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Conheça o Museu do Reggae do Maranhão, único fora da Jamaica com essa temática

O museu materializa o ritmo que deu ao Maranhão o título de Capital Nacional do Reggae.

Surgido na Jamaica, em meados do século XX, o reggae, gênero musical que conquistou o Estado maranhense, é composto de um ritmo lento e dançante e é recheado de críticas sociais em nome da paz, com letras que denunciam casos de racismo e desigualdade. 

Tendo como principal representante o cantor Bob Marley, responsável por popularizar o estilo mundialmente, o reggae se conecta ao povo brasileiro justamente pela mistura de ritmos que o compõe – africanos, indígenas e europeus – e as origens miscigenadas que formam boa parte da cultura, tanto da Jamaica quanto do Brasil.

No entanto, o Estado brasileiro que mais abraçou o reggae definitivamente foi o Maranhão. Com sua maneira de dançar “agarradinho”, o Estado recebeu o título de ‘Capital Nacional do Reggae’, a partir do Projeto de Lei nº 81, de 2020, reconhecendo a influência do estilo musical na região. 

Objetivando justamente preservar a memória e a historicidade do Estado em relação ao gênero, desde 2018, é possível visitar o Museu do Reggae do Maranhão.

Foto: Reprodução/ Museu do Reggae

Atrações

Localizado no Centro Histórico de São Luís, o Museu do Reggae é o único do mundo a contemplar o gênero jamaicano fora da Jamaica, o que exprime a importância do estilo na composição cultural dos maranhenses. Essa importância é enfatizada na visita, que conta a história do reggae no Estado com discos raros, homenagens a clubes tradicionais, discos, vídeos e fotos históricas e a moda adotada pelos representantes do gênero.

O cenário mostrado no museu exalta a característica de resistência histórica que acompanha o gênero musical no Maranhão, marcado pelo predominância de pessoas pretas em destaque, gerando um espaço de identificação, em todos os sentidos. O reggae é enfatizado como uma manifestação cultura de combate ao preconceito, principalmente o étnico racial.

Foto: Reprodução/Governo do Maranhão

O Museu do Reggae conta com cinco ambientes. Na Sala dos Imortais, o espaço busca homenagear os grandes nomes do reggae maranhense que já morreram. Nos outros quatro ambientes, homenageia-se os tradicionais clubes de reggae de São Luís: Clube Pop Som, Clube Toque de Amor, Clube União do BF e Clube Espaço Aberto.

Apenas nos dois primeiros anos de existência o museu contou com a visita de mais de 120 mil pessoas, das quais mais de 50 mil eram turistas. A visitação guiada pelo museu é gratuita e pode ser realizada de terça-feira a sábado no horário das 9h às 18h, e aos domingos das 9h às 13h. As visitas contam com a presença de monitores preparados para contar a história do acervo e que dominam a linguagem em libras, inglês e francês.

*Com informações do Governo do Maranhão 

Povos isolados da Amazônia brasileira são rastreados por um novo mapa on-line

O Mopi, novo mapa interativo on-line, extrai informações de bancos de dados públicos, estatísticas governamentais e observações de campo para traçar um quadro abrangente das ameaças que os povos indígenas isolados enfrentam.

O monitoramento das ameaças que os povos tradicionais isolados enfrentam na Amazônia brasileira está prestes a se tornar mais fácil para ativistas e agências de direitos indígenas graças a uma nova ferramenta de software desenvolvida por três organizações indígenas e disponibilizada on-line em setembro.

O Mopi é um mapa on-line interativo que reúne bancos de dados públicos, estatísticas governamentais e observações de campo e os consolida em um único espaço, fornecendo uma visão abrangente das terras dos povos indígenas isolados e dos fatores que ameaçam sua saúde e bem-estar. Sua localização é deliberadamente deslocada para evitar a identificação exata de seus territórios e quaisquer ataques subsequentes contra eles.

Comunidade indígena não contatada no Acre. Foto: Gleilson Miranda/Governo do Acre via Flickr (CC BY 2.0).

A plataforma ficou fora do ar logo após sua inauguração inicial, em 15 de agosto, devido a problemas técnicos, mas as operações foram retomadas em setembro. A data oficial de lançamento coincidiu com o que teria sido o 42º aniversário de Bruno Pereira, o defensor dos direitos indígenas que foi assassinado em junho de 2022 no Vale do Javari, na Amazônia, ao lado do jornalista britânico Dom Phillips.

Pereira, que foi o fundador do Opi (Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato), foi um dos criadores do Mopi quando a ideia foi inicialmente concebida. As outras organizações envolvidas no lançamento do Mopi são a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a Operação Amazônia Nativa (Opan).

O mapa exibe os dados de propriedade de terra em toda a Floresta Amazônica, incluindo atualizações sobre os processos de demarcação de Terras Indígenas e a presença de Unidades de Conservação e propriedades rurais registradas. Também identifica os principais empreendimentos construídos, incluindo usinas hidrelétricas e operações de mineração, bem como áreas de desmatamento, degradação florestal e atividades ilegais, como caça, mineração e tráfico de drogas. Além disso, registra ações de proteção e vigilância em todo o bioma e atualizações de saúde de cada comunidade usando informações do Ministério da Saúde. 

