Pesquisa aponta trajetórias de doenças como a malária e a covid-19 na Amazônia

O estudo aponta algumas correlações entre as trajetórias tecnoprodutivas e determinados tipos de doenças na região.

O projeto Trajetórias, vinculado ao Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos do CNPq, desenvolveu uma pesquisa sobre a relação entre biodiversidade, modelo de desenvolvimento agrícola e dispersão de doenças, como malária e a Covid-19 na Amazônia.

O estudo, intitulado Epidemiology, Biodiversity, and Technological Trajectories in the Brazilian Amazon: From Malaria to Covid-19 (Epidemiologia, biodiversidade e trajetórias tecnológicas na Amazônia brasileira: da malária ao Covid-19), aponta algumas correlações entre as trajetórias tecnoprodutivas e determinados tipos de doenças na região.

Reprodução: Internet

O principal objetivo da pesquisa, de acordo com o economista Danilo Araújo Fernandes, um dos autores do estudo e professor dos Programas de Pós-graduação em Economia e de Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, foi abrir horizontes para monitorar o potencial avanço de doenças nos municípios amazônicos e inovar com uma abordagem metodológica sistêmica, interdisciplinar e transdisciplinar, na qual as perspectivas epidemiológicas, econômicas e ambientais são consideradas em conjunto, no mesmo estudo.

“Entre as contribuições geradas pelo estudo está a divulgação para a comunidade acadêmica de um novo arcabouço teórico proposto, o qual se baseia no tripé biodiversidade-economia-saúde humana, a partir da perspectiva da economia agrária, estabelecida e defendida por um importante economista da Amazônia, o professor Francisco Costa da UFPA. Essa abordagem ajuda a lançar luz para a diversidade estrutural e econômica da Amazônia, que frequentemente é desconsiderada nas principais políticas de desenvolvimento em curso para a região”, conta Danilo Fernandes.

De acordo com o pesquisador, o estudo também ajuda a revelar a dimensão econômica da diversidade estrutural da economia agrária na Amazônia e seus efeitos concretos sobre as trajetórias da evolução da biodiversidade e da epidemiologia na região. “Revela que o processo de transformação da estrutura agrária, em movimento, impulsiona, em várias frentes, mudanças no uso e na cobertura da terra, assim como nos resultados da evolução dessas diversas economias sobre os indicadores da biodiversidade e doenças”, explica.

A pesquisa foi desenvolvida pela equipe Trajetórias, que conta com pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Universidade do Acre (UFAC), Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Dispersão de doenças na Amazônia – A pesquisa apontou que a dispersão de doenças na Amazônia está diretamente relacionada com a trajetória de desenvolvimento agrário e com a evolução da trajetória tecnoprodutiva em determinadas regiões da Amazônia, as quais implicam também maior ou menor perda de biodiversidade.

“A malária prevalece em municípios com perfil agroextrativista e com cobertura florestal, ou seja, metade do território amazônico. A dengue e chikungunya ocorrem com mais frequência em municípios de expansão urbana recente, como no limite sul da Amazônia em transição para o cerrado. A leishmaniose cutânea prevalece em municípios com grandes rebanhos, onde há maiores taxas de desmatamento e perda da biodiversidade. Já a Covid-19 se espalhou com facilidade em todos municípios, pois relaciona-se com o tráfego de pessoas”, revela Danilo Araújo Fernandes.

Os resultados da pesquisa permitem observar, ainda, o quão complexo é a associação entre as transformações no bioma amazônico e a produção de doenças, uma vez que os sistemas produtivos são vistos operando sobre a paisagem de maneira distinta e produzindo situações específicas. Assim, embora se tenha a malária com presença nos sistemas agroextrativistas, há também, na Amazônia, a floresta conservada e um manejo da paisagem florestal mais complexo, tendo em vista a manutenção da diversidade e não pelos processos de homogeneização.

“Então, acaba que essa informação nos instrumentaliza no sentido de nos orientar nas definições de programas de vigilância e controle em saúde, ao mesmo tempo em que nos deixa em alerta para a importância da preservação dos serviços ecossistêmicos”, conclui o pesquisador.

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