Uma escultura artística em tamanho real de uma preguiça-gigante, em homenagem à megafauna que habitava a região amazônica há mais de 10 mil anos, será inaugurada na próxima segunda-feira (4), às 9h30, na Residência do Serviço Geológico do Brasil de Porto Velho.
A obra visa promover a conscientização sobre biodiversidade, preservação do patrimônio natural e a importância das geociências. A ideia é reunir, em um único espaço, arte e ciência para promover também a popularização das geociências e a importância de conhecer o passado para preservar o futuro. Com quatro metros de altura e criada pelo escultor rondoniense Bruno Ferreira, a escultura foi construída em cimento e ferro.
A diretora de Infraestrutura Geocientífica do SGB, Sabrina Góis, ressaltou que a escultura da preguiça-gigante vai além de uma expressão artística.
“Ela inaugura um espaço de aprendizado e descoberta, localizado em uma área preparada para receber escolas e atividades lúdicas. Essa iniciativa do SGB visa inspirar crianças, jovens e visitantes a explorar e compreender o nosso rico patrimônio natural e geocientífico, promovendo o legado do Serviço Geológico do Brasil em Rondônia e reforçando o compromisso de levar ciência e história ao público, em formatos acessíveis”, pontuou.
A ação destaca a importância do patrimônio geológico e dos fósseis, valorizando-os como partes fundamentais do patrimônio cultural e da história do planeta. Essa iniciativa também celebra o inédito mapeamento virtual da maior paleotoca do Brasil, localizada em Rondônia, construída por preguiças-gigantes e descoberta em 2023. A paleotoca, com mais de 600 metros de extensão e até três metros de altura, foi habitada pelos ancestrais das atuais preguiças (que têm menos de um metro de comprimento), que sobreviveram até o fim da “Era do Gelo”.
A divulgação científica é fundamental para o avanço do conhecimento e para a popularização da ciência entre o público em geral. Para o chefe da Residência, Marcelo Guimarães, no caso da réplica da preguiça-gigante, essa importância se torna ainda mais evidente.
“Ao criar uma réplica, não só preservamos a memória de uma espécie fascinante, que habitou nosso planeta, mas também fornecemos uma oportunidade única de educação e engajamento”, enfatizou.
Guimarães acrescentou que, através da exposição de uma réplica, é possível despertar a curiosidade das pessoas, estimulando o interesse pela paleontologia. “Isso permite que crianças e adultos aprendam sobre a extinção das espécies, as mudanças climáticas e a evolução, temas importantes para entendermos nosso papel no mundo atual”, disse.
O espaço infantil do SGBeduca irá oferecer um ambiente educativo, lúdico e interativo, voltado para crianças, que promove o aprendizado das geociências de forma acessível e divertida. De acordo com Andrea Sander, coordenadora do SGBeduca, esse novo ambiente infantil disponibiliza um local único na cidade de Porto Velho, que tem poucas opções em ciências para o público infantojuvenil.
“No local, as crianças e jovens terão contato com minerais e rochas, com o mapa escolar de rochas de Rondônia, compreendendo a geologia do estado. Além de boa literatura sobre ciências, como uma coleção do periódico Ciência Hoje para Crianças e livros de autores consagrados”, informou.
O espaço – localizado na Avenida Lauro Sodré, 2561 – estará aberto ao público de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h.
O Rio Acre iniciou o mês de novembro abaixo dos 3 metros, média abaixo do esperado para esta época do ano. A Defesa Civil de Rio Branco atribui à ausência de chuvas significativas nos primeiros dias do mês.
De acordo com o monitoramento feito pelo órgão, o rio encerrou o mês de outubro com 3,55 metros no dia 31. Já no dia 1º de novembro, o nível reduziu para 2,83 metros e caiu todos os dias do mês até o dia 06 de novembro, quando amanheceu com 1,72 metro, voltando a ficar abaixo dos 2 metros, nível este que o manancial se mantinha acima desde o dia 14 de outubro
O coordenador tenente coronel Cláudio Falcão explica que além da instabilidade de chuvas o solo extremamente seco também contribui para a redução.
“O Rio Acre já está com o abaixo de dois metros. Haja vista também que desde o dia 10 de outubro que nós estamos numa instabilidade onde o Rio Acre, lá no dia 11 de outubro até o dia 16, aumentou um 1,51 metro nesse intervalo de cinco dias. Da mesma maneira, nos últimos três dias ele decresceu um metro e meio. Então, tudo isso se dá pela instabilidade de chuvas e também pela pelo solo extremamente seco”, ressaltou.
A expectativa da Defesa Civil é que, até o fim da primeira quinzena de dezembro, quando o solo recuperar sua umidade, a região chegará ao fim da crise hídrica.
“As chuvas que têm ocorrido vão inchar com o solo. Dessa maneira, nós continuamos naquele período de seca extrema, onde nós já vínhamos trazendo essa seca desde o mês de maio. Então, ainda não melhoraremos. A previsão que nós temos para os próximos dias é de chuva abaixo da média, especialmente para o Baixo Acre. Isso também vai se refletir no rio. Possivelmente, nós vamos decrescer ainda da marca que nos encontramos no dia de hoje e ficaremos mais baixo ainda”, acrescentou Falcão.
A Defesa Civil permanece atenta à situação, com atendimento à população que foi afetada pela seca, além de monitorar o nível do rio. Ainda segundo o coordenador, a instituição também já inicia, simultaneamente, o planejamento de pré-cheia, em antecipação ao período de inverno.