Exploração madeireira na região da Amacro, território que reúne áreas de Acre, Amazonas e Rondônia. Essa região tem sido submetida a intenso desmatamento, ocupação ilegal de terras públicas, mineração, queimadas e extensa exploração madeireira. Foto: Bruno Kelly/Greenpeace

Elias dos Santos Bigio, defensor dos direitos indígenas e ex-coordenador da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), disse que a ferramenta pode ser útil para que a Funai realize atividades de vigilância e proteção mais eficientes, especialmente porque o órgão continua a ter pessoal e recursos limitados. “Essas parcerias [com organizações indígenas] são bem-vindas”, disse ele à Mongabay. “São pessoas que também são movidas pelo propósito de defender os direitos indígenas.” 

Roberto Ossak, coordenador da Comissão Pastoral da Terra, afiliada à Igreja Católica, disse à Mongabay que acredita que a plataforma é “uma boa ferramenta”, mas “é muito difícil ter dados concretos sobre a saúde e o bem-estar dos [povos] indígenas não contatados na floresta”, devido ao acesso limitado a seus territórios. Ele disse que uma repressão federal mais forte aos crimes ambientais é a melhor maneira de proteger essas comunidades.

“O que realmente salva os povos isolados é a proteção territorial, quando ninguém tem permissão para entrar”,

disse ele.

Existem 114 comunidades indígenas isoladas reconhecidas pelo Governo Federal na Amazônia, e há mais uma cujo reconhecimento está pendente, embora especialistas suspeitem que o número de grupos isolados possa ser significativamente maior do que o registro oficial. O Vale do Javari abriga o maior número do mundo de povos isolados: são ao menos 19 grupos, que estão sob constante ameaça da escalada do crime organizado na região. 


Comunidades indígenas isoladas estão sob constante ameaça da escalada do crime organizado na região. Foto: Gleilson Miranda/Governo do Acre via Flickr (CC BY 2.0).

As comunidades indígenas isoladas dependem exclusivamente da caça, da pesca e da coleta em seus territórios, que muitas vezes são invadidos por atividades ilegais. Isso pode afetar as condições ambientais de suas terras, bem como aumentar a exposição a doenças, colocando estas comunidades sob risco de morte. Em Rondônia, por exemplo, o último membro remanescente do povo Tanaru – conhecido como “Índio do Buraco” – morreu em 2022 depois que toda a sua tribo foi dizimada na década de 1990, deixando-o na solidão por quase três décadas.

Os desenvolvedores da plataforma Mopi estão planejando usar o mapa para gerar um índice de vulnerabilidade de todos os povos indígenas não contatados, classificando-os de acordo com a gravidade das ameaças que enfrentam. Eles esperam que isso possa ajudar a moldar melhores políticas públicas para proteger essas comunidades. 

“Podemos publicar periodicamente uma classificação das populações mais vulneráveis. Com base em um conjunto de dados concretos, o índice de vulnerabilidade refletirá o que está acontecendo nessas terras e chamará a atenção das autoridades”, 

disse Ribeiro.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Sarah Brown e traduzido por Thaissa Lamha

‘Meetup Acelera’ aborda Pescado de Manejo e Psicultura em momento crítico na Amazônia

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Tema foi escolhido por conta de eventos climáticos extremos. Encontro prevê a participação de startups e organizações, como o Instituto Mamirauá, que compartilharão experiências e desafios atuais.

Diante do cenário de seca que assola a Amazônia, como trabalhar a Piscicultura e o Pescado de Manejo enquanto cadeias de valor sustentável para a região, levando em consideração os novos desafios climáticos que se apresentam? 

Este é um dos temas que serão abordados no terceiro encontro do ‘Meetup Acelera – edição Bioeconomia‘ que acontece nesta quinta-feira (19), das 14h às 17h30, no Impact Hub em Manaus (AM). O evento reúne representantes de startups, organizações comunitárias, instituições de pesquisa e fomento à inovação, além de empreendedores para promover uma imersão e debate de soluções voltadas à bioeconomia a partir desses territórios.

Para debater o tema principal, ‘Unidades de Conservação como ambiente de inovação’, participam como convidados: Laurindo Rodrigues, pesquisador da Embrapa Meio-Norte; e Dione Torquato, secretário-geral do Conselho nacional das Populações Extrativistas (CNS).

Foto: Divulgação/FRAM

Atuando desde 2008 como pesquisador na Empresa Brasileira Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Laurindo Rodrigues tem experiência em aquicultura, atuando com nutrição e reprodução de peixes e camarões; cultivo de peixes ornamentais; manejo viveiros para aquicultura; análise de viabilidade técnica e econômica; sistemas de produção aquícola e sustentabilidade na aquicultura.

