Mineração, degradação e conflitos: 20% das águas da Bacia Amazônica sofrem altos níveis de impactos pela ação humana

Um estudo baseado em dados públicos e divulgado pela Rede Ambiental Mídia, mostra o avanço dos impactos sobre a bacia hidrográfica amazônica.

A maior bacia hidrográfica do Brasil e do mundo, a Bacia Amazônica, está altamente impactada por atividades de exploração geridas pelo ser humano. Atividades como a mineração, a geração de energia hidrelétrica e até a agropecuária já impactaram 20% de suas águas, de acordo com um estudo baseado em dados públicos e divulgado pela Rede Ambiental Media, por meio do Índice de Impacto nas Águas da Amazônia (IIAA).

A porcentagem equivale a 2.299 microbacias, levando em consideração as 11.216 microbacias da região, e está dividida em níveis considerados altos, muito altos ou extremos. Os rios mais ameaçados são:
  • Rio Xingu, que começa em Mato Grosso e segue como afluente pela margem direita do Rio Amazonas no Pará;
  • Rio Tapajós, que nasce em Mato Grosso, banha parte do Pará e desagua no Rio Amazonas, também no Pará;
  • Rio Tocantins, que nasce em Goiás, mas passa por Tocantins, Maranhão e Pará;
  • Rio Madeira, rio da bacia do Rio Amazonas que banha Rondônia e Amazonas.

Em uma das áreas mais preservadas do Amazonas, rios e matas se misturam na região do rio Japurá, que nasce na Colômbia e cruza o estado até desaguar no Solimões. Foto: André Dib/Aquazônia

O Índice de Impacto nas Águas da Amazônia (IIAA) é o primeiro diagnóstico baseado em ciência sobre o estado geral de saúde dos ecossistemas aquáticos amazônicos no Brasil e faz parte do projeto Aquazônia.

O projeto foi construído a partir da análise de nove fatores de pressão sobre a bacia: agricultura e pecuária, área urbanizada, garimpo ilegal, mineração industrial, hidrelétricas, cruzamento de estrada, hidrovia, degradação florestal e diferença de precipitação. 

“Conseguimos perceber que as águas da Amazônia estão bem menos protegidas do que imaginávamos. O impacto é bem disperso e atinge até mesmo áreas bastante isoladas. As atividades não acontecem sozinhas, mas em conjunto com outros fatores. Um impacto abre caminho para outros, como no caso das hidrelétricas. Elas demandam grandes infraestruturas e acabam proporcionando acesso para mais desmatamento, estradas, cruzamentos”,

alerta Cecília Gontijo Leal, bióloga e pesquisadora da USP, principal autora do IIAA ao lado da editora de infografia da Ambiental, Laura Kurtzberg.

Mapa: Divulgação/Ambiental Media

As cinco regiões com valor de índice mais alto são todas marcadas pela presença de barragens de grandes hidrelétricas, como Canaã e Belo Monte, localizadas em Rondônia e no Pará, respectivamente. 

Considerando todas as microbacias categorizadas como tendo impacto alto, muito alto ou extremo, 50% estão afetadas por hidrelétricas e 21% sofrem efeitos combinados de barragens e mineração industrial. 
“A Bacia Amazônica é o conjunto de todos os rios, lagos e igarapés e não pode ser analisada separadamente. O efeito acumulativo dos impactos sobre ela é maior do que a soma dos fatores individualmente e é isso que o índice mostra: a sobreposição dos fatores de pressão em diferentes áreas da região”, complementa Cecília.

Terras indígenas e unidades de conservação

As terras indígenas e as unidades de conservação também são impactadas pelos fatores de pressão. Segundo o IIAA, das 385 terras indígenas existentes na Amazônia, 323 têm índice de impacto de médio para baixo, o que demonstra o papel fundamental dessas áreas na proteção dos ecossistemas aquáticos da Amazônia. As 53 restantes (14%) têm índice de impacto alto, muito alto ou extremo. Uma das regiões mais atingidas é a terra indígena Kayapó, no Pará.

O IIAA também aponta que 23% das unidades de conservação na Amazônia estão altamente afetadas. “No Tapajós, o garimpo é crescente e há uma série de projetos de novas hidrelétricas. As terras indígenas e as unidades de conservação ainda garantem proteção. Mas, em toda a Amazônia, 23% das UCs apresentam índice de impacto considerado alto”, está é uma das informações em destaque em parte do texto divulgado pelo projeto.

“Esses dados revelam que há um impacto significativo nesses territórios. Apesar disso, as áreas naturais constituem um dos mecanismos de defesa mais importantes para o manejo sustentável dos ambientes e devem permanecer protegidas”, ressalta Cecília.

A construção do índice foi feita com base nos dados de ocorrência e distribuição das ameaças obtidos a partir de fontes públicas e gratuitas, entre elas, Projeto Mapbiomas, Rede Amazônica de Informação Socioambiental (RAISG) e Agência Nacional de Águas (ANA), além de dados extraídos de artigos científicos.

“Esperamos que o índice sirva de inspiração para novos estudos científicos, para ampliar o debate público sobre o tema e também para contribuir com informações que auxiliem na proposição de leis que garantam o futuro das águas da Amazônia. Estamos em plena emergência climática e assegurar a saúde de rios, lagos e igarapés é fundamental tanto para a viabilidade econômica quanto para qualquer anseio voltado à justiça social no Brasil”, comenta o idealizador do projeto e fundador da Ambiental, Thiago Medaglia. A Rede Ambiental Media conta com o apoio do Instituto Serrapilheira no projeto.

*Com informações da Ambiental Media


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