“Então, a Defesa Civil continua operando, levando o socorro às comunidades rurais que estão desabastecidas de água potável para consumo, da mesma maneira na zona urbana e determinados bairros, para que o Saerb (Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco) leve a água para essas comunidades todas”, finalizou.
*Por Lucas Tadheu e Victor Lebre, da Rede Amazônica AC
O que é o que é? Tem menos de 35 centímetros de altura, se alimenta com apenas 50 gramas de ração por dia e faz sucesso na Exposição-Feira Agropecuária de Roraima (Expoferr)? É ela! A mini-cabrinha. A curiosa versão mini do animal compõe o elenco da “Fazendinha”, que segue em exposição na festa até o próximo sábado (9), e tem chamado a atenção dos visitantes.
Como o nome já diz, esses animais são bem menores que os normais, que têm cerca de 65 centímetros. Para se ter uma ideia, a diferença entre elas e as cabras tradicionais é de praticamente 30cm. São duas mini-cabras para uma cabra.
Quem visita o stand pode conferir cinco exemplares das versões mini da cabra, bode e cabrito. Sobre a reprodução, o proprietário responsável por esses bichinhos, Dorian Pedroso, de 49 anos, explica que são resultados de cruzamentos genéticos entre cabras convencionais.
“[Elas] não têm raça definida. Mini-cabra. São anões genéticas. Foi feito em laboratório, mas já se reproduz normalmente. Nasce um bichinho normal, de boa”.
O sucesso das pequenas não é proporcional ao tamanho, já que estão roubando a cena na Expoferr 2024. Elas estão localizadas próximo a área da Secretária Estadual de Saúde (Sesau). As visitas podem ser feitas durante os cinco dias de evento, e a entrada custa R$ 5. A visitação é gratuita para crianças de até 9 anos.
Foto: Nalu Cardoso/g1 Roraima
A alimentação delas varia entre a ração e a grama, além do cuidado com o sal mineral, segundo o proprietário. Dorian afirma, ainda, que as pequenas chamam mais atenção de famílias que passam pelo local.
“Hoje em dia a mini cabrinha é um animal pet. Eu tenho a minha criação e estou vendendo bastante, as pessoas estão criando dentro de casa. O pessoal procura demais”.
A prova disso é a técnica em saúde bucal Regina Almeida, de 30 anos. Ela foi uma das mães que não resistiu aos encantos da mini-fazenda. Ela levou os dois filhos para passearem, e conta que achou os animais “diferentes”.
“Todo ano é uma surpresa, uma novidade. A gente não está acostumado com esses animais, só na cidade, aí a gente tem que ver. É diferente, mas é lindo. [As crianças] gostam, não querem ir embora mais”.
Foto: Samantha Rufino/g1 Roraima
Além das mini-cabras, a “Fazendinha” tem diversos outros animais, de tamanhos variáveis. Entre eles, mini-vacas, mini-cavalo, mini-boi, ovelhas, porquinhos da índia e a grande novidade do ano: Lhamas.
Os animais são trazidos da capital do Amazonas, em Manaus. Dorian conta que cria mini-cabras há 10 anos, e é a primeira vez que expõe em Boa Vista.
“A gente é de Manaus, e lá está difícil as mini-cabras. Então assim, quando nasce uma fêmea eu já estou guardando. Eu não vendo. Eu disponibilizo os machos quando eu tenho”.
Os preços variam. Uma mini-cabra fêmea, é vendida por 5 mil reais e a macho, por 3 mil. Já as tradicionais, são vendidas por cerca de 3 mil reais, é o que afirma Eneias Pereira, conhecido como “Neto do Carneiro”, que também é responsável por cabras que estão em exposição na Feira Agropecuária.
“Elas chegam a pesar 45, 50 quilos. É um animal rústico, africano e está se adaptando muito bem aqui no estado, no Brasil, que é nosso. [É importante] uma boa alimentação, para quando ela parir, ter uma boa lactação para seus filhos”.
Foto: Samantha Rufino/g1 Roraima
Expoferr 2024
A 43ª edição da feira começou nessa terça-feira (5) e segue até o dia 9 de novembro no Parque de Exposição Dandãezinho, localizado no Monte Cristo, zona Rural de Boa Vista.
Chamada pelo governo de “Expoferr Show”, a feira agropecuária é organizada pela Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi), em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária de Roraima (Faerr).
Este ano, o espaço da feira deve tem mais de 93 mil m² em infraestrutura montadas no Dandãezinho. A expectativa é receber 500 mil pessoas nos cinco dias de festa e movimentar R$ 600 milhões em negócios.
No Refúgio de Vida Silvestre Tabuleiro do Embaubal, em Senador José Porfírio, no sudoeste paraense, a temporada de desova de tartarugas-da-amazônia, tracajás e pitiús trouxe uma verdadeira explosão de vida. Considerada uma das maiores áreas de reprodução de quelônios no mundo, a Unidade de Conservação (UC) do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio) tem sido refúgio para a perpetuação dessas espécies ameaçadas, onde entre 500 mil a 700 mil filhotes nascem anualmente. Este fenômeno torna o local uma das áreas mais importantes para a conservação de quelônios na Amazônia.
