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Futuro da Amazônia brasileira é discutido na 9ª edição do Brazil Forum UK

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Promover os direitos sociais dos povos indígenas é quebrar paradigmas colonialistas e compreender a relação que eles sempre tiveram com seus territórios em termos de cuidado, conhecimento tradicional e manejo sustentável. E, por isso mesmo, fortalecer a presença do Estado com tratamento específico e diferenciado em segurança pública contra invasores e garantia da gestão territorial e ambiental pelos próprios indígenas.

Foi o que defendeu a presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, ao participar como painelista da 9ª edição do Brazil Forum UK, realizado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, na última semana. O tema desta edição foi ‘O Futuro é brasileiro’.

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 Foto: Lohana Chaves/Funai.

“O futuro também é indígena e eu espero que os povos indígenas sejam incluídos nesse futuro, porque nós temos a dimensão dos problemas que hoje afetam tanto a humanidade em todo o mundo, é preciso incluir essa diversidade cultural em termos de políticas públicas e de planejamento administrativo em municípios e estados e em nível nacional porque os indígenas têm a resposta do que querem e do que precisam para proteger e continuar protegendo esses territórios”, afirmou a presidenta da Funai.

A presidenta da Funai participou do painel ‘Como Salvar a Amazônia? A Relação entre Violência e Desmatamento’, ao lado do delegado de Polícia Federal Humberto Freire, diretor da Amazônia e Meio Ambiente da PF, e Ilona Szabó, presidente e co-fundadora do Instituto Igarapé. O mediador foi Victor Veras, membro do comitê organizador do Brazil Forum UK 2024.

“ O Governo Federal vem reconstruindo a política indigenista em diálogo com os povos indígenas”, declarou Joenia Wapichana.

A discussão abordou a segurança pública no bioma e como a crescente criminalidade acarreta não apenas graves consequências ambientais, mas também contribui para um quadro maior de insegurança para as comunidades locais e está ligada ao crime transnacional.

Segurança na Amazônia

O delegado da PF Humberto Freire apresentou ações e planos que a Polícia Federal tem implementado e irá colocar em prática para a segurança na Amazônia, a exemplo da pactuação de operações policiais integradas com outras forças de segurança e instituições parceiras, desde janeiro de 2023, como as que vem ocorrendo na Terra Indígena Yanomami. 

“A gente já reduziu a atuação do garimpo ilegal em mais de 85%. Ainda temos desafios importantes lá, mas já conseguimos essa expressiva redução inicial”, anunciou.

Entre outras ações, também foi apresentada no painel a estruturação do ‘Plano Amazônia: Segurança e Soberania – Plano Amas’, instituído pelo Decreto nº 11.614/2023. O plano prevê uma estrutura de governança que envolve todos os níveis de governo. Foi feito um programa estratégico de segurança pública para a Amazônia, produzido em conjunto com as forças de segurança dos nove estados da Amazônia Legal. 

“A gente já reduziu a atuação do garimpo ilegal em mais de 85% na Terra Indígena Yanomami’, disse Humberto Freire, diretor da Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal.

A partir desse instrumento foram construídos nove planos táticos integrados de segurança pública para a região amazônica, seguindo as diretrizes do programa estratégico e que servem de base para o desenvolvimento de planos operacionais para ações conjuntas. Além de orientar as operações e os planos operacionais, o Plano Amas também orienta as demandas por investimentos.

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Foto: Lohana Chaves/Funai.

Proteção de terras indígenas

Para Joenia, garantir a segurança na Amazônia passa pela divulgação de informações sobre os direitos que os povos indígenas têm à educação, saúde, segurança, cidadania, entre outros, para que não vivam à margem da sociedade como foram colocados por muito tempo.

“Esses e outros fatores aumentam a violência em diversas regiões, porque os criminosos se aproveitam desse esvaziamento em relação ao acesso a direitos sociais para entrar nos territórios indígenas, fragilizando, inclusive, a própria organização social dos povos indígenas”, relacionou.

A presidenta da Funai argumentou que é nesse contexto que entra a presença do Estado para defender os territórios e, assim, possibilitar que os indígenas continuem com a sua cultura fortalecida, tenham seus próprios sistemas respeitados e que a premissa básica, prevista na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), seja cumprida: a construção coletiva a partir do diálogo adequado com os povos indígenas, respeitando a consulta prévia, livre e informada.

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Foto: Lohana Chaves/Funai.

É dessa maneira que o Governo Federal vem reconstruindo, há um ano e meio, a política indigenista. Além dessa diretriz, a Funai se pauta pela intersetorialidade da política com os órgãos de segurança pública e pelo que é disposto na Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial Indígena (PNGATI). Atualmente, a PNGATI está vigente por força do Decreto nº 7.747/2012, mas há uma proposta legislativa tramitando no Congresso Nacional para virar lei. 

Segundo Joenia Wapichana, a PNGATI responde à necessidade tanto de proteção dos territórios, que inclui uma série de órgãos e suas responsabilidades, como também do direito dos povos indígenas e sua salvaguarda e se coloca como estratégia de enfrentamento às mudanças climáticas e de gestão territorial e ambiental. 

Brazil Forum UK 

Tradicionalmente realizado na Universidade de Oxford, o fórum reúne 29 painelistas ao longo de dois dias, distribuídos em diversos países com painéis temáticos. O evento é organizado por estudantes brasileiros do Reino Unido com o objetivo de discutir temas que impulsionem mudanças positivas no Brasil. 

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Foto: Lohana Chaves/Funai.

A presidenta da Funai, Joenia Wapichana, participa do evento acompanhada da diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Funai, Lucia Alberta. As duas irão acompanhar as discussões dos seguintes paineis: ‘Transição energética justa: o Brasil liderando um presente sustentável para um futuro possível’; ‘Transferência de renda na educação: estratégias para o combate à evasão escolar’; ‘Cultura digital e inclusão financeira no Brasil’; e ‘35 anos de aborto legal no Brasil: avanços, retrocessos e o futuro dos direitos reprodutivos’.

*Com informações do Ministério dos Povos Indígenas

Bumbódromo de Parintins deve ser ampliado, afirma Governo do Amazonas

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E temos novidades para o Bumbódromo de Parintins. A sexta-feira (28) marcou o início do embate entre Caprichoso e Garantido no 57º Festival Folclórico. Porém, o que pegou os torcedores de surpresa foi o anúncio de ampliação do Bumbódromo, o lugar que recebe o festival.

De acordo com o governador Wilson Lima, já existe a concepção de um projeto inicial, mas que o projeto final será feito com a colaboração dos bois Caprichoso e Garantido, e terá a palavra final da população de Parintins.

“Esse é o palco da Amazônia, porque aqui nessa arena não está somente a nossa arte, mas está um apelo do povo que mora nesta região. É o apelo do caboclo, do índio, do quilombola, do ribeirinho, é um grito pela preservação da Amazônia, mas, acima de tudo, um grito pela preservação do homem, do cidadão que está aqui, que mora e que preserva a Amazônia melhor do que ninguém”, disse o governador.

Após a definição do projeto final, a previsão de duração da obra é de dois anos, sem acarretar prejuízos a realização do festival enquanto estiver sendo executada.

