Curioso: peixe-boi consegue flutuar com a liberação de flatulências

Diferente de outros peixes vertebrados, o peixe-boi não possui bexiga natatória que permite flutuabilidade. Sendo assim, assume diferentes estratégias para submergir e emergir na água. 

Um dos mamíferos aquáticos mais conhecidos em todo o mundo, são os peixes-boi, que possuem registros de quatro espécies diferentes. O peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inunguis) é um dos mais famosos.

O peixe-boi possui uma coloração acinzentada e manchas que variam entre cinza claro, branco e rosado na barriga, sua cauda é comprida e arredondada. Ao longo do ano, o comportamento do peixe-boi-da-amazônia varia conforme as estações de cheia e seca. Um diferencial entre os peixes-bois e outras espécies de mamíferos aquáticos, são suas estratégias e adaptações para manter a flutuabilidade sobre a água.

Para entender melhor sobre o fenômeno, o Portal Amazônia conversou com a chefe do Laboratório de Mamíferos Aquáticos, Vera Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que esclareceu sobre essa característica.

Leia também: Conheça o peixe-boi-da-Amazônia, o ‘cantor’ que equilibra o ecossistema da região

Foto: Reprodução/ Anselmo d’Affonseca

Os peixes ósseos são seres aquáticos que fazem parte do grupo dos vertebrados e que possuem uma bexiga natatória que permite a sua flutuabilidade. Essa característica diferencia as espécies de peixes, levando em consideração que o peixe-boi não possui a bexiga natatória. Com esse fenômeno fisiológico, os peixes-boi possuem estratégias peculiares para submergir e emergir o corpo sobre a água.

“Como herbívoros, os peixes-boi têm uma fermentação para a digestão da celulose e outras partes das plantas. Essa fermentação produz gases, especialmente metano. Naturalmente eles são muito flatulentos e essa flatulência também contribui com a flutuabilidade, podemos dizer que o peixe-boi solta muitos ‘pum ou gases’ pelo intestino e região anal. Quando ele libera esses gases fica mais leve podendo boiar e ficar próximo a superfície”, esclareceu a doutora Vera.

O fenômeno pode acontecer tanto em espécies de machos como fêmeas, sofrendo variações conforme a idade do animal. Como a respiração do peixe-boi é voluntária, ele precisa vir à superfície para realização da troca gasosa, expirando CO2 e inspirando o oxigênio.

“Quando ele é pequeno precisa fazer isso com maior frequência do que um adulto, fisiologicamente ele ainda não está pronto e adaptado para todos esses controles e características. A mãe está com o filhote, auxiliando com que ele afunde e venha à superfície sempre que necessário”, contou Vera. 

Foto: Reprodução/ Emerson Gomes

Estrutura fisiológica do peixe-boi

Outra estratégia para a submersão do peixe-boi são os seus ossos sólidos e pesados. Devido seus ossos serem longos, o peixe-boi não possui medula óssea, tendo seu osso comparado ao peso de um chumbo, item geralmente utilizado para mergulhos profissionais.

“Uma das suas peculiaridades do peixe-boi, é o seu pulmão que diferente das outras espécies de mamíferos, eles possuem pulmões quase do comprimento do corpo, sendo achatado e ocupando quase a região dorsal toda do animal. Então, dessa forma eles conseguem também fazer uma troca gasosa de quase 90% do oxigênio a cada respiração. Comparado por exemplo, com os seres humanos que só fazemos apenas 10% de troca de oxigênio cada vez que respiram. O peixe-boi consegue fazer essa troca de mais de 90% e também consegue ficar sem respirar, afundado por mais de 20 minutos”, enfatizou a doutora.

O peixe-boi possui um diafragma duplo, que dobra na velocidade em que ele consegue encher os pulmões de ar, além de conseguir espremer os músculos da caixa torácica. Quando o pulmão desse mamífero está pressionado, ele consegue aumentar sua densidade que o leva a afundar, ou com a liberação dessa pressão no pulmão eles conseguem emergir na superfície.

“Uma estratégia que os peixe-boi têm para mergulhar é que como herbívoros, eles têm uma digestão de plantas aquáticas e semiaquáticas, diferente por exemplo da vaca que rumina. Então essa digestão dessas plantas é por fermentação em uma parte mais posterior do intestino, que provoca bastante gases e com esses gases internamente, o animal pode controlar a sua flutuabilidade liberando gases ou não”, ressaltou a especialista.

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