Já Dione Torquato traz a experiência de ativista socioambiental à frente do CNS, articulando, propondo e reivindicando políticas que garantam a sustentabilidade das populações extrativistas. Residindo atualmente em Brasília, é bacharelando em Direito pela faculdade Anhanguera.

O canal Amazon Sat transmite ao vivo o encontro à partir das 14h30 (horário de Manaus). 

Proposta de barco voador é apresentada na Campus Party Amazônia

Startup fundada por amazonenses propõe uma solução na logística do transporte fluvial amazônida.

O transporte é um dos maiores empecilhos do desenvolvimento econômico da região amazônica. A locomoção, realizada normalmente por meio de embarcações, costuma ser vagarosa e por vezes custosa. Justamente pensando nessas problemáticas, a startup ‘AeroRiver’ propõe como solução a implementação de barcos voadores no cenário amazônida. 

O projeto foi apresentado na Campus Party Amazônia, no palco ‘What’s Next’, na palestra intitulada ‘Inovação no coração da Amazônia – O barco voador da AeroRiver’, pelo cofundador da empresa Tulio Condé Duarte Silva que, em entrevista para o Portal Amazônia, explicou a proposta.

Tulio Condé durante a palestra ‘Inovação no coração da Amazônia – O barco voador da AeroRiver’. Foto: Diego Fernandes/Portal Amazônia

Segundo Tulio, a startup foi fundada após a observação das “dores” enfrentadas por aqueles que trafegam nos rios da Amazônia, como objetivo de oferecer uma solução. 

“As grandes dificuldades logísticas da região amazônica são por conta do território muito distante e ausência de estrada, de infraestrutura. Hoje o que nós temos são os rios como estrutura, mas os transportes nos rios são muito lentos, principalmente por causa da resistência da água. Então temos, por exemplo, um barco regional que navega à 15 quilômetros por hora e uma lancha à jato que navega à uns 50 quilômetros por hora”, 

explica o cofundador da AeroRiver.

Pensando no tempo e nos custos desses tipos de viagens, foi desenvolvido o barco voador conhecido como “Volitan”. Tulio descreve:  

“Estamos trazendo um veículo totalmente inovador, porque ele voa. Ele está muito próximo de um barco, mas um barco que voa de dois a cinco metros acima da água atingindo velocidades muito maiores: dez vezes maiores que um barco regional e três vezes maiores que uma lancha à jato, chegando em 150 quilômetros por hora”.

Durante a palestra Tulio explicou, ainda, as inúmeras funcionalidades que este veículo poderia atender, como: a facilitação do transporte de cargas e pessoas, o encurtamento do tempo de viagens para os munícipios mais afastados da região, a segurança oferecida por sensores acoplados que identificam barreiras naturais, dentre outros fatores. 

Além disso, o cofundador ressaltou que as viagens poderão ser feitas com baixíssimo custo, com preços semelhantes ao de barcos convencionais. 

O projeto, criado para atender as necessidades da região, surge como uma das várias inovações tecnológicas desenvolvidas na Amazônia e apresentadas na primeira Campus Party realizada na cidade de Manaus entre 11 e 15 de outubro no Studio 5 Centro de Convenções.

*Estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar

Amazônia pode abrigar mais de 10 mil registros de obras pré-colombianas, mostra estudo

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Inédito, estudo tem implicações políticas sobre o debate atual a respeito do marco temporal de terras indígenas no Brasil.

A revista Science publicou em sua mais recente edição, no dia 6 de outubro, um estudo que mostra que a Amazônia pode abrigar mais de 10.000 registros de obras pré-colombianas (construídas antes da chegada dos europeus). Liderado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a pesquisa combina tecnologia de ponta em monitoramento remoto, com dados arqueológicos e modelagem estatística avançada, para quantificar obras de terra que ainda podem estar escondidas debaixo do dossel da floresta amazônica e em quais locais essas estruturas são mais prováveis de serem encontradas.

Coordenado pelos pesquisadores do Inpe Vinicius Peripato, doutorando do curso de Sensoriamento Remoto, e Luiz Aragão, chefe da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática, o estudo foi assinado por uma equipe composta por 230 pesquisadores de 156 instituições localizadas em 24 países de 4 continentes, incluindo o professor doutor Claide de Paula Moraes, do Programa de Antropologia e Arqueologia (PAA) do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

“O estudo indica que a floresta amazônica pode não ser tão intocada quanto muitos pensam, já que quando buscamos uma melhor compreensão da extensão da ocupação humana pré-colombiana na região, nos surpreendemos com a grande quantidade de sítios ainda desconhecidos pela ciência”,

explica Peripato.


Figuras de obras de terra na paisagem amazônica. Foto: Maurício de Paiva/Ufopa

A equipe de cientistas chegou a esta conclusão após a identificação de 24 novos registros arqueológicos, por meio de uma tecnologia avançada de mapeamento remoto, utilizando um laser embarcado em avião, conhecido como LiDAR (Light Detection and Ranging). O sensor permite reconstruir os elementos da superfície em um modelo 3D com um nível extraordinário de detalhes. 

