Foto: Ivan Campos/Arquivo Pessoal
Em meio a mais de 300 obras de artistas de todo o Brasil, o artista acreano Ivan Campos expõe seu trabalho em duas importantes exposições no circuito Rio de Janeiro/São Paulo: ‘Fullgás’, no Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro, e no Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.
Para a exposição ‘Fullgás – Artes Visuais e anos 80 no Brasil’, as obras foram escolhidas pela curadoria de Raphael Fonseca e, de acordo com o artista, foram produzidas desde o fim do Ato Institucional Número Cinco (AI-5), na ditadura militar, até após o período do impeachment do presidente Fernando Collor.
“Os anos 80 pra mim foram a base de tudo que eu sou agora. Essa época foi quando eu estava saindo da adolescência porque com 20 anos a gente ainda está na formação da mente, eu nem sabia que que eu queria ainda. Eu trabalhava com a pintura, mas só em preto e branco e só fazia uma pintura por ano, quase não pintava nada, mas desde aquela época até hoje eu tenho levado a bandeira de viver da pintura e vou levar até o túmulo”, comentou ele.
Nessa exibição, a intenção é proporcionar ao público o contato com uma geração que depositou muita energia não apenas em fazer arte, mas também em novos projetos de país e cidadania. ‘Fullgás’ permanece no CCBB do Rio de Janeiro fica até o final de janeiro de 2025 na cidade e, em seguida, irá percorrer os CCBBs dos demais estados brasileiros.
Já na 38ª edição do Panorama da Arte Brasileira, intitulada Mil Graus, o curador Germano Dushá, escolheu a obra: “Rebanhos do Céu”, que é uma obra de sete metros de comprimento que faz parte do acervo da Assembleia Legislativa do Estado do Acre, explorando minuciosamente a exuberância da floresta amazônica a partir da visão do artista.
A mostra bienal do MAM apresenta 34 artistas de 16 estados brasileiros e está ocorrendo no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP) onde permanecerá até o dia 26 de janeiro de 2025.
Ivan diz que sempre gostou da pintura ambiental, pois sempre amou pintar animais e sua técnica foi aprimorada através de observações.
“Aliás, eu estou até hoje nesse processo. Eu tenho a pintura como uma coisa infinita. Sempre que eu termino um trabalho, eu tenho que esconder ele, porque senão fico mexendo, cutucando e achando coisa pra colocar a mais, porque acho que tá faltando alguma coisa”, explicou.
Ivan Campos
Acreano nascido em Rio Branco, o artista conta que seu interesse pela arte começou quando criança, após passar um longo período internado para tratamento de tétano. Durante essa época, ganhava diariamente da mãe desenhos feitos em sobras de papel de pequenas dimensões.
Campos guardou todos eles e, logo ao receber alta, começou a desenhar figuras vegetais e humanas que serviam de modelo para os bordados feitos pela mãe, Gercina. Durante a infância, ele também se ocupava de colecionar histórias em quadrinhos cujas imagens eram usadas de referência para seus decalques.
Foi com esses materiais feitos à mão – sobras de papel e histórias em quadrinhos de baixo custo – que Ivan Campos aprendeu a desenhar de maneira autodidata. Seu trabalho em pintura veio depois, quando jovem, após anos de aprendizagem com o desenho.
Segundo o artista, desde o começo de sua produção até sua fase mais recente, o motivo da pintura é encontrado no ambiente em que está inserido: a floresta amazônica, com seus rios e igarapés, aspectos místicos de sua vivência com a ayahuasca e cenas de interiores sendo alguns dos mais frequentes.
Sua primeira exposição individual aconteceu em 2000, na Galeria de Artes do Sesc, em Rio Branco. Em 2005, foi laureado com medalha de ouro no 1º Salão Hélio Melo de Artes Plásticas, evento realizado pela Associação de Artistas Plásticos do Acre (AAPA), com a obra Alicerces da Terra.
Em 2005, duas de suas obras foram selecionadas para o Projéteis de Arte Contemporânea, da Rede Nacional de Artes Visuais – Redemergências: uma das abordagens possíveis de um novo olhar sobre a produção artística atual, organizado pela Funarte/RJ.
Em 2012, participou do projeto Trajetórias – Artes Visuais, com exposição de suas obras na Galeria Chico Silva, na Usina de Arte João Donato. Em 2018, recebeu a insígnia no Grau Cavaleiro do Quadro Ordinário da Ordem da Estrela do Acre, honraria concedida a personalidades que contribuíram para o desenvolvimento do Estado ou protagonizaram atuações decisivas em prol da população.
Em setembro de 2024, Ivan Campos passou a ser representado pela Galeria Almeida & Dale, que promove o trabalho e legado de artistas brasileiros entre instituições e coleções privadas em todo o mundo. A galeria desempenha o papel de revisitar a produção de artistas fundamentais na história da arte, incluindo nomes consagrados e outros ainda pouco conhecidos.
Intervenção urbana
Em 2014, as ruas da capital acreana receberam obras de 12 artistas que vivem em Rio Branco, sendo que um dos escolhidos foi o Ivan. A fotógrafa Talita Oliveira decidiu levar as galerias de artes para as ruas com o projeto ‘Artista de Plástico’, ampliando em grandes formatos (1,30m x 90 cm) fixou através de lambe-lambe [colagens em áreas urbanas normalmente feitas com cola de polvilho ou farinha], em diferentes bairros da cidade.
Em 2015, Ivan também fez parte de outra intervenção urbana também produzida pela fotógrafa Talita Oliveira, dessa vez, na cidade de Porto Velho (RO). Ela expôs obras reproduzidas fotograficamente de quatro artistas acreanos.
*Por Hellen Monteiro, da Rede Amazônica AC