Plantas carnívoras: como são as que se escondem na Amazônia?

Diferente do imaginário popular, estas plantas 'se alimentam' apenas de insetos e microrganismos para complementar sua nutrição.

Plantas carnívoras estão enraizadas no imaginário popular por conta dos filmes Hollywoodianos. Inúmeras são as produções cinematográficas que exibem o poder destrutivo de plantas quase alienígenas, capazes de devorar até mesmo um ser humano. Mas uma planta seria mesmo capaz de digerir grandes animais?

De fato, as plantas carnívoras existem, porém não como os filmes apresentam. Na vida real, essas espécies se utilizam da captura de pequenos insetos e microrganismos para complementar sua dieta, não dependendo unicamente da fotossíntese.

Várias destas plantas estão espalhadas pelo mundo, de diversas famílias e espécies. Entretanto, em vias de fato, a maioria delas é pequena e bem sensível. 

A Amazônia também conta com sua cota de espécies carnívoras, ou insetívoras (como são chamadas pela maioria dos pesquisadores).

Plantas do gênero Drosera ‘capturam’ por meio da viscosidade de suas folhas. Foto: Julio Santiago/UFMG

O Portal Amazônia conversou com Michael John Gilbert Hopkins, doutor em Biologia e pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) para compreender mais a ocorrência destas plantas na região.

Plantas carnívoras da Amazônia 

De acordo com o pesquisador, na Amazônia é possível encontrar cinco principais gêneros (grupo que compreende várias espécies) de plantas carnívoras, sendo eles: Drosera, Utricularia, Genlisea, Brocchinia (com uma espécie carnívora) e Heliamphora – as duas últimas encontradas nos tepuis de Roraima.

Entretanto, todos estes gêneros são bem diferentes do que é culturalmente atrelado a este tipo de vegetal. 

Estas espécies, mais atreladas ao senso comum do que é uma planta carnívora, têm ocorrência na América do Norte e se diferem na forma como capturam suas ‘presas’, justamente por fazer isto ativamente e de forma visível. Então como são as espécies amazônidas?

Plantas como do gênero Dionae estão mais associadas com a imagem que se têm das carnívoras. Foto: Reprodução/ Julio Santiago – UFMG

Justamente por conta da falta de nutrientes, torna-se necessário para estas plantas a complementação da nutrição, para que possam se adaptar ao ambiente em que estão inseridas. Mas como elas capturam os insetos?

As Drosera, por exemplo, que são “plantas bem diminutas com folhas pequeninas”, têm glândulas grudentas presentes na extensão de suas folhas. Quando os insetos pousam nelas, ficam colados e têm seus nutrientes aproveitados pelo vegetal, por meio de enzimas.

Desta forma, diferente de outras espécies mais conhecidas, as amazônidas costumam ‘capturar suas presas’ de forma passiva, sem ação direta como no caso das apanha-moscas da América do Norte.

Por sua vez, as plantas dos gêneros Utricularia têm “armadilhas ativas”. Entretanto, esta ação não costuma ser vista, já que ocorre dentro da água ou no interior dos solos.

“Estas plantas têm uma espécie de bexiga que, com a aproximação de invertebrados (como crustáceos) e microrganismos, se infla rapidamente, ‘chupando’ esses pequenos animais para dentro. Isso ocorre como uma espécie de rede que se fecha após a captura, não deixando que escapem”, relata Michael Hopkins. 

Planta do gênero Utricularia, que captura suas presas por meio de uma armadilha aquática. Foto: Maria Anete Leite Rubim/’Fauna e Flora do Campus da Universidade Federal do Amazonas: a maior biodiversidade urbana do Brasil’

De acordo com o pesquisador, apesar de se distanciarem do imaginário popular em relação às plantas carnívoras, os gêneros encontrados na Amazônia possuem peculiaridades interessantes e novas espécies são descobertas com frequência. 

Para ele, a Amazônia é um bioma extremamente rico e inexplorado, que pode revelar ainda fauna e flora diversa e única.

Nova espécie

E por falar em nova espécie, no início de 2024, foi registrada na Serra do Cachimbo (Pará/Mato Grosso), a Philcoxia cachimboensis (Plantaginaceae). Esse é o primeiro registro do gênero para a Amazônia brasileira. Confira o estudo:

*Por Diego Fernandes, estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar 

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