O anúncio foi feito na presença do ministro do Turismo, Celso Sabino; do presidente da Embratur, Marcelo Freixo; do ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias; do prefeito de Parintins, Bi Garcia; da vereadora de Parintins, Brena Dianná; senadores, deputados, secretários de Estado e outras autoridades.

A partir do mês de agosto, a Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinfra) vai iniciar o processo licitatório para a escolha da empresa que vai elaborar o projeto arquitetônico. No mês de novembro, serão realizadas audiências públicas para ouvir a população para que os parintinenses possam apresentar sugestões ao projeto.

Foto: Alex Pazuello/Secom

O valor total da obra será definido após a conclusão do projeto arquitetônico. A expectativa é de que o serviço seja licitado em 2025 e o início dos trabalhos ocorra em 2026. ”Os projetistas virão para o município para conversar com a Prefeitura, conversar com a Câmara de Vereadores, com os bois Caprichoso e Garantido, com os artistas e, também, com a população para que o novo Bumbódromo tenha a identidade do povo desta região”, acrescentou Wilson Lima.

Galeras

Outro ponto de investimento para o novo Bumbódromo será uma atenção especial para as galeras dos bumbás, que passarão a ter um espaço com mais estrutura para aguardar a entrada no Bumbódromo, durante os três dias de festa. A ideia é, também, que com essa nova concepção, a área funcione como uma espécie de fun fest (áreas comuns em eventos como a Copa do Mundo de Futebol).

Os espaços administrativos, assim como a área destinada à imprensa, que cobre a festa, também receberão importantes melhorias. Novas rotas para a saída e entrada de alegorias, também devem fazer parte da proposta do novo Bumbódromo.

Festival de Parintins

Considerado Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Festival de Parintins é realizado sempre no último fim de semana do mês de junho e impulsiona o crescimento de emprego e renda da Ilha Tupinambarana.

Em 2024, por meio de trabalhos coordenados pelo Governo do Amazonas, o espetáculo deve gerar 2,4 mil empregos diretos e 24 mil indiretos. E a expectativa de movimentação econômica é de R$ 160 milhões.

*Com informações da Agência Amazonas

Mini roteiro Parintins: conheça a ilha da magia, o Festival Folclórico e outras curiosidades

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O Festival Folclórico de Parintins encantou o Brasil. A festa dos bois-bumbás Caprichoso e Garantido tem criado um novo sentimento sobre a cultura nortista e ajudado o país a conhecer as origens da Região Norte.

Para ajudar aqueles que ainda não puderam visitar a cidade de Parintins, no Amazonas, onde a festa acontece todos os anos no mês de junho, o Portal Amazônia reuniu diversas curiosidades, dicas turísticas e muito mais em um listão. Confira:

O Festival Folclórico de Parintins

Turismo em PIN 

Cultura parintinense

Curiosidades

Galpões do Caprichoso e Garantido impulsionam geração de emprego em Parintins

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Caprichoso e Garantido. Chegou o momento deles, mas além da importância cultural, o Festival Folclórico de Parintins também é um motor que impulsiona o crescimento de emprego e renda na Ilha Tupinambarana. Este ano, o espetáculo deve gerar 2,4 mil empregos diretos e 24 mil indiretos. Os bois Caprichoso e Garantido, juntos, geram aproximadamente 5 mil empregos diretos. Já a perspectiva de movimentação econômica para 2024 na cidade amazonense é de R$ 160 milhões.

“O Festival de Parintins tem a função de gerar emprego, de gerar renda, de dar oportunidade para as pessoas de todo o estado, mas, sobretudo, para quem mora na cidade de Parintins”, pontuou o governador do Amazonas, Wilson Lima.

Nos bastidores dos galpões dos bumbás, onde são preparadas as alegorias, indumentárias e adereços para o Festival de Parintins, centenas de trabalhadores encontram fonte de renda e movimentam a economia na cidade. São artesãos, costureiras, pintores, soldadores e muitos outros profissionais envolvidos que dependem dessa temporada para investir em melhorias em suas vidas.

Caprichoso

No galpão do Boi Caprichoso, cerca de 750 pessoas trabalham diretamente na produção dos módulos alegóricos, indumentárias, adereços e outras atividades, como segurança e serviços gerais dentro dos galpões do Touro Negro.

A aderecista Ayra Silva conta que a época do festival é a mais aguardada do ano. De acordo com ela, embora tenha outros ofícios, a renda do evento é importante.

“O festival em si, é muito importante, ele ajuda de um modo completo, desde o vendedor de água, churrasquinho, até aquele que vende o prato mais sofisticado”, disse Ayra.

Foto: Mauro Neto/Secom AM

De acordo com Ericky Nakanome, presidente do Conselho de Arte do Caprichoso, a cada ano, os galpões dos bois reafirmam o papel como espaços que fortalecem a economia local.

“É uma movimentação [econômica] importante, que vem desde fevereiro, mas que no decorrer de junho cresce, fazendo com que tenha um momento em que estamos atrás de pessoas com determinados serviços, e não tem, porque está todo mundo empregado, graças a Deus, nos dois bumbás”, enfatizou Ericky.

Garantido

No galpão do Boi Garantido estão 590 trabalhadores, divididos entre kaçauerés (trabalhadores responsáveis pelo transporte das alegorias), costureiras, artesãos e artistas. De acordo com a coordenadora do setor de costureiras, Lucivone Santos, o festival tem sido essencial para complementar a renda.

“É um período que a gente aproveita para ganhar aquele dinheirinho e ter aquela renda maior. Usamos para construir nossa casa, porque meu marido é artista aqui também. Acabando, tenho meu ateliê e meus clientes e vou trabalhando de casa”, destacou Lucivone.

Foto: Mauro Neto/Secom AM

Uma das costureiras da equipe de Lucivone é a Auxiliadora Teixeira, mãe solo de quatro filhos, que tem como sustento da família a atividade de costura. É durante o período do Festival de Parintins que ela aproveita para fazer reserva financeira.

“Eu trabalho todos os anos aqui e sou conhecida pelo meu trabalho. Eu tenho um ateliê e sou pai e mãe, tenho quatro filhos e é daqui que eu tiro meu trabalho e renda”, disse a costureira.

Investimentos no Festival

Este ano, o investimento do Governo do Amazonas no 57º Festival de Parintins é de R$ 8 milhões, sendo R$ 4 milhões para cada bumbá, além dos patrocínios privados aos bois, que devem chegar a R$ 15 milhões. Somente a Coca-Cola vai repassar R$ 2,5 milhões em 2024, sendo R$ 1,25 milhão para cada boi.

*Com informações da Agência Amazonas

Jornalista amazonense Marina Salviati morre em Belém

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A jornalista amazonense Marina Souza Salviati morreu nesta sexta-feira (28) em Belém (PA), aos 32 anos. A comunicadora morava em Manaus, mas estava na capital paraense onde participava da conferência Coda Amazônia 2024.

Em nota, a Open Knowledge Brasil, responsável pelo evento no Pará, informou que Marina passou mal durante uma atividade realizada na Universidade da Amazônia (UNAMA). A jornalista foi socorrida e levada ao pronto atendimento, mas veio a óbito.

