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Ouro no judô: indígena Yanomami de São Gabriel da Cachoeira é medalhista no JEBs

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Em comemoração à medalha de ouro conquistada no Judô, nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs), categoria Sub-18, a estudante Juliana Felipe foi recebida na Escola Estadual (EE) Irmã Inês Penha, localizada no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, com uma grande comemoração na tarde desta segunda-feira (17/06). A conquista da medalha aconteceu no dia 11 de junho.

Além das parabenizações pela conquista da estudante, que é indígena do povo Yanomami, a comemoração contou com a entrega, para campeã, de um certificado da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e a apresentação do grupo de capoeira da região, quadrilha, dança das agremiações e de outros projetos do município.

A diretora escolar da EE Inês Penha, Edineia Pimenta, explicou que essa conquista foi um trabalho em conjunto que contou com o apoio do ‘Projeto Social Amigos do Judô’ e da Associação Comunitária de Pais e Alunos do Judô do Amazonas (Acopajam). Mais do que uma condecoração, segundo a diretora, a conquista da aluna também representa esperança.

“Como equipe pedagógica, o nosso dever é formar bons cidadãos, então acreditamos que o esporte é um meio que também transforma vidas por meio dos desafios, disciplina e constância, para que consigam chegar até o mais alto pódio, seja no esporte ou na vida”, disse a diretora.

Para além do pódio

Pertencente ao povo indígena Yanomami, Juliana Felipe, 16 anos, estudante da 2ª série do Ensino Médio, foi uma de dois atletas da rede pública de ensino do Amazonas a conquistar uma medalha, durante a segunda fase do JEBs, o que para ela é motivo de muito orgulho.

Segundo Juliana, essa conquista no Judô foi um caminho difícil de muitos obstáculos. Ela contou que, apesar da luta difícil, a conquista não foi trilhada sozinha e, com o apoio da mãe, sua professora (sensei) e diversos outros que a apoiaram, a aluna conseguiu trazer a medalha para o Amazonas.

“A sensação que tive quando cheguei foi uma coisa muito emocionante. Nunca tinha imaginado que ia acontecer e foi inspirador ver todos me elogiando, gritando meu nome, meus amigos me abraçando. Levo o Amazonas no meu coração para que consiga conquistar mais daqui para frente e surpreender a todos e a minha escola”, disse a estudante.

As medalhas conquistadas

A segunda fase do JEBs encerrou com a conquista de 36 premiações para os alunos da rede estadual do Amazonas, sendo 13 medalhas de ouro, 6 medalhas de prata, 15 medalhas de bronze e 2 premiados, além de sete classificações para o Gymnasiade, campeonato mundial organizado pela Federação Internacional do Desporto Escolar.

Ao todo, mais de 100 alunos atletas da rede estadual de ensino do Amazonas participaram das duas fases da competição nas modalidades de tênis de mesa, karatê, atletismo, luta olímpica, xadrez e judô. Dividindo-se nos circuitos de Aracaju (SE) e Maceió (AL), os competidores ainda participarão da terceira e última fase da competição em Palmas (TO), durante o mês de julho.

Confira a vitória da esportista a partir de 6:25:00 no vídeo abaixo:

R$ 318 milhões são destinados para ações de combate ao desmatamento na Amazônia

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O ‘Plano Amazônia: Segurança e Soberania’ (Amas) receberá um aporte de R$ 318,5 milhões do Fundo Amazônia para o fortalecimento da presença das forças de segurança na região. O contrato de repasse dos recursos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) foi assinado nesta segunda-feira (17), no Palácio do Planalto.

Com os recursos, há previsão de criação de um centro de inteligência internacional, além da aquisição de equipamentos como lanchas blindadas, helicópteros, drones veículos e outros equipamentos de inteligência para combater o desmatamento ilegal e os crimes que estão conexos, como trafico de drogas, tráfico de pessoas e garimpo ilegal. O foco estará em ações de inteligência que possam identificar toda a cadeia do crime relacionada a essas atividades ilegais na Amazônia.

Durante o evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu agilidade para colocar em prática as ações do plano.

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“É importante que a gente tenha muita habilidade de fazer isso acontecer rápido. A gente está aprendendo que tudo que é para construir demora muito e tudo que é para destruir acontece rapidamente. Então, é importante que a gente apresse um pouco o processo de construção, com menos reunião, menos burocracia, menos papel e fazer as coisas acontecerem”, disse.

Composição

O comitê gestor do Amas é composto por representantes do Ministério da Justiça e seus órgãos vinculados, como a Secretaria Nacional de Segurança Pública, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, além dos Ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima e da Defesa. O Plano prevê ações integradas entre as forças federais e as secretarias de segurança pública dos nove estados e dos nove países que compõem a Amazônia Legal.

“Só as forças de segurança federais e estaduais e locais não são suficientes para preservar esse patrimônio, que é de toda a humanidade. É preciso, e estamos fazendo, uma forte ação diplomática e uma forte cooperação policial nesse sentido com os estados vizinhos”, disse o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.

Essa é a primeira fase de um total de três fases do plano, que pretende chegar a R$ 1,2 bilhão. “Combater o desmatamento na Amazônia hoje é combater o crime organizado, o garimpo ilegal, o tráfico, organizações que ou são ilícitas ou estão sempre permeadas pela ilicitude em sistemas econômicos que degradam a região, disse o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

*Com informações da Agência Brasil

Monitoramento da qualidade da água em rios é realizado pela primeira vez na região de Loreto, no Peru

A Autoridade Nacional de Águas (ANA) no Peru informou que a Administração Local de Águas do Alto Amazonas (ALA) realizou o primeiro Monitoramento da Qualidade das Águas Superficiais da Interbacia 49877, localizada no distrito de Manseriche, província de Datem del Marañón, região de Loreto.

O órgão pontuou que os especialistas colheram amostras de águas superficiais dos rios Marañón e Rojo, e dos riachos Nacacuy, Agua Blanca, Katirinal, Pucunucho, Numpatkiam, Ampantsa, Saramiriza , Pamtan e Tampuh.

O trabalho de monitorização em Manseriche visa determinar o estado da qualidade da água de acordo com as Normas de Qualidade Ambiental (ECA-Água) e avaliar a deterioração ambiental causada pelas atividades antrópicas na bacia.

As tarefas de monitoramento também são realizadas devido a um suposto impacto ambiental no rio Rojo e na ravina Inchituch em decorrência do derramamento de hidrocarbonetos no Km 323 e das ações de remoção de terras na área da comunidade indígena Nueva Santa Rosa, distrito de Manseriche, província de Datem del Marañón.

Leia também: Você sabe onde fica a nascente do Rio Amazonas? Conheça o contexto histórico que levou a definição do local

Segundo a ANA, as amostras recolhidas foram enviadas para o Laboratório Analítico EIRL, acreditado pelo Instituto Nacional da Qualidade (Inacal), para avaliação dos parâmetros físicos e químicos, que serão comparados com as Normas de Qualidade Ambiental da Água. aprovado pelo Decreto Supremo nº 004-2017-MINAM.

Os resultados do monitoramento da qualidade da água da Interbacia 49877 serão divulgados aos atores da bacia, aos tomadores de decisão e ao público em geral no âmbito da transparência e da troca de informações.

María Isabel Ortiz, administradora local de Agua Alto Amazonas, indicou que a ANA está comprometida com a avaliação e monitoramento da qualidade da água para garantir sua preservação, conservação e uso sustentável.

O responsável destacou a importância da recolha de informação sobre os parâmetros analisados ​​porque contribuem para determinar o estado situacional da bacia e servem para alertar e implementar as medidas corretivas necessárias para controlar os impactos negativos de origem antropogênica.

*Com informações da Agência Andina

Bairro São Geraldo recebe obras de construção de rede de esgoto que irá beneficiar mais de duas mil pessoas

Mais de duas mil pessoas começam a receber a estrutura do sistema de esgotamento sanitário no bairro São Geraldo, na zona Centro-Sul da cidade. A obra faz parte do Programa Trata Bem Manaus, que prevê a universalização do serviço de coleta e tratamento do esgoto na capital amazonense. Ao todo, serão implantados mais de 2,6 mil metros de rede.