Já Luiz Aragão destaca que a pesquisa representa um avanço tecnológico e científico enorme.

“O estudo avança o conhecimento em três grandes áreas, como na própria Arqueologia, por meio de novas descobertas; nas ciências ambientais, demonstrando o nível de interferência humana na região, que pode ter implicações para seu funcionamento atual e como modelamos seu futuro; finalmente, na área de computação aplicada, que possibilitou a análise dos milhões de pontos presentes nos dados do LiDAR e na modelagem estatística da distribuição das feições estudadas”,

afirma.

Inédito, o estudo ainda tem implicações políticas sobre o debate atual a respeito do marco temporal de terras indígenas no Brasil. 

“Em tempos de discussões sobre marcos regulatórios de propriedade e direito às terras indígenas, esta pesquisa traz inúmeras evidências da ocupação ancestral da floresta amazônica por povos originários, de suas formas de vida e da relação estabelecida por eles com a floresta. A proteção de seus territórios, línguas, culturas e heranças deve ser compreendida como milenar, como são, e não ligada a uma data, que é tão recente”,

afirma os autores.

Iniciativa Amazônia +10 apoia expedições a áreas pouco estudadas da Amazônia

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Serão disponibilizados quase R$ 60 milhões para pesquisas que ajudem a conhecer áreas pouco estudadas da maior floresta tropical do mundo

As Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs) de 19 Estados brasileiros e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) disponibilizarão R$ 59,2 milhões para financiar expedições científicas multidisciplinares na região da Amazônia por um período de até 36 meses. A chamada de propostas, anunciada no dia 28 de setembro, será a segunda da Iniciativa Amazônia+10, liderada pelo Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo a Pesquisas (Confap) e pelo Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência Tecnologia e Inovação (Consecti), que conta também com a parceria do CNPq.

Instituições nacionais e internacionais podem participar da Chamada de Expedições Científicas até o dia 30 de outubro. A chamada será disponibilizada em breve com todos os detalhes e prazos para submissão de propostas neste link.


Entidades de pesquisa do Brasil vão financiar estudos na região amazônica. Foto: Neil Palmer (CIAT)/Wikimedia Commons

Neste edital, as expedições científicas devem ter foco na ampliação do conhecimento sobre a sociobiodiversidade e biodiversidade amazônica, prevendo a coleta de dados, de espécimes biológicos e minerais, de peças integrantes da cultura nativa e popular (presente e passada), sempre se atendo a um ou mais dos eixos prioritários descritos na chamada a ser lançada nos próximos dias.

Os projetos submetidos à avaliação devem contar com pesquisadores responsáveis de pelo menos dois dos 19 Estados cujas FAPs aderiram à chamada, sendo que um deles deve obrigatoriamente estar vinculado a instituições com sede nos Estados da Amazônia Legal. O edital também prevê ainda a inclusão na equipe de pesquisa de pelo menos um integrante PIQCT (Povos indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais), detentor do conhecimento tradicional relacionado ao território que será estudado.


Dos R$ 59.250.000, previstos nesta chamada, R$ 30 milhões serão alocados pelo CNPq exclusivamente para pesquisadores com vínculo formal com alguma instituição localizada em um dos Estados da Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso).

O presidente do CNPq, Ricardo Galvão, ressalta que a preservação da Floresta Amazônica e o desenvolvimento de sua economia de uma forma sustentável, não predatória, depende fortemente do conhecimento científico da região. “O Programa Iniciativa Amazônia+10 visa a viabilizar recursos para projetos científicos na região, articulando grupos de pesquisa que combinam pesquisadores locais e de outros Estados. O CNPq orgulha-se em participar dessa iniciativa, que certamente trará grandes benefícios científicos e tecnológicos para a região”, finalizou o presidente.

Conhecimento sobre a Amazônia 

Segundo artigo publicado em julho na revista Current Biology, pelo projeto Synergize, 40% das áreas da Amazônia estão sendo negligenciadas por pesquisas em ecologia. E um dos motivos dessa distribuição desigual é justamente o alto custo para realizar estudos na região. Por isso, foi estabelecido que o valor mínimo de cada proposta contemplada nesta chamada será de R$ 400 mil.

Além da questão espacial, também existem vieses taxonômicos nas pesquisas realizadas até o momento. A maioria dos dados disponíveis é para plantas ou aves. Grupos como borboletas, por exemplo, têm muito menos informações à disposição e grupos enormemente diversos, como fungos e bactérias, são praticamente desconhecidos. 

A intenção é que a chamada ajude a superar esses gaps. Além disso, o material coletado será catalogado e tombado em instituições amazônicas, como forma de preservação desse patrimônio. Para saber mais sobre a iniciativa acesse: https://www.amazoniamaisdez.org.br.