Criado pelo Decreto nº 1.566, de 17 de junho de 2016, o Refúgio de Vida Silvestre Tabuleiro do Embaubal possui uma área de 4.033,94 hectares e fica a cerca de 906 km de Belém. A UC, gerida pelo Ideflor-Bio, é um local de Proteção Integral, onde o uso de recursos naturais é restrito. Esse status garante a preservação das áreas de desova e assegura um ambiente seguro para esses quelônios.
A UC abriga a maior área de desova da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), uma das espécies mais vulneráveis da região. No local, também ocorre a reprodução de tracajás (P. unifilis) e pitiús (P. sextuberculata). As tartarugas percorrem grandes distâncias para chegar ao Tabuleiro do Embaubal, o que reforça o papel da área na proteção de animais migratórios. “Esse local é vital para a continuidade das espécies, pois elas buscam o ambiente seguro do Tabuleiro para garantir a perpetuação das novas gerações,” destacou o técnico em Gestão Ambiental do Ideflor-Bio, Átilla Melo.
Biodiversidade
Além dos quelônios, o Tabuleiro do Embaubal também é habitat de outras espécies amazônicas de importância para a conservação, como o boto-vermelho (Inia geoffrensis), o peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis) e diversas espécies de jacarés. A presença dessas espécies no refúgio evidencia a importância ecológica da região, que serve não só como área de reprodução, mas como um verdadeiro santuário de biodiversidade.
A grande variedade de fauna atrai também aves migratórias, como a águia pescadora (Pandien haliaeteus) e o maçarico, representando ainda uma parada estratégica para várias espécies de aves. Esse intercâmbio entre diferentes grupos de animais ajuda a preservar a cadeia ecológica local, mantendo o equilíbrio dos ecossistemas amazônicos. “O Tabuleiro do Embaubal é um verdadeiro berço da vida amazônica. Proteger esse refúgio é garantir que futuras gerações conheçam a riqueza natural que temos aqui,” afirmou o gerente da Região Administrativa do Xingu, Marco Aurélio de Oliveira.
Foto: Victor BaíaFoto: Victor Baía
Ações
Com o período de desova, as ações de monitoramento e fiscalização no refúgio são intensificadas para garantir a segurança dos ovos e dos filhotes de quelônios. A equipe do Ideflor-Bio atua para evitar a predação natural e coibir a ação de caçadores e comerciantes ilegais, ameaças recorrentes que comprometem a sobrevivência dos animais. As operações de patrulha com o apoio do Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) e educação ambiental envolvem tanto os técnicos quanto os agentes da segurança pública e a comunidade local, que é orientada sobre a importância da preservação.
O trabalho realizado no Tabuleiro do Embaubal é essencial para a recuperação das populações de quelônios na região. Segundo Átilla Melo, “cada filhote que nasce aqui é uma vitória. Nosso trabalho busca garantir que esses animais tenham uma chance de chegar à idade adulta e, assim, contribuir para a preservação de suas espécies”, frisou o especialista.
A desova no Tabuleiro do Embaubal é um espetáculo natural que atrai também o interesse de pesquisadores e turistas, contribuindo para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental e ecoturismo. A presença de visitantes, sob regras restritas, ajuda a conscientizar sobre a importância das UCs e reforça o compromisso de todos com a preservação da biodiversidade.
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) apresentou na primeira semana de novembro o funcionamento e as etapas do procedimento demarcatório, no Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Foi durante reunião de conciliação para discutir a Lei 14.704/2023, que estabelece a tese do Marco Temporal e outros dispositivos prejudiciais aos direitos indígenas. A autarquia indigenista defendeu estratégias para acelerar os processos de demarcação e lembrou a importância dos territórios para assegurar a existência dos povos indígenas e o acesso a direitos, além de reduzir a violência.
A diretora de Proteção Territorial, Janete Carvalho, representou a Funai na audiência. Ela explicou de forma detalhada as etapas do processo de demarcação. Com 20 anos de atuação na Funai, a diretora ressaltou o trabalho minucioso e técnico desenvolvido pelos servidores da autarquia indigenista desde a etapa de estudos até a regularização de terras. Embora a missão institucional da Funai de promover e proteger os direitos dos povos indígenas seja clara, a autarquia atua respeitando todas as normas legais, de modo a não violar direitos de terceiros.
Durante a audiência, a Funai, que é o órgão indigenista oficial do Estado brasileiro, apontou a necessidade de ampliar o quadro de servidores para a execução dos trabalhos. Atualmente, a autarquia tem cerca de 1.300 servidores para atender todo o país, sendo que quase 14% do território nacional é composto por terras indígenas. Após o sucateamento pelo qual passou nos últimos anos, a Funai trabalha para se reestruturar e recuperar sua capacidade de atuação.
Segundo a diretora da Funai, a judicialização em todas as etapas da demarcação é outro ponto que atrasa o processo. A cada pequena fase o Judiciário é acionado, explica Janete. Muitas vezes, sem argumentação fundamentada, o que trava o andamento dos procedimentos.
Além disso, a Funai destacou a importância do envolvimento dos governos estaduais e municipais como forma de aprimorar e acelerar a demarcação, a exemplo do Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre a autarquia indigenista e o Governo do Ceará. O mecanismo de cooperação resultou na demarcação física de três terras indígenas no estado em 2024.
A Funai reafirma o seu compromisso em promover e proteger os direitos dos povos indígenas e reforça a prioridade na demarcação de terras como o principal meio para garantir o acesso das comunidades indígenas a direitos como saúde, educação, segurança e cidadania.
