Fórum reunirá em Manaus, empresas com propostas de investimentos sustentáveis para Amazônia

Valorizar e utilizar ingredientes locais, levando os sabores da Amazônia para as mais diversas regiões, é o objetivo da Manioca Brasil, que cria produtos 100% naturais e promove comércio justo, localizada em Belém (PA).

Conectar o agricultor familiar com o consumidor final é o que move a plataforma Onisafra, criada pelo engenheiro agrônomo Macaulay Souza de Abreu em Manaus (AM).

Esses dois negócios de impacto que surgiram na região Amazônica demonstram como é possível um outro modelo de desenvolvimento da economia local, com valorização e inclusão de comunidades e de produtos nativos.

No caso da Manioca Brasil, a ideia do negócio surgiu a partir do trabalho de mais de quatro décadas de mãe e filho – o chef Paulo Martins e Anna Maria – que criaram o restaurante Lá em Casa. O modo como Paulo utilizava os ingredientes locais em seus pratos logo chamou a atenção de chefs do Brasil e do mundo, que passaram a buscar tucupi, jambu e outros itens da cozinha regional. Com os pedidos de envio desses ingredientes ‘exóticos’ para diversas partes do país, que eram remetidos pelo chef via correios, a oportunidade de negócios se desenhou.

Foto: Divulgação

A Manioca Brasil, indústria gastronômica, foi criada em 2014 pela filha de Paulo, Joanna Martins, baseada em três ideias: trabalho com ingredientes da Amazônia, criação de produtos 100% naturais e promoção de comércio justo com produtores, comunidades, cozinheiros e todos que são a base da culinária paraense.

Assim se desenharam produtos como as geleias de pimenta de cheiro, de priprioca e de taperebá; o doce de cupuaçu; o molho de tucupi preto e o tucupi temperado; o licor de flor de jambu e o feijão manteiguinha, dentre outros itens que são beneficiados e comercializados pela Manioca. Além de valorizar os produtos da Amazônia paraense, o negócio contribui para o desenvolvimento da cadeia produtiva local e da gastronomia brasileira.

“Temos atualmente 24 fornecedores ativos de insumos amazônicos, dos quais 15 são produtores da agricultura familiar. Em média, 40% de toda a nossa compra vem da agricultura familiar. Os produtores são selecionados pela qualidade de seus produtos e vontade de crescer. Apoiamos essas pessoas com iniciativas de capacitação, acesso a tecnologias e orientação para melhoria na padronização do produto”, diz Joanna Martins.

A Manioca trabalha também com indústrias que processam os insumos que vêm da agricultura familiar. Desde 2015, o negócio tem registrado uma média de crescimento de 150% ao ano.

A valorização da agricultura familiar é também o coração da Onisafra, plataforma idealizada por Macaulay Souza de Abreu em Manaus, quando ainda cursava engenharia agronômica em 2015. Inicialmente, o projeto buscava conectar pequenos produtores com grandes cadeias de compradores, como supermercados, restaurantes, distribuidores, cozinhas industriais e agroindústrias. Mas o modelo logo se mostrou pouco eficaz e não permitia gerar renda mais justa para os agricultores, por causa de políticas agressivas de compra das grandes redes de supermercados.

A partir daí, Macaulay começou a realizar testes com consumidores finais, para ver como funcionava a dinâmica desta relação direta. E esse foi o modelo de negócio desenvolvido, que hoje está rodando e já em expansão.

“A Onisafra é uma plataforma que gerencia a conexão dos agricultores com o consumidor final e possibilita também a criação de multilojas. Qualquer grupo de agricultores ou organizações que ajudam agricultores podem criar sua própria loja dentro da nossa plataforma, e o consumidor consegue comprar diretamente deles. Atualmente temos duas lojas dentro da nossa plataforma em Manaus: uma da cadeia produtiva do pirarucu, que desenvolve um trabalho junto com os manejadores do pirarucu na região de Mamirauá – e outra que reúne agricultores vinculados a uma feira local, que reúne pelo menos dez famílias de agricultores. Já a loja do pirarucu envolve manejadores daquela região, então o ciclo é muito maior e o impacto é direto para eles”, descreve.

Foto: Divulgação

Em Manaus, a Onisafra deve abrir mais três comunidades, uma delas de orgânicos, reunindo inicialmente dez famílias de agricultores certificados pelo Ministério da Agricultura. Com isso, somente em Manaus a plataforma estará trabalhando com até 50 famílias de agricultores. E em Belém (PA), nos próximos meses serão lançadas também lojas, em parceria com a Associação Pará Orgânicos e um grupo de agricultores de uma cidade próxima à capital, envolvendo 20 famílias.

