Obra de zoólogo alemão é um dos exemplares de uma coletânea produzida sobre a fauna e a flora brasileiras, com foco predominante em macacos, e estava em Londres, no Reino Unido.
Uma obra literária furtada em 2008 do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em Belém (PA), foi recuperada nesta quarta-feira (1°) pela Polícia Federal. O livro ‘Simiarum et vespertilionum Brasiliensium species novae’, de 1823, do zoólogo alemão Johann Baptist von Spix, estava em Londres, no Reino Unido.
De acordo com nota da PF, a investigação sobre o furto contou com trabalho de cooperação policial internacional e colaboração da Polícia Metropolitana de Londres (Scotland Yard), por intermédio de sua Unidade de Artes e Antiguidades.
A obra de Johann Baptist von Spix é um dos exemplares de uma coletânea produzida pelo autor sobre a fauna e a flora brasileiras, com foco predominante em macacos. Três servidores do Museu Emílio Goeldi foram denunciados por peculato culposo em 2011, em decorrência das investigações.
Em dezembro de 2023, a obra a ‘Reise in Chile und auf dem Amazonstrome’, do naturalista suíço Eduard Friedrich Poeppig, foi recuperada na Argentina, em ação de cooperação jurídica com o país vizinho. Em março deste ano, a obra holandesa intitulada ‘De India utriusque re naturali et medica’, de Guilherme Piso, também foi recuperada em Londres. Ambas também foram furtadas do Museu Emílio Goeldi.
“A repatriação das obras literárias representa um marco fundamental para o Brasil, demonstrando um compromisso renovado com a preservação do patrimônio cultural e estabelecendo um precedente essencial para a recuperação de elementos históricos”,
ressaltou, em nota, a Polícia Federal.
Expedição
Nascido em 1781, na cidade de Höchstadt an der Aisch, território do Reino da Baviera entre 1805 e 1918, Johann Baptist von Spix ingressou na Escola Episcopal de Bamberg, aos 11 anos, e logo no ano seguinte foi transferido para o Seminário Episcopal da cidade. Aos 19, já era doutor em filosofia e logo um famoso filósofo da natureza. Também se formou doutor em medicina, no ano de 1807, e em 1810, foi contratado pela Academia Real de Ciências para organizar o museu de zoologia, em Munique.
A experiência e o renome definiram a escolha de Spix para coordenar as pesquisas que integrariam a comitiva da arquiduquesa austríaca Leopoldina, em viagem ao Brasil. A missão, conhecida por Austro-Bávara, buscava uma integração dos países da região europeia da futura esposa do príncipe herdeiro D. Pedro I, com a então colônia portuguesa.
Foram três anos (1817-1820) de viagem desde o Rio de Janeiro até a fronteira do Amazonas com a Colômbia, 10 mil quilômetros percorridos por sete estados, 3.381 espécies de animais brasileiros catalogadas, documentação de línguas indígenas, formação de coleções para estudos. Além disso, Spix coordenou uma equipe de cientistas que produziram muitos outros estudos etnológicos, sobre a fauna e a flora brasileira.
Nota do Museu Goeldi
O Museu Paraense Emílio Goeldi, instituição vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, tem a satisfação de anunciar a recuperação de mais uma obra rara. Trata-se do livro intitulado “Simiarum et vespertilionum Brasiliensium species novae”, de 1823, do alemão Johann Baptist von Spix. A publicação foi furtada em 2008 do acervo de obras raras e especiais da instituição.
Este feito foi possível graças à colaboração entre a Polícia Metropolitana de Londres (Scotland Yard), através de sua Unidade de Artes e Antiguidades, e a Polícia Federal, por meio de sua adidância no Reino Unido.
A obra recuperada representa um dos exemplares de uma coletânea elaborada por Spix (1781-1826), notadamente reconhecido como o primeiro curador da Academia de Ciências da Baviera em Munique. Spix, em conjunto com o botânico Carl Friedrich Philipp von Martius, liderou uma importante expedição ao interior do Brasil, financiada por Maximiliano José I, rei da Baviera, entre 1817 e 1820. Essa expedição foi uma das mais significativas em termos de investigação científica no século XIX, especialmente nas florestas tropicais amazônicas. As obras produzidas por Spix, após seu retorno, representam um dos registros mais abrangentes da história natural sul-americana da época.
Esta obra em particular é dedicada aos macacos, com uma breve seção sobre morcegos nativos. O texto está em latim e francês para a seção sobre macacos, e exclusivamente em latim para a seção sobre morcegos. O livro possui 38 pranchas em litografia com legendas em latim e alemão.
O valor estimado da obra atualmente situa-se entre R$ 96.000 – R$ 130.000.
Agradecemos à Polícia Metropolitana de Londres (Scotland Yard) e à Polícia Federal por seu diligente empenho na recuperação deste valioso patrimônio histórico e científico brasileiro. A colaboração internacional entre essas agências demonstra o poder da cooperação no combate ao tráfico de bens culturais e à proteção do nosso legado comum.
O Museu Goeldi está no aguardo de informações sobre o retorno da obra e a devolução à Coleção de Obras Raras, que hoje está abrigada em uma sala cofre na centenária biblioteca da instituição.
Belém, 01 de maio de 2024