De acordo com o gerente de Projetos da Águas de Manaus, Jean Damaceno, o local será contemplado com a construção de estrutura de esgoto em 17 vias, entre becos e ruas. “Para que tenhamos os ganhos que o serviço de esgota trás, precisamos levar a estrutura para toda cidade e isso inclui também os locais de difícil acesso, como os becos. Realizamos um estudo topográfico e achamos soluções para que todos tenham acesso ao saneamento”, destaca o gerente.

As equipes iniciaram as implantações das redes coletoras e dos Terminais de Inspeção e Limpeza (TIL), na última semana. Serão, mais de 2,7 mil metros de rede coletora, que irão coletar e transportar o esgoto produzidos em cerca de 500 imóveis.

“Como o sistema de esgotamento sanitário funciona por gravidade, são necessárias mais estruturas para, por exemplo, transportar o esgoto das áreas mais baixas até as mais elevadas. Também estamos construindo uma Estação Elevatória de esgoto (EEE) que irá bombear todo este efluente para uma rede especial, que chamamos de linha de recalque”, ressalta Damaceno.

Tratamento e meio ambiente

Todo esgoto coleta do bairro São Geraldo será transportado até a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Educandos. O local tem capacidade para tratar 26,3 milhões de litros de esgoto por dia. “Com a ampliação da cobertura e a conexão dos imóveis ao sistema de esgotamento sanitário, teremos todo esgoto coletado levado até a estação. Hoje ainda não trabalhamos com a capacidade máxima de tratamento dela, ou seja, conseguimos expandir e tratar mais esgoto, que retornará para a natureza livre de contaminações”, enfatiza o gerente de Projetos.

Após passar pelo tratamento e desinfecção, o efluente é devolvido ao rio Negro. Para os próximos anos a concessionária prevê a construção de mais de 2,7 milhões de redes coletoras e mais de 70 estações de tratamento. Com isso, todo esgoto que hoje, é despejado nos igarapés e rios da cidade passará a ser coletado e tratado. Ao final, ele será devolvido à natureza dentro dos padrões estabelecidos pelos órgãos ambientais e de saúde.

*Por Águas de Manaus

Desafios para bioeconomia inclusiva na Amazônia são elencados em livro

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Há consenso entre especialistas: a bioeconomia é chave para o desenvolvimento da Amazônia. Mas, numa região tão vasta quanto complexa, pontilhada por desafios que inibem o desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas, a conservação da biodiversidade, o bem-estar, o emprego e a renda das comunidades, cabe indagar: Bioeconomia para quem?

A pergunta dá título ao livro e tem respostas em 12 robustos artigos assinados por 32 autores de instituições acadêmicas e de pesquisa das regiões Norte, Nordeste e Sudeste do país. A obra será lançada nesta quarta-feira (19/06), no Auditório Capacit da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém.

“Uma bioeconomia bem gerida, sendo essencial para empresas sustentáveis, também deve atender às demandas de extrativistas vegetais, pescadores e povos da floresta”, sublinham na ‘Introdução’ os organizadores do livro, Adalberto Luis Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e Jacques Marcovitch, ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP).

Essa perspectiva pontua cada uma das cinco partes em que se organiza o livro, oferecendo pautas novas para a discussão e recomendações sobre temas relacionados às cadeias produtivas e seu comércio, à organização social, tecnologias, restauração florestal e às dimensões da violência e da ilicitude na região.

“O livro não é fim, mas um meio para abrir diálogo sobre caminhos possíveis para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, explica Marcovitch.

Resultado de três anos de trabalho, cada capítulo, ele sublinha, é resultado de uma “expedição”, trazendo ao final um quadro em que estão listadas prioridades, ações e métricas.

As pesquisas sobre as cadeias produtivas e a bioeconomia inclusiva, sintetizadas em Bioeconomia para quem? Base para um Desenvolvimento Sustentável na Amazônia, foram desenvolvidas no âmbito de dois projetos de pesquisas apoiados pela FAPESP, ambos coordenados por Marcovitch. O estudo também conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Um livro com esses conteúdos é muito bem-vindo no âmbito do Programa Amazônia+10”, escrevem na ‘Apresentação’ Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP, e Márcia Perales Mendes da Silva, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), duas das instituições que integram a iniciativa liderada pelo Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap).

Cadeias produtivas sustentáveis

O primeiro artigo traz uma análise da cadeia de valor do açaí, atividade que envolve famílias extrativistas, cooperativas, indústria e agroindústria na produção de mais de 1,6 milhão de toneladas do fruto e que movimenta quase R$ 3 milhões anualmente.

Trata-se de uma atividade típica da economia extrativista da Amazônia, descrevem Flora Bittencourt, Manoel Potiguar e Thiara Fernandes, do Instituto Peabiru: “Alto grau de dependência do trabalho familiar, informalidade nas relações de trabalho e nas transações comerciais, produção artesanal, pouco uso de tecnologia, falta de padronização de processos e medidas, alto nível de incertezas, inexistência de suporte de crédito e assistência técnica sistemáticos, baixa densidade de instituições representativas e/ou interlocutoras do setor e vulnerabilidades legais e normativas, especialmente relacionadas a crianças e adolescentes e à segurança do trabalho”. Eles sugerem uma lista de ações prioritárias, que vai do desenvolvimento de tecnologias para colheita até o aumento de oferta de crédito, passando por política de repartição de benefícios justa e equitativa.

Outro fruto do extrativismo é o cacau, tratado no segundo capítulo como uma das prioridades da bieconomia da Amazônia tanto no que se refere à cadeia de commodities – que atende a demandas das empresas de processamento e representa 95% do mercado global – como a de produto de qualidade, exigido por fabricantes de chocolates especiais. A Amazônia responde por mais da metade das 269 mil toneladas da produção brasileira, com o cultivo, a colheita, a fermentação e a secagem do cacau, atividades que retêm algo entre 4% e 6% do valor global da cadeia produtiva. Num mercado regido pelo preço e contratos futuros, a apropriação de valor por parte dos produtores é reduzida, segundo Lucas Xavier Trindade, da Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia, e Fernando Antonio Teixeira Mendes, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). “É a governança que permite que o preço seja efetivamente apropriado pelos produtores”, afirmam.

No terceiro capítulo, os autores apontam a pesca ilegal, prática comum na Amazônia, como um dos principais entraves para a cadeia de manejo do pirarucu. “A fiscalização é praticamente inexistente, em grande parte devido à falta de recursos humanos e financeiros do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] para abranger uma região tão vasta e complexa como a Bacia Amazônica”, escrevem Maria Sylvia Macchione Saes, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, Elis Regina Monte Feitosa (FEA-USP), Alexsandra Bezerra da Rocha, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Paraíba, e James Douglas Oliveira Bessa, do Núcleo de Biodiversidade e Florestas no Amazonas. São os ribeirinhos das áreas de manejo que arcam com os custos de um sistema de vigilância dispendioso e perigoso. Os autores recomendam uma série de medidas, entre elas a criação de um certificado de procedência e multas, monitoramento dos lagos por satélite, drones e por equipes de agentes ambientais voluntários recrutados na comunidade.

A primeira parte do livro termina com um capítulo sobre a meliponicultura – a criação de abelhas sem ferrão –, prática sustentável que promove a conservação da biodiversidade, a polinização de cultivos e a geração de renda para as comunidades locais. “É imperativo desenvolver melhorias nas técnicas de manejo e produção, visando não apenas aumentar a produtividade, mas também assegurar a qualidade do mel disponibilizado no mercado”, escrevem Vera Imperatriz-Fonseca, do Instituto de Biociências da USP, Camila Maia-Silva, bolsista do CNPq, Ana Carolina Mendes dos Santos, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), além de Hermógenes Sá de Oliveira e João Meirelles Filho, ambos do Instituto Peabiru, que assinam o artigo.

