Pesquisa revela que florestas do Amapá possuem as maiores densidades de biomassa da Amazônia

As florestas do estado do Amapá podem ser fundamentais para diminuir as consequências das mudanças climáticas na região amazônica

As florestas do estado do Amapá podem ser fundamentais para diminuir as consequências das mudanças climáticas na região amazônica por possuírem os maiores estoques de biomassa por área – incluindo carbono – em toda a bacia Amazônica. A descoberta inédita foi divulgada recentemente na revista científica Sustainability.

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Flona do Amapá. Foto: Divulgacão

Os dados da pesquisa apontam que as florestas amapaenses, em grande parte localizadas em áreas protegidas, alcançam valores de biomassa substancialmente acima da média amazônica. A biomassa florestal é constituída de toda matéria vegetal proveniente de áreas florestais, como madeira, galhos, folhas, carbono.

Segundo o estudo, a concentração de biomassa nas florestas do Amapá está em torno de 537 toneladas por hectare. Cada hectare equivale a 10 mil metros quadrados, quase do tamanho de 1 campo e meio de futebol. A pesquisa identificou que cerca de 48.5% da biomassa é composta de carbono, essas florestas estocam 260 toneladas do elemento por hectare. Isso é mais que o dobro (124%) da média para a região amazônica, que é de apenas 116 toneladas por hectare de carbono.

“Essa maior biomassa aqui no Amapá está associada a florestas bem estruturadas e a maior densidade de árvores de grande porte – eu acho que todo mundo já ouviu falar das nossas árvores gigantes. Com isso, esses resultados só reforçam o papel estratégico do Amapá como uma importante reserva de carbono no mundo, elemento fundamental para regulação climática global”, observa José Douglas Costa.

José Douglas Costa, ex-aluno do Mestrado em Ciências Ambientais e autor do artigo. Foto: Arquivo pessoal.

Leia também: Nova lei busca reduzir vulnerabilidade das florestas no Amapá

Esforço conjunto

Além de José Douglas Costa, a pesquisa é fruto do envolvimento de outros 11 pesquisadores da Unifap, do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), da Embrapa-AP, da Universidade do Estado do Amapá (Ueap), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (AM e RR), da Universidade Estadual de Roraima (UERR) e da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). A coordenação geral do estudo é do docente do Mestrado em Ciências Ambientais, Prof. Dr. José Júlio de Toledo.

A intenção da pesquisa foi criar um banco de dados mais amplo de inventários florísticos (estudo detalhado das espécies de plantas presentes em uma determinada área) para toda a floresta densa do Amapá.

“Pensamos em criar uma estimativa para uma área maior do estado, pois essa quantificação era feita apenas fragmentada (em áreas pequenas), com dados apenas de um pesquisador. Assim, veio a ideia do esforço conjunto de 12 pesquisadores de diferentes instituições”, explica Costa.

Os pesquisadores utilizaram dados de levantamentos florísticos e técnicas de modelagem espacial avançada. “Depois aplicamos técnicas de geoestatística correlacionadas com variáveis ambientais como a tipologia florestal, a precipitação, e com isso conseguimos modelar a biomassa florestal, resultando em um mapa de biomassa com resolução de hectare”, detalha o autor do artigo.

Floresta em pé

Os resultados da pesquisa demonstram a importância de desenvolver ações e políticas públicas de desenvolvimento sustentável no estado que possam prever alternativas econômicas que agreguem valor às florestas amapaenses que têm sido preservadas – o Amapá é o estado brasileiro com maior cobertura florestal preservada do país, com 21 unidades de conservação, segundo o recém-lançado Atlas Geográfico Escolar do Amapá.

“Apesar do manejo florestal madeireiro ser considerado de baixo impacto, a atividade reduz drasticamente o reservatório de carbono porque retira principalmente as árvores grandes (acima de 1 metro de diâmetro) que possuem maior densidade de carbono”, afirma o coordenador da pesquisa, Prof. Dr. José Júlio de Toledo.

Prof. Dr. José Júlio de Toledo. Foto: Arquivo pessoal

Toledo destaca a urgência de promover uma transição na economia local, substituindo a exploração madeireira por esquemas de pagamento por serviços ambientais, créditos de carbono e produtos florestais não madeireiros (PFNM). “Essas alternativas econômicas não apenas agregam valor à floresta em pé, como também incentivam sua conservação, mantendo a biodiversidade, as comunidades locais e os serviços ecossistêmicos, em especial a regulação climática”, adita o pesquisador.

José Douglas Costa ressalta que a conservação dos estoques de carbono deve ir além da manutenção de áreas protegidas.

“[Devemos] fortalecer a proteção de reservas, restringindo a exploração madeireira em áreas de uso sustentável, promovendo uma forte fiscalização contra o desmatamento ilegal e apoiando a implementação de projetos de REDD+ [sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal, mecanismo que permite a remuneração dos países que mantêm suas florestas em pé]. Essas ações são cruciais para evitar perdas substanciais de estoque de carbono e para reduzir as emissões de gases de efeito estufa desta região”, conclui Costa.

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