Pesquisadores desenvolveram modelo para mapear regiões com espécies de animais desconhecidas. Brasil sozinho possui cerca de 10% das futuras descobertas
Cerca de 1,5 milhão de espécies de seres vivos já foram mapeadas pela ciência em todo o planeta — e, de acordo com estimativa de pesquisadores, ainda há mais do que cinco vezes essa quantidade para ser descoberta. Pensando nisso, cientistas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em parceria com a Universidade de Yale, dos Estados Unidos, desenvolveram um modelo que usa informações sobre a probabilidade de descoberta das espécies para gerar um mapa das regiões com espécies não descobertas.
Segundo o modelo, 60% das futuras descobertas devem ocorrer em florestas tropicais como Amazônia e Mata Atlântica. Os resultados estão em estudo publicado na revista “Nature Ecology and Evolution”.
Utilizando bases de dados disponíveis online, os cientistas compilaram onze tipos de informações que potencialmente afetam a probabilidade de descoberta das espécies. No total, foram compilados dados para mais de 32 mil espécies de vertebrados terrestres, isto é, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Entre essas informações, está, por exemplo, o tamanho do corpo, condições climáticas onde a espécie ocorre e a quantidade de especialistas que estudam cada espécie.
Com essas informações em mãos, os cientistas mapearam o percentual de espécies conhecidas para cada região do planeta. De acordo com o pesquisador Mario Moura, porta-voz do estudo, o mapa antecipa onde estão as espécies ainda não descritas pela ciência. A pesquisa foi financiada pela National Science Foundation, NASA, National Geographic e E. O. Wilson Biodiversity Foundation.
Segundo o estudo, os países com maior quantidade de espécies não descritas são Brasil, Indonésia, Madagascar e Colômbia. Os quatro juntos somam 25% de todas as futuras descobertas de novas espécies. O Brasil sozinho possui cerca de 10% das futuras descobertas.
“Quando as futuras descobertas são analisadas por tipo de animal, temos que 48% das novas descobertas serão de répteis (lagartixas, serpentes, lagartos), 30% de anfíbios (principalmente sapo, perereca, e rãs que ocorrem no chão de florestas), 15% de mamíferos (principalmente roedores e morcegos), e 6% de aves (principalmente aves canoras).”, destaca Mario Moura.
No artigo, os pesquisadores apresentam um mapa das dez regiões com maior potencial para abrigar novas espécies no planeta. “Essas dez regiões englobam cerca de 70% de todas as espécies não descritas de vertebrados terrestres”, acrescenta Moura.
O estudo oferece um novo enfoque para as pesquisas em biodiversidade ao ranquear as regiões do planeta de acordo com o potencial de descoberta de novas espécies. “O nosso trabalho poderá orientar novas pesquisas em taxonomia, e acelerar o descobrimento de espécies”, explica Moura.
Sem o descobrimento formal dessas espécies desconhecidas, o planejamento de conservação é efetuado de modo incompleto. “Espécies sem uma descrição formal não podem ser avaliadas e categorizadas com relação ao seu nível de ameaça. Para conservar, é preciso conhecer”, destaca o pesquisador.