Cidadania, conhecimento e tecnologia

A segunda parte do livro reúne dois artigos que tratam do fortalecimento da “cidadania amazônica” e das organizações sociais no contexto da bioeconomia “autêntica” e sustentável. No primeiro, os autores destacam quatro pilares para uma bioeconomia propulsora do desenvolvimento: desmatamento zero, inclusão e participação dos povos originários e seus saberes, diversificação dos modos de produção e divisão equitativa dos benefícios oriundos da sociobiodiversidade.

“Mas, para que isso aconteça, será preciso implementar um sistema de governança biorregional e de ‘diplomacia ambiental’ para promover uma melhor gestão dos recursos naturais e fortalecer os direitos humanos e territoriais, enquanto se promove o reconhecimento de diferentes identidades, direitos e sistemas de conhecimento”, escrevem Olivia Zerbini, Patrícia Pinho, Ariane Rodrigues e Paulo Moutinho, todos do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

No segundo artigo, José Augusto Lacerda Fernandes, da UFPA, e Heloise Berkowitz, pesquisadora do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), da França, tratam das metaorganizações como estratégia para alcançar todo o potencial transformador da bioeconomia.

“É preciso contar com um ecossistema propício ao seu desenvolvimento e com o engajamento de diversas partes interessadas no estabelecimento de uma bioeconomia inclusiva na região”. Isso requer novos mecanismos de governança, principalmente no que diz respeito à articulação com as populações tradicionais envolvidas nesse processo (indígenas, quilombolas, moradores locais, pescadores e extrativistas etc.), demandando formas de organização calcadas na colaboração.

Informação e novas tecnologias

A parte três do livro destaca o potencial de exploração dos produtos florestais não madeireiros (PFNMs) e do bioma da Amazônia por meio de novas tecnologias. No caso dos PFNMs, destacam-se o açaí, o cacau, a castanha-do-brasil, babaçu, mel e pirarucu, entre outros. No entanto, muitos PFNMs estão associados a níveis baixos de produtividade e renda. “Fatores como a geografia econômica, nível de maturidade dos sistemas de produção e de mercado e características biológicas dos produtos podem interferir nos resultados de sustentabilidade econômica e ambiental. Esses fatores precisam ser levados em consideração para desenhar intervenções que criem as condições mais adequadas para um desenvolvimento local e inclusivo”, afirmam no primeiro artigo Tomas Rosenfeld e Peter Ponschen, da Universidade de Freiburg, na Alemanha.

No segundo artigo, Adalberto Val e Isabela Litaiff, da Universidade Nilton Lins, no Amazonas, lembram que há um “eldorado inteiro” a ser desvendado na biodiversidade da floresta, desde que se associe o conhecimento dos povos tradicionais às ferramentas hoje disponíveis, como, por exemplo, a genômica, a transcriptômica e a proteômica. Mas isso exige “estudos contínuos, envolvendo experimentos diversos, testando novos produtos e processos e aperfeiçoando os já conhecidos. Requer uma profunda interação dos conhecimentos produzidos pelos povos originários da floresta com os conhecimentos modernos produzidos nas bancadas dos laboratórios. A bioeconomia existirá na medida direta do aprofundamento dos conhecimentos sobre um mundo desconhecido, um admirável mundo em ser”.

Mas isso não basta. “Para poder capturar esse potencial, é necessária uma visão alternativa e complementar à bioeconomia da sociobiodiversidade – a bioeconomia computacional”, sublinham Juan Carlos Castilia-Rubino, cofundador do Earth Biogenome Project, e Luciana Russo Correa Castilla, da FEA-USP, no terceiro artigo. Essa tecnologia integra múltiplas disciplinas da ciência e engenharia, como sequenciamento genético, inteligência artificial aplicada à biologia, edição genética, biologia sintética e automação do processo de desenvolvimento de bioprodutos com robótica laboratorial, eles explicam. “Seu foco é decifrar o mundo dos dados biológicos para a produção de bioprodutos avançados de qualidade única, apoiando-se mais na biologia in silico do que na biologia in vitro.”

A domesticação da floresta

A restauração florestal e as práticas agrícolas são o tema da quarta parte do livro. No primeiro capítulo, os autores analisam a distribuição do desmatamento na região, levando em conta a diversidade de atores envolvidos e a necessidade de desenvolver estratégias de restauração florestal diferenciadas, e descrevem também as estratégias mais promissoras para a restauração em larga escala da Amazônia, considerando o potencial de geração de renda, os benefícios socioambientais e a escalabilidade dos modelos de restauração.

“Torna-se primordial reconfigurar a perspectiva da restauração, passando de uma abordagem percebida como punitiva para uma que a reconheça como uma alternativa viável e sustentável tanto economicamente quanto na perspectiva de benefícios ecológicos e climáticos”, afirmam Nathalia Nascimento e Pedro Henrique Santin Brancalion, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP.

O segundo capítulo trata das práticas agrícolas dos povos indígenas. Os autores lembram que, no século 16, a paisagem da Amazônia era “domesticada” e que “os diferentes povos amazônicos do passado e do presente parecem partilhar um modo comum de se relacionar com o que chamamos de natureza”, escrevem Camila Loureiro Dias e Joana Cabral de Oliveira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), além de Vera Lúcia Aguiar Moura, do povo Tukano da Terra Indígena Alto Rio Negro, no Amazonas. Para eles, foi exatamente esse modo de relação que permitiu a conservação e o incremento da biodiversidade amazônica. “Em outras palavras, se há biodiversidade, ela foi e continua a ser, em grande medida, ativamente construída pelos povos indígenas por meio da relação que estabelecem com os outros seres que compõem e habitam a floresta. Uma relação que envolve respeito, que não implica em domínio e que valoriza a diversidade.” Para os autores, no que se refere à promoção da biodiversidade, temos muito a aprender com as práticas agrícolas dos povos indígenas.

Violência e ilicitude

Marcovitch e Adalberto Val assinam o último artigo do livro, sobre um tema tão sensível quanto urgente. “Já não se trata de conflitos pontuais como aqueles que perduram há décadas, e sem solução, mas de uma verdadeira ocupação de territórios locais por 22 grupos criminosos e/ou facções, que atuam em 178 municípios da região. Nos demais países amazônicos, os desafios se assemelham. Há, portanto, um cenário de dimensões continentais que precisa ser enfrentado”, ressaltam. Lembram ainda que, diariamente, “milhões de habitantes ribeirinhos da Amazônia, um dos maiores ativos ambientais do planeta, se nutrem de alimentos contaminados” e sublinham a urgência da descontaminação em escala de todos os rios que apresentem indícios de mercúrio.

“Uma concertação entre governo e sociedade civil, dedicada ao bem-estar humano e à conservação da natureza no bioma Amazônia, deve levar ao Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria Geral da República, para inspirar decisões de ministros e procuradores, recomendações formuladas pelo FBSP [Fórum Brasileiro de Segurança Pública] e estudos focados no envenenamento dos rios amazônicos. Cabe valer-se dos mecanismos previstos em organizações regionais. Tanto organizações governamentais, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (Otca), quanto não governamentais, como a Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas) e a InterAcademy Partnership (IAP), para participar desse esforço e expandir seu escopo.”

O livro Bioeconomia para quem? Base para um Desenvolvimento Sustentável na Amazônia foi publicado pela Com Arte, editora-laboratório do Curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, e teve apoio da USP, do Inpa, da UFPA e do Instituto Peabiru. A íntegra do livro está disponível aqui.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Fapesp, escrito por Claudia Izique
 

Observação de aves: uma janela da Amazônia para o mundo

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Entre os dias 30 de maio e 3 de junho, 27 pessoas de comunidades tradicionais e indígenas participaram da Oficina de Observação de Aves e Interpretação Ambiental no Parque Nacional da Serra do Divisor, no Acre, na região mais a oeste do Brasil. 

Instrutores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), da Secretaria de Meio Ambiente do Acre e do Serviço Florestal dos Estados Unidos, trouxeram algumas práticas relacionadas ao turismo de observação de aves e ao conceito de interpretação ambiental que, segundo o ICMBio, é definido como um conjunto de estratégias de comunicação voltadas para revelar os significados dos recursos ambientais, históricos e culturais, com o objetivo de provocar conexões pessoais entre o público e o patrimônio protegido.