Marina era formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atuou como repórter no Portal Amazônia entre 2011 e 2013, e em seguida trabalhou no G1 Amazonas, ambos veículos do Grupo Rede Amazônica em Manaus. Ela trabalhou também como coordenadora de Comunicação da FAS entre os anos de 2015 e 2017. Desde 2022, Marina atuava como Especialista em Comunicação da WCS Brasil.

Recentemente, Marina compartilhou em suas redes sociais que tinha vencido o tratamento contra um câncer e vinha inspirando outras pessoas, sempre com mensagens positivas para lutar contra as adversidades da vida. 

A equipe do Portal Amazônia lamenta a perda de uma profissional que levava a Amazônia para o mundo e se solidariza à família e amigos.

Vermelhou: aprenda as principais coreografias do bumbá Garantido

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‘Segredos do Coração’ é o nome do álbum do boi-bumbá Garantido lançado este em 2024. No repertório, a mistura das novas toadas e as antológicas agradou ao público, que respondeu entoando refrãos, comprovando que apesar de novo, o álbum traz 15 faixas que já estão na boca da galera.

Porém, junto com a musicalidade das novas toadas do bumbá vermelho e branco vem também o ‘dois pra lá, dois pra cá’: as coreografias. Confira:

‘Dois pra lá, dois pra cá’ do Caprichoso: aprenda as coreografias do touro negro

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‘Cultura – O Triunfo do Povo’. Esse é o nome do novo álbum do boi-bumbá Caprichoso. O projeto tem como produtor musical Neil Armstrong e produção executiva de Guto Kawakami. As músicas foram selecionadas pelo Conselho de Arte.

Porém, além da musicalidade única do álbum, os torcedores também precisam conhecer as coreografias para não fazerem feio no bumbódromo de Parintins, certo? Confira: 

Você sabia que grandes aves podem ajudar na regeneração da floresta?

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Maior representante da sua família, o tucano-toco (Ramphastos toco) pode apresentar uma envergadura das asas superior a 1 metro e percorrer voos de mais de 90 metros de distância. Nesses percursos, muitas vezes ele carrega algo preciosíssimo para a regeneração natural das florestas: sementes das frutas das quais ele se alimenta.

Assim como acontece com os tucanos, ao dispersarem sementes no solo, outras espécies de grandes aves frugívoras – jacus (Penelope obscura) ou gralhas-do-campo (Cyanocorax cristatellus), entre outras –, podem contribuir para o aumento do armazenamento de carbono em 38% nas florestas tropicais em regeneração.

O número acaba de ser revelado por uma análise publicada no jornal Nature Climate Change por um grupo de pesquisadores do Crowther Lab, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH), na Suíça.

“A redução do desmatamento e a restauração de florestas têm um papel fundamental na diminuição do carbono atmosférico e na mitigação das mudanças climáticas. Porém, existem muitas barreiras para restauração em grande escala, como altos custos, o nível de degradação do solo e a falta de banco de sementes”, diz a brasileira Danielle Leal Ramos, doutora em Ecologia e Biodiversidade da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e uma das coautoras do artigo.

Ela explica que em florestas tropicais, como a Amazônia ou a Mata Atlântica, a maior parte das espécies de plantas depende de animais para dispersar sementes – sendo assim, aves podem ajudar a romper essas barreiras, transportando e plantando as sementes em áreas degradadas.

“Nosso objetivo [com o estudo] foi quantificar a contribuição de aves que se alimentam de frutos para a regeneração natural e para o potencial acúmulo de carbono em áreas degradadas”, revela.

Os pesquisadores analisaram dados coletados na Mata Atlântica ao longo dos últimos anos por colegas, estudantes, voluntários, ornitólogos, técnicos de campo e a comunidade local.

Nativo da Mata Atlântica, o jacu (Penelope obscura) tem grande preferência pelo araçá, cujas sementes defeca quase intactas. Foto: Dario Sanches, CC BY-SA 2.0 via Wikimedia Commons

Impacto da fragmentação sobre a movimentação das aves

Qualquer ave frugívora, ou seja, que se alimenta de frutos, tem um papel importante na regeneração das florestas. A diferença daquelas de grande porte e que, consequentemente, conseguem comer frutos maiores, entretanto, é que suas sementes darão origem a árvores com uma maior biomassa.

“Normalmente árvores com uma densidade de madeira maior produzem frutos maiores. E são elas que apresentam maior potencial de acúmulo de biomassa e sequestro de carbono. São árvores de grande porte, madeira densa e crescimento mais lento”, explica Danielle.

Todavia, o estudo indicou que em florestas degradadas a circulação das aves é restringida, levando a uma menor dispersão de sementes e captura de carbono.

Nesses locais, as áreas florestais são pequenas e estão localizadas longe umas das outras. Com isso, as aves precisam fazer voos mais longos e ficar mais expostas a predadores e condições climáticas extremas ao ir de um trecho a outro de mata – um problema para muitas espécies, habituadas à vegetação mais densa.

Jenipapo, ingá, copaíba e embaúba (foto) são algumas das espécies de árvore beneficiadas pela dieta do tucano-toco (Ramphastos toco). Foto: Bernard DUPONT from FRANCE, CC BY-SA 2.0 via Wikimedia Commons

“Para garantir a dispersão eficaz de sementes mediada por pássaros é fundamental manter pelo menos 40% de cobertura florestal e manter os fragmentos florestais a uma distância não superior a 133 metros”, ressalta Carolina Bello, pesquisadora de pós-doutorado do Crowther Lab e principal autora do estudo.

A análise reforça a importância do equilíbrio entre fauna e flora para a preservação e restauração das florestas tropicais. Para que elas se mantenham diversas e eficientes, com seus serviços ecossistêmicos funcionando, é preciso levar em conta o papel dos animais nesse processo.

“A restauração passiva é mais econômica do que a restauração ativa (plantio de árvores), pois é mais barata e produz florestas mais diversificadas com maior potencial de armazenamento de carbono, mas, para que seja bem-sucedida, precisamos garantir que os animais contribuam para ela”, destaca Carolina.

Fenômeno é maior na Amazônia

Apesar de a Mata Atlântica ser considerado o mais devastado dos biomas brasileiros, restando pouco mais de 10% de suas florestas originais, estudos anteriores apontaram que a diminuição do armazenamento de carbono devido à perda de grandes espécies frugívoras é maior na Floresta Amazônica, sobretudo quando se leva em conta não apenas aves, mas também primatas e mamíferos, como a anta e a queixada.

“A Floresta Amazônica e a Mata Atlântica são florestas tropicais onde as espécies frugívoras são muito importantes”, diz a pesquisadora do ETH. Ela alerta que a região amazônica enfrenta um processo de desmatamento grave nos últimos anos, deixando paisagens altamente fragmentadas, onde o movimento das aves também será afetado.

“É de se esperar que os efeitos observados no presente trabalho para a Mata Atlântica também sejam observados na Amazônia, mas precisamos de uma avaliação mais precisa para entender a magnitude do efeito. Devido à maior proporção de árvores que requerem animais para a sua dispersão na Amazônia, podemos esperar que as aves sejam ainda mais indispensáveis para a restauração ali, porém ainda precisamos avaliar o efeito compensatório dos outros grupos de animais”, salienta.