 *O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP

Uso sustentável de biomateriais na Amazônia é reforçado por ‘Materioteca’ da Uepa

Os azulejos ecológicos, feitos com polpa de papel pós-consumo, são exemplos de produtos desenvolvidos que promovem um design sustentável.

Com foco na sustentabilidade e preservação ambiental, a Materioteca, que é o Laboratório de Materiais e Design do Centro de Ciências Naturais e Tecnologia (CCNT), da Universidade do Estado do Pará (Uepa), fortalece pesquisas acadêmicas sobre novas formas de utilização e aproveitamento de resíduos naturais

O projeto de extensão é pioneiro no desenvolvimento de biomateriais no Estado e tem sua atuação relacionada ao eixo ‘Pesquisa, desenvolvimento e inovação’, do Plano Estadual de Bioeconomia, lançado durante a COP 27, em 2022.

“A Materioteca traz para a comunidade universitária a oportunidade de conhecer materiais de diversas classes, inclusive, biomateriais amazônicos, com foco na nossa biodiversidade e a partir disso, fortalecemos o desenvolvimento do nosso potencial de transformar resíduos em produtos. O nosso objetivo é disseminar informações a respeito dos materiais convencionais, que são os polímeros, cerâmicos, metálicos, além dos naturais, têxteis e compósitos regionais”,

explica Núbia Santos, professora do Departamento de Design e coordenadora da Materioteca.

Foto: Bruno Cecim/Agência Pará

Fibras vegetais, sementes amazônicas e madeiras alternativas são alguns dos materiais utilizados na construção dos projetos. A partir da análise de materiais, a produção é aplicada a fim de criar projetos de maneira mais sustentável. Um exemplo de produtos desenvolvidos são os azulejos ecológicos, feitos com polpa de papel pós-consumo, que promovem um design sustentável. 

Luminárias de papel reciclado com fibras vegetais, tiara com talas de arumã e o compósito resina poliéster e tecido de Juta são alguns dos outros designs expostos no laboratório, fruto de pesquisas realizadas pelos alunos.

O aluno Henrique Rodrigues, que faz o 4° semestre de Bacharelado em Design, é um dos monitores voluntários do projeto. A diversidade de tipos de materiais convencionais e amazônicos, além das inúmeras possibilidades de estudos inovadores, são citados pelo estudante como os principais motivos de encantamento pela área.

Foto: Bruno Cecim/Agência Pará

“O meu objetivo, por meio da pesquisa, é fazer a diferença na sociedade e poder mudar a vida das pessoas. Meu foco é o desenvolvimento de um projeto para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) sobre materiais cimentícios. O meu intuito é estudar resíduos que são descartados pela engenharia e podem ser reaproveitados, além de desenvolver biomateriais menos agressivos ao nosso ecossistema, promovendo um desenvolvimento mais sustentável e econômico na construção civil. Os materiais atuais podem prejudicar a saúde de quem trabalha em obras e de quem é exposto”,

ressalta o estudante.

Itinerante 

O Laboratório também promove o subprojeto ‘Materioteca Itinerante’, iniciativa que leva palestras, feiras de ciências e oficinas interativas para turmas de ensino médio de escolas públicas de educação básica, com o objetivo de divulgar o conhecimento e pesquisas sobre reciclagem e meio ambiente. 

A Materioteca funciona no CCNT da Uepa, localizado na Travessa Enéas Pinheiro, 2626, Marco, Belém. Para mais informações, acesse @materiotecauepa.

Óleo de copaíba tem substância com efeito antibiótico, demonstra estudo

Resultado divulgado na revista Antibiotics por cientistas do Brasil e dos Estados Unidos abre caminho para a busca de fármacos eficazes contra cepas bacterianas resistentes.

O ácido poliáltico, substância presente no óleo de copaíba, apresenta efeitos antibacterianos e pode ser utilizado no desenvolvimento de medicamentos alternativos que podem contribuir para o enfrentamento da resistência antibiótica. A conclusão, divulgada na revista Antibiotics, é de um estudo conduzido por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos.

Segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), agência de saúde norte-americana, todos os anos são contabilizados 2,8 milhões de casos de infecções resistentes a antibióticos e mais de 1 milhão de pessoas já morreram em decorrência do problema. Estima-se que, até 2050, a resistência microbiana deve se tornar a principal causa de morte no mundo.

Foto: Reprodução/Freepik

Além da prescrição inadequada de antibióticos e do uso extensivo na agricultura, especialistas citam como causa para a crise o baixo número de fármacos do tipo utilizados. Tal fato decorre da interrupção da pesquisa de novas opções terapêuticas pelas principais farmacêuticas, devido ao alto custo e baixo retorno do investimento.