“A questão da interpretação ambiental pode ser usada para saber ler o ambiente, saber enxergar a nossa volta e não transferir apenas aquilo que é tangível, mas se aprofundar na mensagem que o ambiente passa para a gente. Isso é uma grande responsabilidade. É uma missão, na verdade, para nós que moramos aqui, passar essa mensagem. A partir de agora vou tentar aplicar no meu dia a dia, na minha vida. E me aprofundar mais para, daqui a uns dias, conduzir não só observadores de aves, mas todos os turistas que vierem aqui”, conta Izaías Gomes da Silva, um dos participantes, nascido na comunidade Pé da Serra. 

Leia também: Parque Estadual Chandless, o paraíso da observação de aves no Acre

Ana Júlia Lima Cavalcante, uma das participantes da comunidade Pé da Serra, conta que a oficina a fez olhar de forma diferente para o entorno e o dia a dia de onde vive.

“As aves, que antes a gente só escutava o canto, hoje, com esse curso, despertou em nós o interesse, a curiosidade de não só ouvir o canto, mas de observar. Então, foi uma janela que se abriu, uma janela de conhecimento e de bons frutos para a gente aqui da comunidade. Se antes nós já cuidávamos, agora nós vamos cuidar ainda mais, porque cada turista que vier para cá vai saber que aqui, os moradores que tem aqui nessa comunidade, eles têm esse conhecimento sobre a floresta, sobre as aves, sobre todos os seres aqui dessa mata”, disse Júlia . 

Berço de biodiversidade 

O Parque Nacional da Serra do Divisor também é considerado um hotspot de espécies de biodiversidade no mundo, um berço das aves da Amazônia, tendo em vista as características locais, vindas da sua formação geológica. A diversidade de relevos e a variação de altitudes, que é algo único para o estado do Acre, torna o lugar um diferencial para a prática de observação de aves, com diversas espécies endêmicas da região.

Segundo o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, no Brasil existem 1971 espécies de aves, número que especialistas dizem que pode ser maior, pois ainda existem muitas espécies não registradas. Destas, mais de 1300 estão na Amazônia, sendo que mais da metade podem ser encontradas no estado do Acre. E a maioria, mais de 520 espécies, estão nos 843 mil hectares de área do Parque Nacional. Ou seja, o extremo Oeste do Brasil abriga quase metade das aves de toda a Amazônia.

Novos registros

Entre uma aula e outra da oficina, a turma praticava  a observação de aves junto aos instrutores quando tiveram uma surpresa. Eram duas novas espécies de beija-flores que ainda não tinham sido avistadas nem registradas na área do Parque Nacional da Serra do Divisor, no Acre. O beija flor rabo-de-espinho (Discosura langsdorffi) que possui como característica uma faixa branca na cauda, e o topetinho-verde-amazônico (Lophornis verreauxii), que agora somam-se à lista de espécies de aves que podem ser encontradas no parque. 

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 Foto: Lorena Brewster /USFS Brasil

Mas a ave-símbolo, que atrai a maioria dos visitantes que buscam a observação de aves, é a Choca-do-Acre (Thamnophilus divisorius). Uma espécie pequenina e que ocorre somente na parte alta da serra, perto do mirante do parque, em um trecho específico da trilha. Miro, morador da comunidade Pé da Serra, um dos pioneiros do turismo comunitário no local, tem facilidade em encontrar o pássaro por conta do seu conhecimento e por já ter escutado o canto dela, sem saber qual espécie era. A Choca-do Acre já atrai atenção de visitantes do Brasil e do mundo.

“É uma espécie que a gente descobriu junto com o Ricardo Plácido e é muito rara, as pessoas vem de muito longe para ver essa ave”, conta.  

Com a oficina, as pessoas que participaram puderam conhecer espécies para além da Choca-do-Acre, descobrindo a riqueza e o potencial ao redor da floresta.

“Eles ampliaram os conhecimentos para perceber o mundo de outra forma e ver que é possível a gente incluir mais e mais pessoas, na tentativa de ampliar a atividade, e assim as portas se abrirem para outras comunidades, a gente fazer mais registros de pássaros e atrair mais pessoas para visitarem o parque, tornando a dinâmica aqui auto suficiente”, explica Ricardo Plácido, biólogo da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Acre, autor do Guia de Aves e um dos instrutores da oficina. 

Para Greg Butcher, um dos instrutores da oficina pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos, a conexão das comunidades com as florestas é um diferencial para quem busca as aves ao redor do mundo.

“Você não apenas vê as aves, mas você ouve elas cantando, isso realmente ajuda a construir esses laços. E de forma prática eu acho que há muitos observadores de aves que querem visitar este lugar. E isso só funciona se tem pessoas na comunidade que possam ajudá-los a encontrar as aves que eles querem ver”. 

A turma de participantes encerrou a oficina com planejamento para um futuro próximo. Eles já organizaram um grupo para fazer passarinhadas uma vez ao mês e em outubro pretendem participar de um evento global de Observação de Aves, o Global Big Day, representando o Acre, o que vai trazer ainda mais visibilidade, visitação e proteção para o Parque Nacional da Serra do Divisor.

Histórico  

Foto: Ricardo Plácido

O evento foi uma parceria do Instituto Chico Mendes, da Secretaria de Meio Ambiente do Acre, da Secretaria de Turismo do Acre, do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) e da Associação de Condutores do Pé da Serra, por meio da iniciativa do Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS) e apoiada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), e complementa uma série de atividades que já estão acontecendo no Parque, como o monitoramento da biodiversidade. 

Desde 2016, o Parque vem recebendo visitantes atraídos pela observação de aves e, por isso, é importante que condutores comunitários recebam formação para melhor atender esse público. Em 2018, as comunidades participaram do Curso de Condutores em Ecoturismo, ofertado pelo Instituto Federal do Acre (IFAC), em parceria com o ICMBio. Também já foram realizadas formações pelo Governo do Estado para melhorias em outros aspectos da atividade turística. A expectativa é que as parcerias continuem ofertando cursos, oficinas e capacitações, para aprimorar ainda mais o atendimento e a condução dentro do parque e melhorar a experiência do visitante. A oficina também marca a celebração do aniversário de criação da Unidade.

Neste mês de junho, dia 15, o Parque Nacional da Serra do Divisor completa 35 anos. 

“Essas formações tanto valorizam o local quanto trazem mais segurança, mais confiança para o condutor e para todos aqueles que fazem o turismo acontecer aqui, desde o barqueiro até a cozinheira, além do pessoal das pousadas que fazem o atendimento. O aumento da visitação gera um aumento da renda, do trabalho, o envolvimento de mais pessoas, como condutores ou em outras áreas tão necessárias para o bom atendimento do visitante”, reforça Tiago Juruá, analista ambiental do Instituto Chico Mendes.

Guia de Aves  

O Guia de Aves do Parque Nacional da Serra do Divisor, lançado em 2022, é uma das ferramentas do curso, também produzido no âmbito da parceria, e será utilizada pelos condutores e poderá ser apreciado pelos visitantes, facilitando o trabalho de condução e tornando-a mais interpretativa, por meio das histórias e características das aves e do local.

*Com informações do Ministério do Meio Ambiente

Legado do naturalista Jacques Huber na fotografia é apresentado em exposição no Pará

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O lado fotógrafo do naturalista suíço Jacques Huber (1867-1914), ex-diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), é um dos grandes destaques da 13ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. Nesta edição, as fotografias estão sendo exibidas na mostra especial “In Natura / In Vitro”, em exposição no Museu da UFPA e “Arboretum”, uma mostra individual de Huber em exibição no hall do Centro de Exposições Eduardo Galvão, no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi. As exposições podem ser visitadas até 23 de junho.

In natura / in vitro” traz fotografias de Huber em diálogo com os trabalhos de artistas convidados contemporâneos como Felipe Russo, Luciana Magno, Péricles Mendes, Ana Paula Albé, Renata Aguiar, Janduari Simões, Janaina Miranda e Marina Feldhues. A visitação acontece de terça a sexta-feira, das 09h às 17h e sábado e domingo, das 10h às 14h.

