Purussaurus brasiliensis: o jacaré com a mordida mais potente do mundo viveu na Amazônia

O ancestral dos jacarés viveu no período mioceno, há pelo menos 8 milhões de anos, e era considerado um dos “reis da selva”.

Considerado o rei do pântano, o Purussaurus brasiliensis foi um super jacaré que viveu na Amazônia no período Mioceno Superior. Acredita-se que a Amazônia como a conhecemos hoje, surgiu há cerca de 5 milhões de anos, quando o Rio Amazonas passou a desaguar na região de Belém, no Pará. De 10 há 5 milhões de anos, a floresta tropical que antecedeu a Amazônia era marcada por grandes rios, lagos e pântanos, ainda maiores do que é possível encontrar na região hoje em dia. E o super jacaré foi descoberto no Estado do Amazonas, na região do Rio Purus, pelo botânico brasileiro Barbosa Rodrigues em 1882.

O Portal Amazônia conversou com a paleontóloga doutora Lucy Souza, professora na faculdade Estácio do Amazonas, Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e ex-paleontóloga do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) para saber mais sobre esse “rei da selva”.

“Foi descoberto […] pelo botânico brasileiro Barbosa Rodrigues e diretor do Museu Botânico da Amazônia, que foi extinto, na época do Brasil Império. Após essas descobertas muitos outros materiais foram encontrados a partir de 1950 com o auxílio do Departamento Nacional de Produção Mineral e da Universidade Federal do Acre. Os fósseis são de um pacote de rochas chamado ‘formação Solimões’, de 5 a 10 milhões de anos atrás”,

conta a paleontóloga.

Foto: Reprodução / Tito Aureliano, 2015.

De acordo com Lucy, durante o Mioceno, o norte da América do Sul era banhado pelo Mar de Pebas – onde é atualmente o Mar do Caribe -, que recebia também um fluxo de água dos rios. Com o soerguimento da Cordilheira dos Andes, esses rios acabaram criando um ambiente de planície com dezenas de pântanos, lagos e lagoas muito extensas.

Ela explica que o Purussaurus brasiliensis era um predador de topo generalista, que se alimentava de qualquer organismo que coubesse em sua boca ou que conseguisse arrancar um pedaço. Estimativas indicam que ele media cerca de 13 metros, sendo que apenas o seu crânio chegava a 1,40m. É caracterizado por ter dentes pontiagudos na parte da frente da boca para capturar e arrancar pedaços e dentes baixos e arredondados na parte de trás para quebrar coisas duras como tartarugas e ossos. 

Local onde foram encontrados os fósseis. Foto: Reprodução/Artigo ‘The history, importance and anatomy of the specimen that validated the giant Purussaurus brasiliensis Barbosa-Rodrigues 1892’

Por conta disso, o que mais chama a atenção é a potência da sua mordida. Estima-se que a mordida tinha uma força aproximada a sete toneladas, graças ao formato do seu crânio: robusto, largo e com narinas grandes, capaz de matar apenas com uma dentada. Para sustentar o seu corpo, esse super jacaré tinha que consumir cerca de 40 kg de alimentos por dia. 

Até o momento, foram encontrados três tipos de Purussaurus: Purussaurus neivensis, Purussaurus mirandai e Purussaurus brasiliensis, sendo o último considerado o maior do gênero.

Essa espécie supostamente afogava suas vítimas para depois arrancar pedaço a pedaço com um giro, engolindo inteiro sem mastigar. Provavelmente, também ficava às margens tomando sol e com a boca aberta, para que pássaros realizassem a limpeza de seus dentes.

Foto: Reprodução/Artigo ‘The history, importance and anatomy of the specimen that validated the giant Purussaurus brasiliensis Barbosa-Rodrigues 1892’

A região onde foi encontrado, na ‘formação Solimões’, abrange principalmente ao longo dos rios Purus, Acre e Juruá. O maior local onde foi possível encontrar a maior parte dos fósseis foi no Estado do Acre.

“Em 2019, em uma parceria entre a Universidade Federal do Acre e o Museu da Amazônia, foi feita a descoberta do Purussaurus brasiliensis mais completo até então conhecido. Ele não é completo, mas tem vértebras, ossos da cintura, braços etc., partes do corpo até então desconhecidas. Esse material se encontra no MUSA [Museu da Amazônia, em Manaus, no Amazonas] e está em exposição lá”, destaca a especialista.

Foto: Isabelle Lima / Portal Amazônia

Uma das descobertas desses fósseis foi de uma criança de 11 anos, em 2019. O pescador José Militão, de 58 anos, e seu filho Robson, de 11 anos, estavam pescando quando a criança encontrou parte de um objeto diferente no fim da tarde do dia 11 de julho.  O caso aconteceu na cidade Brasiléia, no Acre. 

Foto: Reprodução / Raylanderson Frota

Extinção 

A extinção do gigante predador se deu devido ao surgimento da Cordilheira dos Andes. De acordo com Lucy, no final do Mioceno e início do Plioceno, os Andes estavam terminando de soerguer na região norte da América do Sul, o que causou impactos na distribuição dos rios e no clima da região amazônica.

“Somado a isso, esse período também foi marcado por uma queda nas temperaturas globais. Todos esses fatores unidos resultaram em uma redução dos ambientes adequados para sua existência e em um clima não favorável culminando assim na extinção da espécie”,

completa a paleontóloga.

 Referências 

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