A conservação e a restauração das grandes florestas são essenciais para o combate às mudanças climáticas. O gás carbônico (CO2), considerado um dos principais responsáveis pelo aquecimento global, é extraído naturalmente do ar pelas árvores, que o convertem em oxigênio e material vegetal por meio da fotossíntese. Com aves voando menos e dispersando um menor número de sementes, teremos menos árvores e mais carbono na atmosfera.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Suzana Camargo

Histórias das frutas de comunidades ribeirinhas revelam as “Amazônias”

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Para quem não tenta, à primeira vista e no primeiro impulso, parece um movimento simples, quase fácil. A ação consiste em agarrar os braços no tronco de uma palmeira, flexionar os joelhos e virar os pés para dentro num gesto similar ao das mãos. Em segundos e em um impulso demasiado rápido e constante, o movimento repetitivo do jovem o faz chegar no topo da palmeira, onde encontram-se as touceiras que carregam os pequenos frutos pretos. Já não é trivial e impressiona. A tarefa exige força, flexibilidade e equilíbrio.

A touceira nas costas juvenis escorrega junto na descida do corpo, deslizante pelo tronco da palmeira. Posteriormente, o duro do fruto se desfaz no contato com a água quente, necessária antes do processo de despolpadeira. Se olhar pra baixo, dá medo. Weneson Paulo Araújo de Freitas, conhecido hoje só como Paulo, tinha tremedeira nas pernas quando pensava em chegar no alto da palmeira. Sua mãe dava um conselho. “Menino, coloca essa água nas pernas e sobe”, falava. Era um menino ativo e gostava da atividade, mas também tinha medo.

Depois do fruto debulhado, aquecido e finalmente batido, o líquido escuro é inconfundível para quem mora no Norte do país: é açaí. Se toma com farinha de mandioca, puro, com açúcar. Em alguns lugares mais distantes dali, até com peixe, camarão ou carne seca.

Nos saberes amazônicos, ouve-se falar dos mais velhos nas comunidades, o fruto do açaí representa as lágrimas de uma mulher tupi que chorou ao ter seu filho sacrificado em uma ordem do cacique pela falta de comida para alimentar novas crianças ou bebês, proibidos de serem gerados. Tupã, considerado um deus, atendeu ao pedido em sofrimento da mãe e a transformou na palmeira de açaí.

Vinho de açaí é o nome que seu Luís, apelido de Luís Reis e conhecido de Paulo por morar na mesma comunidade, apresenta aos visitantes do local. Explica a todos a diferença: vinho de açaí é mais fraco e o mais grosso é só açaí. “Hoje ele tá na força”, comenta Paulo sobre a época de produção do açaí na região, que dura de novembro a maio.

A comunidade está localizada próximo à confluência dos rios Japurá e Solimões, estado do Amazonas. Boa Esperança foi o nome escolhido por Luís e outros fundadores da comunidade, ao finalmente tomarem coragem para fazer daquela terra, desocupada, seu lar. Por que ali? Era a areia branca nas margens que formavam uma praia, praia de rio de água escura que chamava atenção dele e de sua esposa, Romena.

Romena fala menos que Luís. É mais acanhada diante de perguntas e visitas. Juntos, tiveram sete filhos a quem ensinaram o caminho para conseguir as coisas, de acordo com o casal: esperança e organização. Luís e Romena, assim como parte de seus filhos, manejam frutas com destreza. E variadas, pra além do açaí. Na chamada Casa de Polpa, unidade de beneficiamento construída com apoio do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, organização de pesquisa científica da região, freezers são carregados lotados de açaí, cupuaçu, goiaba, melancia e todas as frutas que as famílias do Boa Esperança cultivam e colhem na comunidade.

São variadas e no calor, viram também o chamado “dindim”, o refrescante de criança. Gelam com energia, recurso escasso em comunidades ribeirinhas amazônicas. Boa parte delas depende de geradores movidos à diesel, combustível caro. Paulo, hoje morador dessa comunidade, lembra com clareza. “Cresci com energia só até às 22h”, diz. Movida a energia solar, projeto da Casa de Polpa saiu do papel em 2017 graças a um financiamento do Fundo Amazônia. Anos depois, o programa paralisado com advento do governo Bolsonaro.

Nascido num seringal do município de Carauari, rios distantes dali, Luís lembra suas origens de criança: tem avós cearenses por parte de mãe e uma avó peruana por parte de pai. “Por isso saí bonito assim”, ri da própria piada o homem acostumado a usar um chapéu de caubói surrado e que mantém, há anos, um bigode preto grosso.

O ribeirinho compartilha raízes com Paulo, cujos avós também são cearenses. Mas Paulo não se lembra sequer de histórias do Nordeste. “Mas hoje sou caboco amazonense”, se identifica o agora homem de 34 anos, que cria a filha pequena e um dos enteados com a esposa na comunidade. Sua fruta preferida não podia ser outra, diz ele: é açaí.

O outro enteado, de 11 anos, mora em Tefé, cidade amazonense considerada metrópole da região do Médio Solimões, fica distante cerca de oito horas numa voadeira mais comum. Foi para estudar e ainda não sabe subir no pé de açaí como Paulo. “Não é muito do mato”, comenta sobre o menino. “Mas agora tô começando a ensinar, quando dá”, diz rindo.

A quinze minutos da comunidade Boa Esperança, uma outra margem do lago é povoada por dez casas. “Não dá nem para chamar de comunidade, é sítio mesmo”, diz Paulo. É lá que seu pai mora – onde decidiu ir criar sua família depois trabalhar na roça para os outros por ali. Lá que aprendeu a subir para descer com touceira de açaí.

Seu pai mora até hoje lá e com apoio do irmão de Paulo, planta. Principalmente mandioca que vira farinha – mas também as frutas que dão ali: melancia é a principal.

Foto: Paulo Araújo

A origem similar dos dois homens hoje moradores do Boa Esperança retratam um processo de milhares. Em fuga da seca e pobreza enfrentada no Nordeste, milhares de famílias enxergaram na seringa um caminho para uma vida melhor do fim do século 19 ao início do século 20. Nessa época, o estado do Amazonas encantava rios distantes pelo auge da indústria da borracha, chamada de ouro negro. Estima-se que 300 mil nordestinos migraram para a região entre 1870 e 1900.

Os seringais responsáveis pelo produto que tanto vendia atraíam os nordestinos com uma promessa – mas era ilusória. Os chamados “patrões” seringalistas impunham um sistema de semiescravidão aos trabalhadores da região com base em frequentes adiantamentos: era o chamado sistema de aviamento. Tudo isso num bioma, floresta e área de dimensões continentais e dificuldades de navegabilidade bem descrita por Euclides da Cunha no livro ‘À margem da história”:

A volubilidade do rio contagia o homem. No Amazonas, em geral, sucede isto: o observador errante, que lhe percorre a bacia em busca de variados aspetos, sente, ao cabo de centenares de milhas, a impressão de circular num itinerário fechado, onde se lhe deparam as mesmas praias ou barreiras ou ilhas, e as mesmas florestas e igapós estirando-se a perder de vista pelos horizontes vazios; o observador imóvel que lhe estacione às margens sobressalteia-se, intermitentemente, diante de transfigurações inopinadas. Os cenários, invariáveis no espaço, transmudam-se no tempo. Diante do homem errante, a natureza é estável; e, aos olhos do homem sedentário, que planeie submetê-la à estabilidade das culturas, aparece espantosamente revolta e volúvel, surpreendendo-o, assaltando-o por vezes, quase sempre afugentando-o e espavorindo-o.