Já a mostra paralela “Arboretum” traz 15 lambes fotográficos de Jacques Huber, presentes na obra “Arboretum Amazonicum: Iconographia dos mais importantes vegetaes espontaneos e cultivados da região amazônica” (1900–1906), publicação do Museu Goeldi, criada por Huber para divulgar suas fotografias aplicadas à botânica.

Arboretum” pode ser visitada de quarta-feira à domingo, de 9h às 13h. O valor do ingresso único no Museu Goeldi é R$3,00, com direito à meia entrada para estudantes e pessoas acima de 60 anos.

A curadoria das duas exposições é dos pesquisadores e docentes Nelson Sanjad (Museu Goeldi) e Mariano Klautau Filho (UNAMA). Nelson é historiador e curador da Coleção do Arquivo do Museu Goeldi e Mariano é fotógrafo, idealizador e coordenador do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia.

Este ano, a 13ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia traz como tema “Todo corpo em deslocamento tem trajetória”, proposta pela curadora convidada Lívia Aquino. Além do Museu da UFPA e do Museu Goeldi, as mostras seguem em exibição até 23 de junho também na Associação Fotoativa, no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas e na Galeria Fidanza do Museu de Arte Sacra.

Jacques Huber. Foto: Reprodução/Museu Emílio Goeldi

Pai da botânica na Amazônia

Apaixonado pela flora, Jaques Huber se formou em Ciências Naturais pela Universidade de Basiléia, na Suíça, com especialização em botânica pela Universidade de Montpellier, na França. Veio ao Brasil a pedido de Emílio Goeldi, que o convidou para assumir a chefia da seção de botânica do então Museu Paraense de História Natural e Etnografia, atualmente Museu Paraense Emílio Goeldi.

Huber atuou no Museu Goeldi desde 1895, assumindo a direção da instituição após o retorno de Emílio Goeldi para a Suíça, em 1907, e permanecendo no cargo até o ano da sua morte, em 1914. O botânico foi o maior especialista nas árvores produtoras de borracha, com descobertas, descrição e mapeamento de novas espécies de seringueiras da região amazônica. Seus estudos refletem o período econômico da época, caracterizado pela exportação e produção de borracha a partir das árvores amazônicas.

Jacques Huber é igualmente responsável pela sistematização e organização das espécies que compõem a flora do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi. São espécies vegetais que possuem um grande interesse científico, econômico e turístico, como a samaumeira do centro do Parque, plantada, estudada e sequencialmente fotografada pelo pesquisador suíço. Nesta área verde, localizada no coração da cidade de Belém, ainda é possível encontrar seringueiras plantadas e estudadas por Huber, e os indícios de seus experimentos para aumentar a produtividade na extração da seringa.

No Museu Goeldi, Jacques Huber aprimorou suas habilidades fotográficas, documentando extensamente as pesquisas de campo na Amazônia, assim como em outras regiões brasileiras. Ao registrar plantas e paisagens, Huber contribuiu não apenas para a pesquisa documental e científica, mas também para a construção da memória e preservação do patrimônio cultural brasileiro.

Nelson Sanjad pontua que “Huber foi considerado um dos expoentes da fotografia produzida no Brasil à época, inserindo a cidade de Belém entre os centros urbanos onde houve uma vanguarda artística voltada para a pesquisa estética e para a ampliação dos usos da tecnologia fotográfica”.

Com relação à preservação do patrimônio do Museu Goeldi, Jacques Huber também teve uma importância fundamental ao guardar em papelas cópias em papel da coleção de negativos de vidro produzidos pela instituição ao longo dos anos, que Nelson Sanjad pesquisou na Suíça e reproduziu com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES e apoio da família de Huber.

Segundo Sanjad, curador da Coleção Histórica e Documental do Arquivo do Museu Goeldi, estima-se que o acervo de negativos de vidro do MPEG era superior a 5.000, todavia parte desse conjunto foi perdido com o tempo. Atualmente, a coleção fotográfica do Museu Goeldi possui 1.421 negativos de vidro. Com recursos captados junto a Caixa Econômica Federal e o apoio do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da FUNARTE, foi realizado um processo de higienização, digitalização e catalogação da coleção, que também recebeu uma estrutura adequada de armazenamento. Nelson Sanjad destaca que “graças a esse projeto, essa coleção passou a ser objeto de várias pesquisas e exposições, que estão ajudando a redimensionar a compreensão que tínhamos sobre a história da fotografia no Brasil”.

Uma novidade é que brevemente o público também poderá conferir uma seleção especial da coleção fotográfica de negativos de vidro do Museu Goeldi, que será divulgada com exclusividade na plataforma Brasiliana Fotográfica, do Instituto Moreira Salles e da Biblioteca Nacional.

*Com informações do MPEG

Introdução de peixe amazônico em reservatório paulista diminuiu diversidade de espécies nativas

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O peixe amazônico conhecido como corvina ou pescada-branca (Plagioscion squamosissimus) é o mais provável responsável por uma queda acentuada na diversidade de espécies nativas no reservatório Jaguari, no rio de mesmo nome, e no rio do Peixe, parte do Sistema Cantareira e da bacia do Paraíba do Sul. A conclusão é de um estudo publicado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) na revista Biological Invasions.

As análises foram possíveis graças a dados coletados para o monitoramento da fauna de peixes pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp), no qual a espécie passou a ser registrada no reservatório a partir de 2001. Os dados analisados vão até 2016. Em apenas dez anos, a corvina se tornou a espécie mais abundante do reservatório.

“Apesar de amplamente distribuído em reservatórios para geração de energia hidrelétrica em todo o Brasil, não se sabia os efeitos que esse predador poderia causar às espécies nativas. Nossas análises apontam para perdas consideráveis na diversidade de peixes na região”, conta Aymar Orlandi Neto, primeiro autor do estudo, realizado na Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (Feis-Unesp).

O trabalho integra seu projeto de doutorado, conduzido no Instituto de Biociências de Botucatu (IBB-Unesp) com bolsa da FAPESP.

Parte dos resultados foi obtida ainda durante estágio realizado por Orlandi Neto na Universidade de Valência, na Espanha.

O monitoramento conduzido pela Cesp é parte das exigências ambientais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para a operação da usina hidrelétrica.

A cada quatro meses, os técnicos da empresa instalavam redes de espera em pontos predeterminados e conferiam os peixes capturados no dia seguinte, tabulando os resultados por espécie e abundância. Além de um ponto na própria represa, entre os municípios de Jacareí e São José dos Campos, as capturas ocorriam no rio do Peixe e no próprio rio Jaguari.

Pesquisadores realizam coleta de peixes em reservatório no Estado de São Paulo. Foto: Igor Paiva Ramos/Feis-Unesp

“Essa série temporal de 15 anos mostra que, além de peixes pequenos, que servem de alimento para a corvina, a abundância de um predador nativo também foi bastante reduzida. À medida que cresceu a abundância de corvina, diminuiu a do dentudo [Oligosarcus hepsetus]”, afirma Igor Paiva Ramos, professor da Feis-Unesp e coordenador da investigação.

Com os dados disponíveis, porém, não é possível saber se a redução do predador nativo se deu por competição indireta, uma vez que tanto ele quanto o peixe invasor podem atacar as mesmas presas. Outra possibilidade é que a corvina, que pode chegar a 80 centímetros, esteja predando o dentudo, cujos adultos chegam a cerca de 30 centímetros.

Sendo um peixe de águas paradas, típica de lagoas, lagos e reservatórios, a corvina se beneficiou do ambiente criado pela barragem. Essa pode ser outra vantagem em relação ao predador nativo, de águas correntes.

Espécies introduzidas

As espécies invasoras são um problema global e ocorrem em todo tipo de ambiente, tanto terrestres quanto aquáticos. No Brasil, o prejuízo causado por animais, plantas e microrganismos advindos de outros ecossistemas foi estimado em R$ 15 bilhões por ano.