Etapas da demarcação
As fases do procedimento demarcatório das terras tradicionalmente ocupadas são definidas pelo decreto 1.775/1996. O processo só é finalizado com a homologação e registro da área em nome da União com usufruto dos povos indígenas.
Confira as etapas
Em estudo: fase na qual são realizados os estudos antropológicos, históricos, fundiários, cartográficos e ambientais, que fundamentam a identificação e a delimitação da área indígena.
Delimitadas: fase na qual há a conclusão dos estudos e que estes foram aprovados pela presidência da Funai pela publicação no Diário Oficial da União (DOU) e do Estado em que se localiza o objeto sob processo de demarcação.
Declaradas: fase em que o processo é submetido à apreciação do ministro da Justiça, que decidirá sobre o tema e, caso entenda cabível, declarará os limites e determinará a demarcação física da referida área objeto do procedimento demarcatório, mediante portaria publicada no DOU.
Homologadas: fase em que há a publicação dos limites materializados e georreferenciados da área por meio de Decreto Presidencial, passando a ser constituída como terra indígena.
Regularizadas: fase em que a Funai auxilia a Secretaria de Patrimônio da União (SPU), como órgão imobiliário da União, a fazer o registro cartorário da área homologada.
Além das fases mencionadas, pode haver, em alguns casos, o estabelecimento de restrições de uso e ingresso de terceiros para a proteção de indígenas isolados, mediante publicação de portaria pela Presidência da Funai, ocasião em que há a interdição de áreas nos termos do artigo 7º do Decreto 1.775/96.
“Quero trabalhar e quero ensinar o meu povo lá da comunidade”.
Estes são os planos de Genivaldo Krepuna Yanomami, de 39 anos, após se graduar na Universidade Federal de Roraima (UFRR) no curso de Licenciatura Intercultural pelo Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena. Ele é o primeiro indígena Yanomami a se formar na instituição.
No dia 2 de novembro, Krepuna afirmou que está muito feliz com a conquista. Agora, ele planeja retornar para a comunidade e repassar os conhecimentos adquiridos na graduação para o seu povo. A cerimônia de colação de grau ocorreu na última quinta-feira (31), no Centro Amazônico de Fronteiras (Caf) da UFRR.
“Eu quero trabalhar na área e ajudar outros Yanomami a estudar na universidade também, porque a dificuldade é muito grande para eles”, contou.
Genivaldo nasceu na região do Papiu, na Terra Yanomami e é morador da comunidade Tihinaki, no território Yanomami em Roraima. A região fica distante a uma hora de Boa Vista, onde as aulas ocorrem, e só é possível acessar através de aeronave.
No Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ele contou os desafios de ser um Yanomami e estudar em uma universidade pública. Entre as barreiras enfrentadas, além da distância, Krepuna menciona o corte da bolsa permanência para indígenas e pandemia de Covid-19.
“Eu comecei estudar em 2012 e depois de dois anos e meio eu parei um pouco por conta das dificuldades, porque nós Yanomami temos muitas dificuldades de estudar. Depois, apareceu a Covid-19 na comunidade e depois voltei [a estudar]. Não é fácil chegar aqui em Boa Vista”.
No período em que estudou na universidade, o novo graduado relembra que a cada 30 dias saía da Terra Yanomami para Boa Vista para estudar. Em um período, a própria UFRR chegou a fretar avião para trazê-lo às aulas.
“Tinha várias hospedagens que eu ficava, no Silvio Leite, Aparecida, na seda Hutukara [Associação Yanomami] e em algumas casas de apoio também. Trinta dias eu ficava aqui e depois voltava para a comunidade”, conta Krepuna, que em Tihinaki, sustenta os três filhos e a esposa através da roça e da caça.
Foto: Evilene Paixão/HAY/Divulgação
O processo de construção do trabalho de conclusão de curso durou três anos e foi escrito em Yanomami. O plano é ter uma versão bilíngue, em português, da pesquisa. “Graças a Omama [Deus da criação em Yanomami] eu venci”, celebra.
“Vou começar a alfabetizar os meus curumins, crianças e adultos também que tem vontade de aprender sobre os novos conhecimentos fora da comunidade. Então, eu penso que vou começar a ensinar eles o que eu aprendi aqui na universidade”, finalizou.
Krepuna se formou no Instituto Insikiran, o primeiro Núcleo de Formação Superior exclusivo para Indígenas no Brasil. O Insikiran surgiu em 2001, após reivindicação do movimento indígena roraimense. O núcleo oferta três cursos: Licenciatura Intercultural Indígena, Gestão Territorial Indígena e Gestão em Saúde Coletiva Indígena.
Antes de se formar na UFRR, ele foi um dos professores formado pelo Magistério Yarapiari, Projeto desenvolvido anos atrás pela Comissão Pró-Yanomami (CCPY), a partir de uma demanda do xamã e presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Davi Kopenawa, para que formassem jovens yanomami para defender os direitos e a Terra Indígena Yanomami.
O Magistério Indígena Yarapiari é um curso voltado especificamente para os professores Yanomami, tratando dos saberes tradicionais e da cultura singular, com currículo específico nas escolas e no magistério. Dentre todas as etnias, os Yanomami são o grupo com menor percentual de professores qualificados em Magistério, segundo a Secretaria Estadual de Educação e Desporto.
“Uma grande conquista para o povo Yanomami e para a academia. Por mais espaços na educação pública para os povos indígenas. Temos direito de se formar, de mostrar nossa capacidade e conhecimento tradicional para sociedade brasileira e, especialmente, para os povos originários”, celebrou Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.
