, Raimunda Nair, Francisco, Assis, Marcelino, Genir, Darci, Sulamir, Ângela Regina, Sueli e Luiz Carlos. Embora as dificuldades do seringal, formaram uma família feliz, até 1953, quando o patriarca da família resolveu transferir-se para Manaus.

Um dos filhos proeminentes desta prole é o senhor Raimundo Venâncio de Vasconcelos, que nasceu no município de Manacapuru, no dia 2 de dezembro de 1951, tendo vivido até os quatorze anos no lugar chamado Tuivé. Menino de uma infância feliz, já em Manaus, começa a ter os contatos com as letras no Grupo Escolar Zulmira Bittencourt, espaço esse que guarda na memória, a imagem de sua professora querida, dona Cosma, tendo em seguida continuado seus estudos no Colégio Castelo Branco, dedicado aos estudos guarda na memória, momentos importantes dessa jornada escolar.

Infância e juventude de Raimundo Venâncio de Vasconcelos

Raimundo Venâncio de Vasconcelos até os dias atuais ainda lembra sua professora dona Cosma, guarda com alegria o contato já na cidade de Manaus no Grupo Escolar Zulmira Bittencourt, mais tarde transferindo-se para o Colégio Castelo Branco. A família já residindo em Manaus, sua mãe procurava incentivar e dá apoio na formação de seus filhos, como ocorre até os dias atuais em famílias tradicionais.

Essa história não foi um diálogo emudecido pelo tempo, pelo contrário: construíram pelo saber o caminho para sobrevivência e para as conquistas de que foram e que são merecedoras. Os mitos permanecem no ar, sobrevoando a vida das pessoas. Ancorado na busca do estudo para seus filhos e no trabalho de seu pai para manutenção da família em Manaus, cheio de sonhos por dias melhores.

Apesar das dificuldades enfrentadas pela família em Manaus, sobretudo por trata-se de uma família numerosa, seu pai homem calejado pela dureza do tempo e do seringal, trabalhava incessantemente provendo o sustento da família. Na verdade, seu pai sempre teve esse anseio de mudança para a capital.

Fotos: Reprodução/Acervo da família

Raimundo Venâncio de Vasconcelos já na sua juventude, demonstrava sua maturidade, com a responsabilidade de vencer através dos estudos e do trabalho. A luta de seus pais e tantos momentos enfrentados, proporcionaram maiores experiências, ensejando-lhe um modo diferenciado de ver o mundo. Guarda com apreço os bons exemplos de honestidade deixado por seus pais e que na atualidade transfere para seus filhos. A Manaus de sua época era uma cidade muito tranquila e foi nessa cidade que guardou na memória suas ruas de paralelepípedos e muito urbanizada, cujo silêncio era quebrado pela passagem do bonde ou de um ou outro veículo.

Ainda guarda na lembrança os domingos, que haviam matinês no Cine Guarany e Polytheama, o que nem sempre era permitido frequentar, ou o passeio na Praça da Polícia com a Banda da Polícia Militar tocando no coreto ao centro da praça das 17h até 19h. O jovem Raimundo Venâncio de Vasconcelos foi protagonista desses fatos e até hoje guarda essas lembranças em sua memória.

Transcorria a década de 1969 e 1970, quando o jovem sonhador Raimundo Venâncio de Vasconcelos assume o exército nacional como soldado do Batalhão de Infantaria da Selva (BIS), na função de armeiro devido a sua competência e dedicação no ano de 1979 é transferido para o Centro de Instrução de guerra na Selva (CIGS). No decorrer deste período ainda teve uma atuação importante no processo do Araguaia.

Fotos: Reprodução/Acervo da família

A vida e o sonho de um jovem como chef de cozinha

Levado pelo seu irmão Elson, que já atuava neste campo, foi trabalhar no Troplcal Hotel, o que lhe proporcionou alguns cursos dedicados a hotelaria e chefia de cozinha em São Paulo até 1981. Em 1983 tem o seu primeiro desafio solo: assume como chef de cozinha do importante restaurante no aeroporto Eduardo Gomes.

