A Bacia Amazônica é a maior do mundo, e tem, ao todo, 6 milhões de km²
Ela não tem cheiro, não tem sabor e não tem cor, é isso que aprendemos sobre as características das águas logo nas primeiras séries do processo de alfabetização. Mas falando em cor, e no estado líquido, elas podem sim apresentar tonalidades que muitas vezes chamam a atenção. Uma classificação de 1956, feita pelo pesquisador Harold Sioli, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, nos apresenta três diferentes cores das águas dos rios da Amazônia: a negra, a branca e a clara.
A Bacia Amazônica é a maior do mundo, e tem, ao todo, 6 milhões de km². Essa área abrange, além do Brasil, a Colômbia, a Bolívia, o Equador, a Guiana, o Peru e a Venezuela, que são os países que compõem a maior fonte de água doce do mundo.
Na Amazônia, existem, ao menos, 13 grandes rios que compõem a bacia hidrográfica, entre eles: o rio Tapajós, o Purus, o Madeira, o Içá, o Negro, o Solimões, o Trombetas, o Xingu, dentre outros. Apesar de cada um deles ter suas particularidades e potencialidades, três colorações predominam nas águas dos rios da Amazônia.
Águas Negras
Os rios de águas negras, entre eles, o rio Negro, o Jutaí, o Tefé e o Coari, predominantementes no estado do Amazonas, são os que apresentam tonalidades mais escuras das águas, e isso se dá em função da química que envolve o solo, a geologia e a hidrologia (nível da água).
Segundo o pesquisador doutor Eduardo Antonio Rios-Villamizar, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTIC), as cores das águas mudam conforme suas composições químicas.
“São sempre os fatores químicos que determinam as cores dos rios, e em uma análise da água, a cor é apenas um dos parâmetros. Mas no caso dos rios de águas negras, que superficialmente a gente vê a coloração escura, mas se pegarmos em uma garrafa, veremos que a tonalidade vai de marrom à avermelhada, há uma grande variabilidade. No entanto, essas águas negras são pobres em nutrientes e de solos arenosos, além de ter grande quantidade de materiais orgânicos, como ácidos húmicos e fúlvicos”, conta o pesquisador.
Águas Brancas
As águas brancas são geralmente barrentas, e aparecem principalmente nos rios Amazonas, Juruá, Purus e Madeira. Diferente das águas negras, as brancas possuem características químicas ricas em nutrientes.
“O rio Amazonas nasce na região dos Andes, no Peru, e a partir dali, no percurso do rio, ele transporta uma grande quantidade de sedimentos ricos em nutrientes, além das concentrações elevadas de sólidos dissolvidos, principalmente metais alcalino-terrosos e carbonatos, que determinam a coloração barrenta dessas águas”, explica o pesquisador.
Águas Claras
As águas claras geralmente apresentam tons entre esverdeados e transparentes, como acontece nos rios Tapajós e Xingu, no Pará. Elas possuem baixas quantidades de sedimentos e sólidos dissolvidos.
“As águas claras da Amazônia tem suas nascentes em dois pontos, uma na região do Escudo do Brasil Central (região central do país com o norte), e outra dos Escudos das Guianas (ao extremo Norte do país), ambos são formações rochosas muito antigas, e dessas formações drenam as águas claras, menos erosões, um plano mais regular, e como a quantidade de material orgânico é mínimo, as águas são mais limpas”, ressalta o pesquisador.
Outras cores: vermelhas e azuis
As cores das águas mudam de acordo com suas características químicas, mas, além disso, vários outros fatores podem pigmentar as águas, como, por exemplo, a presença de algas e o local em que se apresenta, se mais raso ou profundo. Também podem influenciar na coloração das águas dos rios fatores como captura de imagens, condições de iluminação e época do ano.
Sobre as águas vermelhas, encontradas em São Gabriel da Cachoeira, interior do Amazonas, o pesquisador é enfático ao dizer que são águas negras. “A coloração é bem avermelhada, mas se trata de águas negras, pois são águas ácidas, com alta quantidade de ácidos humicos, e pode se encaixar dentro dessa categoria. Em geral, as categorias não são bem definidas, tem uma ampla variabilidade de cores”, conta o doutor Eduardo Rios-Villamizar.
Em Presidente Figueiredo, região Metropolitana de Manaus existe uma Lagoa com água azul. Ainda não há pesquisa sobre a química dessa água, mas segundo o proprietário do lago, a tonalidade azul é por causa da argila, no entanto, o geólogo do Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) René Luzardo acredita que possivelmente a cor é devido a presença de algas azuis, que gostam de ambientes com água parada e de muita luz solar.
Nova classificação para coloração das águas: “águas-mistas”
Para melhor definição de “águas-mistas”, o pesquisador Eduardo Rios-Villamizar ressalta que, por não se enquadrarem bem entre a classificação atual, é necessário que haja uma nova categorização das águas da região.
“Nas águas da Amazônia, a diversidade é bastante ampla, e que aumenta quando a ordem do rio decresce. Isso fica mais evidente em pequenos córregos, igarapés e rios de pequeno porte que apresentam diferenças geológicas em relação aos grandes rios, o que pode ser considerado como “águas mistas”, ou de tipo intermediário, resultantes da confluência de rios de menor ordem com diferentes propriedades físico-químicas das suas águas”, conta o pesquisador.
Pela grande diferença em cores, o pesquisador também propõe novas categorias para a coloração das águas da Amazônia, de forma intermediária às que já existem. Porém, o que se sabe sobre essas ‘novas cores’, até o momento, é uma visão geral que precisa de muitos estudos e análises físico-químicas para definição dos componentes.