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Legado do naturalista Jacques Huber na fotografia é apresentado em exposição no Pará

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O lado fotógrafo do naturalista suíço Jacques Huber (1867-1914), ex-diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), é um dos grandes destaques da 13ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. Nesta edição, as fotografias estão sendo exibidas na mostra especial “In Natura / In Vitro”, em exposição no Museu da UFPA e “Arboretum”, uma mostra individual de Huber em exibição no hall do Centro de Exposições Eduardo Galvão, no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi. As exposições podem ser visitadas até 23 de junho.

In natura / in vitro” traz fotografias de Huber em diálogo com os trabalhos de artistas convidados contemporâneos como Felipe Russo, Luciana Magno, Péricles Mendes, Ana Paula Albé, Renata Aguiar, Janduari Simões, Janaina Miranda e Marina Feldhues. A visitação acontece de terça a sexta-feira, das 09h às 17h e sábado e domingo, das 10h às 14h.

Já a mostra paralela “Arboretum” traz 15 lambes fotográficos de Jacques Huber, presentes na obra “Arboretum Amazonicum: Iconographia dos mais importantes vegetaes espontaneos e cultivados da região amazônica” (1900–1906), publicação do Museu Goeldi, criada por Huber para divulgar suas fotografias aplicadas à botânica.

Arboretum” pode ser visitada de quarta-feira à domingo, de 9h às 13h. O valor do ingresso único no Museu Goeldi é R$3,00, com direito à meia entrada para estudantes e pessoas acima de 60 anos.

A curadoria das duas exposições é dos pesquisadores e docentes Nelson Sanjad (Museu Goeldi) e Mariano Klautau Filho (UNAMA). Nelson é historiador e curador da Coleção do Arquivo do Museu Goeldi e Mariano é fotógrafo, idealizador e coordenador do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia.

Este ano, a 13ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia traz como tema “Todo corpo em deslocamento tem trajetória”, proposta pela curadora convidada Lívia Aquino. Além do Museu da UFPA e do Museu Goeldi, as mostras seguem em exibição até 23 de junho também na Associação Fotoativa, no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas e na Galeria Fidanza do Museu de Arte Sacra.

Jacques Huber. Foto: Reprodução/Museu Emílio Goeldi

Pai da botânica na Amazônia

Apaixonado pela flora, Jaques Huber se formou em Ciências Naturais pela Universidade de Basiléia, na Suíça, com especialização em botânica pela Universidade de Montpellier, na França. Veio ao Brasil a pedido de Emílio Goeldi, que o convidou para assumir a chefia da seção de botânica do então Museu Paraense de História Natural e Etnografia, atualmente Museu Paraense Emílio Goeldi.

Huber atuou no Museu Goeldi desde 1895, assumindo a direção da instituição após o retorno de Emílio Goeldi para a Suíça, em 1907, e permanecendo no cargo até o ano da sua morte, em 1914. O botânico foi o maior especialista nas árvores produtoras de borracha, com descobertas, descrição e mapeamento de novas espécies de seringueiras da região amazônica. Seus estudos refletem o período econômico da época, caracterizado pela exportação e produção de borracha a partir das árvores amazônicas.

Jacques Huber é igualmente responsável pela sistematização e organização das espécies que compõem a flora do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi. São espécies vegetais que possuem um grande interesse científico, econômico e turístico, como a samaumeira do centro do Parque, plantada, estudada e sequencialmente fotografada pelo pesquisador suíço. Nesta área verde, localizada no coração da cidade de Belém, ainda é possível encontrar seringueiras plantadas e estudadas por Huber, e os indícios de seus experimentos para aumentar a produtividade na extração da seringa.

No Museu Goeldi, Jacques Huber aprimorou suas habilidades fotográficas, documentando extensamente as pesquisas de campo na Amazônia, assim como em outras regiões brasileiras. Ao registrar plantas e paisagens, Huber contribuiu não apenas para a pesquisa documental e científica, mas também para a construção da memória e preservação do patrimônio cultural brasileiro.

Nelson Sanjad pontua que “Huber foi considerado um dos expoentes da fotografia produzida no Brasil à época, inserindo a cidade de Belém entre os centros urbanos onde houve uma vanguarda artística voltada para a pesquisa estética e para a ampliação dos usos da tecnologia fotográfica”.

Com relação à preservação do patrimônio do Museu Goeldi, Jacques Huber também teve uma importância fundamental ao guardar em papelas cópias em papel da coleção de negativos de vidro produzidos pela instituição ao longo dos anos, que Nelson Sanjad pesquisou na Suíça e reproduziu com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES e apoio da família de Huber.

Segundo Sanjad, curador da Coleção Histórica e Documental do Arquivo do Museu Goeldi, estima-se que o acervo de negativos de vidro do MPEG era superior a 5.000, todavia parte desse conjunto foi perdido com o tempo. Atualmente, a coleção fotográfica do Museu Goeldi possui 1.421 negativos de vidro. Com recursos captados junto a Caixa Econômica Federal e o apoio do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da FUNARTE, foi realizado um processo de higienização, digitalização e catalogação da coleção, que também recebeu uma estrutura adequada de armazenamento. Nelson Sanjad destaca que “graças a esse projeto, essa coleção passou a ser objeto de várias pesquisas e exposições, que estão ajudando a redimensionar a compreensão que tínhamos sobre a história da fotografia no Brasil”.

Uma novidade é que brevemente o público também poderá conferir uma seleção especial da coleção fotográfica de negativos de vidro do Museu Goeldi, que será divulgada com exclusividade na plataforma Brasiliana Fotográfica, do Instituto Moreira Salles e da Biblioteca Nacional.

*Com informações do MPEG

Introdução de peixe amazônico em reservatório paulista diminuiu diversidade de espécies nativas

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O peixe amazônico conhecido como corvina ou pescada-branca (Plagioscion squamosissimus) é o mais provável responsável por uma queda acentuada na diversidade de espécies nativas no reservatório Jaguari, no rio de mesmo nome, e no rio do Peixe, parte do Sistema Cantareira e da bacia do Paraíba do Sul. A conclusão é de um estudo publicado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) na revista Biological Invasions.

As análises foram possíveis graças a dados coletados para o monitoramento da fauna de peixes pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp), no qual a espécie passou a ser registrada no reservatório a partir de 2001. Os dados analisados vão até 2016. Em apenas dez anos, a corvina se tornou a espécie mais abundante do reservatório.