Continuando neste seguimento, assume a chefia do Restaurante Brasileirinho. Em seguida, convidado pelo empresário Pedro Wilson Viana Leitão, passa a fornecer refeição para as empresas Telamazon e Citibank. Em 1990 assume a direção-geral do Restaurante Othon. Em seguida, na mesma área, assume o Restaurante Planeta Doce e, mais tarde, o Restaurante Puraquê. Ainda no mesmo seguimento, seguiu para o Restaurante Pancaru, em 2014, e hoje recebe seus amigos e convidados no Restaurante Maloca.

Foto: Reprodução/Acervo da família

Em 1990 contraiu matrimônio com a jovem Ermelinda de Oliveira Venâncio. Fruto deste casamento nasceram os filhos: Gisele, Alison e Adson e, depois, o seu neto Zak Venâncio de Castro.

A vida é uma aventura em que os justos e os bons, apesar das provas e desafios, afirmam, com a força de seu caráter e com suas ações, as marcas de sua singularidade e da grandeza de suas atitudes. Eis aí o diferencial que distingue as almas nobres daquelas que vivem nas sombras ou se contentam com pequenez de seus sentimentos.

Foto: Reprodução/Acervo da família
Foto: Reprodução/Acervo da família

Raimundo Venâncio de Vasconcelos faz parte dessa linhagem de homens que construíram uma história baseada na dignidade, no trabalho, no compromisso com seus valores para oferecer os melhores pratos aos seus clientes.

A trajetória do Raimundo Venâncio de Vasconcelos é reveladora de seus múltiplos compromissos com a vida e com a possibilidade da construção do seu nome, fundado no respeito aos seus clientes e no desejo de melhor recebê-los. A existência desse chef de cozinha é uma prova do poder da transformação, do saber aprimorar sua cozinha e do triunfo da vontade de ser um grande chef, sua vida vitoriosa foi alicerçada na crença de seus pais, que em plena floresta amazônica soube deixar como exemplo o trabalho e a honestidade, seu maior patrimônio.

Foto: Reprodução/Acervo da família

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Amazônia é incluída no “Turismo lento”: modalidade permite maior aproximação com a cultura

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Foto: João Gabriel de Almeida/Projeto Dinâmica de Fragmentos Florestais (PDBFF)

Diante da crescente preocupação com a sustentabilidade e a qualidade das experiências turísticas, o Slow Tourism, ou turismo lento, surge como uma alternativa às viagens convencionais. De acordo com Adriana Santos Brito, doutoranda em Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (USP) da USP, o conceito busca desacelerar o ritmo das visitas, proporcionando uma vivência mais profunda e significativa para os turistas, ao mesmo tempo em que valoriza as comunidades locais e minimiza impactos ambientais.

Conforme a pesquisadora, o Slow Tourism se contrapõe ao turismo de massa e às viagens apressadas, promovendo um olhar mais atento às histórias, culturas e tradições dos locais visitados. Inspirado pelo movimento Slow Food italiano, que valoriza a produção e o consumo consciente de alimentos, e pelo conceito de cittaslow, que defende um ritmo de vida mais tranquilo nas cidades, essa modalidade propõe uma relação mais autêntica entre viajantes e destinos.

Princípios

Segundo Adriana, entre os princípios do Slow Tourism, o primeiro é a desaceleração. Ao contrário do turismo tradicional, que privilegia a quantidade de pontos visitados, essa abordagem incentiva um tempo maior de permanência em poucos locais, permitindo uma imersão mais profunda na cultura local.

Outro pilar fundamental é a busca pela autenticidade. O turismo lento prioriza experiências que valorizam a vida cotidiana dos moradores, incentivando atividades como participação em feiras, festivais e oficinas culturais. A intenção é conhecer não apenas os pontos turísticos mais populares, mas também as histórias e tradições que tornam cada destino único.