Em agosto de 2022, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) formou uma turma de 42 professores Yanomami. A cerimônia ocorreu no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), o mais indígena do país.
Foto: Evilene Paixão/HAY/Divulgação
Terra Yanomami
Com cerca de 10 milhões de hectares distribuídos no Amazonas e em Roraima, onde fica a maior parte, a Terra Yanomami tem 371 comunidades de difícil acesso espalhadas ao longo da densa floresta amazônica. O povo Yanomami é considerado de recente contato com a população não-indígena. Além disso, no território há, ainda, indígenas isolados, sem contato ou influência externa.
Oficialmente demarcada em 25 de maio de 1992, o processo de avaliação e registro da Terra Indígena Yanomami durou quase 15 anos, o que envolveu uma longa batalha, com articulação internacional, até o governo brasileiro, à época presidido por Fernando Collor, homologar o território.
Nos últimos anos, a Terra Yanomami enfrentou uma crise humanitária e sanitária sem precedentes, com casos graves de indígenas com malária e desnutrição severa – problemas agravados pelo avanço de garimpos ilegais nos últimos quatro anos.
A invasão do garimpo predatório, além de impactar no aumento de doenças no território, causa violência, conflitos armados e devasta o meio ambiente – com o aumento do desmatamento, poluição de rios devido ao uso do mercúrio, e prejuízos para a caça e a pesca, impactando nos recursos naturais essenciais à sobrevivência dos indígenas na floresta.
Autoridades do Amapá reuniram com a Presidente da Petrobras no dia 1º de novembro. Foto: Divulgação
Reuniram-se com a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, no dia 1º de novembro, no Rio de Janeiro, os líderes representantes do Amapá, governador Clécio Luís, senador Davi Alcolumbre (União), coordenador da bancada federal e o líder do governo no Congresso Nacional, Senador Randolfe Rodrigues (PT), para tratativas sobre a exploração de petróleo na região da Foz da Bacia do Amazonas, na Margem Equatorial.
Os representantes do Amapá afirmaram no encontro o desejo de seguir com a exploração e “realizar o o sonho da população amapaense”, segundo o senador Davi. Magda afirmou ainda que a Petrobras vem empenhando todos os esforços para a região e acredita na possibilidade da Avaliação Pré-Operacional (APO).
“A Petrobras reitera sua total crença e todos os seus esforços na margem equatorial do Amapá. Vamos buscar transformar o potencial do estado em riquezas para a população”, disse a presidente.
Se autorizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a APO avança com testes de perfurações, que devem acontecer a cerca de 540 quilômetros da costa amapaense.
“Foi uma reunião muito importante e proveitosa uma vez que a Petrobras entende a importância da possibilidade de pesquisarmos a exploração de petróleo; uma riqueza que é do povo brasileiro e que precisa ser revestida em emprego, geração de renda e melhor qualidade de vida. Para nós, amapaenses, é um sonho termos essa pesquisa e a exploração e transformar todo esse benefício para a sociedade”, disse o senador Davi Alcolumbre.
Alcolumbre destacou ainda que a possibilidade de pesquisar a exploração do petróleo no Amapá é um direito no Brasil, que promove a descoberta de mais riquezas na região, gerando mais empregos e qualidade de vida.
Randolfe Rodrigues disse que o Amapá não deve abrir mão das pesquisas para o maior conhecimento do potencial exploratório.
“Não é aceitável que, sob o rótulo de técnica, se expresse uma manifestação política que atenta contra o Amapá, os interesses dos amapaenses e contra a soberania nacional”, disse o senador.
Já o governador do estado, Clécio Luíz, disse que a margem equatorial é promissora por conta da similaridade de forma geológica, à localidades como as Guianas e Suriname, onde foram feitas descobertas de gás e petróleo.
“Precisamos e vamos nos posicionar fortemente em favor da exploração na Costa do Amapá, que trará para a população benefícios. Essa pesquisa interessa à Petrobras, ao Brasil e ao nosso estado”, destacou Clécio.
O ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, não compareceu devido à conflitos de agenda, mas informou que segue acompanhando a tratativa para o Amapá
Na reunião, a Petrobras afirmou empenho na exploração, apresentando uma equipe de 100 profissionais que devem realizar a proteção dos animais e preservação do meio ambiente e mais 12 embarcações apenas para esta atividade.
A empresa apresentou ainda, que pretende trabalhar com sistemas avançados de contenção de óleo, bloqueio de vazamentos de poços, ou capping, estrutura de coordenação e resposta a emergências, além de se responsabilizar pelo resgate e reabilitação dos animais do local em casos de vazamento.
Em maio do ano passado, o Ibama negou um pedido feito pela Petrobras para perfurar a bacia da Foz do Amazonas com o objetivo de explorar petróleo na região.
Segundo o documento, o plano da Petrobras possuía incertezas para atendimentos à fauna em possíveis acidentes com o derramamento de óleo. Outro ponto destacado foram lacunas quanto à previsão de impactos da atividade em três terras indígenas em Oiapoque.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) realizou uma expedição histórica para mapear inscrições rupestres recentemente descobertas no Parque Nacional de Anavilhanas, no estado do Amazonas. A ação, realizada em razão da seca severa dos anos de 2023 e 2024, revelou registros arqueológicos até então desconhecidos, contribuindo para o fortalecimento do patrimônio cultural e ambiental da região.