Nesse contexto, o uso de plantas na produção de novos fármacos tem se mostrado uma alternativa importante e promissora. Para estimular a produção de conhecimento na área, pesquisadores do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) e do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), ambos da Universidade de São Paulo (USP), e também da Universidade de Franca (Unifran) e da Faculdade de Farmácia da Western New England University (Estados Unidos) investigaram o óleo de copaíba, medicamento tradicional popular da Amazônia com propriedades cicatrizantes, anti-inflamatórias, leishmanicidas e antimicrobianas, graças a compostos conhecidos como sesquiterpenos e diterpenos – entre eles o ácido poliáltico.
Durante a pesquisa, apoiada pela FAPESP por meio de cinco projetos, foram sintetizados compostos análogos ao ácido poliáltico com modificações estruturais para aumentar sua atividade. Também se investigou seus efeitos antibacterianos em biofilmes de Staphylococcus epidermidis, causadora de infecções de pele e digestivas, e em bactérias gram-positivas (Enterococcus faecalis, Enterococcus faecium, S. epidermidis e Staphylococcus aureus). O grupo também determinou a concentração inibitória mínima contra células bacterianas planctônicas (que vivem livre em meio líquido).
Testes de atividade e comparativos com o ácido poliáltico original e com o fármaco mais utilizado clinicamente hoje em dia mostraram que os análogos desenvolvidos foram capazes de erradicar significativamente o biofilme de S. epidermidis, além de mostrar atividade contra todas as bactérias gram-positivas testadas. Apesar de a atividade observada ter sido menor que a do fármaco atualmente prescrito pelos médicos, os resultados reforçam a importância de testes adicionais in vitro e in vivo com a substância.

“A vantagem de estudarmos o ácido poliáltico é que já há estudos mostrando que alguns terpenos não perdem sua atividade e, portanto, seu uso contínuo não faz com que as bactérias desenvolvam resistência”, diz Cássia Suemi Mizuno, professora da Faculdade de Farmácia da Western New England University e autora correspondente do estudo.

Um estudo de hemólise (destruição de células vermelhas) também determinou a segurança dos análogos. 

Próximos análogos 

“Nosso trabalho é uma importante contribuição contra a crise da resistência antibiótica e representa mais um degrau a partir do qual outros grupos podem gerar novos conhecimentos”,

acredita Mizuno.

De acordo com a pesquisadora, o próximo passo seria produzir mais derivativos com outras partes da molécula de ácido poliáltico, melhorar sua atividade e, com isso, despertar o interesse da indústria farmacêutica na continuação da pesquisa.

Para isso, é necessário também investir na extração do óleo de copaíba na Amazônia, processo que depende de profissionais com conhecimento da floresta capazes de identificar a espécie correta de árvore copaífera que produz ácido poliáltico (Copaifera reticulata Ducke).

“É importante destacar que, para estudar a substância, não precisamos destruir árvores – sua extração é similar à da borracha e demanda apenas a raspagem da casca do tronco”,

afirma Mizuno.

O artigo ‘Synthesis and Antibacterial Activity of Polyalthic Acid Analogs‘ pode ser lido em: www.mdpi.com/2079-6382/12/7/1202.

*Por Julia Moióli, da Agência FAPESP 

Durante onda de calor na Amazônia, nutricionista dá dicas de como evitar desidratação

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Hidratar o corpo no período de forte calor ajuda a evitar diversos problemas de saúde.

O mês de setembro é considerado o mais quente do ano, segundo dados do Instituto de Meteorologia do Amapá (IEPA). E para enfrentar essa alta temperatura de forma saudável, é necessário cuidar principalmente da alimentação e evitar desidratação. Alimentos que possuem maior concentração de água são os mais recomendáveis, isso inclui a ingestão de água, frutas, legumes e verduras na rotina pessoal.

O nutricionista Diego Yoshio explica que o consumo desses alimentos in natura, é uma ótima maneira de manter-se hidratado, uma vez que esses alimentos são compostos por alto percentual de água.

“Auxiliam além de fornecer fibra, vitaminas e alguns minerais que podem atuar na manutenção da hidratação como o potássio e sódio”,

diz.

Consumo de frutas e verduras é essencial durante calor intenso. Foto: Divulgação/g1 Amapá

O que evitar  

Segundo o nutricionista, é importante evitar alimentos secos em excesso, como: farinha, farofa, torradas, biscoitos etc, e também alimentos e bebidas diuréticas, como as alcoólicas em geral, energéticos, café e derivados.

Se tiver exposição ao calor com perda excessiva de água, é importante repor também os eletrólitos, com água de coco ou bebida de reposição hidroeletrolítica. 

Ingestão de água

A recomendação de ingestão de água para pessoas não praticantes de exercício, é de 35mL para cada quilo de peso corporal. Ou seja, uma pessoa de 70kg deve tomar (70 x 35mL) = 2,45 litros de água todos os dias, de maneira fracionada e de preferência longe das refeições.


Já praticantes de exercício físico, devem consumir 40mL por kg de peso corporal, ou seja, uma pessoa de 70kg, deve consumir (70 x 40ml) = 2,8 litros de água por dia. 