“A sustentabilidade também é crucial ao Slow Tourism. Práticas que reduzem o impacto ambiental, respeitam a biodiversidade e fomentam o desenvolvimento local são incentivadas. Isso inclui hospedagens sustentáveis, alimentação baseada em ingredientes locais e o apoio a pequenos produtores e artesãos”, destaca.

Proximidade

A interação com a comunidade é outro diferencial dessa abordagem. Adriana explica que, ao participar ativamente da vida local, os turistas têm a oportunidade de estabelecer conexões genuínas, enriquecendo sua experiência e contribuindo para a economia da região visitada.

De acordo com a pesquisadora, a possibilidade de viagens mais relaxantes e enriquecedoras permite experiências com menor nível de estresse. Além disso, o impacto positivo nas comunidades receptoras é significativo, pois o turismo lento estimula a economia local e promove uma distribuição mais justa dos recursos.

No Brasil, essa prática vem ganhando espaço. A Experiência Full Pantanal é um exemplo que combina contato com a natureza, hospedagem em locais sustentáveis e gastronomia típica pantaneira. Outra iniciativa é a Experiência Imersão Amazonas, que conduz viajantes por uma jornada na Floresta Amazônica, chegando à Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, um modelo de turismo comunitário.

Leia também: Comunidades indígenas no Amazonas oferecem experiência turística imersiva

O conceito também se aproxima do enoturismo e do turismo de cervejas. No Brasil, a Estrada do Sabor, no Rio Grande do Sul, é uma referência nesse segmento, valorizando vinícolas e a cultura rural. Da mesma forma, a Rota da Cerveja, em Santa Catarina, atrai visitantes interessados na produção artesanal de cervejas.

Desafios

No entanto, para Adriana Santos Brito, alguns desafios ainda precisam ser superados para que o Slow Tourism se expanda no País. Um deles é a conscientização dos viajantes sobre os benefícios dessa modalidade, incentivando uma nova forma de vivenciar o turismo. Além disso, ela diz que é necessário investir na infraestrutura básica e em serviços que atendam a essa demanda de maneira adequada em todas as regiões do Brasil.

“Mais do que apenas visitar destinos, os turistas que adotam essa abordagem se tornam parte da cultura local, contribuindo para a preservação das tradições e fortalecendo as comunidades. Assim, essa modalidade se firma como uma alternativa viável para um turismo mais consciente e significativo”, esclarece.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, escrito por Julio Silva, sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo

ZPE, alternativa à integração PIM/Bioeconomia, fator de perenização da ZFM-2073

Foto: Reprodução/Google Maps

Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com

Estudo sobre “Zonas de Processamento de Exportações (ZPE) e de Áreas de Livre Comércio como Instrumento de Redução do Desequilíbrio Intra-regional na Amazônia Ocidental”, dos professores da Universidade Federal do Roraima Getúlio Cruz, Ana Zuleide da Silva e Romanul de Souza Bispo, oferece excelente contribuição ao processo que hoje toma corpo sobre a necessidade de integração da matriz econômica Amazonas/PIM/Bioeconomia como instrumento de consolidação e perenização do modelo ZFM no além 2073, independentemente de favores fiscais. Ao que propõe o documento, o processo estaria completo por meio da implantação em Manaus de uma Zona de Processamento de Exportação – ZPEs, compreendendo privilégios fiscais, em espaço físico restrito, nos quais indústrias destinam no mínimo 80% da produção para o mercado externo, com isenção tributária, além de liberdade cambial (as empresas beneficiárias não são obrigadas a converter em reais os lucros obtidos no mercado externo).