“Apesar de amplamente distribuído em reservatórios para geração de energia hidrelétrica em todo o Brasil, não se sabia os efeitos que esse predador poderia causar às espécies nativas. Nossas análises apontam para perdas consideráveis na diversidade de peixes na região”, conta Aymar Orlandi Neto, primeiro autor do estudo, realizado na Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (Feis-Unesp).

O trabalho integra seu projeto de doutorado, conduzido no Instituto de Biociências de Botucatu (IBB-Unesp) com bolsa da FAPESP.

Parte dos resultados foi obtida ainda durante estágio realizado por Orlandi Neto na Universidade de Valência, na Espanha.

O monitoramento conduzido pela Cesp é parte das exigências ambientais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para a operação da usina hidrelétrica.

A cada quatro meses, os técnicos da empresa instalavam redes de espera em pontos predeterminados e conferiam os peixes capturados no dia seguinte, tabulando os resultados por espécie e abundância. Além de um ponto na própria represa, entre os municípios de Jacareí e São José dos Campos, as capturas ocorriam no rio do Peixe e no próprio rio Jaguari.

Pesquisadores realizam coleta de peixes em reservatório no Estado de São Paulo. Foto: Igor Paiva Ramos/Feis-Unesp

“Essa série temporal de 15 anos mostra que, além de peixes pequenos, que servem de alimento para a corvina, a abundância de um predador nativo também foi bastante reduzida. À medida que cresceu a abundância de corvina, diminuiu a do dentudo [Oligosarcus hepsetus]”, afirma Igor Paiva Ramos, professor da Feis-Unesp e coordenador da investigação.

Com os dados disponíveis, porém, não é possível saber se a redução do predador nativo se deu por competição indireta, uma vez que tanto ele quanto o peixe invasor podem atacar as mesmas presas. Outra possibilidade é que a corvina, que pode chegar a 80 centímetros, esteja predando o dentudo, cujos adultos chegam a cerca de 30 centímetros.

Sendo um peixe de águas paradas, típica de lagoas, lagos e reservatórios, a corvina se beneficiou do ambiente criado pela barragem. Essa pode ser outra vantagem em relação ao predador nativo, de águas correntes.

Espécies introduzidas

As espécies invasoras são um problema global e ocorrem em todo tipo de ambiente, tanto terrestres quanto aquáticos. No Brasil, o prejuízo causado por animais, plantas e microrganismos advindos de outros ecossistemas foi estimado em R$ 15 bilhões por ano.

O dado é do Relatório Temático sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, lançado em março pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), que tem apoio da FAPESP por meio do programa BIOTA.

No estudo da Unesp, os pesquisadores ressaltam que outras espécies introduzidas aparecem nos registros do reservatório de Jaguari, como os também amazônicos tucunarés (Cichla spp.) e as tilápias (Oreochromis niloticus e Coptodon rendalli), que são africanas. No entanto, numa quantidade muito pequena, voltando as suspeitas sobre a redução da diversidade nativa para a corvina.

A perda de diversidade observada pelos autores se dá nas três dimensões levadas em conta quando se avalia esse tipo de impacto: taxonômica, funcional e filogenética. Em linhas gerais, no período estudado, notaram-se perdas na riqueza de espécies, a substituição de muitas espécies raras e especialistas por poucas generalistas, além de diferenças significativas na composição de espécies e suas abundâncias dentro das comunidades de peixes do local. Grupos evolutivos inteiros se perderam.

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Problema social

Soluções para o problema não são simples. Uma vez que se estabeleceu no ambiente, a espécie é tida como um importante recurso pesqueiro, tanto para subsistência quanto para a pesca esportiva. Erradicá-la poderia acarretar problemas sociais.

“É um peixe que se tornou comum em grande parte do Brasil. Uma vez que substituiu espécies nativas, acabou ganhando um papel social importante nas economias locais”, destaca Ramos.

Ainda assim, o pesquisador propõe ações similares às de outros países com espécies invasoras. No caso, o incentivo à pesca da espécie durante todo o ano, sem limite de tamanho e sem respeitar o período reprodutivo, a fim de erradicar ou ao menos reduzir sua presença.

No entanto, as legislações nacional e estadual restringem a pesca não apenas às espécies nativas, como deve ser feito, mas também impõem algumas restrições às invasoras. “Dessa forma, acabam perpetuando as que são nocivas à fauna local”, diz Orlandi Neto.

Ramos lembra, porém, que erradicar espécies invasoras não leva necessariamente ao retorno das nativas. “Não sabemos se, ao tirar a corvina, uma outra invasora não tomará o seu lugar. O ambiente já foi modificado de tal forma que pode não ser mais adequado para os antigos habitantes”, ressalva.

O artigo ‘Long-term impact of an invasive predator on the diversity of fish assemblages in a neotropical reservoir‘ pode ser lido AQUI.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Fapesp, escrito por André Julião

Comendador J. G. Araújo e seu papel na Real Sociedade e Benemérita Beneficente Portuguesa do Amazonas – Camas de caridade

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br

Os homens não valem pelo privilégio da fortuna de que desfrutam ou do poder que, eventualmente, conseguem empalmar, mas pelo que produzem em prol da coletividade”.

Joaquim Gonçalves de Araújo é um nome para todo o Estado do Amazonas expressiva e valiosamente sintetizado nas iniciais J. G. que ainda ecoam em todos os quadrantes do Estado como símbolo de uma verdadeira potência comercial e industrial. Procedente de Portugal, muito jovem, iniciou a sua vida comercial em vendas modestas e humildes. Há poder de perseverança, trabalho e dinamismo o Joaquim vendeiro foi conquistando terreno patino a patino no conceito dos seus coevos, alcançando o prestigioso posto de chefe da firma J. G. que ainda hoje é um símbolo e, foi nos áureos tempos do ouro negro, uma potencia econômica e financeira em todos os recantos do estado. Além do título de Comendador conquistou um titulo de nobreza na nobiliarquia lusa pelo muito que realizou em beneficio da colônia.

A Sociedade Portuguesa Beneficente foi uma das beneficiárias da sua atuação como presidente e protetor da entidade.

A sua presidência foi de todo o decorrer do ano de 1897.

O seu relatório é altamente histórico porque focaliza as atividades de um dos anos mais prósperos da consolidação da sociedade.

Tão elucidativa é esta peça que vai em grande parte transcrita sem comentários.

Assistência Hospitalar aos Indigentes

Nobre por todos os títulos foi a iniciativa de instituir as chamadas camas de caridade para socorrer os indigentes. Tal iniciativa mereceu um capítulo do relatório que deve ser escrito neste histórico em razão do espírito altamente filantrópico em que está vagado.