“A água faz parte da composição de todos os organismos vivos e em seres humanos ela representa cerca de 60% do peso total do corpo de um adulto e quase 80% do corpo de uma criança. Quase todas as vias bioquímicas, hormonais, digestivas, sensoriais etc, são dependentes da água para seu funcionamento correto”,

orienta o nutricionista.

Consumir água com frequência ajuda a evitar a desidratação. Foto: G1 AP/divulgação

O que consumir

1. Melancia

Logo na primeira mordida já dá para perceber que a melancia é cheia de água – precisamente 92%, com 31 calorias a cada 100g da fruta. Além de água, a melancia também possui vitaminas do complexo B, vitamina C e vitamina A, que protegem a visão e a pele, previnem infecções e combatem radicais livres. Cálcio, ferro e fósforo estão no time de minerais presentes na fruta: o primeiro fortalece nossos ossos, os últimos melhoram nossas funções cognitivas. Outra forma de consumo é em sucos, sem a necessidade de açúcar ou adoçante.

2. Abacaxi

Com 48 calorias e 87% de água em 100g, o abacaxi é composto por vitamina C, ácido málico e bromelina, sendo que este último auxilia na digestão.

3. Morango

100g de morangos têm 92% de água em sua composição, 30 calorias e podem acompanhar desde a salada até o bolo no café da tarde. A fruta contém ácido elágico, que evita danos nas células, auxiliando na prevenção do câncer. O morango também possui também fisetina, um nutriente muito importante para a memória, além de fósforo, potássio e magnésio – nutrientes essenciais para o bom funcionamento do sistema nervoso central.

4. Repolho

O repolho, além de ter 93% de água e 15 calorias em uma xícara, também é rico em potássio.

5. Alface

Você pode completar sua salada com folhas que também possuem muita água. Das folhas, a que mais hidrata é a alface. Uma xícara tem 96% de água e apenas 10 calorias.

6. Pepino

O pepino tem 17 calorias a cada 100g e é composto 96% de água. Para aproveitar melhor esse benefício o ideal é consumi-lo cru, na salada ou sozinho. Esse alimento possui nutrientes como potássio (aliado contra hipertensão) e vitamina C, que fortalece nosso sistema imunológico. Possui também fibras, que são importantes para um bom funcionamento intestinal.

7. Abobrinha

Apresenta uma grande quantidade de água (95%) em sua composição, sendo também rica em vitamina B3, que auxilia na manutenção dos níveis de colesterol. Recentes pesquisas mostraram que essa vitamina pode inclusive elevar os níveis de colesterol bom. É comum cozinhar a abobrinha antes de comer, o que acaba retirando boa parte da água desse alimento. Se a intenção for hidratar, prefira consumi-lo cru, ralado ou fatiado na salada.

8. Tomate

100g de tomate têm 94% de água e só 20 calorias. Além disso, o alimento oferece nutrientes como potássio, fósforo, vitamina A e vitamina C, que fortalece o sistema imunológico, prevenindo doenças.

9. Cenoura

Uma xícara de cenoura é composta por 88% de água e tem 45 calorias. Muito conhecida por seu alto teor de vitamina A. A cenoura também possui vitamina C, vitaminas do complexo B e magnésio – que tem propriedades antiinflamatórias. Você pode consumir a cenoura fatiada, ralada ou naquelas versões mini, como um lanche entre refeições.

10. Espinafre

Uma xícara de espinafre tem 92% de água e 40 calorias, além de ser riquíssima em cálcio, potássio e vitamina A. 

“É importantíssimo lembrar que nenhum alimento ou bebida tem a capacidade de substituir os benefícios que a água pura traz para o corpo, alimentos complementam a hidratação, sendo fontes de água, vitaminas e minerais, mas não devem substituir a água”,

finaliza

 *Por Josi Paixão, do g1 Amapá

Pesquisa realizada em Cametá analisa relação da população com a feira municipal

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Pesquisador defende a comida como importante símbolo nas relações entre as pessoas.

Feche os olhos e mentalize o espaço de uma feira. O que não faltaria nessa imagem? Cores? Sabores? Movimento? Sons? Cheiros? Provavelmente isso e mais. Lugares populares na cidade e no campo, as feiras são ricas em interações sociais e, portanto, terrenos férteis como fonte de pesquisa.

“Vi nesses espaços uma forma de compreender os saberes e fazeres de comunidades rurais em contato com espaços urbanos. Quando foquei meu trabalho na Antropologia da Alimentação, compreendi como a cultura oral estava presente nas diversas referências à comida e como a narrativa sobre o alimento é importante para a formação das identidades daquela comunidade”,

resume o professor Carlos Dias Júnior.

Foto: Weslley de Souza/Jornal Beira do Rio

Dias defende a comida como instrumento de expressão social e importante símbolo nas relações entre as pessoas. Com a tese ‘Da feira e da cozinha: consumo, identidade e linguagem em torno da comida na feira municipal de Cametá’, ele buscou compreender de que forma aquele espaço orienta e é orientado pelas trocas de consumo, processos de sociabilidade e marcas culturais das práticas alimentares de seus frequentadores. 