As ZPEs, consideradas zonas de livre comércio, são protegidas por legislação especial garantindo suspensão de impostos e contribuições federais sobre bens de capital e insumos; liberdade cambial para manter no exterior até 100% das divisas obtidas nas exportações; incentivos para bens de informática e automação; isenção de licenças ou autorizações de órgãos federais para importações e exportações, inclusive em operação de drawback, regime aduaneiro que tem a função de diminuir os custos de produção das mercadorias voltadas à exportação e aumentar a competitividade do Brasil no mercado internacional. Os objetivos das ZPE focam no fomento a investimentos produtivos, aumento da competitividade das exportações, na promoção do desenvolvimento econômico e social, na difusão de novas tecnologias e na geração de emprego e renda.

Segundo o Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação (CZPE), em 2024 dobrou o número de ZPE em operação no país, passando de duas, a ZPE de Pecém (Ceará) e a ZPE de Parnaíba (Piauí), para quatro, a de Cáceres, no Mato Grosso, que entrou em atividade em julho do ano passado e mais recentemente a ZPE de Uberaba, MG. Inaugurada em dezembro de 2024, encontra-se apta a receber projetos industriais de empresas que queiram se instalar na região e obter benefícios tributários instrumentados na área. O objetivo da unidade é desenvolver a cultura exportadora e fortalecer a balança comercial brasileira, contribuindo também para o desenvolvimento local e a redução das desigualdades regionais.

O CZPE é um órgão deliberativo formado por representantes de vários ministérios e presidido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Projetos industriais para instalação de empreendimentos nessas áreas devem preliminarmente ser encaminhados a esse Conselho. No ano passado, durante reuniões trimestrais do CZPE foram aprovados nove projetos industriais, que deverão triplicar o número atual de empresas em operação nas ZPEs. De acordo com o CZPE, o conjunto desses novos projetos representam investimentos estimados de R$26 bilhões, com potencial de gerar, anualmente, R$15 bilhões em exportações e cerca de 1.000 novos postos de trabalho diretos.

Os incentivos fiscais vigentes no espaço da ZPE garantem a seus beneficiários: a) suspensão do recolhimento dos impostos e contribuições federais, hoje redefinidas pela Reforma Tributária com a criação da CBS e IBS, b) da AFRMM (Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante), na aquisição de insumos, matérias-primas, com a conversão em isenção ou alíquota zero no caso de posterior exportação do produto final. Não se sabe ao certo até o momento se algo sobre o mecanismo fiscal das ZPEs irá mudar ou não no contexto da regulamentação da Reforma. Definitivamente, porém, ZPEs constituem base de inserção internacional e do desenvolvimento econômico de países como Japão, Irlanda, Coreia do Sul, China e Vietnã.

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Pesquisadoras encontram microplásticos em tartarugas de água doce amazônicas no Pará

Foto: Andrea Bezerra

Um grupo de pesquisadoras vinculadas ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca da Universidade Federal do Pará (UFPA) identificou resíduos plásticos em quelônios de rios da Amazônia, uma importante descoberta no campo dos estudos sobre impactos dos microplásticos na fauna aquática.

A pesquisa ‘First Report of Plastic and Artificial Cellulose Ingestion by Freshwater Turtles in the Amazon‘, publicada na Revista internacional Water, Air, & Soil Pollution, teve como objetivo principal demonstrar que as tartarugas da Amazônia já estão sendo impactadas pelos plásticos, uma vez que, até o momento, as pesquisas mais conhecidas acerca do tema tinham abordado somente quelônios marinhos e tartarugas de água doce de outras regiões.

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Os quelônios, também conhecidos como “tartarugas” ou “cágados”, habitam não apenas os oceanos mas também os rios. Tracajás, muçuãs e pitiús, por exemplo, são nomes populares de alguns dos quelônios de água doce mais conhecidos (e consumidos) pela população amazônica.