Camas de Caridade

A mais bela iniciativa da nossa sociedade no ano social que agora finda, é sem dúvida, a da instituição das camas de caridades destinadas a receber independentemente de nacionalidade todos os indigentes que reclamarem os serviços do hospital.

Esta ideia generosa e humanitária, que há de atrair incontestavelmente a nossa sociedade muitas dedicações, profundas simpatias e sinceras bênçãos, deve merecer a todos nós uma atenção especial, abranger uma parte das nossas vistas e se, for até preciso, uma parte dos nossos sacrifícios.

Nelas está representada a verdadeira filantropia e por conseguinte um dos mais belos florões que a nossa sociedade ostenta na sua coroa de glória.

Comendador Joaquim Gonçalves Araújo, fundador. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A diretoria que de vós recebeu o honroso mandato de gerir, no ano findo, os negócios sociais, sabia perfeitamente que a lei vigente determina que os benefícios, da nossa sociedade devem principalmente convergir para os seus associados, mas entendeu também, que não devia por motivo algum, despedir, sem comiseração, os infelizes que em precárias circunstancias e lutando com a morte viessem reclamar os serviços do hospital, porque seria menosprezar a maior virtude que nobilita o homem, o amor do próximo e, renegar as tradições e os fins altruístas da nossa instituição.

Daí o abraçar com toda a atina a ideia das camas de caridade e trabalhar, com empenho, para a sua fundação e desenvolvimento.

Esta ideia tão generosa como sedutora, partiu do nosso irmão pelo berço, do patriota a quem a sociedade muito deve e mais deveria se pelas disposições da nossa lei orgânica lhe fosse permitido associar-se, o sr. Francisco Gonçalves da Costa Porto, o amigo que tantas provas de afeto tem, dado a nossa terra, que é também a sua e tantas vezes temos visto o nosso lado, ora seguindo, cheio de entusiasmo e de crença as nossas manifestações de jubilo, quando a nossa pátria alcança um triunfo ou comemora uma data gloriosa, ora acompanhando os nossos protestos, indignado e altivo, quando a ambição dos fortes vibra covardemente sobre ela a chicotada miserável de uma afronta.

Foi deste cavalheiro que partiu, com o primeiro donativo, essa iniciativa a que hoje não há ninguém que negue o seu concurso, o seu auxilio e a sua homenagem, sendo logo perfilhada pelo nosso distinto consócio sr. Luiz Eduardo Rodrigues, com verdadeiro fanatismo e louvável generosidade.

Por proposta do nosso digno consócio e mordomo, o sr. Porfiro Varela, um batalhador infatigável, um sincero amigo da nossa instituição, foram as camas fundadas no dia 5 de setembro de 1898, dia imperecível em que uma nova aurora surgiu neste imenso estado e a civilização mais um triunfo na sua carreira luminosa, data gloriosa, que há de sempre nos lembrar a maior conquista social e moral do povo amazonense, porque milhares de mártires viram desfazer-se nesse instante as algemas da escravidão que lhes arroxeavam os pulsos e, puderam ver pela primeira vez, de fronte erguida, o sol formoso da liberdade. Assim aquelas camas não representam somente uma obra meritória, um exemplo de caridade, são também um monumento que sintetiza a comemoração de um grande dia, a consagração de um acontecimento inconfundível, a abolição da escravatura, nesta bela e riquíssima região.

Comendador José Cruz, presidente 1962 a 1992. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Representante de portugueses intimamente unidos aos brasileiros, pelas tradições, pelo passado, pela história, tendo no Brasil uma terra generosa e hospitaleira, a nossa sociedade provou assim que não considera esta grande união apenas como um campo de trabalho e de luta frias que ligam um pensamento mais nobre e elevado, que vê nela uma segunda pátria, alegando-se com os seus triunfos e comemorando jubilosamente os seus dias de glória.

Dos serviços que as camas de caridade, apesar da sua fundação recente, tem prestado aos desprotegidos da fortuna, podeis formar um juízo seguro pelo mapa que vai seguidamente desenvolvido e, do bom acolhimento que lhes tem sido feito, encontrais uma prova irrefutável e consoladora no documento adiante publicado.

Júlia Barjona Labre – A última hóspede da Beneficente Portuguesa

Atendendo um pedido do Cônsul de Portugal em Manaus, Dr. Emídio Vaz D’Oliveira e do empresário das comunicações Jornalista Phelippe Daou, naturalmente contando com a generosidade do Comendador José Cruz, Presidente da Beneficente Portuguesa à época, a professora Júlia Barjona Labre foi a última hospede do hospital português.

O que era comum naquela época desde o início do século, o hospital português sempre recebeu hóspedes portugueses que não tinham familiares em Manaus e, naturalmente faziam doações de suas propriedades para o referido hospital e desta forma na condição de sócio passavam a morar até sua morte nas dependências do hospital. Foram muitos aqueles portugueses que participaram efetivamente deste projeto de generosidade.

Júlia Barjona Labre, (professora Julitta para os íntimos) nasceu no dia 4 de abril de 1887, no Estado de São Paulo, filha de Luís Araújo Labre e Isabel Maria Barjona Labre. Fez seus primeiros estudos no Liceu Nacional de Lisboa, Portugal. Uma escola tradicional, fundada em 1836, com nome de Liceu Passos Manuel, hoje, Escola Secundária de Camões. Instalado à época no Palácio de Regaleira, no Largo de São Domingos. Ainda hoje, esta tradicional escola mantém o ensino noturno e continua a ser uma das maiores escolas secundárias do país.

Júlia Barjona Labre (Julitta). Nasceu em 4 de abril de 1887, filha de Luiz Araújo Labre e Isabel Barjona de Freitas. Cartão postal produzido por Silvino Santos, 1921. Foto: Acervo de José Paulo Macedo

Segundo depoimento deixado por escrito pela própria dona Julitta, ela destaca:

[…] Posso dizer que nasci em berço de ouro. Nunca soube na vida estudantil o que era dificuldades. Meus avós e meus pais abastados, sempre me cumularam de tudo o que precisava para uma vida tranquila e confortável. Sempre tive o direito de escolher os lugares para passar os meus períodos de férias escolares. Foi assim que conheci Paris, Bordéus, Liège, Madri e vários outros lugares bonitos. Gosto de criança, de todos os animais sem exceção e por toda vida sigo um lema: Meus amigos não têm defeitos, meus inimigos, se existem, não têm qualidades.

