Cem anos após a primeira Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, com o objetivo de criar uma identidade artística nacional, com pintores, escritores, músicos e escultores, surge a Semana de Arte Mundana. Assim como a semana original, que tinha como intuito de romper com a vanguarda europeia e valorizar a cultura nacional, a semana ‘mundana’ é realizada com o objetivo de ressaltar a importância da biodiversidade brasileira provocando reflexões no modo de viver da sociedade atual.
O Portal Amazônia conversou com um especialista em arte sobre como a proposta afeta o cenário nacional. Além de que algumas obras foram produzidas com cinzas das queimadas na Amazônia. Confira:
Lama da tragédia de Brumadinho, cinzas de queimadas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal e óleo que atingiu as praias do nordeste. Esses são os componentes alternativos que o artista sob o pseudônimo Mundano utiliza em suas obras da Semana de Arte Mundana.
O ambiente, em exposição na Galeria Kogan Amaro, em São Paulo, tem como referência o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. De acordo com o mestre em artes e letras pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Décio Viana, apesar da semelhança com as obras, como o cartaz produzido para a Semana de 1922 pelo artista Di Cavalcante, as propostas são diferentes.
Elas estão ‘linkadas’ (unidas) unicamente por uma manifestação e pela liberdade de expressão também. Primeiro, a Semana de Arte Moderna vai ter uma preocupação muito grande em demonstrar e firmar uma identidade nacional. Valorizar aquilo que nós temos e mostrar para o mundo que dentro desse processo de miscigenação, nós já tínhamos uma identidade cultural própria.
afirmou Décio.
Uma das obras de destaque é o convite para a abertura da mostra (no início da matéria). Mundano se apropria da estética do icônico cartaz da Semana de Arte Moderna, de Di Cavalcanti, e o ressignifica.
Ele propõe um questionamento sobre o momento atual da arte e do mundo em que vivemos: troca o enunciado para Semana de Arte Mundana e insere a imagem do brotinho que cresceu e acabou cortado como muitas árvores, dando a ideia de ruptura.
“Fazendo relação com o cartaz original que foi elaborado pelo Di Cavalcanti em 1922, a gente pode considerar que aquilo que foi valorizado pelo manifesto pau brasil, onde dizia que a gente tem fazer com que nossa cultura seja levada e vendida para o exterior como algo nosso, próprio, como matéria prima, está sendo destruído pelo cartaz da obra de Mundano. Mostra que tudo aquilo que foi conquistado no passado, há 100 anos atrás, não está sendo valorizado”,
destaca o professor.
O autor, Mundano, divulgou que as obas foram produzidas pensando “num contexto de retrocesso socioambiental, de negacionismos descomunais, de absurdos diários que evidenciam nosso racismo estrutural e tantos outros inumeráveis desafios”.
A exposição está em cartaz até 26 de março na galeria paulistana.