Motivada por relatos de operadores de turismo locais sobre o avistamento de novos petróglifos (representações gravadas pelo Homem em pedra ou em rochas), a equipe do ICMBio conduziu um trabalho de pesquisa e verificação nos Parnas Anavilhanas e Jaú.
Foram identificados e georreferenciados três novos sítios arqueológicos localizados em Pedral do Najatuba, Terra Preta da Base 2 e Boca do Baependi. Além disso, novas inscrições também foram registradas em sítios conhecidos do Parna Jaú.
O coordenador da expedição, Lucas Ferrari, destacou a importância da iniciativa: “essa descoberta reforça a relevância dos nossos parques nacionais não apenas para a conservação ambiental, mas também como guardiões de um patrimônio histórico que ainda estamos desvendando”.
A equipe foi composta por servidores do ICMBio e profissionais da área audiovisual, que captaram imagens e registros das inscrições para auxiliar na divulgação e preservação desses sítios.
As rotas aquáticas percorridas durante a expedição foram registradas e estão disponíveis em formato digital, permitindo que pesquisadores e interessados possam visualizar os trajetos por meio do aplicativo Wikiloc. A iniciativa visa facilitar futuras pesquisas e promover a conscientização sobre a importância de proteger esses locais históricos.
Os resultados da expedição serão compartilhados com instituições parceiras, como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), para apoiar ações conjuntas de conservação e divulgação do patrimônio arqueológico da Amazônia.
Foto: Adson da Silva ColaresFoto: Adson da Silva ColaresFoto: Adson da Silva ColaresFoto: Adson da Silva Colares
Catrimani 10, retrato de criança yanomami feito por Claudia Andujar no início dos anos 1970. Foto: Coleção da Artista/Cortesia Galeria Vermelho
Em 2015, a antropóloga Sylvia Caiuby Novaes saía do cinema quando uma cena lhe chamou a atenção. Ela viu as fotógrafas Claudia Andujar e Maureen Bisilliat e a antropóloga Lux Vidal caminhando juntas pela rua Augusta, em São Paulo, com os braços entrelaçados. “Essa imagem me inspirou a investigar quais eram as afinidades entre aquelas três mulheres”, lembra Caiuby Novaes, professora do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP).
A ideia originou o projeto de pesquisa “Fotografias e trajetórias: Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat”, coordenado por Caiuby Novaes, com apoio da FAPESP, entre 2019 e 2022, que se desdobrou em um site e mais recentemente na exposição Trajetórias cruzadas, em cartaz até fevereiro de 2025 no Centro MariAntonia da USP.
“Elas têm vários pontos em comum que vão além do fato de hoje serem nonagenárias”, conta Caiuby Novaes, que assina a curadoria da mostra com a antropóloga Fabiana Bruno, coordenadora adjunta do Laboratório Antropológico de Grafia e Imagem (La’grima) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisadora colaboradora do Departamento de Antropologia da USP.
Na beira do rio (sem data), registro do povo Xikrin por Lux Vidal. Cortesia Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da Universidade de São Paulo
Segundo as curadoras, as interseções começam na infância: as três nasceram na Europa, na década de 1930, época de ascensão de regimes totalitários como o nazismo. A suíça Andujar, por exemplo, cresceu entre a Hungria e a Romênia e, durante a Segunda Guerra Mundial, seu pai e a família paterna, de origem judaica, foram enviados aos campos de concentração de Auschwitz, na Polônia, e Dachau, na Alemanha. Já Vidal nasceu na Alemanha e passou a maior parte da infância e da juventude na Espanha e na França. “Sua família mudou-se várias vezes por causa da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Civil espanhola”, diz Bruno. Por sua vez, a britânica Bisilliat morou em diversos países, como Dinamarca, Colômbia e Argentina, quando criança por conta da profissão do pai, que era diplomata.
A passagem por Nova York antes de se radicarem no Brasil é outro ponto em comum na trajetória das três mulheres, que moraram e estudaram na cidade norte-americana a partir da década de 1940. “Claudia frequentou o Hunter College, quando começou a pintar telas inspirada pelo expressionismo abstrato”, conta Bruno. “Na mesma ocasião, Lux tornou-se bacharel em artes pelo Sarah Lawrence College, onde cursou antropologia, literatura e teatro. E Maureen, que começou a pintar em 1952, na Argentina, estudou cinco anos mais tarde na Arts Students League, que também fica em Nova York.”
Homem prepara urucum para pintura corporal no Xingu; fotografia (s/d) de Maureen Bisilliat.
Cortesia Acervo Instituto Moreira Salles
Bisilliat, que já havia passado pelo Brasil no início da década de 1950, se muda em definitivo para o país no final de 1957. “Claudia chegou em 1955. Quando vêm morar aqui, as duas abandonam a pintura e começam a se dedicar à fotografia”, relata Caiuby Novaes.
Nos anos 1960, ambas vão trabalhar como fotojornalistas para revistas como Realidade, da editora Abril. É dessa época o ensaio Caranguejeiras (1968), que Bisilliat fez para Realidade e registra um grupo de mulheres catadoras de caranguejos na Paraíba – parte das fotos pode ser vista na exposição.
“Desde a década de 1950, elas viajaram muito pelo Brasil e pela América do Sul, inclusive sozinhas, o que não era tão comum na época. Basta lembrar que foi somente com o Estatuto da Mulher Casada, de 1962, que as mulheres passaram a ter liberdade de viajar desacompanhadas no Brasil”, prossegue a antropóloga.