Em Belém do Pará, sua mãe e sua avó foram proprietárias do Colégio Progresso no qual venderam, mais tarde, ao Dr. Arthur Theodulo dos Santos Porto, tendo passado a denominar-se Colégio Progresso Paraense. Arthur Theodulo dos Santos Porto nasceu a 4 de abril de 1866, na cidade de Recife, Pernambuco, sendo seus pais: o Conferente de Alfândega, Coronel João dos Santos Porto e dona Emília dos Santos Porto. Fez seus primeiros estudos nessa cidade, tendo, mais tarde, ingressado na Faculdade de Direito onde foi aluno de Tobias Barreto, entre outros tantos mestres de excepcional talento.

Concluído o curso jurídico, viajou para o Estado do Pará, onde assumiu o Cargo de Promotor de Justiça da Comarca de Bragança, posteriormente, foi oficial de gabinete do Governador Dr. Justo Chermont, cargo que desempenhou até 1890, quando retornou a Pernambuco.

Júlia Barjona Labre chega ao Amazonas em 1907 e, desde logo, iniciou magistério com sua mãe Isabel Maria Barjona Labre e sua avó Júlia Barjona de Freitas as quais fundaram, nesta ocasião, o Colégio Progresso na Avenida Sete de Setembro, onde neste local, mais tarde, foi construído o edifício Antônio Simões. Posteriormente, o Colégio Progresso foi transferido para um sobrado com porão habitável na Avenida Joaquim Nabuco, esquina da Rua Lauro Cavalcante. Ainda no depoimento escrito por Júlia Barjona Labre, ela retrata Manaus no período de sua chegada:

Voltou ao Estado do Pará no ano seguinte para casar com dona Júlia Pinheiro, filha do ilustre e respeitável Coronel José Caetano Pinheiro, Senador da República e um dos líderes políticos de maior prestígio. Foi também atuante advogado no fórum de Belém, onde soube honrar durante muitos anos de intensa atividade defendendo causas cíveis e criminais. Foi professor na cadeira de Geografia do antigo Liceu Paraense e, posteriormente, de História Universal na Escola Normal do Pará, onde obtivera cátedra dessa disciplina em 1893, em 1927, foi nomeado desembargador no Tribunal Superior de Justiça.

[] Quando cheguei a Manaus, encontrei dois ótimos serviços, energia elétrica e o serviço de bondes, que em nada ficavam a dever aos de Portugal e aos da Europa na época. Manaus era uma cidade pequena, mas com povo muito trabalhador e muito hospitaleiro. Nos clubes sociais como o Internacional e outros, reunia-se a sociedade em grandes festas. Nos clubes nada se pagava, os sócios tinham direito a pedir o que fosse de seu agrado sem qualquer pagamento. Do champagne ao vinho do porto, etc. Manaus, por esse tempo, recebia a visita de grandes artistas, de companhias famosas de toda a Europa. As famílias também gostavam de reunir-se com os amigos em casa.

A professora Júlia Barjona Labre, mestra de tantos alunos ilustres, como Phelippe Daou e Milton Cordeiro, promoveu com sua escola um ambiente mais propício ao seu acentuado pendor didático, pôde ela lecionar neste tradicional colégio até 1963, quando, definitivamente, aposentou-se do magistério, auferindo desse trabalho os meios de subsistência para ela e para aqueles que permaneceram em sua volta, buscando sempre conquistar altíssimas relações as quais lhe valeram grandes momentos de amizade. Exerceu o magistério de forma prazerosa durante cinquenta e sete anos. Nesse sacerdócio, viveu os melhores dias de sua vida, teve alunos exemplares, lecionou para os filhos das melhores famílias que ela conhecia. Teve sob a sua guarda várias gerações de amazonenses dos quais ela se orgulhava muito, pois todos eles se destacaram na vida profissional e foram, para ela, motivo de grande satisfação. A professora Julitta destacou um amigo inesquecível, Ruy Araújo. Ela, ainda, destaca no seu depoimento:

[…] O Amazonas na época do ouro negro transbordava de grandeza, mas com a queda da borracha e o registro da crise dela consequente, tudo se modificou no Amazonas. Todo mundo sentia na carne os efeitos da crise. Eu e minha família também dela não escapamos. Minha avó, por exemplo, perdeu tudo o que possuía e que estava aplicado no interior, através das mais importantes firmas da terra, que desapareceram na voragem da crise econômica sem precedentes na história do Amazonas. São tantas as recordações boas e más, da minha carreira, que não me atrevo a dizer qual delas a que me deixou marcas mais profundas. Devo, no entanto, dizer que amo verdadeiramente os “meus filhos” e “meus netos” e sinto uma alegria e prazer imenso quando sei que algum deles está prosperando, alçando-se a posições mais importantes na vida.

Júlia Barjone Labre, no Hospital Beneficente Portuguesa, 1971. Foto: Acervo de José Paulo Macedo

Seu nome está perpetuado na Escola Municipal Júlia Barjona Labre que, à época de sua criação, era uma pequena casa de madeira de iniciativa do Projeto Pró Morar São José 1, na administração municipal do Prefeito José Fernandes e teve as obras concluídas na administração do Prefeito João Furtado, cuja, inauguração ocorrera em agosto de 1982.

A primeira gestora dessa escola foi a professora Dalva Sueli Moraes Mota. Outros profissionais também tiveram importante dedicação a essa escola como, por exemplo, Joaquim de Oliveira Reis, João Bosco Dutra da Silva, Gilmar da Silva Oliveira, Jocelim Umberto da Silva Oliveira, Brigida Meneses e Tarcísio Serpa Normando.

A professora Julitta após se aposentar e por influência do Comendador Emídio Vaz D’Oliveira e Phelippe Daou, foi lhe concedido um aposento no Hospital Beneficente Portuguesa, onde permaneceu até falecer. Ela, quando em vida, sempre destacou grandes amigos e companheiros de todas as horas: Isabel Barbosa de Macedo, viúva do Sr. José Manuel de Macedo; Eneida Araújo de Vasconcelos, filha do Dr. Ruy Araújo e dona Elena Araújo; Paulo Fernando Cidade Araújo; Maria Ermelinda Pedrosa de Medeiros; Valdir Medeiros; Maria do Céu Vaz D’Oliveira; Rômulo Rabelo; Osvaldo Said; Djalma Batista; Penido Burnier; Pedro Araújo Lima; Renê Gutierrez. Dona Isa Pedrosa, viúva do Dr. Valdemar Pedrosa e mãe de dona Maria Ermelinda.