“A gente acabou encontrando a presença de polímeros artificiais (celulose artificial e microplástico) em 20% dos tracajás (Podocnemis unifilis) analisados do Rio Iriri, que é um dos principais afluentes do Rio Xingu e é uma área de certa forma bem preservada. Não era esperado a gente encontrar esses polímeros lá. Já nos muçuãs, (Kinosternon scorpioides) encontramos polímeros artificiais em 60% dos indivíduos analisados”, comenta Ana Laura Santos, a primeira autora do estudo, que teve orientação do professor Marcelo Ândrade, do Núcleo de Ecologia Aquática e Pesca da Amazônia (NEAP)

Foto: Priscila Miorando

Os tracajás estudados por Ana Laura e seus colegas foram encontrados dentro de uma unidade de conservação de proteção integral, a Estação Ecológica Terra do Meio, e, ainda assim, não escaparam da ingestão dos polímeros artificiais. Os muçuãs analisados, por sua vez, vieram do Marajó, de Cachoeira do Arari.

De acordo com a pesquisadora, a possibilidade é que a maior parte dos polímeros artificiais venha da lavagem de roupas (especialmente a celulose artificial) e de materiais de pesca.

Microplásticos e lixo têxtil 

Para Tamires de Oliveira, coautora da pesquisa e doutora pelo PPGEAP (UFPA), as descobertas são indicativos de problemas maiores nas comunidades e cidades amazônicas.

“Esses resultados podem indicar uma mudança nos hábitos das populações da Amazônia. A gente vai ter um uso muito maior de sacolas plásticas, por exemplo, e uma mudança também no tipo de roupa, porque essas malhas têxteis não são criações antigas, elas são muito recentes”, ressalta Tamires sobre os microplásticos de origem têxtil encontrados no trato digestivo dos quelônios, como a celulose artificial. 

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Esse “lixo têxtil” advém, principalmente, da lavagem de roupas de fibras sintéticas como o poliéster e a viscose, que soltam fios microscópicos durante a limpeza. Quando não tratada adequadamente, ou seja, quando o saneamento básico é inexistente ou precário, a água descartada das lavagens é jogada diretamente nos rios, transportando todos os resíduos têxteis junto com ela.

“Isso se torna mais grave se a gente pensar que esses bichos fazem parte da dieta das populações tradicionais na Amazônia. Eles são um recurso alimentar muito importante. Então, falando de insegurança alimentar principalmente, a gente precisa preservar esses animais pensando em como manter também a alimentação dessas populações”, destaca Tamires. 

Nesse contexto, a pesquisadora destaca, ainda, a importância do papel das cidades amazônicas como propagadoras de resíduos. 

“Quando se fala em rio, a gente pensa muito em comunidades ribeirinhas, mas não podemos esquecer que tem muitas cidades grandes próximas aos rios também. E, uma vez que o rio é um corpo de água contínuo, isso quer dizer que cidades rio acima podem estar influenciando o que chega rio abaixo. Então, é necessário um esforço muito grande para fazer uma educação ambiental tanto nas cidades próximas aos rios quanto nas comunidades e ter, realmente, esse cuidado em diminuir o consumo de plástico. Infelizmente, não tem como fugir muito disso”, aponta.

Ações para o futuro

Para Ana Laura, neste momento, o investimento em saneamento básico e na educação ambiental se torna fundamental para se pensar um futuro de preservação dessas espécies e seus habitats. No arquipélago do Marajó, por exemplo, apenas 5,35% do esgoto é tratado e o esgoto doméstico é majoritariamente lançado direto nos rios.

Então, informar a população sobre os microplásticos achados nos quelônios (ou nos peixes) que são parte integrante da dieta e da cultura amazônica pode transformar a forma como as pessoas enxergam esses impactos, gerando uma mudança de posicionamento e melhorias no consumo e no descarte do plástico.

“O próximo passo é pensar nas consequências disso: em como o plástico está afetando os bichos, como pode estar influenciando no papel ecológico das espécies. Apesar de pouco estudadas, quem é da área acredita que as tartarugas de água doce na Amazônia são dispersoras de sementes. Elas também fazem esse link entre o ambiente aquático e o ambiente terrestre e são presas para outros animais durante todas as fases da vida”, relata Tamires, ao lembrar que isso significa que qualquer declínio, seja no tamanho dos quelônios, seja na quantidade de ovos, gera um desequilíbrio muito maior na teia alimentar, sobretudo a longo prazo. 