E não para por aí. A Onisafra já está em São Paulo, capital, trabalhando em parceria com a microempresa Enjoy Alimentação Orgânica, envolvendo produtores da zona rural em Parelheiros, sul da cidade. E também em Sorocaba, também em parceria com uma microempresa e uma cooperativa agrícola que fornece saladas montadas.

“Trabalhamos com pequenos e médios agricultores, baseados em cadeias produtivas de frutas, hortaliças e verduras. Na região norte, atuamos também com a cadeia da agrobiodiversidade, por isso temos muitos produtos nativos. Estamos buscando ganhar escala. Já observamos, com os resultados até agora, que temos um potencial de aumentar o faturamento desses agricultores em até 30%”, avalia Macaulay.

E o negócio também tem outros impactos. Como a compra é feita antecipadamente, o agricultor só colhe aquilo que já está vendido, evitando assim o desperdício que teria levando uma grande quantidade de alimentos para disponibilizar em feiras e mercados, e mantendo por mais tempo na terra produtos que podem esperar um pouco mais para serem colhidos.

O modelo tem ainda um efeito ‘educativo’: “A gente observa que muitos consumidores, principalmente em Manaus, não compreendem a diferença entre o que é produzido localmente e o que vem de outros lugares. Muita gente pergunta por que não encontra maçã ou uva para comprar ao longo do ano, por exemplo. Porque não são produzidos aqui. Mas é possível substituir. Não tem tomate? Experimente o cubiu! Essa aproximação acaba permitindo que os consumidores entendam melhor a sua região e comprem produtos mais frescos, saudáveis e com rastreabilidade, porque sabem quem produziu. E para os agricultores é boa essa relação, porque eles entendem melhor a demanda do mercado”.

Fórum reúne iniciativas de impacto no Amazonas

Manioca Brasil e Onisafra são algumas das dezenas de iniciativas que estarão presentes no 1º Fórum de Negócios de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia (FIINSA), realizado nos dias 13 e 14 de novembro, em Manaus.

O movimento de impacto na Amazônia está em ebulição, com pessoas, ideias e negócios buscando criar soluções inovadoras que gerem impacto positivo na cidade e na floresta. Mariano Cenamo, fundador e pequisador sênior do Idesam, um dos realizadores do FIINSA, destaca três desafios para os negócios de impacto locais:

(i) se associar a investidores mais dispostos a compartilhar os riscos intrínsecos ao desenvolvimento de negócios inovadores que tem como propósito resolver problemas sociais e ambientais;

(ii) encontrar consumidores que valorizemos produtos regionais que ajudam a conservar as florestas e apoiar o desenvolvimento de comunidades e;

(iii) estruturar operações mais eficientes, que consigam superar as enormes dificuldades e custos de logística, aquisição de insumos e matéria prima, comunicação, recursos humanos e ineficiência de serviços públicos predominantes na região.

“O Fórum chega com a proposta de criar um espaço qualificado de diálogo e troca entre as startups inovadoras amazônicas e os potenciais investidores, nacionais e internacionais. Trazer o estado da arte das finanças sociais e investimentos de impacto na Amazônia, além de abordar os principais desafios para o desenvolvimento de negócios e empreendedores locais”, descreve Mariano.

O evento, promovido pelos Parceiros pela Amazônia (PPA), USAID, Ciat e Idesam, com co-organização do Impact Hub Manaus e da NESsT e mais diversos patrocinadores e apoiadores, trará uma agenda repleta de conteúdo sobre o que está acontecendo na área de impacto, com exemplos reais e presença de atores do ecossistema local e nacional. Além de diálogos e painéis, a proposta é facilitar conexões que gerem avanços concretos para os negócios e empreendimentos amazônicos.

A programação inclui ainda a entrega do Prêmio Empreendedor PPA, que será concedido aos três primeiros colocados dentre iniciativas selecionadas por meio de uma chamada de negócios. Um dos principais destaques será a rodada de negócios, no modelo ‘Shark Tank’, ondequatro iniciativas apresentarão suas propostas a potenciais investidores dispostos a aportar recursos financeiros em negócios promissores e inovadores.

Saiba mais sobre a programação do 1º FIINSA e faça sua inscrição: http://forum.ppa.org.br

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