Ao escrever este artigo, volto a um período importante da minha infância e juventude, onde, por tantas vezes, transitei naquele espaço do Colégio Progresso.

Sonhar e acreditar. Destas duas qualidades resultam as realizações sociais e os fazeres do espírito humano – fatores indispensáveis para perpetuação das aspirações enobrecedoras e a construção de possibilidades efetivas para existência humana.

A professora Júlia Barjona Labre formou muitas gerações de homens e mulheres os quais souberam colocar em prática valores e atitudes que, com ela, aprenderam.

A existência dela enquanto viveu entre nós, foi marcada pela vontade de servir e projetar seus alunos para o futuro. Essas considerações me ocorrem enquanto constato que, na sua escola, ela utilizou o conhecimento como pátina, no cinzelamento do conhecimento de todos aqueles alunos que beberam na fonte de seus ensinamentos.

A vida é uma aventura em que os justos e os bons, apesar das provas e desafios, afirmam, com a força de seu caráter e com suas ações, as marcas de sua singularidade e grandeza de suas atitudes. Eis, aí, o diferencial o qual distingue as almas nobres, daqueles que vivem nas sombras ou contentam-se com a pequenez de seus sentimentos.

A trajetória dessa educadora foi reveladora de seus múltiplos compromissos com o sacerdócio de ensinar, com a vida e com a possibilidade da construção de uma sociedade que se destacou no Estado do Amazonas. A existência dessa mestra foi uma prova do poder de transformação do saber, isto é, o triunfo da vontade de ensinar. Sua vida foi vitoriosa porque era alicerçada na crença de seus pais de que o maior patrimônio que poderiam legar aos filhos era o conhecimento.

Poucas pessoas, nesse universo escolar, têm um espaço reservado na história da nossa cidade depois de longos e proveitosos anos de magistério. A mestra Júlia Barjona Labre descreveu nossa cidade como observadora atenciosa e, como se nós pudéssemos vê-la debruçada na janela de sua escola, nas tardes de domingo, que, por tantas vezes, eu presenciei na pacata cidade de Manaus onde ela escolheu para viver.

Além do círculo de amizades de nosso entorno, ela impressionava com uma amizade muito próxima de personalidades da família real, era a sua vertente mágica de construir boas amizades, pela singularidade dos seus conceitos e, principalmente, pela forma de que seus pais promoveram sua educação. O seu absoluto e elegantíssimo domínio da língua portuguesa, fez dela uma sedutora para quem teve a felicidade de ouvi-la e conviver com ela.

É certo que não só por meio da palavra os mortais podem passar à posteridade, tão significativos e ilimitados foram suas raízes a partir de seus pais, muito especialmente a sua mãe Isabel Maria Barjona Labre, que ao receber o óleo santo do batismo e a água purificadora na Igreja Paroquial de Nossa Senhora dos Mártires, Conselho do Bairro do Rossio, Distrito Eclesiástico do Patriarcado de Lisboa, através do Padre Narciso José Pinto, nesta ocasião, foi seu padrinho Sua Majestade o Imperador do Brasil, Dom Pedro II, por seu bastante Procurador o Excelentíssimo Barão de Itamaracá, seu Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário nesta Corte e recebeu como Madrinha Nossa Senhora da Conceição. Dessa forma, buscando encontrar nas curvas do tempo fatos históricos que valem a pena ficar como registro nesta viagem de rememorações, reencontros e revelações.

No seu acervo pessoal, encontramos cartões de Natal, cartão pessoal da Princesa Esperanza da Família Imperial Brasileira, com foto da Princesa dona Esperanza, Príncipes Dom Pedro Carlos e Dom Pedro de Orleans e Bragança, enviados do Palácio Grão Pará em Petrópolis, Rio de Janeiro. Além de muitos documentos, um bilhete postal produzido por Manáos – Arte – J. G. Araújo & Cia., Ltda., cuja produção artística era de Silvino Santos, com a foto de Júlia Barjona Labre. A importância da família Labre também está em um registro memorável na fundação da cidade de Lábrea, onde ocorrera a saga das terras dos índios Apurinã e Palmary, como bem destaca o Professor Doutor Hélio Rocha, na sua obra “Coronel Labre”. Antônio Rodrigues Pereira Labre (1827-1899), Coronel Labre maranhense, fundou, organizou e governou esta cidade as margens do Rio Purus, no ano de 1871.

Depoimento escrito por Júlia Barjona Labre

Escola Municipal Júlia Barjona Labre/Professor Carlos Alberto Monteiro de Oliveira;

Informações cedidas pela família do Desembargador Athur Porto através de Raul Porto, Belém do Pará;

Informações e documentos cedidos por José Paulo Macedo;

Rocha, Hélio. Coronel Labre/Hélio Rocha; São Carlos, SP, 2016. Editora Scienza.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

MEC contribui para nova lei da educação superior na Colômbia

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O Ministério da Educação (MEC) — por meio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) — participou, no dia 14 de junho, em Bogotá (Colômbia), do painel ‘Acuerdo Nacional por la Educación Superior: las grandes apuestas de Brasil, Chile y México‘. O evento, promovido pelo Ministério da Educação Nacional colombiano, teve por objetivo o intercâmbio de experiências desses países a fim de contribuir para a implantação da Lei nº 2307/23. A norma, assinada no final do ano passado pelo governo colombiano, estabelece a gratuidade dos cursos de graduação nas instituições públicas de educação superior para grupos específicos.

O MEC foi representado pelo secretário de Educação Profissional e Tecnológica, Marcelo Bregagnoli. Ele lembrou que o tamanho do Brasil gera muitos desafios na educação superior e apresentou algumas soluções de políticas públicas encontradas pelo governo brasileiro. “O Presidente Lula anunciou, há três meses, mais 100 novos campi de institutos federais em todo o País. Assim, vamos alcançar 785 unidades. Atualmente, temos 1,7 milhão de estudantes matriculados nos institutos federais, que estão em lugares nos quais antes não havia oferta de educação pública”, ressaltou.

O secretário também elencou fatores como inclusão social, alinhamento aos arranjos produtivos locais, capacitação para servidores, sustentabilidade, interiorização, internacionalização, além de autonomia financeira, administrativa e didático-pedagógica, como pontos fortes da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica no Brasil.