Além de pesquisadores do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) e do Núcleo de Ecologia Aquática e Pesca da Amazônia (NEAP), ambos da UFPA, o estudo também contou com a participação de representantes da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e da Universidade de Florença, na Itália.

*Com informações da UFPA

Nova espécie de fungo descoberta em Mato Grosso causa doença que afeta trabalhadores rurais

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Foto: Widson Ovando/Fapemat

Pesquisadores identificaram uma nova espécie de fungo, denominado Paracoccidioides lutzii, causador da doença da Paracoccidioidomicose (PCM), uma micose sistêmica que afeta trabalhadores rurais, garimpeiros, tratoristas agrícolas e pessoas em contato direto ou indireto com o solo. A descoberta ocorreu durante investigações realizadas no Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM-UFMT), a partir de isolados clínicos de pacientes atendidos no serviço de referência para diagnósticos clínicos, laboratorial e doenças infecto parasitárias no ambulatório 3 da unidade.

O fungo fica alojado no solo, e ao remexer a terra, a pessoa inala, indo parar nos pulmões. A paracoccidioidomicose (PCM) pode causar sequelas pulmonares crônicas, como fibrose pulmonar e alterações enfisematosas, e uma série de manifestações clínicas típicas, como úlceras na mucosa oral, nasal, gânglios cervicais, lesões em pele, em ossos, e mais raramente, em mucosa ocular e outros sítios anatômicos.

O nome escolhido para a nova espécie foi uma homenagem ao Dr. Adolfo Lutz, do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, que há 117 anos registrou o primeiro caso clínico da doença, denominado P. brasiliensis.

A descoberta foi uma colaboração entre pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com financiamento total da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat), o projeto está vinculado ao Programa de pós-graduação em Ciências da Saúde da UFMT.

A coordenadora da pesquisa, a professora doutora Rosane Hahn, estuda a doença há 29 anos para identificar sintomas e seus principais acometimentos. Nesse período foram executados vários projetos com foco em estudos epidemiológicos e clínicos-laboratoriais da PCM em Mato Grosso. A doença não possui cura, mas pode ser controlada com tratamento adequado.

Em Mato Grosso, os casos são acompanhados pelo Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM). A descoberta da nova espécie (P. lutzii) e a obrigatoriedade de notificação da doença em Mato Grosso reforçam a necessidade de monitoramento epidemiológico e aprimoramento das estratégias de diagnóstico e controle da PCM no Brasil.

Atualmente a pesquisadora coordena um projeto em parceria com a Secretaria de Estado Agricultura Familiar/MT (SEAF). Este projeto visa a obtenção de amostras de sangue (soro) de indivíduos envolvidos com agricultura familiar para realização da sorologia para PCM, identificando fatores epidemiológicos em nove munícipios da Baixada Cuiabana (Cuiabá, Várzea Grande, Chapada dos Guimarães, Santo Antônio do Leverger, Nossa Senhora do Livramento, Acorizal, Jangada, Barão de Melgaço e Poconé).

Sabe-se que os homens são mais acometidos pela doença em uma proporção de 14 para 1 em relação às mulheres. O hormônio estrogênio exerce um efeito protetor, reduzindo os casos entre mulheres antes da puberdade e após a menopausa.

O Ministério da Saúde está financiando um projeto na ordem de R$1,5 milhões, para esse grupo de pesquisadores obterem um antígeno que possa ser utilizado em laboratórios dos estados brasileiros (LACEN’S). O antígeno que contenha o complexo P. brasiliensis e suas 4 espécies crípticas (S1, S2, PS3 e PS4), e a nova espécie P. lutzii. Até o final de 2025, a equipe de pesquisadores incluindo USP, FIOCRUZ (RJ), UNIFESP, UNESP, Instituto Adolfo Lutz (IAL-SP) e UFMT deverá finalizar a entrega do novo antígeno.