Além do trabalho em fotojornalismo, as curadoras destacam mais uma contribuição da dupla. “Claudia e Maureen tiveram papel importante na inserção da fotografia nos espaços expositivos brasileiros, como museus e exposições, a exemplo das bienais, sobretudo na década de 1970”, informa Caiuby Novaes. “Dentre outras coisas, elas passaram a fazer parte da Comissão do Setor de Fotografia do MAC [Museu de Arte Contemporânea da USP], em 1970.”
Algumas das imagens do acervo de Lux Vidal expostas no Centro MariAntonia da USP.
Divulgação/Eduardo Fujise
Tanto Andujar quanto Bisilliat foram contempladas com bolsas FAPESP para realizar projetos de pesquisa. Devido a esse apoio concedido entre 1976 e 1978, a primeira prosseguiu o registro fotográfico dos Yanomami, que iniciaram em 1970, durante um trabalho para a revista Realidade, e também deu continuidade à coleta de desenhos realizados por eles. Entusiasta da literatura e da cultura popular do Brasil, Bisilliat recebeu os auxílios “Existência do mágico na realidade brasileira: Mário de Andrade”. “A presença mágica na realidade brasileira: Roger Bastide”, em 1981, e “Indumentária popular brasileira: Devolução, inspirado livremente nos escritos de Mário de Andrade”, em 1984.
Dentre as três, Vidal, que é professora emérita da USP, possui a trajetória mais vinculada ao mundo acadêmico. Após chegar a São Paulo em 1955, ela lecionou na Aliança Francesa e no Liceu Pasteur, e, em 1967, voltou a estudar antropologia na USP. Dois anos depois, tornou-se professora daquela instituição de ensino e a partir de então desenvolveu pesquisas com diversos povos indígenas, especialmente os Mebengokré-Xikrin, do Pará. “Ao longo dessas décadas, Lux fez cerca de 5 mil fotos, que estão guardadas no Laboratório de Imagem e Som em Antropologia da USP. Parte do material exposto foi publicada em seus livros, mas até então nunca tinha sido visto em grande formato”, afirma Bruno.
Desenhos do povo Yanomami recolhidos por Claudia Andujar na década de 1970.
Divulgação/Eduardo Fujise
Dividida em três salas, a mostra reúne cerca de 300 fotografias, desenhos Xikrin e Yanomami, além do vídeo “Aqui é o mundo”, dirigido por Maíra Bühler, que registra um encontro das três fotógrafas no final do ano passado. Cinquenta por cento das imagens expostas são sobre a temática indígena e refletem um forte vínculo com essa questão. Bisilliat, que foi pela primeira vez ao Parque Nacional do Xingu no início da década de 1970, lançou dois livros sobre as viagens: Xingu (Editora Práxis, 1978) e Xingu/Território tribal (Livraria Cultura Editora, 1979), este em parceria com os indigenistas Claudio Villas-Boas (1916-1998) e Orlando Villas-Boas (1914-2002). Também dirigiu o documentário Xingu/terra (1981), em parceria com Lúcio Kodato.
No entanto, o envolvimento com a questão indígena não se restringe ao registro de imagens. Andujar ajudou a fundar no final da década de 1970 a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY), que lutou pelo reconhecimento do território desse povo, só homologado em 1992. Já Vidal contribuiu para a criação de várias organizações indigenistas, como a Comissão Pró-índio de São Paulo, em 1978.
Maloca em chamas, imagem que integra a série A casa (1976), de Claudia Andujar.
Coleção da Artista. Cortesia Galeria Vermelho
Parte das imagens de Vidal foi restaurada para a exposição a partir de pesquisa de iniciação científica financiada pela FAPESP da fotógrafa Isabella Finholdt, na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, sob orientação do fotógrafo João Luiz Musa. O estudo, que integrou o projeto “Fotografias e trajetórias: Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat”, investigou, por exemplo, formas de tratar imagens analógicas produzidas entre as décadas de 1960 e 1980.
Ao todo, o acervo fotográfico de Andujar, administrado pela galeria Vermelho, de Bisilliat, hoje depositado no Instituto Moreira Salles, e de Vidal, abriga mais de 50 mil imagens. “Apenas em relação à questão indígena, elas registraram vários temas como cotidiano, caça, casas, aldeias, rituais e pintura corporal”, informa Bruno. “Decidir quais dessas imagens entrariam na mostra foi um dos nossos grandes desafios”, conclui.
*O conteúdo foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP, escrito por Ana Paula Orlandi
Em meio a mais de 300 obras de artistas de todo o Brasil, o artista acreano Ivan Campos expõe seu trabalho em duas importantes exposições no circuito Rio de Janeiro/São Paulo: ‘Fullgás’, no Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro, e no Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.
Para a exposição ‘Fullgás – Artes Visuais e anos 80 no Brasil’, as obras foram escolhidas pela curadoria de Raphael Fonseca e, de acordo com o artista, foram produzidas desde o fim do Ato Institucional Número Cinco (AI-5), na ditadura militar, até após o período do impeachment do presidente Fernando Collor.
“Os anos 80 pra mim foram a base de tudo que eu sou agora. Essa época foi quando eu estava saindo da adolescência porque com 20 anos a gente ainda está na formação da mente, eu nem sabia que que eu queria ainda. Eu trabalhava com a pintura, mas só em preto e branco e só fazia uma pintura por ano, quase não pintava nada, mas desde aquela época até hoje eu tenho levado a bandeira de viver da pintura e vou levar até o túmulo”, comentou ele.