O painel ainda contou com a participação da diretora do Sistema de Avaliação e Acreditação da Educação do México, María José Rhi Sausi Garavito, e do subsecretário de Educação Superior do Ministério da Educação do Chile, Víctor Orelhana Calderón. A moderação do debate foi feita pelo vice-ministro da Educação Superior da Colômbia, Alejandro Alvarez Gallego.

Modelo

A gratuidade da educação na Colômbia ainda não é uma realidade em cursos superiores, sendo restrita ao ensino primário e a parte do secundário. As primeiras discussões sobre o tema estão em andamento, e a participação do Brasil no evento é um reconhecimento da experiência brasileira na oferta de educação pública gratuita e de qualidade em universidades e institutos federais.

Assista à íntegra do painel

*Com informações do MEC

Aplicativo é criado para monitorar ataques de onças no Acre

As onças estão sob forte ameaça de extinção em todo o país. Elas desempenham um papel fundamental para o equilíbrio de todo o ecossistema. Uma empresa do mercado de crédito de carbono implantou o Projeto Hiwi, que monitora ataques de onças em fazendas que ficam no Acre.

Edmilde Pinheiro é fiscal de fazenda e acompanha diariamente 11 mil cabeças de gado. Às vezes, ele recebe a notícia de que algum animal foi atacado por onça.

“A caça da onça existe sim na nossa região. Ela é bem procurada por ela dá prejuízo em comer o rebanho dos produtores”, comenta.

O fiscal utiliza o próprio celular para monitorar os ataques do maior felino das américas. O Projeto Hiwi desenvolveu uma inteligência por trás de um aplicativo que define padrões e mapeia ataques de onças. A ferramenta é utilizada nessa área desde novembro de 2023.

Pinheiro esclarece que, ao ser avisado que uma onça atacou o gado, se dirige ao local do ataque, tira foto e coloca no aplicativo.

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O aplicativo de monitoramento das onças ajuda na caracterização dos ataques de forma sistemática e detalhada para entender padrões e criar planos efetivos de mitigação. As onças costumam atacar o gado no período da noite, em regiões no limite entre a mata fechada e o pasto.

A coordenadora do Projeto Hiwi, Larissa Albino, especifica como é feito o monitoramento dos ataques.

“O ataque foi feito provavelmente de dia ou de noite, se foi macho ou fêmea, aonde que o animal foi atacado e onde o animal foi consumido. Então, todas essas informações são informações substanciais para a gente avaliar qual é o padrão de ataque que o rebanho sofre no pasto”, comenta.

Uma câmera para captar imagens das onças foi instalada na área de floresta de uma das fazendas do projeto. Os ataques ainda são analisados para saber quais espécies atacam mais e em que período do ano. Os resultados podem ser apresentados em até dois anos.

Ataques

Desde janeiro deste ano, foram 14 ataques de onça em quatro fazendas que fazem parte do Projeto Hiwi. Na região, é comum que onças pardas e pintadas sejam caçadas como forma de retaliação pela predação do gado.

As onças são consideradas “espécies guarda-chuva”, ou seja, são protegidas como parte de uma estratégia de conservação de todo um grupo de espécies. A bióloga Marinara Lusvardi, explica que quando esse animal é protegido, tudo que vem abaixo dele está protegido.

“O território, a qualidade da água, outros animais, outros predadores, herbívoros. Então, proteger a onça é você proteger uma área muito grande com muitas outras espécies junto”, destaca.

Para evitar os ataques cometidos pelos felinos, Albino articula que seja necessário fazer um cercamento, colocar luzes ou colocar a área de berçário do bezerro mais longe da área da floresta. “Mas primeiro a gente precisa aumentar nosso banco de dados para ter exatamente a melhor forma para poder evitar esses ataques”, assegura.

App monitora os ataques do maior felino das américas. Foto: Reprodução/Rede Amazônica AC

O Projeto Hiwi com a geração de crédito de carbono é elaborado em quatro fazendas da região e orienta famílias sobre extrativismo sustentável e manejo agropecuário. A área de floresta é parte de mais de 20 mil hectares, destinadas ao mercado de crédito de carbono.

A expectativa é evitar mais de 5 mil hectares de desmatamento em 30 anos, o equivalente a 2,64 milhões de toneladas de CO2 emitidos na atmosfera. Nos próximos anos, o projeto deve gerar 60 mil créditos por ano, podendo chegar a 80 mil anuais até 2029. As onças estão envolvidas nesse projeto.

Onças

Nos últimos 10 anos, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por meio do Centro de Triagem de Animais Silvestres de Rio Branco, resgatou sete onças. Quatro pardas e três pintadas, entre elas, onças criadas em cativeiros, salvas da comercialização ilegal e uma vítima de atropelamento.

As onças-pintadas Maiara e Maraisa não vivem mais na floresta. Elas estão no Parque Chico Mendes, em Rio Branco. Elas têm dois anos e foram resgatadas ainda filhotes, depois que a mãe delas foi morta por um caçador em Sena Madureira, no interior do Acre.

As onças não podem voltar para a natureza porque é a mãe que ensina a caçar e fugir. Elas deixam de ser consideradas filhotes quando atingem a maturidade sexual que, em média, para as fêmeas, são dois anos.

A bióloga Marinara explicou o processo que as pequenas onças passaram. “Elas ainda pequenininhas estavam sendo vendidas. E aí o Ibama fez a mediação, fez o resgate delas, elas passaram pelo Cetas, que é o Centro de Triagem de Animais Silvestres, e aí é o Cetas que direciona. Como a gente é o único zoológico na região, elas foram destinadas pra gente e a gente está com elas desde então”, informa.

Elas dependem de grandes áreas preservadas para sobreviver e cumprem um papel importante no equilíbrio do ecossistema da floresta, mas são consideradas ameaças por alguns fazendeiros devido a predação do gado em áreas de pastagem.

*Por Eldérico Silva, da Rede Amazônica AC

Apoio do Planalto à exploração do petróleo e obras de pavimentação da BR-319 isolam politicamente Marina Silva

Por Osíris M. Araújo da Silva

Desde o presidente da República aos titulares de ministérios e órgãos afins que se ocupam dos recursos da biodiversidade contrariando posições ambientalistas radicais da ministra do Meio Ambiente, Marina da Silva, seus palpites vêm perdendo credibilidade, o que a leva ao incômodo isolamento perante o governo federal. Até por encontrar-se manietada e submissa à pressão explícita de ONGs ambientalistas radicais contrárias à exploração das potencialidades geoeconômicas legadas pela Mãe Natureza ao Brasil. O presidente Lula da Silva tem se manifestado favorável ao estabelecimento de plataformas para extração de petróleo na Margem Equatorial. O tom de seus posicionamentos foi externado em discurso a investidores no Rio de Janeiro, quando defendeu a possibilidade do Brasil explorar as reservas petrolíferas na região, que inclui a foz do rio Amazonas, argumentando que ela pode viabilizar “um salto de qualidade extraordinário”, além de oportunidade econômica que o Brasil não pode “jogar fora”.

