Expedição revela detalhes da biodiversidade noturna presente na fauna amazônica

A expedição foi realizada em outubro de 2021, pelo ‘Projeto Mantis’, que dedicou um mês de pesquisa na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará. Na expedição foi estudado o louva-a-deus, além da fauna, sons e cores características da floresta tropical.

Muitas pessoas tem interesse em saber como funciona a dinâmica da floresta amazônica. Essa curiosidade é mais comum do que se imagina, tendo em vista a biodiversidade que compõe o cenário amazônico. Mas quando o sol se põe um diferente ecossistema é formado, especialmente se tratando dos insetos, atraindo ainda mais curiosos.

Pensando nisso, estudiosos que coordenam o ‘Projeto Mantis‘, idealizaram a expedição ‘Amazônia do Poente à Aurora’, que aconteceu em outubro de 2021. A pesquisa contou com o financiamento da National Geographic Society e com apoio do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Toda a pesquisa idealizada pelo grupo foi realizada na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará. O local também funciona como uma das bases de pesquisa do museu.

O estudo ficou marcado pela busca de novas espécies de louva-a-deus (Mantis), caracterizadas por viverem nas sombras da escuridão. O Portal Amazônia conversou com o biólogo e diretor fundador do projeto, Leo Lanna, que esteve à frente da expedição na Amazônia.

Foto: Divulgação/ Projeto Mantis

A parte vital da pesquisa foi o storytelling desenvolvido pela equipe do Projeto Mantis em conjunto com o ECO360, que em cerca de um mês documentaram os diferentes aspectos da fauna na floresta tropical. A expedição foi idealizada com o foco nas noites amazônicas, utilizando técnicas de fotografia, como captação ultravioleta, uma metodologia considerada inovadora para documentar diferentes aspectos da natureza.  Além de Leo, a expedição contou com a colaboração dos pesquisadores Pedro Peloso, Silvia Pavan, Fernanda Santos, João Herculano e os documentaristas Daniel Venturini e Marina Angeli.

“Como nosso foco era a fauna noturna, especialmente insetos, anfíbios, répteis e pequenos mamíferos, o principal horário de trabalho era à noite, começando por volta das 18 horas e entrando na madrugada. É à noite que a Amazônia revela sua enorme biodiversidade, quando animais de todos os tipos saem das tocas ou do modo camuflado e exibem suas cores e formas deslumbrantes. Porém a proposta de trabalho envolvia algumas técnicas criativas como time-lapses de comportamento, fotografia de fluorescência ultravioleta e a documentação em 360º dos ambientes amazônicos. Assim o trabalho normalmente começava a partir do café da manhã e só terminava à noite, com a equipe se revezando para suprir as diferentes demandas de pesquisa e documentação”, 

explicou Leo ao Portal Amazônia.

Ao longo de diversas observações, os pesquisadores encontraram caranguejeiras (tarântulas) caçando e registram a interação de alguns louva-a-deus e a floresta, além de hábitos de serpentes. “Os sons, as cores, as espécies, estão em uma dinâmica constante de mudança”, comenta o pesquisador.

“A complexidade da vida na Amazônia é gigantesca e fica difícil, para muitos grupos, definir se o animal é diurno ou noturno. O comportamento muda não só conforme o horário mas também se choveu ou não, se está ventando, se a temperatura caiu durante à noite, se está nublado ou faz sol. São muitos fatores que precisam ser analisados. Algumas espécies de louva-a-deus, por exemplo, parecem se mover apenas à noite, mas isso não significa que não cacem durante o dia, apenas são mais oportunistas. Enquanto à noite eles caçam ativamente, de dia vão comer apenas aquilo que aparecer na frente deles enquanto ficam estáticos para manter a camuflagem”, declarou.

Durante a expedição, foi encontrada uma suposta nova espécie de louva-a-deus. Como existem poucas informações, a espécie ainda está sendo estudada. Abrigando uma diversidade de animais e fauna desconhecida, surge a necessidade de expandir a ciência e as pesquisas, segundo Leo.