As famílias iam se movendo pelo estado, sempre atrás de uma vida melhor. De canoa, pela força dos músculos, ou rabetinha de motor fraco, embarcações lentas que geravam dias e horas de viagem. Enquanto isso, obras arquitetônicas exuberantes surgiam nas capitais do norte, hoje pontos turísticos – como o Teatro Amazonas, no centro de Manaus.

Paulo não se lembra de histórias ou então de costumes dos seus avós nordestinos. Mas foi criado pegando gosto pelas frutas do novo lar da família – seja pelo sabor ou pela brincadeira. “A gente competia pra ver quem juntava mais tucumã”, comenta ao referir-se ao fruto da palmeira consumido em todo o interior do Amazonas e popularizado na capital, Manaus, por integrar o típico sanduíche chamado de xis caboquinho. “A gente gostava de ver aquele volume de fruta, juntava tudo”, diz.

Amanã significa “caminho das chuvas” em tupi guarani. É uma área de águas escuras, responsáveis por indicar a composição daquelas terras e está localizado na reserva de desenvolvimento sustentável, uma categoria de unidade de conservação de mesmo nome – a RDS Amanã. Intuitivo, o significado do nome indica o tanto de chuva que, na época certa, chega à região.

Mais próximo da cidade e há algumas horas de barco do Boa, a cerca de seis horas distantes de Tefé, na comunidade Boca do Mamirauá um objeto quase do tamanho de uma bola de futebol é guardado na casa de artesanato indígena – é feito de borracha, a resina da seringa. “Veio rolando pelo rio e a gente guardou”, conta um dos moradores sobre o artefato exposto na casa de artesanato indígena.

Butirizeiro, palmeira comum no Amazonas. Foto: Miguel Monteiro

O povo maiuruma foi um dos que formou a comunidade, ainda não reconhecida como aldeia indígena. Depois da década de 1960, essas populações miscigenadas se estabeleceram na região com forte influência da Igreja Católica, responsável por incrustar o conceito comunitário e suas formas de organização, que perduram até hoje.

A comunidade apelidada de “Boca” para quem a conhece, à mesma maneira do “Boa”, está localizada na reserva de desenvolvimento sustentável Mamirauá, unidade de conservação “irmã” da RDS Amanã e a primeira da categoria no país. Enquanto a reserva Mamirauá é de região de várzea, o que significa floresta alagada na época da cheia, que dura de dezembro a maio, Amanã é caracterizada por ser a chamada terra firme: diferente da reserva “irmã,” tem mais variedade de frutas e cultivos pela terra que não alaga.

Toda a região é conhecida como “coração” da Amazônia. A reserva Mamirauá possui uma extensão de 1,1 milhão de hectares e a reserva Amanã é a maior, com 2,3 milhões de hectares. Juntas, as duas reservas formam uma área contígua de proteção com cerca de 5,7 milhões de hectares, área superior aos territórios de países como Costa Rica e Suíça.

Até os decretos que criaram as duas pioneiras na categoria, entre a década de 1980 e 1990, as unidades de conservação pouco ou nada consideravam sobre as populações humanas que moravam e formavam as paisagens dessas regiões.

A Amazônia Plantada

“Veio bem uns seis moradores ver. Aí disseram – Lá é um pouco sacrificoso, porque tem muito, muito mato pra desmatar, tá um bocado feio. Cobra tinha bastante, não podia nem botar o pé. Aqui na frente era capoeira, acho que era do tempo dessas urnas, sei lá o quê que é isso! Aí vieram e começaram a trabalhar. Fizeram primeiro os roçados aqui, aí nós plantamos, aí a gente vinha de lá, limpar aqui, zelar. Dava uma hora de rabeta. Nós trouxemos pra plantar abacate, limão, laranja…vários tipos de planta” (Moradora de Boa Esperança entrevistada em maio de 2005 por pesquisadora do Instituto Mamirauá).

Vários tipos de planta. Era isso que os chamava.

Antes de criar coragem para morar lá, a área de mato do Boa Esperança chamava atenção de Luís pela beleza, mas não só. Tinha terra boa. Terra boa, para quem mora na terra, é a que fertiliza e faz crescer coisa. Também tem outro nome bem conhecido na região: terra preta de “índio”.

Esse tipo de solo é caracterizado pelo acúmulo histórico de resíduos orgânicos e uso do fogo na sua carbonização. E é chamada assim porque sabe-se que indica a ocupação de populações pré-históricas no local.

Mas não é só isso que indica essa presença humana. Já perto das casas, urnas funerárias indígenas pré-históricas integram, com notável naturalidade dos moradores que caminham entre elas, os caminhos entre as casas. Cacos de cerâmica ainda são encontrados com frequência. Depois de achados, são recolhidos e levados a uma casa só, que reúne todos. Uma boa parte foi parar numa sala da rádio comunitária da comunidade, onde visitantes examinam com curiosidade.

Trabalhadoras da Casa de Polpas. Foto: Amanda Lelis

A pesquisadora Jaqueline Gomes explicita o encontrado, em linguagem científica, no artigo “Alteridades e paisagens na comunidade Boa Esperança”, publicado pelo Instituto Mamirauá. “Atrás das casas, onde se constituem os quintais com cultivares diversos e plantas perenes, concentra-se a maior porção dos vestígios arqueológicos, formado por um pacote de solo antrópico cujas áreas de terra preta podem atingir mais de 1,5m de profundidade.

Na área de maior circulação da comunidade, próxima à margem d’água, são encontrados grandes recipientes cerâmicos (urnas) aflorando à superfície, o que parece ter sido, no passado, uma área específica de deposição de estruturas funerárias. Além das urnas, são abundantes os fragmentos de apêndices zoomorfos e bordas decoradas de vasos, que, sem dúvida, estimularam a prática de colecionismo entre os moradores, responsáveis pela formação de uma coleção exposta na rádio comunitária”, discorre o texto.

Certa vez, um jovem chutou algo no chão enquanto jogava uma partida de futebol no campinho da comunidade. Ao olhar para baixo, viu que era uma garrafa de barro com um nome de uma marca antiga, em outro idioma. A garrafa quebrada pelo chute foi guardada junto com os cacos e os moradores dizem que são de holandeses que guerrearam por aí.

Antes das famílias nordestinas chegarem ao local por esperança ou desespero, populações indígenas da região sofreram violência sistemática pela disputa de terras entre espanhóis, portugueses e outros invasores de origem europeia. Uma população de diversidade gigantesca, assim como seus cultivos e hábitos alimentares, sofreu genocídio e apagamento.