Nessa exibição, a intenção é proporcionar ao público o contato com uma geração que depositou muita energia não apenas em fazer arte, mas também em novos projetos de país e cidadania. ‘Fullgás’ permanece no CCBB do Rio de Janeiro fica até o final de janeiro de 2025 na cidade e, em seguida, irá percorrer os CCBBs dos demais estados brasileiros.
Ivan Campos expõe sua obra na exposição Fullgás – Artes Visuais e anos 80 no Brasil. Foto: Ivan Campos/Arquivo pessoal
Já na 38ª edição do Panorama da Arte Brasileira, intitulada Mil Graus, o curador Germano Dushá, escolheu a obra: “Rebanhos do Céu”, que é uma obra de sete metros de comprimento que faz parte do acervo da Assembleia Legislativa do Estado do Acre, explorando minuciosamente a exuberância da floresta amazônica a partir da visão do artista.
A mostra bienal do MAM apresenta 34 artistas de 16 estados brasileiros e está ocorrendo no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP) onde permanecerá até o dia 26 de janeiro de 2025.
Ivan diz que sempre gostou da pintura ambiental, pois sempre amou pintar animais e sua técnica foi aprimorada através de observações.
“Aliás, eu estou até hoje nesse processo. Eu tenho a pintura como uma coisa infinita. Sempre que eu termino um trabalho, eu tenho que esconder ele, porque senão fico mexendo, cutucando e achando coisa pra colocar a mais, porque acho que tá faltando alguma coisa”, explicou.
A obra “Rebanhos do Céu” de 7 metros está exposta no 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil graus. Foto: Ivan Campos/Arquivo pessoal
Ivan Campos
Acreano nascido em Rio Branco, o artista conta que seu interesse pela arte começou quando criança, após passar um longo período internado para tratamento de tétano. Durante essa época, ganhava diariamente da mãe desenhos feitos em sobras de papel de pequenas dimensões.
Campos guardou todos eles e, logo ao receber alta, começou a desenhar figuras vegetais e humanas que serviam de modelo para os bordados feitos pela mãe, Gercina. Durante a infância, ele também se ocupava de colecionar histórias em quadrinhos cujas imagens eram usadas de referência para seus decalques.
Foi com esses materiais feitos à mão – sobras de papel e histórias em quadrinhos de baixo custo – que Ivan Campos aprendeu a desenhar de maneira autodidata. Seu trabalho em pintura veio depois, quando jovem, após anos de aprendizagem com o desenho.
Artista acreano, Ivan Campos, expõe sua obra em exposição no Rio de Janeiro e São Paulo. Foto: Ivan Campos/Arquivo pessoal
Segundo o artista, desde o começo de sua produção até sua fase mais recente, o motivo da pintura é encontrado no ambiente em que está inserido: a floresta amazônica, com seus rios e igarapés, aspectos místicos de sua vivência com a ayahuasca e cenas de interiores sendo alguns dos mais frequentes.
Sua primeira exposição individual aconteceu em 2000, na Galeria de Artes do Sesc, em Rio Branco. Em 2005, foi laureado com medalha de ouro no 1º Salão Hélio Melo de Artes Plásticas, evento realizado pela Associação de Artistas Plásticos do Acre (AAPA), com a obra Alicerces da Terra.
Em 2005, duas de suas obras foram selecionadas para o Projéteis de Arte Contemporânea, da Rede Nacional de Artes Visuais – Redemergências: uma das abordagens possíveis de um novo olhar sobre a produção artística atual, organizado pela Funarte/RJ.
Artista acreano, Ivan Campos, expõe suas obras em exposições no Rio de Janeiro e São Paulo. Foto: Ivan Campos/Arquivo pessoal
Em 2012, participou do projeto Trajetórias – Artes Visuais, com exposição de suas obras na Galeria Chico Silva, na Usina de Arte João Donato. Em 2018, recebeu a insígnia no Grau Cavaleiro do Quadro Ordinário da Ordem da Estrela do Acre, honraria concedida a personalidades que contribuíram para o desenvolvimento do Estado ou protagonizaram atuações decisivas em prol da população.
Em setembro de 2024, Ivan Campos passou a ser representado pela Galeria Almeida & Dale, que promove o trabalho e legado de artistas brasileiros entre instituições e coleções privadas em todo o mundo. A galeria desempenha o papel de revisitar a produção de artistas fundamentais na história da arte, incluindo nomes consagrados e outros ainda pouco conhecidos.
Intervenção urbana
Em 2014, as ruas da capital acreana receberam obras de 12 artistas que vivem em Rio Branco, sendo que um dos escolhidos foi o Ivan. A fotógrafa Talita Oliveira decidiu levar as galerias de artes para as ruas com o projeto ‘Artista de Plástico’, ampliando em grandes formatos (1,30m x 90 cm) fixou através de lambe-lambe [colagens em áreas urbanas normalmente feitas com cola de polvilho ou farinha], em diferentes bairros da cidade.
Em 2015, Ivan também fez parte de outra intervenção urbana também produzida pela fotógrafa Talita Oliveira, dessa vez, na cidade de Porto Velho (RO). Ela expôs obras reproduzidas fotograficamente de quatro artistas acreanos.