Piraíba, o gigante pouco conhecido na Amazônia

Podendo pesar até 200kg, a piraíba é um peixe que pode ser encontrado na Bacia Amazônica, desde rios costeiros no Brasil até a Cordilheira dos Andes.

A piraíba (Brachyplatystoma filamentosum) é um peixe gigante que pode atingir 3,6 metros e chegar a 200 kg, o maior bagre da Amazônia. Existem muitas histórias sobre seu comportamento. Por exemplo, dizem que as piraíbas gostam de virar as canoas dos pescadores. Stradelli, no seu Vocabulário Nheengatu – Português de 1929 (p. 608), conta que seu nome poderia vir daí: Pira = Peixe; ayua = Ruim. Por outro lado, o “ruim” poderia se referir ao gosto pouco apreciado da sua carne. Além disso, há histórias que dizem que a piraíba seria a mãe de todos os peixes.

A principal área de pesca das piraíbas fica no canal principal do Rio Amazonas, mas esses bagres têm ampla distribuição na Bacia Amazônica, desde rios costeiros no Brasil até a Cordilheira dos Andes na Bolívia e Peru. 

Em 2005, uma nova espécie chamada piraíba negra (Brachyplatystoma capapretum) foi descrita, e um estudo recente mostrou como algumas variações genéticas estão fortemente relacionadas com os tipos de rio da Amazônia e destacou a urgência de medidas de manejo para conservar esta espécie emblemática.

Foto: Guido Miranda/WCS

O que os dados de Ictio mostram até agora? 

O aplicativo Ictio é uma ferramenta para coletar dados de pesca dos principais peixes da Amazônia, lançada em 2018, e em setembro de 2020 contava com 240 usuários que registraram mais de 7 mil observações de peixes. Essas observações vêm de um total de 52 sub-bacias de nível 4 da Bacia Amazônica (Venticinque et al. 2016 – disponível em inglês). 

Até junho de 2020, as piraíbas foram registradas em 13 dessas 52 sub-bacias. O primeiro registro de piraíba foi em março de 2018, em Tefé (Amazonas). A maior piraíba registrada até maio de 2019 pesava 138 quilos. Em 2020, apenas dois registros de piraíba ocorreram: ambos da bacia do Amazonas/Solimões (entre os rios Jandiatuba e Juruá).

Em geral, as informações sobre as piraíbas vêm do curso principal do Rio Amazonas e também da bacia do Tapajós, mas, até o momento, nenhum usuário do aplicativo registrou observações desses peixes rio acima das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio (Brasil), no Rio Madeira. 

As piraíbas podem estar sofrendo os efeitos da perda de conectividade do Rio Madeira associada à construção das hidrelétricas, que impõe uma barreira à migração de vários peixes, entre esses a dourada (Brachyplatystoma rousseauxii) e outras espécies migratórias.

O artigo ‘Tendências e fatores ambientais na captura de bagres gigantes no baixo rio Amazonas‘ (disponível em inglês) relata que mudanças na abundância desses grandes bagres migradores, como a dourada ou piraíba, além da piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii), podem ter profundas consequências para o ecossistema. 

Os autores apontam que é necessário considerar a temperatura da água do mar e o nível dos rios nas políticas e ações de gestão da pesca, até porque as mudanças climáticas e o desmatamento contribuem para a redução das áreas de inundação e da conectividade entre os ambientes. Com base em seus resultados, os autores reforçam a importância de ter dados de monitoramento ao longo do tempo e apontam que “criticamente, ainda nenhum estudo foi realizado sobre a relação entre a captura de grandes bagres em escala regional e a variação ambiental na a escala da Bacia Amazônica “(Cruz et al., 2020).

Embora o aplicativo só tenha sido lançado em 2018 em caráter experimental, a falta de registros de piraíbas chama a atenção, colocando em evidência a importância de gerar mais informações sobre esse importante peixe. 

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