O Plano de Gestão da RDS Amanã, que abriga o Boa Esperança, detalha esse registro. “Entre os indígenas aldeados naquela época estavam os Catoayari, no lago Urini, os Yaguana, nas várzeas entre o lago Amanã e o rio Solimões, os Cauacaua, na margem esquerda da boca do rio Japurá, os Caiarioni, nas cabeceiras do lago Amanã e os Guayoana, na terra firme entre os rios Unini e Jaú. O fato é que os indígenas aldeados nas imediações de vilas que se transformaram em cidades da região (como, Tefé, Maraã e Coari) passaram por uma espécie de apagamento histórico”, discorre o documento que estabelece as regras de uso sustentável da unidade de conservação.

Mas os vestígios ficam.

“Onde você vai na Amazônia tem pintura rupestre, cerâmica, sítios arqueológicos. Não têm onde você ande que não tem um vestígio e material de ocupação humana. Isso para mim é impressionante. Antes de eu entrar na arqueologia, eu não tinha noção disso, do quanto as pessoas viviam com uma diversidade de escolha, de hábitos e formas de viver gigantesca”, comenta Mariana Cassino, bióloga de formação e conhecedora da comunidade Boa Esperança.

Nascida e criada em Minas Gerais, estado de Mata Atlântica, Mariana se encantou pela área de etnobotânica, como chamava à época, e estuda Amazônia há anos. Foi recentemente para Santarém, no Pará, no Parque Estadual de Monte Alegre. São os dados de ocupação mais antiga da Amazônia brasileira, com 12 mil anos de ocupação ao menos. E a floresta conta essa história. “A gente tem dificuldade de ver a riqueza gigantesca, de abundância de alimentos, que é a floresta amazônica”, diz.

O açaizeiro ao fundo da casa de Paulo. Foto: Paulo Araújo

As populações amazônicas nunca optavam pelo cultivo de uma planta única. Quando se identifica o número maior de uma espécie ou a introdução de outra, explica a especialista, os restos ainda mostram que sempre foram combinadas práticas de manejo da floresta que são diversas. Povos amazônicos têm gosto histórico pela diversidade. “E é possível ver isso claramente no registro arqueológico. Isso me impressiona sempre”, diz.

Tubérculos que vão muito além da mandioca, como a batata mairá, cita como exemplo, ainda são encontrados em cultivos de comunidades “isoladas”, como são chamadas por serem afastadas das grandes metrópoles, mas pouco conhecidos.

Assim como as populações, os cultivos também passaram por um “apagamento”, uma retirada proposital num processo de homogeneização dos alimentos ultra processados e industrializados, cada vez mais comuns nos interiores da Amazônia e responsáveis pela dizimação da diversidade alimentar.

Além dos restos que contam essa história, já carbonizados na terra, o que fica é apenas o que décadas depois foi repassado e perpetua a cultura por meio dos frutos e costumes da floresta amazônica. Às vezes, algo é perdido e depois resgatado com antigas e novas mãos, dali ou de fora.

A Amazônia Ensinada

Nos documentos de Rosa, não se encontra o nome pelo qual ela é conhecida em sua comunidade e em toda região: Edna. Todos conhecem a mulher quilombola como Rosa e ninguém sabe dizer bem o porquê, nem ela. Na Amazônia, muitos quilombos se formaram na segunda metade do século 18, quando fazendeiros iniciavam um processo de levada de negros africanos para serem escravizados nas fazendas de gado e cacau na região. Edna dos Anjos, ou a dona Rosa, nasceu na comunidade São Francisco do Bauana, território quilombola ainda não reconhecido às margens do rio Tefé, agora há apenas umas duas horas de Tefé, na Floresta Nacional de Tefé – a Flona.

Foi morar na comunidade Bom Jesus, distante 10 minutos dali, depois de se apaixonar, como Paulo. Não estava nos seus planos casar-se cedo, mas quando o coração manda, não tem jeito, diz ela. Seu marido é conhecido como Falcão ou então “mano velho”, nome que batiza agora um drink feito de melaço com cacau batizado por Daniel, o inglês cujo apelido em inglês, Danny, soa simples no interior do Amazonas: é Dani.

Daniel Tredgigo nasceu em Lancaster, na Inglaterra. Certa vez, entrou em uma cervejaria numa cidade próxima, algo comum no país, e experimentou uma cerveja feita de “tonka beans” e gostou. Descobriu no Brasil, anos depois, que era cumaru, a chamada “baunilha brasileira”, hoje ingrediente de alta culinária no Sul e Sudeste. Na Amazônia, é só cumaru.

A descoberta fez com que Danny tivesse vontade de experimentar ingredientes amazônicos em drinks autorais, o que posteriormente transformou em um projeto de oficinas de preparação de drinks para comunidades ribeirinhas. É uma forma aumentar a possibilidade de gerar renda e fomentar o turismo de base comunitária, cada dia mais profissionalizado pelas comunidades como a de Bom Jesus, onde mora Rosa.

Rosa, a quilombola de mãos grossas, diz que sua paixão é a cozinha, algo que começou a aprender aos quatro anos de idade, vendo a mãe e as tias. Agora investe na culinária e nas trilhas para fomentar o turismo de base comunitária da comunidade.

Mariana passou longos períodos na comunidade Bom Jesus, onde hoje o casal mora. Lá, coletou o que chama de vestígios arqueobotânicos, os chamados carvões, para agora, em doutorado, analisar. “A gente finalizou a identificação dos vestígios de plantas carbonizados no sítio e estou fazendo também análise dos fitólitos, que são os microvestígios tanto da escavação como da paisagem ao redor. Meu objetivo é fazer uma análise refinada dessa história da paisagem porque o uso e manejo de plantas transformam essa paisagem de diferentes maneiras. Então estamos tentando refinar com análise de solo, desses micros vestígios e com inventário da vegetação do presente e tentar entender, assim, a variação ao longo do tempo, como isso pode ter alterado o solo e como pode ainda estar alterando a composição e estrutura da vegetação”, explica.

Em 2019, pesquisadores do Instituto Mamirauá descobriram um complexo arqueológico na comunidade, marcado pela presença de um vasto e antigo castanhal. A terra preta também se fez presente. Urnas e cacos surgiram nas escavações de dias dos grupos de arqueólogos. Todos alimentados com a comida de Rosa.

Quando criança, Rosa lembra que gostava de roer uxi. Uxi (Sendopleura uchi, em nome científico) é um pequeno fruto amazônico amarelado rico em nutrientes. O irmão mais velho dela catava o fruto de manhã e colocava num pote. “Dentro do pote, o uxi amolecia mais rápido porque ficava quente, pelo calor do lugar. A gente deixava todo mundo dormir, aí de madrugada eu chamava minha irmã. Quando eu não chamava, ela que chamava”, conta como quem se diverte com a lembrança.

“Umbora levantar pra comer uxi”, era o que uma falava à outra. “E quando era de manhã, ele dizia: Betinha, que era o nome da minha mãe, eu não acredito que um rato tá entrando aqui pra ir no pote roer uxi. Aí uma noite meu irmão ficou de vigia e ele pegou nós no flagra. A gente tomou um susto danado”, exclama a mulher, que consome e tem gosto pelo fruto até hoje.