O dado é do Relatório Temático sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, lançado em março pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), que tem apoio da FAPESP por meio do programa BIOTA.

No estudo da Unesp, os pesquisadores ressaltam que outras espécies introduzidas aparecem nos registros do reservatório de Jaguari, como os também amazônicos tucunarés (Cichla spp.) e as tilápias (Oreochromis niloticus e Coptodon rendalli), que são africanas. No entanto, numa quantidade muito pequena, voltando as suspeitas sobre a redução da diversidade nativa para a corvina.

A perda de diversidade observada pelos autores se dá nas três dimensões levadas em conta quando se avalia esse tipo de impacto: taxonômica, funcional e filogenética. Em linhas gerais, no período estudado, notaram-se perdas na riqueza de espécies, a substituição de muitas espécies raras e especialistas por poucas generalistas, além de diferenças significativas na composição de espécies e suas abundâncias dentro das comunidades de peixes do local. Grupos evolutivos inteiros se perderam.

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Problema social

Soluções para o problema não são simples. Uma vez que se estabeleceu no ambiente, a espécie é tida como um importante recurso pesqueiro, tanto para subsistência quanto para a pesca esportiva. Erradicá-la poderia acarretar problemas sociais.

“É um peixe que se tornou comum em grande parte do Brasil. Uma vez que substituiu espécies nativas, acabou ganhando um papel social importante nas economias locais”, destaca Ramos.

Ainda assim, o pesquisador propõe ações similares às de outros países com espécies invasoras. No caso, o incentivo à pesca da espécie durante todo o ano, sem limite de tamanho e sem respeitar o período reprodutivo, a fim de erradicar ou ao menos reduzir sua presença.

No entanto, as legislações nacional e estadual restringem a pesca não apenas às espécies nativas, como deve ser feito, mas também impõem algumas restrições às invasoras. “Dessa forma, acabam perpetuando as que são nocivas à fauna local”, diz Orlandi Neto.

Ramos lembra, porém, que erradicar espécies invasoras não leva necessariamente ao retorno das nativas. “Não sabemos se, ao tirar a corvina, uma outra invasora não tomará o seu lugar. O ambiente já foi modificado de tal forma que pode não ser mais adequado para os antigos habitantes”, ressalva.

O artigo ‘Long-term impact of an invasive predator on the diversity of fish assemblages in a neotropical reservoir‘ pode ser lido AQUI.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Fapesp, escrito por André Julião

Comendador J. G. Araújo e seu papel na Real Sociedade e Benemérita Beneficente Portuguesa do Amazonas – Camas de caridade

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br

Os homens não valem pelo privilégio da fortuna de que desfrutam ou do poder que, eventualmente, conseguem empalmar, mas pelo que produzem em prol da coletividade”.

Joaquim Gonçalves de Araújo é um nome para todo o Estado do Amazonas expressiva e valiosamente sintetizado nas iniciais J. G. que ainda ecoam em todos os quadrantes do Estado como símbolo de uma verdadeira potência comercial e industrial. Procedente de Portugal, muito jovem, iniciou a sua vida comercial em vendas modestas e humildes. Há poder de perseverança, trabalho e dinamismo o Joaquim vendeiro foi conquistando terreno patino a patino no conceito dos seus coevos, alcançando o prestigioso posto de chefe da firma J. G. que ainda hoje é um símbolo e, foi nos áureos tempos do ouro negro, uma potencia econômica e financeira em todos os recantos do estado. Além do título de Comendador conquistou um titulo de nobreza na nobiliarquia lusa pelo muito que realizou em beneficio da colônia.

A Sociedade Portuguesa Beneficente foi uma das beneficiárias da sua atuação como presidente e protetor da entidade.

A sua presidência foi de todo o decorrer do ano de 1897.

O seu relatório é altamente histórico porque focaliza as atividades de um dos anos mais prósperos da consolidação da sociedade.

Tão elucidativa é esta peça que vai em grande parte transcrita sem comentários.

Assistência Hospitalar aos Indigentes

Nobre por todos os títulos foi a iniciativa de instituir as chamadas camas de caridade para socorrer os indigentes. Tal iniciativa mereceu um capítulo do relatório que deve ser escrito neste histórico em razão do espírito altamente filantrópico em que está vagado.

Camas de Caridade

A mais bela iniciativa da nossa sociedade no ano social que agora finda, é sem dúvida, a da instituição das camas de caridades destinadas a receber independentemente de nacionalidade todos os indigentes que reclamarem os serviços do hospital.

Esta ideia generosa e humanitária, que há de atrair incontestavelmente a nossa sociedade muitas dedicações, profundas simpatias e sinceras bênçãos, deve merecer a todos nós uma atenção especial, abranger uma parte das nossas vistas e se, for até preciso, uma parte dos nossos sacrifícios.

Nelas está representada a verdadeira filantropia e por conseguinte um dos mais belos florões que a nossa sociedade ostenta na sua coroa de glória.

Comendador Joaquim Gonçalves Araújo, fundador. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A diretoria que de vós recebeu o honroso mandato de gerir, no ano findo, os negócios sociais, sabia perfeitamente que a lei vigente determina que os benefícios, da nossa sociedade devem principalmente convergir para os seus associados, mas entendeu também, que não devia por motivo algum, despedir, sem comiseração, os infelizes que em precárias circunstancias e lutando com a morte viessem reclamar os serviços do hospital, porque seria menosprezar a maior virtude que nobilita o homem, o amor do próximo e, renegar as tradições e os fins altruístas da nossa instituição.

Daí o abraçar com toda a atina a ideia das camas de caridade e trabalhar, com empenho, para a sua fundação e desenvolvimento.

Esta ideia tão generosa como sedutora, partiu do nosso irmão pelo berço, do patriota a quem a sociedade muito deve e mais deveria se pelas disposições da nossa lei orgânica lhe fosse permitido associar-se, o sr. Francisco Gonçalves da Costa Porto, o amigo que tantas provas de afeto tem, dado a nossa terra, que é também a sua e tantas vezes temos visto o nosso lado, ora seguindo, cheio de entusiasmo e de crença as nossas manifestações de jubilo, quando a nossa pátria alcança um triunfo ou comemora uma data gloriosa, ora acompanhando os nossos protestos, indignado e altivo, quando a ambição dos fortes vibra covardemente sobre ela a chicotada miserável de uma afronta.

Foi deste cavalheiro que partiu, com o primeiro donativo, essa iniciativa a que hoje não há ninguém que negue o seu concurso, o seu auxilio e a sua homenagem, sendo logo perfilhada pelo nosso distinto consócio sr. Luiz Eduardo Rodrigues, com verdadeiro fanatismo e louvável generosidade.

Por proposta do nosso digno consócio e mordomo, o sr. Porfiro Varela, um batalhador infatigável, um sincero amigo da nossa instituição, foram as camas fundadas no dia 5 de setembro de 1898, dia imperecível em que uma nova aurora surgiu neste imenso estado e a civilização mais um triunfo na sua carreira luminosa, data gloriosa, que há de sempre nos lembrar a maior conquista social e moral do povo amazonense, porque milhares de mártires viram desfazer-se nesse instante as algemas da escravidão que lhes arroxeavam os pulsos e, puderam ver pela primeira vez, de fronte erguida, o sol formoso da liberdade. Assim aquelas camas não representam somente uma obra meritória, um exemplo de caridade, são também um monumento que sintetiza a comemoração de um grande dia, a consagração de um acontecimento inconfundível, a abolição da escravatura, nesta bela e riquíssima região.

Comendador José Cruz, presidente 1962 a 1992. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Representante de portugueses intimamente unidos aos brasileiros, pelas tradições, pelo passado, pela história, tendo no Brasil uma terra generosa e hospitaleira, a nossa sociedade provou assim que não considera esta grande união apenas como um campo de trabalho e de luta frias que ligam um pensamento mais nobre e elevado, que vê nela uma segunda pátria, alegando-se com os seus triunfos e comemorando jubilosamente os seus dias de glória.