O presidente vem reiteradamente sinalizando a investidores que as condições são favoráveis por parte do Executivo e que o sinal está aberto para a retomada de projetos barrados pelo IBAMA no ano passado, alegadamente “por conta dos riscos ambientais”. Os argumentos presidenciais, distantes das intransigentes argumentações de Marina da Silva, são frequentemente apoiados pelo ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia), e pela nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, para quem “a empresa atuará para apoiar o desenvolvimento do país e o aumento do PIB”. Além do que, segundo informes da empresa, “as reservas da Margem Equatorial são a principal aposta da Petrobras para manter o nível de extração de petróleo a partir da década de 2030, quando a produção do pré-sal deve começar a cair. Assim, a nova fronteira daria segurança energética ao país durante a transição para a economia verde”.

Por seu turno, relatório do Grupo de Trabalho sobre a pavimentação da rodovia BR-319 concluiu que existem elementos para garantir a viabilidade técnica e ambiental para realizar o empreendimento. De acordo com o ministro dos Transportes (MT), Renan Filho (MDB), há espaço para a realização do projeto com sustentabilidade levando em conta que a BR-319 “será uma rodovia com cercamento em áreas de floresta, com passagem de fauna subterrânea e aérea”. O MT promoveu ampla interlocução com áreas ministeriais e órgãos envolvidos e com a sociedade em audiências públicas na região amazônica. Tais encontros foram determinantes para o entendimento sobre a viabilidade da obra, dependendo apenas das licenças finais, “que logo deverão ser liberadas”.

O relatório do Ministério dos Transportes deixa claro que “o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental – EIA/RIMA, feitos pelo DNIT, utilizado como base para emissão da licença prévia 672/2022, ilustram o compromisso do órgão em respeitar os compromissos acordados nas condicionantes que estiverem sob sua gestão, necessárias para garantir a Licença de Instalação”. Segundo GT Rodovias da BR-319, do CREA AM, deve haver compromisso amplo de preservação ambiental e respeito às comunidades tradicionais.

Nesse sentido, o GT propõe “modelo reforçado por policiamento e a implementação de portais de controle”. Um projeto que, em sua base, “tenha como premissa o respeito ao meio ambiente e aos povos originários tem plenas condições de coibir preventivamente eventuais danos ao bioma”. Para o engenheiro Marcos Maurício, do GT de Rodovias do Crea-AM, “a despeito de muito do que está insculpido no relatório do Grupo de Trabalho do Ministério dos Transportes já constar no Estudo de Impacto Ambiental (EIA), aprovado em julho de 2022, o documento divulgado nesta terça-feira, 11, entretanto, é um avanço, sob o ponto de vista político, de envergadura bem maior”.

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Vilhena sediará o I Congresso Internacional sobre Sustentabilidade na Amazônia

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Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com

Entre os dias 5 e 7 de setembro, a Faculdade da Amazônia, localizada em Vilhena, Sul de Rondônia, será palco do 1º Congresso Internacional Educacional. Com o tema “Amazônia Verde: Educação Ambiental e Sustentabilidade para o Século XXI – Desafios e Oportunidades”, o evento reunirá expositores renomados do meio acadêmico e promoverá discussões cruciais sobre a região amazônica.

Na abertura do congresso, estão confirmadas as presenças de Peter Pal Pelbart, filósofo, ensaísta, professor e tradutor húngaro da PUC-SP, e de um legítimo rondoniense: professor Luís Suruí, indígena e mestre em Educação, residente em Cacoal.

A Amazônia, um dos maiores patrimônios naturais do mundo, desempenha papel fundamental na regulação climática global e abriga uma biodiversidade única. No entanto, enfrenta desafios como desmatamento, degradação ambiental e pressões socioeconômicas.

O congresso abordará temas interdisciplinares, incluindo filosofia, zoologia, economia, psicologia e biopolítica, com foco na interseção entre meio ambiente, sustentabilidade, educação e o bem-estar das comunidades amazônicas. A diretora científica, Leonira Ofrunã Rodrigues Bresciani, destaca a relevância dessas discussões: “A educação de qualidade surge como pilar essencial para promover a sustentabilidade e o desenvolvimento equilibrado da região”.

A diretora-geral da Fama, Patricia Clara, espera receber cerca de mil inscritos no evento, que se configura como pioneiro na região, buscando soluções para os desafios inerentes à Amazônia.

Para mais informações, acesse o site fama-ro.com.br.

Sobre o autor

Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Ações de proteção ambiental na Região Xingu são debatidas no Pará

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O Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio) reuniu, nos últimos dias, representantes de diversas entidades e da sociedade civil para discutir o futuro do Refúgio de Vida Silvestre (Revis) Tabuleiro do Embaubal e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Vitória de Souzel, na Região de Integração Xingu. As duas Unidades de Conservação (UC) estão localizadas no município de Senador José Porfírio, no Pará, e são importantes para a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável.

O encontro, organizado pela Gerência da Região Administrativa do Xingu (GRX), reuniu no auditório da Secretaria Municipal de Saúde de Vitória do Xingu representantes de órgãos públicos, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) e Universidade Federal do Pará (UFPA); colônias de pescadores de Vitória do Xingu e Senador José Porfírio, e das secretarias municipais de Turismo e Meio Ambiente. A sociedade civil também reforçou sua participação nas decisões.

Um dos pontos discutidos foi a elaboração do Plano de Ação para o período de 2024 a 2026. O documento vai direcionar as atividades de conservação, manejo e desenvolvimento sustentável nas UCs. A proposta é contemplar medidas de monitoramento e fiscalização, visando à proteção da fauna e flora locais, além de estratégias para a geração de renda que beneficiem as comunidades do entorno.

O titular da GRX, Denimar Rodrigues, avaliou o encontro como positivo. Segundo ele, “o diálogo com as entidades representativas foi fundamental para o bom andamento dos trabalhos”. O gestor também destacou a importância de ouvir as demandas e sugestões de todos os participantes, garantindo que o plano de ação seja construído de forma participativa e inclusiva.