“Um dos fatores mais surpreendentes dessa expedição foi a fluorescência ultravioleta, mas não podemos revelar muito ainda. Encontramos alguns animais icônicos, como a aranha-golias, uma das maiores do mundo, e conseguimos registrá-la perto de um marsupial, provavelmente caçando. Vimos peixes elétricos no meio da floresta em meio a alagados que se formaram após as chuvas. Encontramos um grupo de vermes-aveludados, um bicho relativamente raro de se ver, ainda mais oito de uma vez. As cobras foram um sucesso, com várias cores da suaçuboia, algumas falsas-corais e cobras-cipó lindíssimas”,

revelou.

Curiosidades sobre o louva-a-deus 

O louva-a-deus (Mantodea) é considerado um inseto com forte ligação cultural, em diversas regiões do mundo ele é caracterizado como um profeta, um ser iluminado capaz de prever o futuro, ideia que atravessa diversas gerações, explicando a relação dos seres vivos e seus ecossistemas.

“Já ouvimos de povos do Rio Cuieiras, por exemplo, que ele é capaz de prever o sexo de bebês em gestação. O nome ‘mantis‘ tem origem no grego e significa profeta. Dizem que os gregos acreditavam justamente que quando se encontra um louva-a-deus, para onde ele aponta, é o caminho a alguém ou algo perdido, logo, eram considerados videntes, capazes de ver o futuro. Não acredito que isso possa ser comprovado, especialmente em locais tropicais como o Brasil, onde um olhar atento revela louva-a-deus de todos os tipos em todos os lados da floresta”, acrescentou o biólogo.

Inseto presente em todos os biomas, com sua maior concentração na Amazônia, o louva-a-deus possui a habilidade de camuflagem, para que suas presas não os vejam, possibilitando um melhor ataque. O mantis também possui uma excelente visão e utiliza as pernas da frente durante a caça.

“As camuflagens vão desde a semelhança a uma folha seca até galhos, líquens, musgos, folhas verdes e flores. Cada espécie tem sua camuflagem. A readaptação de cores é algo ainda a ser estudado. Sabemos que ao longo da vida, conforme trocam o exoesqueleto (a forma deles crescerem, como cobras trocando de pele), a cor pode variar. Porém, também já observamos indivíduos que pareciam ter cores diferentes em uma mesma fase de vida. É algo que ainda precisa ser analisado”, explicou.

Dentre tantas características presentes no louva-a-deus, a que possui maior destaque é a sua capacidade de analisar e observar, sendo um animal que demonstra paciência e habilidade. Com seu comportamento sutil, o louva-a-deus é considerado carnívoro, inofensivo aos humanos pois não têm veneno nem mordem ou picam. A sua alimentação são animais menores como as mariposas, moscas, grilos, entre outros.

“Nós, pelo Projeto Mantis, já descrevemos uma espécie nova, a Vates phoenix, originária da Mata Atlântica. Ela tem nome em homenagem ao Museu Nacional e é bem característica pelas pernas com pequenas abas que ajudam na camuflagem. Além dela, temos uma espécie amazônica já descrita e aguardando publicação, e diversas outras novas espécies a descrever. O Brasil é o país com a maior diversidade de louva-a-deus do mundo, ao menos 250 espécies conhecidas, porém especialistas acreditam que haja ao menos 500, ou seja, ainda há muito a se descobrir”, explicou o biólogo. 

Projeto Mantis

O nome do projeto se originou a partir do louva-a-deus ou Mantis (Mantodea), que é o enfoque das pesquisas nas florestas. Sob direção científica do biólogo Leo Lanna e direção artística de Lvcas Fiat, o projeto atua no desenvolvimento da pesquisa, conservação e fotografia da vida nas florestas tropicais.

Com a junção e equilíbrio entre a arte e ciência, são promovidas expedições nos biomas brasileiros, que resultam na descoberta de novas perspectivas sobre a natureza. “O projeto movido com empenho e dedicação promove a divulgação científica, alcançando as mais diversas esferas sociais, tendo visibilidade nacional e internacional”, informam.

Com as descobertas sobre a floresta, o Projeto Mantis, em abril de 2022, realizou uma palestra em conferência mundial, em Vancouver (Canadá). Além de Leo e Lvcas, estiveram presentes personalidades internacionais como Bill Gates e Elon Musk, entre outras pessoas renomadas por suas descobertas.

Confira:

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