O trabalho, dividido em cinco capítulos, foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA/IFCH) da UFPA, com orientação da professora Carmem Izabel Rodrigues.

“A pesquisa se deu em dois anos de trabalho de campo na Feira Municipal de Cametá. Além de observar os diversos fazeres dos feirantes naquele espaço, também realizei entrevistas, algumas com questionários e outras como conversas. Foquei, pela necessidade da pesquisa, em feirantes que trabalham com alimentos e nos espaços de venda de alimentos. O objetivo era compreender quais os principais pratos consumidos na cidade e entender como esse alimento se transforma desde o momento que sai da feira”,

explica o pesquisador, que também entrevistou e acompanhou a rotina de dez famílias frequentadoras da feira.

Para frequentadores, a feira é o oficial e o improvisado 

Em Cametá (PA), data de 1970 a origem da feira municipal, com a construção do Mercado Municipal, que, pouco a pouco, foi sendo tomado por barracas. Hoje, a feira está localizada em região mais central e se constitui de um espaço oficial, regulamentado pela prefeitura, composto pelos Mercado de Carne, Mercado de Peixe, Feira Livre, Feira do Açaí e Feira da Farinha, e um espaço improvisado, localizado no entorno do primeiro, ocupado pelos feirantes após um incêndio ocorrido em 2001. Na prática, os dois espaços se dividem apenas em função de feirantes credenciados e não credenciados. 

“Quando se diz que vai à feira, ninguém pergunta ‘em qual feira?’, porque a feira é entendida pelo cametaense como um todo simbólico, um espaço único que é praticado e que se torna ‘um lugar'”,

justifica Carlos Dias Júnior.

Durante a investigação, o pesquisador levantou a presença de 1.500 feirantes cadastrados e uma fila de outros 500 aguardando novos espaços. “O trabalho do feirante em Cametá está, a priori, ligado a questões de produção local, isto é, grande parte do que é comercializado na feira tem alguma relação com uma produção local – rural e ribeirinha -, seja o peixe, a farinha, as frutas ou os temperos”, detalha. 

Segundo o pesquisador, o espaço se constitui como o principal local de abastecimento interno, com destaque para as vendas de carnes, açaí e farinha.

Dias lembra que a feira é um espaço de negócios e que sua pesquisa considera esse aspecto ao se debruçar sobre as questões do encontro do rural com o urbano, do falar da ilha com o falar urbano, da forma de comer na ilha que se expande para as práticas urbanas. 

“Para além da perspectiva ‘simplista’, ainda podemos vislumbrar o modo de fazer e os saberes específicos de uma determinada cultura, no caso, o que define o amazônida, o paraense e o cametaense. Dentro desse processo, uma cultura com base na oralidade e na informalidade instaura as relações de ‘ânimo'”,

analisa.

Mapará: diferenças entre consumo e valor identitário

Na terra do mapará, a pesquisa não poderia deixar de fora uma análise sobre o consumo do peixe que se tornou símbolo do município. Apesar de não dar ênfase aos hábitos à mesa, Carlos Dias Junior acompanhou o cardápio alimentar de dez famílias frequentadoras da feira e verificou a quantidade de peixe, especialmente o mapará, consumida.

O objetivo era levantar dados mais específicos sobre o consumo do pescado e seu valor identitário para os locais. Como, durante o ano, há períodos de maior e menor oferta, o pesquisador considerou períodos desde a abertura da pesca até o mês de outubro. 

“Existe uma narrativa muito forte sobre o mapará. De fato, pude observar que existe um sentimento de pertencimento e identidade quando o cametaense fala do mapará, o que me intrigava, porque queria saber se o consumo de mapará era tão grande assim. É claro que, nos períodos de mais disponibilidade do peixe, ele é mais consumido, mas constatei que ele não é o alimento ‘mais consumido’. Ele ocupa um espaço simbólico importante, como se fosse a síntese do cametaense, além de ser um peixe de preparo versátil e de sabor atraente”,

destaca o professor, que aplicou um questionário sobre a preferência alimentar e observou a correlação com a faixa etária.

Cruzando os resultados encontrados nos cardápios das famílias e nos questionários aplicados, Carlos Dias Junior constatou a preferência pela carne bovina entre as famílias, em seus domicílios; e pelo peixe, na feira. Segundo o pesquisador, os dados coletados indicam que o consumo da carne bovina é grande em Cametá e que o peixe tem grande adesão entre adultos e idosos. 

“Mesmo não aparecendo como o alimento mais consumido pelos cametaenses, o mapará está no centro da sua identidade e se sustenta como um símbolo de feições narrativas, está na habitual composição de uma típica refeição mapará-farinha-açaí que se espelha na feira municipal e estabelece o diálogo entre cozinha e feira”,

conclui o professor.

*O conteúdo foi originalmente publicado no Jornal Beira do Rio, edição 168, da UFPA, escrito por Edmê Gomes