Dos serviços que as camas de caridade, apesar da sua fundação recente, tem prestado aos desprotegidos da fortuna, podeis formar um juízo seguro pelo mapa que vai seguidamente desenvolvido e, do bom acolhimento que lhes tem sido feito, encontrais uma prova irrefutável e consoladora no documento adiante publicado.

Júlia Barjona Labre – A última hóspede da Beneficente Portuguesa

Atendendo um pedido do Cônsul de Portugal em Manaus, Dr. Emídio Vaz D’Oliveira e do empresário das comunicações Jornalista Phelippe Daou, naturalmente contando com a generosidade do Comendador José Cruz, Presidente da Beneficente Portuguesa à época, a professora Júlia Barjona Labre foi a última hospede do hospital português.

O que era comum naquela época desde o início do século, o hospital português sempre recebeu hóspedes portugueses que não tinham familiares em Manaus e, naturalmente faziam doações de suas propriedades para o referido hospital e desta forma na condição de sócio passavam a morar até sua morte nas dependências do hospital. Foram muitos aqueles portugueses que participaram efetivamente deste projeto de generosidade.

Júlia Barjona Labre, (professora Julitta para os íntimos) nasceu no dia 4 de abril de 1887, no Estado de São Paulo, filha de Luís Araújo Labre e Isabel Maria Barjona Labre. Fez seus primeiros estudos no Liceu Nacional de Lisboa, Portugal. Uma escola tradicional, fundada em 1836, com nome de Liceu Passos Manuel, hoje, Escola Secundária de Camões. Instalado à época no Palácio de Regaleira, no Largo de São Domingos. Ainda hoje, esta tradicional escola mantém o ensino noturno e continua a ser uma das maiores escolas secundárias do país.

Júlia Barjona Labre (Julitta). Nasceu em 4 de abril de 1887, filha de Luiz Araújo Labre e Isabel Barjona de Freitas. Cartão postal produzido por Silvino Santos, 1921. Foto: Acervo de José Paulo Macedo

Segundo depoimento deixado por escrito pela própria dona Julitta, ela destaca:

[…] Posso dizer que nasci em berço de ouro. Nunca soube na vida estudantil o que era dificuldades. Meus avós e meus pais abastados, sempre me cumularam de tudo o que precisava para uma vida tranquila e confortável. Sempre tive o direito de escolher os lugares para passar os meus períodos de férias escolares. Foi assim que conheci Paris, Bordéus, Liège, Madri e vários outros lugares bonitos. Gosto de criança, de todos os animais sem exceção e por toda vida sigo um lema: Meus amigos não têm defeitos, meus inimigos, se existem, não têm qualidades.

Em Belém do Pará, sua mãe e sua avó foram proprietárias do Colégio Progresso no qual venderam, mais tarde, ao Dr. Arthur Theodulo dos Santos Porto, tendo passado a denominar-se Colégio Progresso Paraense. Arthur Theodulo dos Santos Porto nasceu a 4 de abril de 1866, na cidade de Recife, Pernambuco, sendo seus pais: o Conferente de Alfândega, Coronel João dos Santos Porto e dona Emília dos Santos Porto. Fez seus primeiros estudos nessa cidade, tendo, mais tarde, ingressado na Faculdade de Direito onde foi aluno de Tobias Barreto, entre outros tantos mestres de excepcional talento.

Concluído o curso jurídico, viajou para o Estado do Pará, onde assumiu o Cargo de Promotor de Justiça da Comarca de Bragança, posteriormente, foi oficial de gabinete do Governador Dr. Justo Chermont, cargo que desempenhou até 1890, quando retornou a Pernambuco.

Júlia Barjona Labre chega ao Amazonas em 1907 e, desde logo, iniciou magistério com sua mãe Isabel Maria Barjona Labre e sua avó Júlia Barjona de Freitas as quais fundaram, nesta ocasião, o Colégio Progresso na Avenida Sete de Setembro, onde neste local, mais tarde, foi construído o edifício Antônio Simões. Posteriormente, o Colégio Progresso foi transferido para um sobrado com porão habitável na Avenida Joaquim Nabuco, esquina da Rua Lauro Cavalcante. Ainda no depoimento escrito por Júlia Barjona Labre, ela retrata Manaus no período de sua chegada:

Voltou ao Estado do Pará no ano seguinte para casar com dona Júlia Pinheiro, filha do ilustre e respeitável Coronel José Caetano Pinheiro, Senador da República e um dos líderes políticos de maior prestígio. Foi também atuante advogado no fórum de Belém, onde soube honrar durante muitos anos de intensa atividade defendendo causas cíveis e criminais. Foi professor na cadeira de Geografia do antigo Liceu Paraense e, posteriormente, de História Universal na Escola Normal do Pará, onde obtivera cátedra dessa disciplina em 1893, em 1927, foi nomeado desembargador no Tribunal Superior de Justiça.

[] Quando cheguei a Manaus, encontrei dois ótimos serviços, energia elétrica e o serviço de bondes, que em nada ficavam a dever aos de Portugal e aos da Europa na época. Manaus era uma cidade pequena, mas com povo muito trabalhador e muito hospitaleiro. Nos clubes sociais como o Internacional e outros, reunia-se a sociedade em grandes festas. Nos clubes nada se pagava, os sócios tinham direito a pedir o que fosse de seu agrado sem qualquer pagamento. Do champagne ao vinho do porto, etc. Manaus, por esse tempo, recebia a visita de grandes artistas, de companhias famosas de toda a Europa. As famílias também gostavam de reunir-se com os amigos em casa.

A professora Júlia Barjona Labre, mestra de tantos alunos ilustres, como Phelippe Daou e Milton Cordeiro, promoveu com sua escola um ambiente mais propício ao seu acentuado pendor didático, pôde ela lecionar neste tradicional colégio até 1963, quando, definitivamente, aposentou-se do magistério, auferindo desse trabalho os meios de subsistência para ela e para aqueles que permaneceram em sua volta, buscando sempre conquistar altíssimas relações as quais lhe valeram grandes momentos de amizade. Exerceu o magistério de forma prazerosa durante cinquenta e sete anos. Nesse sacerdócio, viveu os melhores dias de sua vida, teve alunos exemplares, lecionou para os filhos das melhores famílias que ela conhecia. Teve sob a sua guarda várias gerações de amazonenses dos quais ela se orgulhava muito, pois todos eles se destacaram na vida profissional e foram, para ela, motivo de grande satisfação. A professora Julitta destacou um amigo inesquecível, Ruy Araújo. Ela, ainda, destaca no seu depoimento:

[…] O Amazonas na época do ouro negro transbordava de grandeza, mas com a queda da borracha e o registro da crise dela consequente, tudo se modificou no Amazonas. Todo mundo sentia na carne os efeitos da crise. Eu e minha família também dela não escapamos. Minha avó, por exemplo, perdeu tudo o que possuía e que estava aplicado no interior, através das mais importantes firmas da terra, que desapareceram na voragem da crise econômica sem precedentes na história do Amazonas. São tantas as recordações boas e más, da minha carreira, que não me atrevo a dizer qual delas a que me deixou marcas mais profundas. Devo, no entanto, dizer que amo verdadeiramente os “meus filhos” e “meus netos” e sinto uma alegria e prazer imenso quando sei que algum deles está prosperando, alçando-se a posições mais importantes na vida.

Júlia Barjone Labre, no Hospital Beneficente Portuguesa, 1971. Foto: Acervo de José Paulo Macedo

Seu nome está perpetuado na Escola Municipal Júlia Barjona Labre que, à época de sua criação, era uma pequena casa de madeira de iniciativa do Projeto Pró Morar São José 1, na administração municipal do Prefeito José Fernandes e teve as obras concluídas na administração do Prefeito João Furtado, cuja, inauguração ocorrera em agosto de 1982.

A primeira gestora dessa escola foi a professora Dalva Sueli Moraes Mota. Outros profissionais também tiveram importante dedicação a essa escola como, por exemplo, Joaquim de Oliveira Reis, João Bosco Dutra da Silva, Gilmar da Silva Oliveira, Jocelim Umberto da Silva Oliveira, Brigida Meneses e Tarcísio Serpa Normando.