Debates

Foi discutido ainda o fortalecimento das comunidades locais por meio de projetos de geração de renda, a fim de desenvolver iniciativas que promovam a sustentabilidade econômica, alinhadas à conservação ambiental. São projetos que incluem o incentivo ao turismo ecológico e à capacitação dos moradores em atividades de manejo sustentável de recursos naturais.

Foto: Divulgação

Representantes das colônias de pescadores destacaram a necessidade de mais apoio para a pesca sustentável, ressaltando que a preservação dos recursos hídricos é vital para a sobrevivência das comunidades que têm na pesca a principal fonte de renda. A proposta é que o Plano de Ação contemple medidas específicas para o setor pesqueiro, incluindo capacitação técnica e melhorias na infraestrutura.

Representantes da sociedade civil apresentaram suas contribuições, como a necessidade de maior transparência nas ações do Conselho Gestor e a criação de canais de comunicação mais efetivos com a comunidade.

Ações

O planejamento de ações de monitoramento e fiscalização nas UCs também foi debatido. A proposta é aumentar a presença de fiscais e utilizar tecnologias para aprimorar a vigilância nas áreas protegidas. Essas medidas visam coibir a caça ilegal, o desmatamento e outras atividades que ameaçam a biodiversidade da região.

Na reunião foi destacada, ainda, a importância da educação ambiental como ferramenta para sensibilizar a população sobre a importância da conservação. Encerrando o encontro, foi reafirmado o compromisso de todos os presentes em trabalhar de forma colaborativa para a proteção do Revis Tabuleiro do Embaubal e da RDS Vitória de Souzel.

A expectativa é que o novo Plano de Ação 2024-2026 reflita os anseios e as necessidades das comunidades locais, promovendo, de fato, o desenvolvimento sustentável. A próxima reunião do Conselho Gestor está prevista para o segundo semestre de 2024, quando será apresentada a versão preliminar do Plano de Ação, permitindo novas contribuições antes da aprovação final.

*Com informações da Agência Pará

Projeto ‘A arte do silêncio’ promove teatro inclusivo para surdos em Manaus

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O projeto cultural ‘A arte do silêncio – Surdos em cena’ realizou oficinas gratuitas de teatro para adolescentes surdos e será finalizado com uma performance no dia 21 de junho, com entrada gratuita, no auditório do Instituto Filippo Smaldone em Manaus (AM).

“Foram mais de 60 horas de aulas teóricas e práticas, contato introdutório com conteúdo artístico, descobrindo possibilidades imaginárias e materiais do corpo, técnicas que ajudaram os alunos a desenvolverem seus potenciais artísticos e criativos que eles não imaginavam possuir, inclusive tivemos retorno positivos dos pais desses alunos”, destacou Keylla Gomes.

O projeto é coordenado e dirigido pela atriz, produtora cultural Keylla Gomes, tem a produção de Francy Junior e Anderson Mendes, expressão corporal com Suelen Siqueira e a intérprete de libras Eline Brito.

Foto: Divulgação

“Foi muito satisfatório acompanhar a evolução desse projeto, da concepção até a execução e poder conferir a motivação dos alunos ao participarem das aulas e dos ensaios”, destacou o produtor Anderson Mendes.

Com mais de 20 anos de experiência na produção cultural de Manaus, Keylla percebeu que não existe curso de capacitação exclusivo para atores surdos, o que acarreta desemprego, exclusão social, baixa auto estima social e segregação na sociedade manauara, fator esse que a motivou a escrever o projeto.

“Tivemos um projeto incrível, com um grupo de jovens talentosos que aprenderam um pouco sobre a arte do teatro e ao mesmo tempo me ensinaram sobre ser resiliente, espero e o público possa sentir toda a força desses novos artistas que agora podem se expressar através da arte, agora vamos em busca de novas oportunidades para dar continuidade a esse projeto com novas edições”, destacou Keylla Gomes.

‘A Arte do Silêncio – surdos em cena’ é um projeto inclusivo, desenvolvido com foco na ODS 4 – educação de qualidade, e foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo, Conselho estadual de cultura do Amazonas (CONEC), Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Amazonas (SEC), Governo do Estado do Amazonas, Ministério da Cultura e Governo Federal, realização MK produções, e apoio da Ykamiaba produções e Movimento das mulheres negras da floresta – DANDARA.

A apresentação acontece às 18h no Instituto Filippo Smaldone, localizado na Avenida Tókio, n°100, no bairro Planalto.

Ministério dos Transportes conclui que pavimentação da BR-319 é viável ambientalmente

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A reconstrução dos 405 quilômetros do trecho do meio da BR-319 é ambientalmente sustentável, segundo a conclusão de um grupo de trabalho do Ministério dos Transportes. Após mais de seis meses de estudos e audiências com a comunidade no entorno da rodovia, a constatação foi feita por especialistas e representantes de órgãos dos governos federal, estaduais e prefeituras da região.

O grupo de trabalho foi instituído em novembro de 2023, para apresentar soluções para a reconstrução dos 405 km do trecho do meio da rodovia que une Manaus a Porto Velho. A BR-319 é a única ligação terrestre do Amazonas e de Roraima com o restante do país.

No documento de 67 páginas, o grupo de trabalho reafirma ser possível conciliar o desenvolvimento regional e a preservação do meio ambiente, a partir de uma gestão inovadora que fará jus à singularidade que a BR-319 representa.

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O relatório propõe o cercamento de parte da rodovia com implantação de 500 km de proteção física a fim de preservar a fauna na área crítica do trecho do meio. Também prevê que 172 passagens para animais sejam instaladas. Uma passagem a cada 2,35 km de rodovia.

Há ainda recomendações para o monitoramento da rodovia, que deverá contar com novos postos da Policia Rodoviária Federal, atuação da Polícia Federal, além de reforço nos efetivos das polícias e bombeiros estaduais e atuação de órgãos como ICMBio.

A ideia é que sejam construídos portais de fiscalização e monitoramento nas duas pontas da rodovia, no trecho que será cercada. Além disso, uma nova unidade de conservação deverá ser implantada.

Agora o relatório será discuto internamente no governo. O maior desafio é buscar consenso com a área ambiental. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima têm dito em entrevistas que a obra no trecho do meio requer estudos mais detalhados para comprovar que não haverá aumento de desmatamento e grilagem na área.

O governador do Amazonas, Wilson Lima, disse que o estado fará sua parte pra garantir o bom uso da rodovia.

*Com informações do g1 Amazonas