Animal rodeado por lendas amazônicas, o boto provoca dúvidas acerca de sua classificação.
É provável que você já tenha associado que todos os animais que vivem nas águas são peixes ou que todo animal que tem asas voa. Contudo existem algumas exceções.
O Portal Amazônia conversou com a bióloga e doutora em ecologia e reprodução dos mamíferos, Vera da Silva, para saber se o boto, animal tão característico da Amazônia e cercado de mitos, é ou não um peixe.
Os botos são animais que pertencem à ordem Cetacea e à família Iniidae. No bioma amazônico podem ser encontradas quatro espécies deste animal: Sotalia fluviatilis, Inia geoffrensis, Inia boliviensis e Inia araguaiaensis.
Por serem de ambiente aquático, é comum muitas pessoas os classificarem como peixes, mas a doutora em ecologia Vera da Silva explica:
“Os botos não são peixes. Os botos são mamíferos aquáticos. Eles mamam durante a sua infância. Crescem, têm uma gestação placentária como de qualquer mamífero e quando nascem, depois de 12 meses de gestação, os filhotes amamentam na sua mãe. Os botos são golfinhos de água doce, mamíferos, e não estão relacionados com peixes”,
esclarece Vera.
Além de ser biologicamente classificado como mamífero por – dentre outros fatores – possuírem glândulas mamárias e produzirem leite, uma característica que Vera ressalta é o fato de os botos se alimentarem de… peixes.
Boto e golfinho: primos distantes
Outra dúvida é se botos e golfinhos são semelhantes. A pesquisadora esclarece que são sinônimos. A principal diferença é que o habitat do golfinho é a água salgada do mar e o do boto, a água doce do rio.
A bióloga e pesquisadora de mamíferos também afirma que existem outros animais com características parecidas e que provocam a mesma dúvida, como o tucuxi, conhecido como boto-preto, que também é considerado um “primo” do boto cor-de-rosa.
“Existem, sim, animais com características semelhantes, que incluem outros golfinhos que habitam o mar e golfinhos de rios de outros lugares do mundo, como o que ocupava os rios da China e foi extinto alguns anos atrás ou os golfinhos que habitam os rios da Índia, do Paquistão e Nepal”,
informa.
Riscos
Endêmicos da bacia amazônica, as principais ameaças aos botos são a caça ilegal, a captura acidental em redes de pesca e mais recentemente efeitos provocados pela construção de hidrelétricas.
Algumas espécies, como o boto-vermelho, entraram para a ‘lista vermelha de espécies ameaçadas’ da União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). Já o tucuxi apresenta “dados insuficientes” na lista.
Os dados foram coletados pelo Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), coordenado pela pesquisadora Vera da Silva.