Atualmente, apenas no laboratório de sorologia para PCM localizado no laboratório de Micologia/Investigação vinculado a Faculdade de Medicina/UFMT, realiza manualmente essa sorologia.

*Com informações da Fapemat

Desde 2001, Festival da Pororoca reúne atletas do surf e curiosos em São Domingos do Capim

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Foto: Divulgação

Um espetáculo sonoro e visual. A pororoca, fenômeno natural provocado pelo encontro entre as águas de rio e do mar, há anos encanta surfistas, moradores e visitantes em São Domingos do Capim, nordeste do Pará. Originária do Tupi, a palavra pororoca significa “estrondo”.

O Festival Internacional da Pororoca, que ocorre anualmente desde 2001, reúne atletas nacionais e internacionais do surf. As águas do Rio Capim, famosas por suas ondas intensas, voltaram a ser palco de manobras radicais, colocando novamente o município como referência da modalidade esportiva na Amazônia. Assista AQUI.

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Este ano, além do torneio de surf, São Domingos do Capim – há mais de 135 km de Belém – também se prepara para sediar um festival cultural e gastronômico, que destacará a culinária paraense e as tradições artísticas da região.

O público terá a oportunidade de experimentar pratos típicos da culinária paraense, como maniçoba, tacacá e peixe assado, enquanto assiste a apresentações de carimbó, outras danças folclóricas e shows de artistas locais.

Com ênfase na sustentabilidade, o município investe em trilhas ecológicas, passeios de barco pelo Rio Capim e iniciativas que conectam os visitantes à biodiversidade amazônica.

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Deisy Reis saiu do município de Moju, na Região de Integração Tocantins, para ver a pororoca pela primeira vez in loco. “Eu vi na televisão, mas a experiência tem que ser ao vivo, porque o nosso Pará é único em relação às nossas comidas, ao nossos fenômenos. É muito interessante a gente ver o crescimento do turismo no Pará”, disse a visitante.

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Segundo o prefeito de São Domingos, Orivaldo das Neves Oliveira (Orivaldo Bateria), o evento em 2025 oferece diversas atrações regionais e nacionais, incluindo aparelhagens e competições de surf, futebol de areia, natação, triathlon, canoagem e boxe (a ‘Pororoca Fight’).

A proposta da Prefeitura é valorizar as políticas sociais e culturais voltadas à preservação ambiental a partir da curiosidade despertada pelo fenômeno da pororoca, e sua adaptação às mudanças climáticas, dentro do atual contexto vivenciado pelo Pará, que receberá a COP 30 (conferência mundial sobre mudanças climáticas). Pela primeira vez, o evento ocorrerá em uma cidade da Amazônia – Belém – em novembro próximo.

3 startups do Amapá disputam prêmio de sustentabilidade criado pelo príncipe da Inglaterra

Fotos: Reprodução

Três startups do Amapá – Amazon Biofert, Engenho Café de Açaí e Mazodan – estão concorrendo ao prêmio Earthshot Prize, criado pelo herdeiro da coroa britânica, príncipe William. A ideia é reconhecer alternativas que buscam preservar o meio ambiente.

São 15 finalistas, desses, cinco irão ganhar incentivos financeiros que equivalem a mais de R$7 milhões, para seguirem realizando um trabalho sustentável. A expectativa é que o príncipe venha ao Brasil no início de novembro para a cerimônia de entrega da premiação, no Rio de Janeiro (RJ).

Nesta edição, concorrem grupos indígenas, ONGs e comunidades locais. As empresas do Amapá são as únicas representantes da Amazônia, cada uma atua em um eixo.