“Apesar de fazer parte importante da cultura e da identidade dos povos da Amazônia, o uxi raramente é citado em catálogos ou levantamentos de plantas frutíferas tropicais, sendo quase que desconhecido em outras regiões do país. Possui uma casca fina cor de terra marmorizada, que recobre uma deliciosa polpa de cor amarelada, e de aroma muito agradável. Essa polpa é consumida ao natural, na maior parte dos casos, roída, de caroço oval. É bastante oleosa, fornecendo um óleo de cor amarelo-limão que lembra muito o azeite de oliva em consistência e sabor”, discorre o projeto “Arca do Gosto”, do movimento Slow Food Brasil.

Falcão, ribeirinho e neto de pajé. Foto: Miguel Monteiro

Falcão, o esposo de Rosa, é neto de pajé e foi para a Flona com apenas três anos de idade, ainda bebê. Caçula, lembra de ser o único dentre os irmãos que não pegou sarampo. Diferentemente de qualquer pesquisa no Google, incapaz de identificar a relação entre a palavra “saborá” e abelha, sabe que é um produto da abelha que seu avô não jogava fora porque fazia bem. Já seu pai jogava.

O mato saracura é amargo, mas depois fica doce. É bom pra tratar fígado e cura anemia. “Minha avó tinha esse conhecimento”, comenta. Criança ia pescar e no caminho buscava o que chamou de “alimentação diferenciada” para os irmãos doentes. Tudo a partir do conhecimento transmitido pelos avós – seja por parte de mãe ou de pai. Há alguns anos, Falcão disse para sua filha que queria comer carne guisada, contou. “Aí ela começou me perguntando como fazia e eu ia explicando”, comenta o homem. É o ato de “passar o bisu”, expressão dele que significa transmitir dica ou ensinamento.

O drink nomeado com seu apelido e criado por Danny substitui o café pelo cacau. Se isso é um ingrediente comum Brasil afora, essa era longe da realidade de Rosa antigamente.

Em sua comunidade, lembra de café só aparecer para visitas dignas disso ou em datas comemorativas. A bebida diária era o cacau, ou o chocolate que tomavam.

“Café, na minha época, era pra rico”, comenta Rosa. “Só tinha um senhor que plantava café, aí quando ele ia coletar ele chamava o meu pai e mãe pra ajudar a apanhar e aí dava um pouco de café. O café comprado era mais difícil. Quando vinha de fora, era só pra gente especial. Tinha várias pessoas com cultivo de cacau. As pessoas se dedicaram a ainda tá até hoje tem o cultivo do cacau, a gente vai descobrindo que ele não é só pro chocolate e faz várias coisas”, lembra a mulher. O pacote vermelho e barato de Kimimo, marca de café comum pelos rios e cidades amazonenses, não falta na lista de rancho de quem vai fazer campo pelas reservas ou pela Flona. Como Mariana e Daniel.

Agora, o líquido preto é a primeira coisa que as crianças dos interiores amazonenses aprendem a fazer. “Uma das primeiras iniciativas com nossos pais é pedir para fazer o café para ver se ele sai gostoso. Não era porque a gente era homem que não podia ir pra cozinha”, comenta Falcão. “Às vezes falo pro meu filho: hoje quero tomar uma caldeirada da tua mão”, diz Falcão, sobre o prato típico amazonense à base de peixe e legumes. Todo homem ali sabe se virar na cozinha.

Para Rosa, apesar dos esforços comunitários, a alimentação nas comunidades da Flona piorou. “Eu sempre digo que se a gente não cuidar, nossos netos e bisnetos não vão mais ver fartura”, comenta ao lembrar do tamanho do tambaqui antes pescado, que chegava a 1 metro de comprimento na sua infância. “Eu já não vejo fartura aqui como antes”, diz.

Ensinar a fazer, mesmo que adaptado ou com outros ingredientes, é importante para a família, diz Falcão. Faz parte da sobrevivência na Amazônia. Sobrevivência essa que agora Daniel, o inglês, não tinha escolhido a pesquisa científica, estuda. Às vezes parecia uma dificuldade inata do jovem para qualquer experiência. “Fui pra Nova Zelândia ajudar um tio a fazer uma casa de adobe, atravessei o Oceano Atlântico velejando. Fui do Brasil para o Chile de bike”, comenta algumas delas.

Quis ser cozinheiro e barman, atividades com mais contato com as pessoas. Nutria paixão similar à de Rosa pela cozinha. Até que um professor falou sobre pesquisa com segurança alimentar e um novo caminho despontava para o inglês pesquisador. Descobriu em sua pesquisa na Amazônia algo: até no lugar mais rico do mundo de comida tem fome – é o que diz em português claro.

A Amazônia Incerta

Paulo cultiva a fotografia como hobbie e registrou cenas da seca desoladora do ano passado. Com os rios secos e longes, todas distâncias percorridas dificultam tudo: ter aula, buscar atendimento médico, levar as polpas para vender fora.

Não se sabe de mais nada, diz ele.

Condução de melancias em direção a Tefé. Foto: Paulo Araújo

“Hoje a gente não sabe mais prever as coisas – os antigos tinham o costume de prever”, diz. “A gente não sabe se a enchente vai ser grande. Não conseguimos prever. A quentura o sol é muito quente, e esquentou mais do que era grande. Já aconteceu algumas cheias grandes. Essa última seca foi muito forte. E todo mundo aqui comenta que é do aquecimento global”, comenta o ribeirinho.

Seca demais é ruim, cheia demais é ruim também.

Em comunidades ribeirinhas no Amazonas, é comum encontrar em casas de palafitas algumas marcas de água, às vezes à altura do peito, nas paredes. Ali os moradores apontam e lembram do ano: essa foi a cheia de 2010.

Se o rio enche muito, explica Daniel, os peixes se “diluem” pela água e é mais difícil de pescar. O pesquisador britânico fez medidas de taxas de capturas em comunidades, ou seja, checou quantos peixes por hora são pescados, e comparou com índices de insegurança alimentar na região para verificar os efeitos das cheias.

Na falta de peixe, a proteína vira ovo ou ainda outros industrializados. “Quando está muito quente, o açaí tá secando no pé e caindo”, foi a frase que Danny ouviu de um produtor de açaí logo depois quando uma professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) ofereceu ao inglês uma bolsa de três meses para estudar mudanças climáticas.

“Contei isso pra professora e fizemos uma pesquisa. O resultado mostra os efeitos da crise climática no fruto símbolo da Amazônia – o que Paulo aprendeu a subir. Rendeu o estudo “Vulnerability of the Acai Palm to Climate Change”, artigo publicado sobre a vulnerabilidade do açaí à crise climática e referência no assunto.

Para Paulo, a crise é uma realidade que chega na horta. “Questão de algumas pragas começou a chegar mais na roça. Não sei se tem a ver né, mas tem acontecido. O açaí é um que produz menos no tempo da seca. Ele puxa muita água pra produzir. Quando tem muita secura, tem pouco açaí. As plantas sentem também. Morre os peixes. Várias coisas acontecem com a friagem, que é quando tem muita água”, comenta Paulo. A melancia plantada pelo seu pai no sítio apareceu com um fungo inexplicado.

A Amazônia Impossível

Quando criança, a mãe da Daniel aconselhava: tome limão com laranja para não ficar doente, algo que se ouve com certa frequência. Morango, limão e laranja são as frutas que estampam cadernos, folders e outros materiais didáticos sobre vitaminas no país, inclusive na Amazônia, lugar onde essas frutas não têm protagonismo do lado de fora dos livros.