A professora Julitta após se aposentar e por influência do Comendador Emídio Vaz D’Oliveira e Phelippe Daou, foi lhe concedido um aposento no Hospital Beneficente Portuguesa, onde permaneceu até falecer. Ela, quando em vida, sempre destacou grandes amigos e companheiros de todas as horas: Isabel Barbosa de Macedo, viúva do Sr. José Manuel de Macedo; Eneida Araújo de Vasconcelos, filha do Dr. Ruy Araújo e dona Elena Araújo; Paulo Fernando Cidade Araújo; Maria Ermelinda Pedrosa de Medeiros; Valdir Medeiros; Maria do Céu Vaz D’Oliveira; Rômulo Rabelo; Osvaldo Said; Djalma Batista; Penido Burnier; Pedro Araújo Lima; Renê Gutierrez. Dona Isa Pedrosa, viúva do Dr. Valdemar Pedrosa e mãe de dona Maria Ermelinda.

Ao escrever este artigo, volto a um período importante da minha infância e juventude, onde, por tantas vezes, transitei naquele espaço do Colégio Progresso.

Sonhar e acreditar. Destas duas qualidades resultam as realizações sociais e os fazeres do espírito humano – fatores indispensáveis para perpetuação das aspirações enobrecedoras e a construção de possibilidades efetivas para existência humana.

A professora Júlia Barjona Labre formou muitas gerações de homens e mulheres os quais souberam colocar em prática valores e atitudes que, com ela, aprenderam.

A existência dela enquanto viveu entre nós, foi marcada pela vontade de servir e projetar seus alunos para o futuro. Essas considerações me ocorrem enquanto constato que, na sua escola, ela utilizou o conhecimento como pátina, no cinzelamento do conhecimento de todos aqueles alunos que beberam na fonte de seus ensinamentos.

A vida é uma aventura em que os justos e os bons, apesar das provas e desafios, afirmam, com a força de seu caráter e com suas ações, as marcas de sua singularidade e grandeza de suas atitudes. Eis, aí, o diferencial o qual distingue as almas nobres, daqueles que vivem nas sombras ou contentam-se com a pequenez de seus sentimentos.

A trajetória dessa educadora foi reveladora de seus múltiplos compromissos com o sacerdócio de ensinar, com a vida e com a possibilidade da construção de uma sociedade que se destacou no Estado do Amazonas. A existência dessa mestra foi uma prova do poder de transformação do saber, isto é, o triunfo da vontade de ensinar. Sua vida foi vitoriosa porque era alicerçada na crença de seus pais de que o maior patrimônio que poderiam legar aos filhos era o conhecimento.

Poucas pessoas, nesse universo escolar, têm um espaço reservado na história da nossa cidade depois de longos e proveitosos anos de magistério. A mestra Júlia Barjona Labre descreveu nossa cidade como observadora atenciosa e, como se nós pudéssemos vê-la debruçada na janela de sua escola, nas tardes de domingo, que, por tantas vezes, eu presenciei na pacata cidade de Manaus onde ela escolheu para viver.

Além do círculo de amizades de nosso entorno, ela impressionava com uma amizade muito próxima de personalidades da família real, era a sua vertente mágica de construir boas amizades, pela singularidade dos seus conceitos e, principalmente, pela forma de que seus pais promoveram sua educação. O seu absoluto e elegantíssimo domínio da língua portuguesa, fez dela uma sedutora para quem teve a felicidade de ouvi-la e conviver com ela.

É certo que não só por meio da palavra os mortais podem passar à posteridade, tão significativos e ilimitados foram suas raízes a partir de seus pais, muito especialmente a sua mãe Isabel Maria Barjona Labre, que ao receber o óleo santo do batismo e a água purificadora na Igreja Paroquial de Nossa Senhora dos Mártires, Conselho do Bairro do Rossio, Distrito Eclesiástico do Patriarcado de Lisboa, através do Padre Narciso José Pinto, nesta ocasião, foi seu padrinho Sua Majestade o Imperador do Brasil, Dom Pedro II, por seu bastante Procurador o Excelentíssimo Barão de Itamaracá, seu Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário nesta Corte e recebeu como Madrinha Nossa Senhora da Conceição. Dessa forma, buscando encontrar nas curvas do tempo fatos históricos que valem a pena ficar como registro nesta viagem de rememorações, reencontros e revelações.

No seu acervo pessoal, encontramos cartões de Natal, cartão pessoal da Princesa Esperanza da Família Imperial Brasileira, com foto da Princesa dona Esperanza, Príncipes Dom Pedro Carlos e Dom Pedro de Orleans e Bragança, enviados do Palácio Grão Pará em Petrópolis, Rio de Janeiro. Além de muitos documentos, um bilhete postal produzido por Manáos – Arte – J. G. Araújo & Cia., Ltda., cuja produção artística era de Silvino Santos, com a foto de Júlia Barjona Labre. A importância da família Labre também está em um registro memorável na fundação da cidade de Lábrea, onde ocorrera a saga das terras dos índios Apurinã e Palmary, como bem destaca o Professor Doutor Hélio Rocha, na sua obra “Coronel Labre”. Antônio Rodrigues Pereira Labre (1827-1899), Coronel Labre maranhense, fundou, organizou e governou esta cidade as margens do Rio Purus, no ano de 1871.

Depoimento escrito por Júlia Barjona Labre

Escola Municipal Júlia Barjona Labre/Professor Carlos Alberto Monteiro de Oliveira;

Informações cedidas pela família do Desembargador Athur Porto através de Raul Porto, Belém do Pará;

Informações e documentos cedidos por José Paulo Macedo;

Rocha, Hélio. Coronel Labre/Hélio Rocha; São Carlos, SP, 2016. Editora Scienza.

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

MEC contribui para nova lei da educação superior na Colômbia

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O Ministério da Educação (MEC) — por meio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) — participou, no dia 14 de junho, em Bogotá (Colômbia), do painel ‘Acuerdo Nacional por la Educación Superior: las grandes apuestas de Brasil, Chile y México‘. O evento, promovido pelo Ministério da Educação Nacional colombiano, teve por objetivo o intercâmbio de experiências desses países a fim de contribuir para a implantação da Lei nº 2307/23. A norma, assinada no final do ano passado pelo governo colombiano, estabelece a gratuidade dos cursos de graduação nas instituições públicas de educação superior para grupos específicos.

O MEC foi representado pelo secretário de Educação Profissional e Tecnológica, Marcelo Bregagnoli. Ele lembrou que o tamanho do Brasil gera muitos desafios na educação superior e apresentou algumas soluções de políticas públicas encontradas pelo governo brasileiro. “O Presidente Lula anunciou, há três meses, mais 100 novos campi de institutos federais em todo o País. Assim, vamos alcançar 785 unidades. Atualmente, temos 1,7 milhão de estudantes matriculados nos institutos federais, que estão em lugares nos quais antes não havia oferta de educação pública”, ressaltou.

O secretário também elencou fatores como inclusão social, alinhamento aos arranjos produtivos locais, capacitação para servidores, sustentabilidade, interiorização, internacionalização, além de autonomia financeira, administrativa e didático-pedagógica, como pontos fortes da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica no Brasil.

O painel ainda contou com a participação da diretora do Sistema de Avaliação e Acreditação da Educação do México, María José Rhi Sausi Garavito, e do subsecretário de Educação Superior do Ministério da Educação do Chile, Víctor Orelhana Calderón. A moderação do debate foi feita pelo vice-ministro da Educação Superior da Colômbia, Alejandro Alvarez Gallego.

Modelo

A gratuidade da educação na Colômbia ainda não é uma realidade em cursos superiores, sendo restrita ao ensino primário e a parte do secundário. As primeiras discussões sobre o tema estão em andamento, e a participação do Brasil no evento é um reconhecimento da experiência brasileira na oferta de educação pública gratuita e de qualidade em universidades e institutos federais.

Assista à íntegra do painel

*Com informações do MEC