O Earthshot Prize é considerado uma das maiores iniciativas ambientais da atualidade. As cinco categorias do prêmio são inspiradas nos objetivos de desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU): restauração e proteção da natureza, limpeza do ar, revitalização dos oceanos, vida sem resíduos e ação climática.

Conheça mais sobre as representantes do Amapá:

Amazon Biofert

A empresa viu nos caroços de açaí uma alternativa de fertilizante que diminui a produção de carbono e promove uma agricultura mais sustentável. O biochar promove uma agricultura mais sustentável, valorizando os recursos da floresta amapaense.

A matéria-prima da Amazon é fruto de uma parceria com os batedores de açaí. A empresa recolhe os caroços descartados por esses profissionais, gerando uma economia circular. A Amazon é pioneira na geração de créditos de carbono e regeneração de solos através do Biochar.

Para os gestores, a indicação ao prêmio reforça o potencial da empresa, que para eles está preparada para revolucionar o mercado da agricultura sustentável.

“A gente trabalha em colaboração com coletores e batedores de açaí da área urbana e temos também parcerias com as agroindústria. Hoje a gente traz esses resíduos que poderiam ser usados para gerar mais ainda C02, e na Amazon Biofert fazemos o processo de criação do biochar. Esse biochar já está impactando a vida de agricultores do estado. Estamos prontos para impactar toda a região Norte”, destacou Wesley Resplande, sócio da Amazon.

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Foto: Divulgação/GEA

Engenho Café de Açaí

Inspirado também na reutilização dos caroços de açaí, a Engenho Café de Açaí aliou duas paixões: o açaí e o café. A ideia surgiu em 2011.

Nos resíduos que seriam descartados de forma inadequada, o casal Lázaro Gonçalves e Valda Gonçalves, viu a possibilidade empreender e entregar à sociedade um produto que traz os traços do fruto da Amazônia amapaense combinado com as sensações ao tomar um café.

Do modo de preparo ao gosto, Lázaro destaca que o maior diferencial do produto é a preocupação com o meio-ambiente.

“Durante os últimos quatro anos de operação já reaproveitamos mais de 200 toneladas de resíduos de açaí. Nós estamos alinhados com oito das 17 ODS da Onu, então isso é muito importante […] tem a questão da Amazônia, que é um apelo muito forte, por isso somos fortes concorrentes para disputar com o mundo”, disse Lázaro.

Foto: Divulgação/Sebrae

Mazodan

O empreendimento, criado pelo empresário Michael Carvalho, de 39 anos, usa sedimentos de rios para baratear custos de construção e diminuir impacto ambiental.

Em 2023 amapaense chegou à final da Expo Favela 2023 – O Desafio 2023 ao lado de Gleicy Alencar, da favela Parelheiros, de São Paulo. A Mazodan foi selecionada como uma das 10 melhores do país, durante a Expo Favela Innovation Brasil, e chegou à final, onde conquistou o prêmio de R$80 mil.

A meta também é ajudar a diminuir a emissão de dióxido de carbono, provocada pela produção de cimentos e argamassas comuns. Com sede no município de Santana, distante 17 quilômetros de Macapá, a empresa retira parte da matéria-prima utilizada na produção do rio Amazonas.

Segundo dados coletados pela startup, só no maior rio de água doce do mundo o volume de rejeitos reposto é de 1,2 bilhões de toneladas ao ano.

“A construção civil é um dos segmentos que mais entrega no Brasil, mas também é o que mais gera resíduos. Nosso objetivo não é substituir o cimento, mas diminuir o uso dele com produtos sustentáveis. Quando a gente coloca um material como o da Mazodan, conseguimos equilibrar mais essa matriz poluente”, afirmou Michael.

Foto: Michael Carvalho/Arquivo pessoal

O prêmio Earthshot Prize ocorre desde 2020. Com a visita do príncipe ao Brasil, a expectativa que ações de preservação sejam debatidas com as autoridades também.

*Por Mariana Ferreira e Mayra Carvalho, da Rede Amazônica AP