O camu-camu, por exemplo, tem quantidade significativamente maior de vitamina C e o nome curioso também conta história: vem do som que os frutinhos fazem quando caem na água e atraem os peixes que se alimentam deles; por isso o fruto também é usado por pescadores para atrair o pescado.

Jerimum (conhecido como abóbora fora da Amazônia), pupunha, buriti: todos eles alimentos alaranjados fontes de betacarotena, comumente associado apenas à cenoura. A referência à sua infância é usada em suas oficinas nas comunidades para falar das vitaminas nos frutos regionais. E ressalta que as pessoas das comunidades naturalmente sabem, como mostrou Falcão e Rosa. “Meus avós sabiam das plantas que tinham que comer pra curar”, diz a quilombola. Alimentação e saúde, na Amazônia, nunca foram pautas separadas.

Esse conhecimento detalhado das vitaminas fez com que as próprias comunidades demandassem um material consolidado para as crianças. Com a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal de Rio Grande do Norte (UFRRN), o Instituto Mamirauá lançou recentemente o livro “Frutas da Floresta: o Poder Nutricional da Biodiversidade Amazônica”, distribuído nas comunidades.

A publicação compila dados culturais, poemas e curiosidades tradicionais sobre esses vegetais. Ainda, para estimular o consumo desses alimentos, a obra traz mais de 20 receitas de farofas, risotos, pães, bolos e outros pratos feitos com base nas frutas da região amazônica.

Daniel, idealizador da publicação, explica que há pouco conhecimento sobre os micronutrientes, como vitaminas, zinco, ferro e o que se mede comumente em exames de sangue país afora. Além do projeto das frutas, o pesquisador realiza um estudo sobre os micronutrientes na caça e em outros animais do ecossistema da região.

Ribeirinhos têm dificuldade de transportar as frutas no período de seca. Foto: Paulo Araújo

Além disso, a sua pesquisa deve determinar o nível de contaminação de mercúrio de muitos animais utilizados comumente na alimentação amazônica na região das reservas. A situação, em níveis de bioma, é crítica, mostram outros estudos. Um estudo da WWF Brasil identificou que a ingestão de mercúrio pela população local em Roraima ultrapassa a dose recomendada em até 27,2 vezes, com mulheres em idade fértil e crianças de 2 a 4 anos sendo as mais vulneráveis.

As crianças são alvo de preocupação dos comunitários do Boa Esperança e Bom Jesus. Seja pela alimentação reduzida ou piorada, seja saída por conta de estudo, como o enteado de Paulo que ainda não sobe em pé de açaí.Entre 2011 e 2018, dados do Instituto Mamirauá mostram um aumento de 71% na migração de moradores da reserva Amanã para as cidades em busca de maior estrutura educacional.

Uma das lutas defendidas pelo ribeirinho é a obrigatoriedade de 100% de alimentos regionais no cardápio escolar, o que ajudaria a escoar produtos como as polpas produzidas pela comunidade na Casa de Polpa.“ Gera renda, melhora a alimentação das crianças, é bom pra todo mundo”, explica Paulo, que não quer sair da comunidade. “Pensamos em sair por causa do estudo, mas não quero. A vida no interior acostuma”, diz.

Com o apoio da sociedade civil, agora as famílias batalham por uma fábrica de gelo na comunidade. Retomaram o projeto após não conseguirem levar os produtos para vender na feira, em Tefé e depois de uma falha técnica no sistema de energia, ainda pendente de reparo.

Rosa e Falcão também não largam a terra que escolheram pra viver. Se consideram de “luta” no movimento social e apostam no turismo para melhoria da qualidade de vida na região. Levar pessoas de fora para conhecer as árvores, bichos e fatos que ali estavam quando chegaram.

Os vestígios de populações que ali passaram e prosperaram. Tem uma atividade no mundo. “Quase tudo o que a gente quis, a gente conseguiu”, comenta Luís sobre a comunidade. O que ainda falta, se chega com organização, comenta ele.

A vida se reorganiza com o passado e o futuro. E como subir numa palmeira de açaí, exige habilidade. E enfrentamento do medo.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Nonada Jornalismo, escrito por Júlia Beatriz de Freitas

Fundo Amazônia recebe nova doação da Noruega: R$ 270 milhões

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O Banco de Desenvolvimento de Econômico e Social (BNDES) e Governo da Noruega formalizam uma nova doação para o Fundo Amazônia, no valor de US$ 50 milhões (cerca de R$ 273 milhões). Esta nova doação confirma o apoio histórico do país ao Fundo Amazônia.

O primeiro acordo de doação assinado entre o BNDES e a Noruega foi em 2009 e, desde então, o país permanece sendo o maior doador, com recursos que superam R$ 3 bilhões.

“Essa nova doação da Noruega vem reafirmar nossos compromissos mútuos e abrir caminho para novos doadores seguirem esse exemplo de parceria bem-sucedida”, diz o superintendente da Área de Meio Ambiente do BNDES, Nabil Kadri, que palestrou no Oslo Tropical Forest Forum dia 26 de junho, anunciando oficialmente o aporte dos recursos.

A doação da Noruega foi compromissada na última COP, em Dubai, dezembro passado. Ao comentar a nova doação, em maio , o embaixador da Noruega em Brasília, Odd Magne Ruud, elogiou a ambição do presidente Lula de zerar o desmatamento e a competência da equipe que administra o Fundo. “Isso é claro quando vemos a quantidade e qualidade dos projetos aprovados desde a reativação”, afirmou o embaixador. . O Fundo é administrado e gerido pelo BNDES, em coordenação com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

A recriação da estrutura de governança do Fundo Amazônia foi um dos primeiros atos do presidente Lula em 2023. O restabelecimento da governança permitiu, além da contratação de novas e expressivas doações, a diversificação dos países parceiros. O pagamento por resultados pela Noruega é a maior doação anunciada para 2024. O Japão se tornou este ano o primeiro país asiático a apoiar o Fundo.

“A atuação dos governos Lula contra o desmatamento e, principalmente, seus resultados positivos ao longo dos anos, deram ao país essa autoridade e respeito para a gestão do Fundo. A cada ano estamos reforçando a confiança da comunidade internacional nos compromissos de redução do desmatamento”, avalia a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campelo, lembrando que este é o maior fundo do mundo para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal.

O Fundo Amazônia prevê o apoio não reembolsável a ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e de conservação e do uso sustentável da Amazônia Legal. Até 20% dos recursos podem ser aplicados no desenvolvimento de sistemas de monitoramento e controle do desmatamento em outros biomas brasileiros e em outros países tropicais.

Criado em 2008, o Fundo já apoiou 111 projetos, em um investimento total de R$ 2,1 bilhão. As ações apoiadas, segundo avaliações de efetividade, já beneficiaram aproximadamente 239 mil pessoas com atividades produtivas sustentáveis cujas receitas obtidas com a comercialização de produtos atingiram R$ 317 milhões, além de 101 terras indígenas na Amazônia e 196 unidades de conservação apoiadas que resultaram em mais de 74 milhões de hectares de áreas protegidas e com gestão fortalecida (Tis e UCs).